Lula não é do amor. O amor não venceu. E o que esse “amor” tem a ver com o cenário econômico do momento no Brasil, com alta turbulência no câmbio e o dólar muito mais próximo de R$ 6 do que de R$ 5? No governo do lulopetismo, tudo.
Antes de irmos adiante, é importante lembrar que esse tal “amor” foi uma narrativa da campanha de 2022, tão intensa quanto distante da verdade, mas que, de alguma forma, convenceu até gente muito bem informada. O “amor” recente — as aspas vão sempre acompanhar a citação do termo neste artigo a partir de agora — foi uma releitura do “Lulinha, paz e amor”, do marketing de Duda Mendonça que conseguiu tirar a carranca truculenta do ex-sindicalista para ganhar a eleição de 2002. Já no governo, apesar do escândalo de compra de apoio no Congresso, o “Mensalão”, que viria a seguir, o pragmatismo do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, venceu o atraso das ideias petistas no início da gestão. E reforçou ainda mais o legado das medidas de austeridade herdadas do governo Fernando Henrique Cardoso, violentamente criticado pela ala ideológica do PT, mas que sobreviveu a várias crises internacionais e manteve o país funcionando.
O “amor” de 2022 também tinha a intenção de se opor ao alegado barulho do governo de Jair Bolsonaro, que concorria à reeleição. Barulhento ou não na política, o bolsonarismo tinha uma agenda econômica liberal, focada em criar um ambiente favorável ao investimento externo, de desburocratização, com segurança jurídica, reformista e modernizadora. Com foco em responsabilidade fiscal e redução do Estado caro e ineficiente, entregou o país com superávit primário, redução do endividamento, impostos mais baixos, desemprego em queda e forte recuperação econômica, encerrando o ano de 2022 com PIB positivo de 2,9%. Apesar de uma pandemia sem precedentes e a guerra na Ucrânia, que trouxeram a combinação explosiva de escassez de insumos e disparada do preço do petróleo no mercado internacional, o país superou o momento mais incerto da economia global desde a crise de 2008.
A era do ministro Paulo Guedes foi de uma equipe econômica com autoridade técnica sobre o presidente, que lhe garantiu apoio político e institucional. Não é o que temos hoje.
Em resumo, Bolsonaro assumia que não entendia de economia, mas dava autonomia à sua equipe de alta competência.
Lula nunca entendeu de economia, mas desautoriza a equipe do ministro Fernando Haddad, que não pode ser comparado a Guedes.
O caso das “blusinhas” da Shein, acerca da taxação das importações de compras até US$ 50 que acabou sendo aprovada no Congresso Nacional depois de várias mudanças de posição de Lula, sempre oscilante entre o desespero de arrecadação de seu ministro da Fazenda e os desejos da Janja influencer das redes sociais, é muito mais significativo do que parece. É o desenho bem delineado da incúria governamental.
Sem boas influências externas ou quem o contenha internamente, como nos primeiros oito anos de mandato, o governo petista raiz é Dilma. Lula sempre foi Dilma. Lula hoje é só Dilma
Ainda pior, há sinais de autoritarismo em um Lula pretensamente imperial, o que agrava ainda mais a situação, porque estamos falando de um presidente desconectado do mundo em que vivemos e do Brasil em que estamos. O futuro se torna incerto. Sem noção de tempo e espaço, mas com o vício da verborragia inconsequente de falar de tudo sem entender tecnicamente de quase nada, cria ruído demais em declarações que vão contra tudo o que trouxe avanço ao Brasil nos últimos anos, contraria sua equipe econômica e é politicamente decadente a ponto de recorrer ao Supremo, um poder de não eleitos, quando perde no Parlamento. A união de Executivo e STF é um assombro institucional de insegurança jurídica como nunca antes visto.
No Lula 1, o que deu certo na economia veio do governo anterior e da decisão firme de Palocci. Na política, a maioria do apoio entre os parlamentares no Congresso veio do Mensalão, uma fonte de coação e poder baseada em corrupção. No Lula 2, o crescimento exponencial da China foi uma era de bonança internacional, com forte demanda por commodities brasileiras e sem conflitos geopolíticos importantes que o mundo demorará a ver novamente. O ponto é esse. Os modelos de sucesso que fizeram a fama da gestão do “amor” de Lula nos dois primeiros mandatos não são mais aplicáveis atualmente ou nunca foram provenientes de ideias originais e orgânicas do PT, do lulismo. Sem boas influências externas ou quem o contenha internamente, como nos primeiros oito anos de mandato, o governo petista raiz é Dilma. Lula sempre foi Dilma. Lula hoje é só Dilma.
Afinal, como explicar um governo que não apresentou planos concretos na campanha ou com planos que insistem no aumento do gasto público sem fim? Que fura o seu próprio arcabouço fiscal em menos de um ano? Que insiste na relativização da inflação e da responsabilidade fiscal? Ou da segurança jurídica do direito à propriedade, sobretudo rural, ao dar amparo político à violência das invasões do MST? Que afronta o Congresso ao querer desfazer privatizações, reformas, a autonomia do Banco Central e recorre ao tapetão do STF, como no caso da reoneração do PIS/Cofins? Como aceitar um governo que se opõe à nova economia do empreendedorismo tentando lhe impor o sindicalismo anacrônico e estacionado no século 20? São muitas as idiossincrasias.
Diante de tudo isso, muita gente está arrependida. A disparada do valor do dólar, exclusivamente por erros de política econômica do governo e falas irresponsáveis do presidente, desvaloriza o real brasileiro, um orgulho nacional que acaba de completar 30 anos e resultado de um dos planos econômicos mais bem-sucedidos da história da civilização. Junte a isso o atual negacionismo fiscal, que não só pressiona o câmbio como exponencia toda a insegurança em relação à economia brasileira, e o “amor” não correspondido acaba.
Arrependimento é um sentimento muito pessoal, um peso com o qual cada um terá de lidar no particular. Não entro nesse mérito. O que interessa ao país é que as fileiras da sensatez e da reação aos desmandos estão engrossando. E economia é feita de gente. Assim como não se ganha uma eleição sem voto, não existirá mudança sem apoio coletivo, plural, de muitas pessoas. E se toda essa gente tem sinalizado que recobrou a consciência, que saiu da fantasia do Lula 3, que está de volta na busca da recuperação do país, na preservação de seus valores sociais e conquistas econômicas, tanto melhor. Suas críticas e presença no debate público são muito bem-vindas e necessárias.
Só o debate livre nas ruas, no Congresso e sem as amarras arbitrárias inconstitucionais das Cortes superiores de Brasília nos salva do obscurantismo do medo, do arrependimento, da falta de esperança e da atual gestão temerária da economia nacional.
Por isso que a primeira luta a se embrenhar é a da defesa da democracia, a de verdade, a de todos.
Leia também “Presos na masmorra do lulismo sombrio”
Quando eu fui votar para presidente em 2022, que apertei no 22, a urna acelerou com o som de encerrada à votação, quer dizer o voto não foi confirmado e eu estava com a camisa amarela do Brasil
A farsa do amor está a cada dia mais desnuda.
Excelente artigo, Piotto! E tb seus comentários na Oeste sem Filtro. Gostaria muito q mais pessoas tivessem acesso a textos desse nível .
Lula foi a vida inteira apossado no dinheiro público, por isso gasta que nem sente. Nunca trabalhou nem bancou suas próprias contas.
Quando viu que não gostava de trabalhar, cortou o próprio dedo para se vitimizar e viver na vagabundagem.
Piotto, te admiro falando na Revista Oeste sem filtro e nos teus artigos escritos que se assemelham as tuas falas inteligentes na economia, na magistratura e no jornalismo honesto e competente.
Agora, me permita transmitir o que sinto em relação ao grave atentado a democracia que vivemos. Você inicia enaltecendo o ex presidente FHC, que como ex tucano admirei desde a fundação do PSDB até 2019, ano que foi ressuscitado e se revelou com pouco caráter quando por extremado ódio ao governo Bolsonaro, que em teu artigo é enaltecido, apreciou o “amor” de Lula e ajudou o SISTEMA a descondena-lo.
Como pode fazer o “L” alguém que fez confissões próprias e naturais para autores post mortem ou aposentados em seus “diários da presidência”, nos quais se revela vaidoso, arrogante e superior com colegas como Covas, desprezo por militares mesmo com pai, tio e avô altas patentes militares, ingerência na PF substituindo seu Diretor Geral sem sequer falar com seu Ministro da Justiça Renan Calheiros (talvez com razão) e na IMPRENSA (FOLHA) quando conseguiu através de FRIAS que 2 expressivos jornalistas desdizerem o que escreveram a seu respeito, o rancor que tinha pelo PT/MST/DIRCEU e os conchavos que tinha que fazer para governar e se reeleger?.
Portanto Piotto, é muito estranho que não soubesse ou conhecesse o “amor” da quadrilha que voltou a cena do crime (ALCKIMIN) e esta desfazendo tudo que o governo Bolsonaro mesmo com 2 anos de pandemia saneou em nosso pais.
Creio que foram FHC e suas celebridades tucanas os articuladores desse processo NEFASTO de descondenar Lula e leva-lo novamente a presidência com o super católico Alckimin (atualmente quase comunista) como vice, em uma eleição sem transparência e desprezando o VOTO IMPRESSO que tanto aplaudiram em 2015, para salvar nossa DEMOCRACIA.
Piotto, genial!,foi ao cerne do problema onde se situa uma única personagem: Joe Lula, a decima primeira praga bíblica reservada ao Brasil.
Belo texto Piotto, pena que a maioria não tenha acesso. Governo desastroso.