Carta ao Leitor — Edição 227

Cada vez mais os brasileiros são tratados pelo governo e pelo consórcio de imprensa como um bando de idiotas. Só isso explica a arrogância dos assassinos de fatos. 

Depois da enxurrada de memes inspirados no ministro Fernando Haddad, por exemplo, em vez de procurar entender o descontentamento da população com o aumento dos impostos, jornalistas preferiram inventar uma rede de profissionais contratados para espalhar o que nada mais era do que humor.

Entre 1º de janeiro e 21 de julho deste ano, os brasileiros pagaram a estratosférica quantia de R$ 2 trilhões em impostos, segundo a plataforma Impostômetro, mantida pela Associação Comercial de São Paulo. Pela primeira vez o país atinge esse valor em tão curto prazo. 

Caso os teóricos da conspiração dos memes leiam a reportagem de Anderson Scardoelli, publicada nesta edição, saberão que o bombardeio humorístico que alvejou o ministro foi até brando. 

“A velha imprensa, com raras exceções, também tenta esconder que o país passa pela pior epidemia de dengue da história”, afirma Silvio Navarro, na reportagem de capa desta edição. O mesmo acontece com as arbitrariedades do Poder Judiciário.

Essa miopia malandra não é uma peculiaridade brasileira. Nos Estados Unidos, os discursos mudaram completamente depois que Joe Biden renunciou à disputa pela reeleição. Ao mesmo tempo em que começou a enxergar os lapsos de memória do atual presidente, boa parte da mídia esqueceu o papel desastroso de Kamala Harris com os imigrantes ilegais. 

Com a habitual lucidez, J.R. Guzzo pergunta: “Como um dos dois grandes partidos dos Estados Unidos, que já colocou na Presidência Franklin Roosevelt e John Kennedy, foi chegar a uma Kamala Harris — e dizer que ela é a pessoa mais indicada para ocupar o emprego mais difícil do mundo?”.

Essa deformação histórica se repete com maior frequência e periculosidade no Brasil.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação