A esquerda em geral, as classes culturais e a mídia global mostram-se cada vez mais escandalizadas com o que consideram o “avanço da extrema direita” no mundo. É Donald Trump. É Javier Milei. É Jair Bolsonaro. É mais uma porção de gente que “ameaça” ganhar eleições livres, fazer no governo o que a maioria quer que seja feito e devolver a lógica à vida política. Isso tudo, em seu modo de ver as coisas, vai eliminar a civilização humana da face da Terra — será o fim da democracia e a vitória do fascismo, do racismo, da homofobia, do ódio ao estrangeiro, às “mulheres” e aos índios. O que a esquerda, os comunicadores e os intelectuais têm se recusado terminantemente a fazer, até agora, é uma pergunta-chave: por que, afinal das contas, todos esses Trumps, Mileis, Bolsonaros existem, e por que tanta gente quer votar neles? Nenhum dos três foi enviado ao mundo pela Providência Divina para punir o homem por seus pecados. Também não são o produto da “crise climática”. Não vieram do espaço sideral. Ninguém faz a pergunta porque ninguém quer ouvir a resposta óbvia: o “perigo” da direita foi criado integralmente pela própria esquerda e por suas neuroses. A mais agressiva delas é a exigência de que as pessoas parem de pensar.
Trata-se de um movimento maciço de supressão ao mercado livre e racional de ideias — aquele em que você fala uma coisa, um outro defende o oposto, e a maioria dos ouvintes decide qual dos dois tem razão. Em vez disso, os filósofos, os bilionários global-socialistas e a imprensa que se tem como “séria” criaram um sistema de pensamento totalitário pelo qual a sua única participação no debate consiste em concordar com o que lhe dizem. E a opção de ter a sua própria ideia a respeito de alguma coisa? Não está disponível para ninguém. Não apenas é proibido discordar. Qualquer discordância é imediatamente punida com o seu indiciamento pelos delitos de extremismo direitista, fascismo, nazismo, machismo, racismo, xenofobia, misoginia, homofobia e “discurso de ódio” em geral, para ficar no grosso. A nova doutrina, acima de tudo, não admite a existência de fatos. (Veja a matéria de capa desta edição.) Fatos são hoje os principais suspeitos para a esquerda e a sua visão do “processo civilizatório”. Se estão em desacordo com essa visão, são automaticamente “fascistas” e, em vez de contestados pela observação da realidade, têm de ser suprimidos do debate público.
É inevitável que haja um Donald Trump, para começar, quando o público ouve com um pouco de atenção o que a mídia “de qualidade” diz a respeito dele e da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Basicamente, não faz nexo. Ou seja: se é isso que estão falando a seu respeito e sobre o seu adversário, então está na cara que Trump é o nome mais certo para ser eleito como presidente. A verdade é que os jornalistas, as celebridades e os adversários contam para o público uma história que o público não vê — pior ainda, frequentemente vê o exato contrário do que contam, e não apenas sobre Trump e a campanha. É, cada vez mais, sobre qualquer assunto. Você é acusado de ser racista sem nunca ter praticado um ato de racismo na vida — apenas porque não é negro. Não tem o direito de dizer que homem e mulher são seres biologicamente diferentes. É acusado de ser um psicopata social por achar que pessoas com mais talento, mais mérito e mais trabalho merecem as recompensas que obtiveram.
Não pode se opor à imigração ilegal, aos ataques à sua cultura, nem à mutilação de crianças que os pais consideram confusas sobre o próprio gênero. Está proibido de considerar que os Sete Anões são anões, que a Branca de Neve é branca e que o Agente 007 é homem.
O resultado desse apagão geral do raciocínio leva cada vez mais gente a pensar: aquilo que estamos ouvindo é tão grosseiramente falso, irracional e idiota, que o correto só pode ser o contrário. As estaturas que Trump tem hoje nos Estados Unidos e Bolsonaro tem hoje no Brasil são possivelmente a prova mais evidente da lei geral do efeito reverso na política: quanto mais a esquerda e o mundo que se acha civilizado querem criar uma verdade, maiores são as chances de conseguirem o contrário do que estão querendo. Sustentam como se fosse uma realidade científica, por exemplo, que Trump faz o “discurso de ódio”; é algo tão indiscutível, segundo o New York Times, quanto o movimento de rotação da Terra. Mas quando se olha um pouco para a vida real é Trump quem acaba de levar um tiro que só por milagre não lhe atravessou a cabeça. Como é possível, pensa o cidadão comum, que Trump seja o acusado de incentivar a violência se é ele mesmo que estão tentando assassinar? A propósito: o que ele diz, palavra por palavra, que pode ser racionalmente descrito como uma pregação de ódio? O que ele já disse que seja pior, digamos, do que Lula diz o tempo todo de Bolsonaro? Não fecha.
Esse esforço maciço para suprimir os fatos já vem rolando há anos, e se torna cada vez mais desesperado. É apenas natural, assim, que alguns bilhões de indivíduos atualmente no desfrute pleno de suas capacidades mentais, ou até mesmo nem tão pleno assim, cheguem a conclusões cada vez mais opostas às que lhes querem impor. As pessoas em geral não prestam muita atenção nas cretinices que ouvem, pois têm mais o que fazer na vida do que levar jornalistas a sério, mas tendem a perceber, mais cedo ou mais tarde, que estão sendo tratadas como otárias. Ainda no caso da campanha eleitoral nos Estados Unidos, tenta-se, agora, emplacar a miragem de que o presidente Joe Biden é um herói da democracia mundial por ter desistido de concorrer à eleição e passado à sua vice, Kamala Harris, a missão de salvar a humanidade da destruição que Trump está tramando. É tudo patentemente falso. Durante dois anos Biden tem demonstrado que o seu sistema neurológico está com avaria grossa, como dizem as seguradoras de navio. Durante dois anos seu partido, os arquimilionários que se apresentam como os novos motores da filantropia e a mídia “tradicional” sustentaram a mentira de que ele estava no auge das suas potencialidades de estadista.
Como um dos dois grandes partidos dos Estados Unidos, que já colocou na Presidência Franklin Roosevelt e John Kennedy, foi chegar a uma Kamala Harris?
O problema central disso tudo é terem achado que a realidade era o que queriam. “Os fatos somos nós, e não o que está acontecendo”, diziam a si próprios e ao público pagante. Trump, segundo eles, estava liquidado — é seguido apenas por uma minoria de “fanáticos”, vai adotar o nazismo como sistema político dos Estados Unidos e foi bombardeado na Justiça como ninguém havia sido antes dele. De repente se deram conta de que as mentiras que sustentam há anos eram apenas isso, mentiras, e que a consequência prática de sua linha de ação iria ser a derrota de Biden nas eleições de novembro. De um momento para outro, o seu candidato perfeito passou a ser um risco mortal para a democracia — e foi selvagemente massacrado até renunciar à própria candidatura. Querem convencer o mesmo público, agora, de que Biden é de novo um herói, mas a possível herdeira de sua candidatura, a vice-presidente Kamala Harris, é ainda mais heroína que ele. Biden foi saudado por Kamala e por seu partido como um presidente “incomparável” — mas, se é tão incomparável assim, por que não deixaram que o candidato fosse ele? O embuste oficial, a partir de agora, é convencer as pessoas de que nunca houve ninguém mais indicado para o cargo de presidente do que Kamala Harris — a quem descrevem como “moderada”, “pragmática” e “experiente”. Em quase quatro anos no cargo, ela não conseguiu formular nenhum pensamento coerente. Fracassou na única tarefa que recebeu — fazer alguma coisa para lidar com a invasão do território do seu país por imigrantes ilegais. Não tem outra proposta visível que não seja a defesa do aborto.
Como um dos dois grandes partidos dos Estados Unidos, que já colocou na Presidência Franklin Roosevelt e John Kennedy, foi chegar a uma Kamala Harris — e dizer que ela é a pessoa mais indicada para ocupar o emprego mais difícil do mundo? É o resultado direto da decisão, por parte de tanta gente, de abandonar o livre debate de ideias, a observação dos fatos e a competição entre pontos de vista diferentes como instrumentos de ação política. Em vez disso, propõem que o mundo acredite, em vez de raciocinar — e que acredite neles, seja lá no que for. Dá para levar a sério que bilionários sem ocupação definida se apresentem hoje como gigantes na luta pelos pobres e humildes? Da mesma forma, por que ninguém, na esquerda e em seu habitat, se dispõe a debater com argumentos qualquer das ideias de Donald Trump? Não há nada do que ele diga que não possa ser contestado com a razão — mas o universo “civilizado” só consegue repetir que Trump não pode existir como político ou como ser humano. Nunca se apresenta um fato concreto para demonstrar que ele vai eliminar o regime democrático nos Estados Unidos, ou que prega o ódio, ou que vai declarar a Terceira Guerra Mundial. Em vez disso, prefere-se ter fé em Robert de Niro — e substituir o raciocínio lógico pela histeria.
É o mesmo método que se aplica a Bolsonaro no Brasil — ou a Milei, Giorgia Meloni, Marine Le Pen, Viktor Orbán e quem demais se mostra capaz de representar qualquer maioria, em qualquer lugar do mundo. A mais assustadora delas é a massa que trabalha, quer melhorar de vida e não concorda quando lhe dizem que dois mais dois são vinte e dois. É isso, mais que qualquer outra coisa, que deixa a esquerda de hoje com medo: a classe trabalhadora que existe na vida real. Suas lideranças fizeram um mau negócio: abandonaram há anos os trabalhadores de carne e osso, que sempre alegaram representar, e em seu lugar puseram os executivos da Disney, os imigrantes ilegais e o direito dos transgêneros a entrarem no banheiro das mulheres. As suas causas são o aborto, a vacina e a censura das redes sociais. Os seus heróis são George Soros, o Hamas e os combatentes da “mudança do clima”; no Brasil é o STF. Querem que as pessoas comam insetos em vez de carne, arroz e feijão. Não querem que tenham filhos. Querem que a agricultura seja substituída pela vegetação natural. Não querem ver, sobretudo, que a sua clientela hoje é a minoria — e que a direita se tornou a verdadeira representante do mundo do trabalho. É essa a questão. Não é Donald Trump, nem Jair Bolsonaro.
Leia também “O transtorno mental da imprensa”
Nelson Rodrigues nos anos 1960 dizia que o mundo seria governado pelos idiotas. Não por suas ideias mas pela quantidade: eles são muitos.
No final da década de 1970 e início de 1980 tive um professor de história que dizia que um dia a humanidade bateria palmas com as orelhas.
Hoje estamos vivendo as duas situações.
Excelente explanação.il mil parabéns..
Guzzo sempre excelente observador dos fatos. Você não conseguiria entrevistar os tucanos de alto coturno como FHC para ex tucanos como eu saibam o que pensam atualmente dessa esquisita democracia do Brasil e dos EUA?. Aos 78 anos não entendo como fui enganado tanto tempo por essa gente, inútil e sem caráter.
Olha só para o atual compromisso com a democracia do conservador e super católico Alckimin, que enaltece o super comunista “cristão” Flavio Dino articulador da FARSA do 8 de janeiro, durante missa no altar de uma paróquia em sua homenagem: “Quis o destino que Flavio Dino fosse o Ministro da Justiça e Segurança, na hora certa e no momento certo para salvar a democracia e evitar o golpismo”.
Excelente artigo!
Kamala a anta baleada, múmia paralítica americana, a Dilma dos Estados Unidos
Essa Kamala Harris, só de olhar para sua face e expressões, já se percebe a mala que é.
Quem já teve FDR e JFK ter Kamala hj…. Pelamor, fecha tudo.
Roosevelt, John Kennedy, incluo aí Reagan, em contra partida Nixon, Biden. Aqui por enquanto estamos esperando um Roosevelt e o ” new deal” aguentando Lulas e Dilmas.
Bolsonaro e Paulo Guedes tentaram abrir um novo caminho para o progresso. Mas infelizmente o ” Sistema” não permitiu.
A quadrilha agiu mais rápido.
Guzzo , para variar , sempre vai ao ponto.
Didático como sempre , resume o que hoje representa essa esquerda mundial.
Não tenho duvidas , cada dia minguando mais e mais
O melhor presidente…. Lembra um pouco a história do PT sobre o “melhor prefeito de SP”, que pintou as ruas de vermelho e não fez mais nada.
Texto magistral, como todos do mestre J.R.Guzzo.
Parabéns, mestre !
Obrigado por falar aquilo que gostaríamos de externar.
Bravo!
Excelente texto. Parabéns mestre Guzzo. Artigos como este nos enriquecem.
A abertura dos Jogos Olímpicos 2024 mostra uma França de mãos dadas com o comunismo.
Uauuuu! A vontade que tenho de dar esse texto para a canhotada ler….
Aula Magna de lucidez! Grande Guzzo!!!
“O próprio de um universo é ser único. A existência de um outro universo o ameaça na sua própria essência”. (Milan Kundera). Parabéns, Guzzo, pelo último parágrafo. Sensacional.
Hoje vemos nitidamente que as mentiras ditas pela esquerda em qualquer lugar do mundo não se sustentam. A visão de mundo dessa gente vai contra tudo que acreditamos de fato no mundo ocidental: trabalho pessoal, poder pensar livremente e ter liberdade de escolher quem melhor lhe representa. Não adianta mais punir o povo que consegue eleger seu real candidato, não adianta nada falar mal de Trump, Millei e Bolsonaro,esses desejam liberdade e a possibilidade da livre escolha . Não desaparecerão por mentiras e desejo de minorias despreparadas.Kamala Harris nunca chegará aos pés de grandes presidentes que tornaram os EUA a maior economia do mundo e a mais forte democracia.
Guzzo como o sempre brilhante , p povo está saturado dessa esquerda do politicamente correto. Hipócritas.
Será que o mestre GUZZO é do planeta terra? Não consigo entender como ele se supera a cada artigo.
Sensacional, Guzzo. Mestre em redigir com tamanha clareza e mostrar a imprensa mentirosa, apoiada por artistas que se preocupam somente com os respectivos bolsos. Querem regular a internet (calar, seria mais honesto dizer), porque sabem que ninguém leva mais a sério o jornalismo da televisão, dito tradicional. Mas felizmente temos a Revisa Oeste e também os programas no youtube. Muito obrigada por existirem.
A grande verdade é que a nova ordem mundial compra todo stablichment internacional e os cientistas e intelectuais gostam do dinheiro, mesmo sabendo que é um retrocesso de 200 anos, fazem de tudo pra convencer as sociedades ocidentais, como a maioria é formada por jumentos, eles aderem
Guzzo, preciso, cirúrgico! Hoje assisti que, nas Olimpíadas, estão querendo mudar a dieta dos atletas para uma “mais sustentável”, sem proteínas animais! A esquerda tentando destruir o mundo.
Simplesmente brilhante!
Como sempre!