Governos passam. Os brasileiros, os donos do Brasil, permanecem. É preciso, portanto, manter a percepção do que está ao redor, não negar o que temos e conquistamos até aqui.
Não é preciso otimismo. O realismo já nos basta, em que pesem os atrasos do lulismo. O fato é que parte da economia tenta se descolar da tragédia das contas públicas, à espera de que o atual mandato passe rápido. O Brasil tem reagido em se manter no caminho certo, aproveitando os avanços de gestões anteriores. O governo de Lula 3, não.
Antes, o fato da semana: o governo federal anunciou cortes de gastos e contingenciamentos no Orçamento deste ano que chegam a R$ 15 bilhões. Promete a tesoura em mais R$ 25,9 bilhões para o ano que vem. Todas as bravatas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que só adicionaram instabilidade à economia e desvalorização do real, a verborragia inconsequente de que ainda não estava “convencido” da necessidade dos cortes, enfim, nada disso foi capaz de encobrir a nudez do reizinho do Palácio do Planalto. O rombo das contas públicas sob Lula 3 disparou, e isso lhe impôs inalienavelmente a obrigação de tomar a óbvia decisão de conter a própria gastança.
Os fatos prevalecem. Às vezes, tardam. Mas convenhamos que, ao menos na economia, eles têm se imposto com mais rapidez justamente pelo escrutínio público que cobra eficiência e evidencia o absurdo. Semanalmente, tenho demonstrado aqui os números dessa explosão fiscal, do aumento da relação dívida/PIB, que saiu de 71,7%, no final do governo Bolsonaro, para 76,8%, agora em maio de 2024, com menos de um ano e meio da nova gestão. E detalhe irrevogável: nenhuma pandemia global ou guerra a nos afetar. A relação entre o tamanho da dívida pública e o PIB é balizador da solvência de um país, da sua capacidade de honrar compromissos. E a explicação é simples: impostos são a única fonte de renda garantida do setor público. Como são alíquotas porcentuais, quanto mais a economia cresce, mais aumenta a arrecadação. É mera proporção matemática. O nó se dá quando a dívida cresce muito mais rápido do que a arrecadação, e a relação mencionada anteriormente avança no sentido de se aproximar muito dos 100% do PIB. É o caso atual.
Os dados mais recentes da crise fiscal são demolidores. No Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, divulgado agora em julho, a previsão de rombo do governo chegou a R$ 32,6 bilhões neste ano. Quer um comparativo? A estimativa anterior, feita em maio, era de um déficit de R$ 14,5 bilhões. É a efetivação da anedota de Dilma: a estimativa de dívida adicional, que não poderia ter meta tão ruim, mais que dobrou. O cenário só piora quando se vê que as receitas caíram neste primeiro semestre. Nos dados até junho, foram R$ 6,4 bilhões a menos de arrecadação primária, com perdas na Previdência, na Receita Federal e de recursos de concessões públicas. O que aconteceu durante esse tempo em que as contas minguavam? Lula destilava sua ignorância econômica e desconexão com a realidade colocando em dúvida a lógica que rege governos e donas de casa com a mesma matemática: gasto maior que receita gera dívida.
Menos mal que o presidente tenha começado a ensaiar uma volta à responsabilidade. Em entrevista a correspondentes internacionais, dias atrás, disse: “A gente só pode gastar aquilo que a gente ganha. Se a gente gastar mais do que a gente ganha, a gente vai quebrar”. O óbvio ululante teria tomado a alma presidencial? Nem tanto. Logo depois, na mesma entrevista, reclamou da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e de prefeituras de cidades médias e pequenas, com a qual o Brasil convive há mais de uma década e que cresce desde 2017, em governos não petistas. Reclamou, mais uma vez, do presidente do Banco Central. Ou seja, teve um espasmo de compreensão — ainda duvidosa — sobre o caos fiscal em que afundou o país.
Mas o Brasil tem resistido, apesar de Lula, porque não nasceu com o lulopetismo nem depende dele para existir. É um fato. O Brasil é grande e se tornou estratégico demais para o mundo. Daí que a opinião pública internacional se apavora quando a tradicional e outrora equilibrada diplomacia brasileira entra em parafuso ao não condenar terroristas ou dar guarida a ditadores, como tem feito neste governo. A realidade e o potencial econômico do país, além de que Lula é passageiro — embora ainda tenha mais dois anos e meio de mandato —, mantêm a verdadeira esperança global e doméstica no Brasil. E é o talento nacional o que nos torna perenes, resilientes e estratégicos para o mundo.
Atualmente, alimentamos quase 1 bilhão de pessoas no mundo com nossos grãos e proteínas animais
Mas é preciso lembrar os eleitores, sobretudo nos anos de eleição, de que os números são mais positivos quando vêm de governos adeptos de compromisso fiscal e liberais na economia, que reduzem o peso e a intervenção do Estado na vida de quem empreende e gera empregos.
O caso da construção civil, forte gerador de vagas de trabalho, é notório em exemplificar esse ponto na diferente reação do mercado à postura dos governos: entre 2021 e 2022, cresceu 17,7%. Desses, 8,2% só nos 12 meses até setembro do ano da eleição presidencial. A partir de Lula, em 2023, a construção civil já estava mais cautelosa ao prever um modesto avanço de 2,5%. Em julho do ano passado, com as cartas do novo governo na mesa, viu-se obrigada a reduzir as expectativas para 1,5%. Encerrou o ano passado com queda de 0,5%, segundo o IBGE. Como o setor depende de forte financiamento, não faltaram dedos apontados para a taxa Selic de dois dígitos. O argumento não resiste às evidências: os juros eram crescentes em 2021 (9,25%), na retomada da pandemia; atingiram o topo em 2022 (13,75%), sob a guerra na Ucrânia; e começaram a cair justamente em agosto de 2023 (13,25%). E poderiam ter começado a cair logo no início do ano, não fossem as críticas públicas e deselegantes de Lula a Roberto Campos Neto e à autonomia do Banco Central, e o avanço desajuizado do gasto público, que começara com a “Emenda Fura-Teto”. O barulho político de Lula e a ineficiência da gestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com viés meramente arrecadatório, o que gerou o meme “Taxad”, impactaram o mínimo de previsibilidade que requerem os investidores. Tentando se descolar da política ruim e com olhar no futuro, visto que prédios residenciais, por exemplo, demoram de três a quatro anos para ficar prontos e são investimentos de longo prazo, o setor estima um crescimento acima de 2% para 2024. É resiliência em concreto.
No campo, o agronegócio brasileiro se conecta automaticamente à mesa do brasileiro e às cadeias globais de distribuição, o que o descola com mais facilidade do barulho governamental. Atualmente, alimentamos quase 1 bilhão de pessoas no mundo com nossos grãos e proteínas animais. Das exportações brasileiras, os produtos agropecuários representaram 49% de tudo o que vendemos para o exterior. A safra colhida em 2023 foi plantada antes, bem antes do atual governo. Já a produção de 2024, que enfrentou desafios climáticos e declarações governistas contra o agro, chamado de “fascista”, teve retração de 4,5% na colheita de soja, nosso principal grão. Mas ainda assim será a segunda maior produção da história.
Para concluir, lembra da importância brasileira para o mundo? Então, a OCDE diz que a produção de alimentos global precisa crescer 20% nos próximos dez anos para atender à demanda. Para que isso ocorra, só o Brasil precisa aumentar sua oferta de comida em 40%. E temos como fazer isso porque já o fizemos antes.
O professor Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, traz um comparativo que é definitivo sobre a competência nacional dos agricultores brasileiros: a área plantada de grãos desde 1990 até hoje cresceu 103%. A produção agrícola, 440%. Mais do que quatro vezes. É alta produtividade com preservação ambiental.
Apesar dos retrocessos institucionais, políticos e econômicos que se avolumam desde a eleição de Lula, na eleição de 2022 — vide a volta de corruptos condenados à cena política de Brasília, os convescotes de lobistas e o perdão de dívidas de corrupção confessa nos acordos de leniência de empresas na Lava Jato —, o país conseguiu fazer reformas estruturais, como a trabalhista e a da Previdência, e minirreformas administrativas nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro que inovaram sua economia e a tornaram mais resiliente às idiossincrasias e leviandades do atual ocupante do poder central.
E os Estados governados pela oposição seguem bem. São Paulo, por exemplo, acabou de concluir uma bem-sucedida, bilionária e eficiente privatização da Sabesp, a maior empresa de saneamento básico do país. A nova gestão deve universalizar a oferta de água, coleta e tratamento de esgoto até 2029, muito antes da meta nacional, em 2033.
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Se a gangue petista cedeu e fez cortes no orçamento, não tenha duvidas que é porque estão visando outra manobra pra cobrir. Aquela turma não dá ponto sem nó, quando o assunto é assaltar o dinheiro do brasileiro.
O Estado brasileiro caiu na armadilha de colocar percentuais obrigatórios para Saúde e Educação, para com isso garantir o orçamento dessas pastas, mas ao longo das últimas décadas, a Saúde e a Educação não melhoraram. Pacientes continuam esperando meses, as vezes anos, por uma cirurgia, muitas vezes morrendo antes de ser operado, nossos do ensino público mal sabem realizar as 4 operações básicas da matemática, não sabem interpretar um texto de 4 linhas. É preciso urgentemente desvincular gastos obrigatórios atreladas ao salário mínimo, para que o Governo Federal, numa gestão séria, consiga retomar o controle sobre o orçamento. Se isso não for feito, em poucos anos o Brasil estará numa situação igual à que a Grécia esteve um tempo atrás: falido!
*nossos alunos do ensino público….
Marcelo, seu ponto é crucial: a eficiência do gasto é ruim. O formato de garantia de orçamento gerou uma certa preguiça por eficiência, aquela coisa de “o dinheiro está garantido”. Obrigado pelo comentário.