Brizola chamava Lula de sapo barbudo. A relação Lula-Maduro parece a da fábula O Escorpião e o Sapo. O escorpião pede ao sapo que o carregue para atravessar o rio. O sapo argumenta que o escorpião vai ferrá-lo; o escorpião responde que, se fizer isso, morrerá com o sapo, afogado. O sapo concorda e, no meio do rio, o escorpião o ferra. Morrendo, o sapo pergunta: “Por que você fez isso? Vai morrer afogado”. E o escorpião: “É da minha natureza”. Com a “reeleição” de Maduro, Lula hesitou um pouco — talvez esperando conselhos de Celso Amorim, e entrou no barco de Maduro, que afundará mais cedo ou mais tarde. Vai afundar junto. Mas parece que é da sua natureza. Decidiu continuar junto de Maduro — e às vésperas de eleições municipais no Brasil. O PT já estava embarcado. Afinal, o mundo inteiro já sabe que Lula é apoiador e amparo político de Maduro. E a América Latina, por isso, tem que sustentar e conviver com ditaduras.
Lula e o PT assumem o risco interno, com consequências nas eleições municipais, já que o caso Maduro está sendo amplamente noticiado no Brasil e chega ao povão. Além disso, a esquerda mostra muitos rachas em relação a Maduro. Até dentro do governo, como é o caso de Marina Silva, que afirmou que a Venezuela não é uma democracia. O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira Filho, diretor da Apex, diz que não é apenas o domingo eleitoral que está contaminado, mas o processo todo, com o impedimento das candidatas María Corina Machado e Corina Yoris. O presidente da Organização dos Estados Americanos chamou de “a mais aberrante manipulação de eleições”. E convocou uma reunião da OEA, proposta por Uruguai, Paraguai, Argentina e Estados Unidos, para exigir esclarecimentos de Maduro. Não deu. Precisaria de 18 votos e teve 17. Faltou um voto. Poderia ter sido o do Brasil, que fingiu neutralidade, o que significa aprovar Maduro. Afinal, Lula disse que “foi um processo normal, tranquilo. Não tem nada de grave, nada de assustador”. O ex-chanceler Ernesto Araújo diz que o Brasil finge neutralidade, mas apoia os inimigos do Ocidente. Foi o que se viu com o vice Alckmin na mesma linha de poltronas do Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmico e Hutis, na posse do presidente do Irã. Esse tem sido o nosso alinhamento.
Ingenuidade a nossa, dos que queríamos acreditar que um ditador pudesse submeter seu poder ao voto. Segundo a contagem independente, o resultado foi de 66% para González a 31% para Maduro. Mas a proclamação oficial foi de 51,21% para Maduro — talvez um porcentual tabelado por já conhecido algoritmo. No dia das eleições, agiu a “polícia eleitoral”, fechando ou abrindo lugares de votação, e boa parte das atas não foi considerada — o sistema eleitoral saiu do ar antes de chegar a 80% das atas de urnas. As duas candidatas mais fortes foram tornadas inelegíveis. Enfim, tudo como se deveria esperar de uma ditadura, não houvesse a ingenuidade animada da nossa esperança.
Não há caso de ditador sair pelo voto; só há caso de ditador usar arremedo de eleições para tentar legitimar-se. Só será legítimo se tiver a permissão do povo. O prócer uruguaio dom José Artigas, no Congresso de abril de 1813, deixou esse princípio lapidar que as crianças recebem nas escolas: “Minha autoridade emana da vontade de vocês, o povo; e cessa diante da vossa presença soberana”. Quando cessa a soberania popular e impõe-se a vontade de um homem, seja quem for, é porque já não há democracia. Ainda que Maduro fosse derrotado, teria seis meses até a posse para inventar uma agressão da Guiana à honra da Venezuela. Um estado de guerra seria o pretexto para manter o comandante supremo Maduro no poder, já que a oposição não pretende tomar Essequibo.
O presidente do Brasil mandou como observador o seu assessor para política externa, Celso Amorim, que trata Maduro com o mesmo amor com que tratou o esquerdista Zelaya, derrubado pelo Congresso e pelo Supremo de Honduras, que se homiziou na Embaixada Brasileira em Tegucigalpa e a converteu num diretório político. O Itamaraty teve imenso trabalho para emitir uma nota sobre a transparência ainda não aceitável de atas, mas saudando “o caráter pacífico da jornada eleitoral”. Observadores da ONU e União Europeia não viram essa paz. Há mortos e feridos nas ruas, estátuas de Chávez derrubadas, cartazes de culto à personalidade de Maduro removidos.
A eleição, ao contrário do que pretendia Maduro, descerrou mais a realidade que ainda era encoberta por simpatizantes de regimes totalitários
O Centro Carter, um dos qualificados no Acordo de Barbados para observar a eleição venezuelana, afirma que “não pôde verificar ou corroborar a autenticidade dos resultados proclamados pela Comissão Eleitoral venezuelana”. Não há como não comparar com as conclusões da auditoria do PSDB sobre os resultados da reeleição de Dilma derrotando Aécio. Não conseguiram auditar, segundo o relatório.
O esquerdista presidente do Chile, Gabriel Boric, postou no X algo que pode bem servir de recado para Celso Amorim: “Exigimos que observadores internacionais não comprometidos com o governo deem conta da veracidade dos resultados”. E foi fundo: “Exigimos total transparência das atas”. Com posição semelhante à que tornou Bolsonaro inelegível, Boric postou: “Não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”. O governo brasileiro, com imagem mundial consolidada de Lula parceiro de Maduro, teve que aderir para inglês ver à óbvia exigência democrática de transparência, de atas auditáveis. Parece nossa história em 1945, na volta de nossos soldados da Itália, onde haviam dado o sangue para derrubar duas ditaduras, e foram recebidos no Rio por um ditador.
A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, por bravatas de Maduro em relação ao processo eleitoral brasileiro, cancelou a ida de técnicos da Justiça Eleitoral a Caracas. Hoje esses técnicos do TSE seriam cobrados e não teriam respostas; poderiam ser atingidos pelo que está acontecendo, com o risco de parecerem fiadores do processo. A eleição, ao contrário do que pretendia Maduro, descerrou mais a realidade que ainda era encoberta por simpatizantes de regimes totalitários. Lula classifica isso de “democracia relativa”. Mas o que Maduro faz mostra aos ingênuos que não há democracia na Venezuela. E que ditador não sai no voto.
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Alexandre Garcia, brilhante como sempre. Seria a heurística Venezuela o que nos espera ?
Excelente a analogia do escorpião com o sapo. É isso mesmo.
EXCELENTE REFLEXÃO EVIDENCIADA NESSE ARTIGO. A DIPLOMACIA BRASILEIRA ESTÁ SENDO LEVADA AO LIXO DA HISTÓRIA. JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS – BARÃO DO RIO BRANCO – DEVE ESTAR SE REVIRANDO INCESSANTEMENTE EM SUA SEPULTURA, DIANTE DE TANTA AUSÊNCIA DE PUDOR, PRATICADA POR ESSE PRESIDENTE, ADMIRADOR DE DITADURAS E DITADORES SANGUINÁRIOS. ISSO ENVERGONHA AO BRASIL INTEIRO.
Querem colocar ele no poder e qual colocaram o descondenado aqui
Concordo Alexandre, parece coisa articulada de Lula com Maduro censurar nossas urnas eletrônicas, para que nosso TSE/STF ficar zangado e não mandar observadores presenciar as eleições venezuelanas.
Como na fábula acima citada, espero que os dois morram o mais rápido possível.
Esperem só o Trump entrar lá , e vocês vão ver as coisas começarem a acontecer com essa gente.
quando carminha cancelou a ida de observadores foi porque já sabia que não teria como lula ficar agora se equilibrando para apoiar maduro, já sabiam que ia ser essa farça toda
Todos os jornalistas que não são de esquerda sabem que esse Lula é um ladrão bandido terrorista comunista, não tem diferença dos outros que ele apoia. O que nós brasileiros precisamos fazer é dá um basta nisso que já passou de todos os limites