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Foto: Shutterstock
Edição 229

Como as escolas estão sexualizando a infância

Crianças cada vez menores estão aprendendo sobre ideologia de gênero e práticas sexuais extremas

Joanna Williams, da Spiked
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A preocupação com o fato de as crianças estarem aprendendo temas altamente sexualizados, politizados e inadequados para a idade nas aulas de educação sexual nas escolas vem crescendo há muitos anos. Em maio, o então governo conservador do Reino Unido finalmente decidiu enfrentar a questão. Os ministros emitiram uma nova orientação que excluía o ensino de ideologias de gênero contestadas como fatos e o ensino de sexo para crianças antes dos 9 anos de idade. Foi uma medida corretiva sensata. Porém, pelo jeito, com os trabalhistas agora no comando, todos os aspectos do currículo escolar, inclusive relacionamentos e educação sexual, estão sujeitos a revisão.

O Partido Trabalhista Britânico está sendo pressionado a abandonar a recente orientação, que mal chegou a ser implementada, e trazer de volta as aulas que ensinam às crianças que o gênero é múltiplo, fluido e que elas devem escolher por si mesmas — e que o conhecimento de práticas sexuais extremas é, de alguma forma, empoderador (mesmo que você tenha apenas 8 anos de idade). Mais de cem grupos escreveram para a nova secretária de Educação do Partido Trabalhista, Bridget Phillipson, alertando que a orientação anterior para as escolas “está aquém do necessário para ajudar a manter as crianças seguras, saudáveis e preparadas para a vida moderna”. Eles argumentam que as restrições etárias para ensinar as crianças sobre sexo e para abordar o tema da identidade de gênero ameaçam o “trabalho preventivo” que a educação sexual desempenha.

Como expus em um novo relatório publicado no dia 24 de julho pelo MCC Bruxelas, o argumento de que aulas altamente sexualizadas são necessárias para “proteger” as crianças é utilizado por organizações internacionais influentes, como a Unesco, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) e o Parlamento Europeu. Juntos, esses grupos de elite de autoproclamados “especialistas” em sexualidade reivindicam a autoridade moral para moldar o que é ensinado às crianças do mundo todo sobre os aspectos mais íntimos da vida — sua identidade, sua sexualidade e seus relacionamentos privados. Esses grupos que atualmente fazem lobby junto ao governo britânico querem que as escolas do Reino Unido adotem uma “educação sexual abrangente” (“comprehensive sexuality education“, ou CSE) alinhada com essa agenda global.

Deram às crianças a responsabilidade pelas próprias experiências sexuais

A ideia de que as escolas devem ensinar conteúdo sexualmente explícito para proteger as crianças é um dos principais problemas da abordagem adotada internacionalmente. Em Sexualising Children? The Rise of Comprehensive Sexuality Education, argumento que, em vez de proteger as crianças, a CSE rouba sua inocência e pode colocá-las em risco.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Um dos princípios nos quais a CSE está baseada pressupõe que as crianças são seres sexuais desde o nascimento. Isso justifica os apelos para que a CSE comece na primeira infância. A OMS argumenta que:

“Desde o nascimento, os bebês aprendem o valor e o prazer do contato corporal, do calor e da intimidade […] Desde o nascimento, os pais, em especial, transmitem mensagens aos filhos relacionadas ao corpo humano e à intimidade. Em outras palavras, eles estão envolvidos na educação sexual.”

Isso reinterpreta o desenvolvimento infantil e as interações familiares através de uma lente sexual. Tradicionalmente, os pais não se veem como “envolvidos na educação sexual” quando cuidam de seus bebês e suas crianças pequenas. Sugerir que esse é o caso impõe uma estrutura altamente sexualizada à vida familiar. Não são os bebês que são seres sexuais, mas a OMS que sexualiza a infância e os relacionamentos íntimos.

Cabe aos pais transmitir valores sobre sexo e relacionamentos, não a professores ou ONGs

Quando se aceita que as crianças são seres sexuais desde o nascimento, nunca é cedo demais para ensiná-las sobre seus direitos sexuais, o que inclui, em primeiro lugar, o direito ao prazer sexual. A IPPF afirma que:

“Todas as conversas sobre prazer devem enfatizar a diversidade de formas que o prazer pode ter. Os programas que fazem isso podem fortalecer o foco na comunicação e no consentimento, por meio do reconhecimento de que dar e receber prazer exige que os parceiros sexuais rejeitem suposições, em favor de fazer perguntas e verbalizar tanto desejos quanto limites.”

Isso sugere que o papel da CSE é ensinar às crianças diversas formas de prazer sexual e incentivá-las a rejeitar suposições sobre o que é um comportamento aceitável e inaceitável. Ensina-se as crianças a expandir seus horizontes sexuais, a “rejeitar suposições” e a se concentrar em “dar e receber prazer” antes de serem incentivadas a “verbalizar” limites. As crianças aprendem que o único limite é o consentimento — e até mesmo o consentimento exige que elas tenham, em primeiro lugar, uma mente aberta para dizer “sim”. Embora disfarçado com a linguagem da “saúde” e da prevenção de riscos, dar às crianças a responsabilidade pelas próprias experiências sexuais e incentivar uma gama mais ampla de comportamentos, sem dúvida, coloca as crianças em maior risco do que se não tivessem sido expostas à CSE.

Foto: Jurgis Mankauskas/Shutterstock
Envolvendo crianças na política

Isso é reforçado pela realidade de que a Unesco, a OMS e outros promotores da CSE se referem a “jovens”, em vez de crianças. O fato de que, para alguns países, a idade de consentimento para o sexo demarca a diferença entre crianças e adultos é ignorado. Da mesma forma, a necessidade de aulas “de acordo com a idade” se transforma em argumentos para instrução “de acordo com o desenvolvimento”, enquanto a necessidade de ensinar “preventivamente” implica “antecipar” o desenvolvimento sexual. Em outras palavras, as crianças supostamente precisam aprender sobre sexualidade antes de desejarem esse conhecimento ou precisarem dele. Seja como for, sem dúvida, o papel dos adultos é proteger as crianças do abuso, e não as crianças terem que se proteger. Essa falta de respeito às leis de idade de consentimento mostra como as organizações internacionais estão preparadas para passar por cima da soberania nacional e dos costumes regionais em sua pressa de promover a CSE.

Em paralelo, a CSE prejudica as famílias. Cabe aos pais transmitir valores sobre sexo e relacionamentos, não a professores ou ONGs. Ela também prejudica a educação. As escolas estão sendo exploradas como o espaço onde as crianças constituem um público cativo. Ironicamente, como mostra meu relatório, a CSE pode fazer com que as crianças aprendam pouco sobre sexo. As aulas enfocam pouco a ciência básica da reprodução sexual e, em vez disso, concentram-se em temas mais amplos, como sexualidade e relacionamentos íntimos. O objetivo é mudar as atitudes e os comportamentos das crianças e, dessa forma, implementar uma mudança social mais ampla. Assim, a imposição global da CSE envolve crianças inocentes em um projeto explicitamente político.

É fundamental que os trabalhistas resistam à pressão que estão enfrentando para abandonar a orientação do governo anterior sobre educação sexual. Infelizmente, nem Keir Starmer nem Phillipson endossaram essa orientação em maio. Aqueles que se opõem à sexualização da infância e à politização da educação devem fazer suas vozes serem ouvidas.


Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won. Ela é pesquisadora visitante do Mathias Corvinus Collegium (MCC), de Budapeste. Seu novo relatório, Sexualising Children? The Rise of Comprehensive Sexuality Education, acaba de ser publicado.

Leia também “Está na hora de aposentar o rótulo ‘extrema direita'”

2 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Cabe aos pais o acompanhamento da criança, e não delegar exclusivamente as escolas.

  2. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Como o mundo está cheio de pervertidos travestidos de “especialistas” em qualquer assunto.

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