Em 2013, na Venezuela, o vice-presidente do então recém-falecido Hugo Chávez, Nicolás Maduro, “venceu” a disputa eleitoral contra o candidato da oposição, Henrique Capriles. Conforme o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a diferença entre o sucessor de Chávez e o ex-deputado foi de pouco mais de 300 mil votos. Naquele ano, o CNE, contudo, já estava totalmente controlado pelo chavismo. A corrida presidencial ficou marcada por várias denúncias de fraudes em seções eleitorais, entre elas ameaças a pessoas por milícias ligadas ao governo federal, urnas eletrônicas “viciadas” e manipulação das atas, que até foram divulgadas à época. Os opositores, porém, não conseguiram provar nada oficialmente.
Mais de uma década depois da primeira de muitas derrotas que viriam pela frente, a direita conseguiu o que parecia inimaginável: provou para o mundo a fraude na eleição presidencial deste ano. As redes sociais desempenharam papel crucial nesse feito. Isso porque os “observadores” dos partidos de oposição fotografaram as atas ao fim de cada seção eleitoral e as divulgaram em seus perfis, sobretudo no X/Twitter. Paralelamente, coordenadores da oposição compilaram esses resultados e chegaram ao placar: 7,3 milhões de votos para o diplomata aposentado Edmundo González e 3,3 milhões para Maduro, algo totalmente diferente do que informou a Justiça Eleitoral. Além disso, a população registrou em vídeos, que se tornaram virais na internet, todas as irregularidades constatadas, desde ameaças com armas até roubos de urnas.
Em virtude dessas evidências, seis nações democráticas reconheceram a vitória de González como presidente eleito do país: Estados Unidos, Uruguai, Equador, Costa Rica, Panamá e Argentina. Com o passar do tempo, outras devem ampliar a lista de democracias que acreditam que os fatos desmontaram a narrativa do perdedor. Na contramão da sensatez, apenas autocracias legitimaram uma ditadura carcomida e em avançado estado de decomposição, a exemplo de Rússia, China, Belarus, Cuba e Coreia do Norte. Se deixar hoje o poder, Maduro tem alguns destinos nada bons para ele: exílio, morte ou prisão. Poucos lugares no mundo o aceitariam e, muito provavelmente, o ditador acabaria trancafiado no El Helicoide, o pior de todos os presídios da Venezuela — onde poderia ser assassinado. Por isso, permanecer no poder se tornou questão de sobrevivência para o regime venezuelano e para todos que o parasitam.
Burguesia chavista
O que ainda mantém Maduro no poder, embora a oposição tenha a maioria dos votos, não são apenas os representantes de instituições dos Três Poderes, mas, sim, as Forças Armadas, que recebem o amparo de potências orientais. O establishment venezuelano sustenta o apoio dos militares em três pilares: poder, dinheiro e medo. Atualmente, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ocupam cargos importantes na administração pública e mantêm uma política robusta de ascensão dentro dos quartéis. Generais, almirantes e brigadeiros detêm o controle de setores importantes da economia, como petróleo e minério. Há também uma forte repressão no meio para aqueles que ousarem desafiar essa estrutura, como perda dos benefícios e até mesmo a morte de familiares e pessoas próximas.
Além disso, toda essa casta reside em áreas nobres da capital e possui fazendas em cidades do interior. Seus familiares fazem compras no exterior — principalmente em Miami, nos Estados Unidos — e vivem uma realidade completamente diferente da maioria da população. Um dos que se enquadram nessa elite é Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, e número 2 de Maduro no poder. Está em nome de Cabello, por exemplo, um avião de US$ 20 milhões. Ele tem ainda reservas financeiras em ouro em outros países, procedimento adotado por outros chavistas.
O próprio Maduro usufrui de todas as regalias que o poder proporciona. Em setembro de 2018, o ditador foi filmado em um restaurante chique em Istambul, na Turquia, almoçando com a mulher, Cilia Flores, depois de voltar de uma viagem à China. Para ter ideia do luxo, há pratos que custam US$ 1.000 no local. O vídeo que registrou a cena nababesca mostra Maduro fumando um charuto, com os dedos repletos de anéis de ouro, sendo servido pelo “chef das celebridades” Nusret Gökçe, que salpica ouro em uma carne nobre. Tudo isso em meio aos cerca de 80% de pessoas abaixo da linha da pobreza, à época, na Venezuela.
O luxo não é dispensado nem mesmo pela primeira-dama da Venezuela, que se define como uma mulher simples e do povo. Ela usa roupas de marca e gosta de bolsas da grife norte-americana Hermès. Um produto dessa empresa custa aproximadamente R$ 50 mil. Nome conhecido na política venezuelana e uma das mulheres mais poderosas de seu país, a “primeira-combatente”, como ficou conhecida Cilia, hoje com 67 anos, iniciou sua carreira política no ano 2000, quando foi eleita pela primeira vez como deputada na Assembleia Nacional. Ela foi reeleita deputada em 2005 e chegou a ocupar a presidência da Casa entre 2006 e 2011. Advogada e chavista, foi nomeada procuradora-geral da Venezuela em 2012.
Instinto de sobrevivência
Para se manter agarrado à Presidência e preservar essa casta, a primeira medida de Maduro foi dar aparência de legalidade ao resultado do CNE ao pedir ao “STF” do país que ratificasse os votos. A Corte, assim como o CNE, é totalmente controlada por membros do governo. Para ter ideia da proximidade entre o governo federal e o Poder Judiciário, a presidente do tribunal, Caryslia Rodríguez, é filiada ao partido de Maduro e milita no chavismo desde a época em que era estudante de Direito na Universidade Central da Venezuela. Nas redes sociais, há um vídeo dela pedindo votos para a esquerda.
Maduro iniciou uma caça às lideranças partidárias ligadas à ex-deputada María Corina Machado, hoje a principal representante do movimento que se opõe ao chavismo
“Reeleito”, Maduro subiu o tom e passou a calar a oposição. Desde o anúncio pelo CNE, multidões ocuparam as ruas para se manifestar, pacificamente, contra o governo. Os protestos, considerados “radicais” pela ditadura, incluíram a derrubada de estátuas de figuras ligadas ao chavismo, assim como a de seu maior representante, Hugo Chávez. A ousadia levou quase 1,5 mil pessoas para o El Helicoide. O número só aumentou desde 28 de julho.
A escalada de abusos chegou a líderes da oposição. Maduro iniciou ainda uma caça às lideranças partidárias ligadas à ex-deputada María Corina Machado, hoje a principal representante do movimento que se opõe ao chavismo. Dois dias depois do fim da eleição, homens encapuzados prenderam Freddy Superlano, um dos dirigentes da sigla Voluntad Popular, quando ele saía de uma reunião com aliados. A mulher de Superlano fez um apelo nas redes sociais, pois, segundo ela, o governo não estabelece prazo para a soltura de presos políticos, tampouco se sabe exatamente para onde são levados. María Oropeza, outra oposicionista que apoia María Corina, aumentou a lista de detidos ao ser a segunda a parar atrás das grades. Coordenadora do Comando ConVzla, mesma legenda da ex-deputada, Oropeza filmou a sua própria prisão.
Nesta semana, o deputado Williams Dávila, em pleno exercício do mandato, se tornou a mais recente liderança da oposição a terminar na cadeia por se manifestar contra o governo. De acordo com o filho do parlamentar, seu pai precisou ser hospitalizado em decorrência de um pico de febre, desidratação da pele e infecção urinária severa. O homem teve de ser transferido da cadeia para o Hospital das Clínicas de Caracas, sob custódia do Estado. O partido de Dávila, Defiende Venezuela, informou que Dávila é “beneficiário de uma medida cautelar”, por ter passado por uma cirurgia para a “substituição valvular aórtica em novembro”. Em nota, a sigla comunicou que o congressista tem “dois stents” e “está tomando medicamentos essenciais que não pode interromper”.
No Brasil, nesta quinta-feira, 15, durante uma audiência no Senado, parlamentares interpelaram o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, sobre a demora do CNE em divulgar as atas. O assessor disse que, em diplomacia, não se deve dar prazos para problemas muito complexos.
Horas antes, o presidente Lula afirmou “ainda não reconhecer” a vitória de Maduro e cobrou do ditador uma “explicação para a sociedade brasileira e para o mundo”. Foram as primeiras declarações de ambos depois de o cerco se fechar ainda mais no entorno de Maduro. “Agora, os dados têm de ser apresentados por algo que seja confiável”, declarou o petista, sem mencionar o Centro Carter e a agência de notícias AFP, que checaram as atas da oposição e certificaram a autenticidade dos documentos. “O CNE, que tem gente da oposição, poderia ser, mas Maduro mandou para a Suprema Corte dele. Eu não posso julgar a Suprema Corte de outro país.” Lula só deixou de mencionar que o “STF” venezuelano e o CNE são totalmente controlados por Maduro.
Enquanto o Brasil tergiversa a respeito da ditadura de Maduro, mais pessoas morrem e são presas a cada dia. Até o momento, o resultado da eleição é o que Maduro define e ponto final. O chavismo continua praticando crimes diariamente, sem intenção de se “ressocializar” com o mundo. Enquanto isso, os cúmplices que se mantenham cúmplices do massacre.
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O que poderia dizer o descondenado sobre a farsa eleitoral na Braszuela depois de receber o ditador no país com tapete vermelho e honras de chefe de Estado.
O Brasil no lado ruim da história por um presidente sem povo e lá como cá, protegido por quem deveria estar condenando.
A quadrilha petista, e seu chefe presidente nomeado pelo TSE, tergiversa porque pratica os mesmos moldes em nosso país.
Aqui está igual a Venezuela, o só ver o que o xandão está fazendo com os apoiadores de Bolsonaro. Como foi divulgado no vazamento das conversas com seus subordinados.