Eu só quero justiça!

Nesta terça-feira, dia 13 de agosto, eu estava prestes a entrar ao vivo na minha live “TudoConsta”, quando alguém que se apresentou como jornalista da Folha de S.Paulo mandou uma mensagem. Dizia apenas: “Boa tarde, Constantino. Tudo bem? Aqui é Fabio Serapião, repórter da Folha de S.Paulo em Brasília”. E mais nada. Sou do tipo que prefere mensagens que chegam completas de uma só vez, pois me parece ser o estilo do WhatsApp, em vez de aguardar uma resposta como “tudo bem” para retomar a conversa. Foi, porém, o que fiz. Respondi e aguardei. E faltavam dez minutos para entrar ao vivo. Pensei: “Lá vem chumbo da mídia contra mim, e a Folha quer o outro lado”.

Comecei minha live e deixei de lado o assunto. Vi que o repórter mandou um link de uma matéria sobre Alexandre de Moraes, e deixei para ver depois. Fiz meu programa inteiro seguindo minhas pautas prévias e, quando terminei, tinha uma mensagem do Paulo Figueiredo: “Você viu, né?”. Ainda sem saber do que se tratava, pensei que era sobre um parceiro novo que ele indicara como anunciante. Quando me dei conta do que estava acontecendo, já era o nosso Clayton Ubinha me perguntando se eu poderia entrar ao vivo no Oeste Sem Filtro para comentar o caso Alexandre de Moraes. Lá fui eu comentar o caso para nossas 100 mil telas simultâneas…

Foi um turbilhão de emoções, confesso. Sem tempo para filtrá-las ou refletir, defendi abertamente a prisão do ministro, pelo que se configura claramente como um crime de abuso de poder cometido por ele. A reação mais instintiva nem sempre é a acertada, mas naquele caso era. Vi muita gente falando que o caminho ficaria livre para Lula escolher outro comunista para o STF, que o Glenn Greenwald, jornalista que teve acesso aos mais de 6 gigabytes de mensagens trocadas pelo grupo do Alexandre, sempre foi esquerdista, assim como a Folha. Se até a Globo estava dando destaque, e me chamando de jornalista ainda por cima, então era fritura encomendada pelo PT.

Não vou, aqui, entrar nesse debate. Entendo que o jogo do sistema é bruto, que há diversos interesses obscuros em jogo, que nem tudo é o que parece. Não sou ingênuo. Mas não posso aceitar a ideia de que Moraes deve ser poupado porque Lula vai indicar outro comunista. Primeiro, porque Moraes virou o maior símbolo de abuso de poder no país, mesmo sendo ligado aos tucanos, e não aos petistas. Segundo, porque ignorar o que veio à tona e deixar por isso mesmo para um suposto xadrez 4D é loucura, significa destruir de vez as instituições republicanas — que já estão em frangalhos.

Se é o PT fritando alguém que ajudou Lula a voltar à cena do crime, mas acumulou poder rival demasiado, ou se é um ex-assessor que foi preso por crime doméstico e se sentiu abandonado buscando vingança, ou se é apenas um jornalista que conseguiu um grande furo de reportagem, isso não sabemos e não me importa tanto agora. O fundamental é que Alexandre foi pego com batom na cueca, ou melhor, em flagrante no motel traindo a esposa — no caso, a Constituição. E isso precisa gerar consequências.

Há cerca de um ano e meio que estou sem meu passaporte brasileiro, sem minhas redes sociais no Brasil e com minhas contas bancárias congeladas — com meses de trabalho honesto acumulados. Não é fácil, mas nunca permiti que isso me colocasse prostrado. Até porque há casos muitos piores. Filipe Martins ficou preso injustamente por seis meses e ainda enfrenta cautelares absurdas. Daniel Silveira segue preso apesar da graça presidencial e da imunidade parlamentar que tinha. Silvinei Vasques passou um ano no cárcere como preso político. Várias pessoas comuns continuam atrás das grades. Debora, a cabeleireira, ainda está afastada de seus dois filhos. Empresários e trabalhadores se exilaram na Argentina e alguns viraram moradores de rua. Clezão morreu.

Busco sempre ver o copo meio cheio em minha vida, com gratidão profunda a Deus pelo que tenho, pela minha família, por ter me tornado cidadão americano e desfrutar de mais liberdade e proteção agora. Agradeço todos os dias por isso tudo, e prometi não deixar que as injustiças praticadas pelo arbítrio alexandrino me transformassem numa pessoa pior, amargurada, vitimista. Admito que nem sempre foi fácil, que houve dias em que bateu aquela depressão, aquele sentimento de impotência e revolta que te consome por dentro. Mas luto contra isso e não posso aceitar que pessoas pequenas como Alexandre de Moraes tenham tanta influência sobre mim, por mais que possam me prejudicar com seu imenso poder. “Ninguém pode machucá-lo sem seu consentimento”, como diria Gandhi. Ao menos não naquilo que é essencial.

Se Alexandre de Moraes permanecer no cargo como se nada tivesse acontecido, isso realmente pode significar “game over” para nosso país

Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco; se perdeu a honra, perdeu muito; se perdeu a coragem, perdeu tudo”. A fala de Vincent van Gogh captura bem o que está em jogo. Alexandre de Moraes causou muito mal a muita gente inocente. Sou um deles, tenho “lugar de fala”. Mas não é desse lugar que falo aqui. Não quero vingança. Não busco uma vendeta particular. Sem cargo público, sem capangas, sem exército algum, apenas armado com minhas palavras, vi um ministro todo-poderoso obcecado comigo, ordenando de forma ilegal a seus cúmplices que buscassem qualquer coisa contra mim, das mais comezinhas. Meu inquérito todo é uma coletânea de tuítes inofensivos, como esses que a reportagem da Folha mostrou. Alexandre realmente quis me calar, me intimidar, me destruir. Mas fracassou. Aqui estou, ainda que sem parte do meu dinheiro, sem meu passaporte brasileiro e sob censura no Brasil. E, acima de tudo, sem rancor, sem ter deixado o ódio tomar conta de mim.

Quis dar um tom mais pessoal a esta coluna, pois sobre os crimes de Alexandre já há muita coisa boa por aí. Fiz um relato mais íntimo dos meus sentimentos diante disso tudo. Espero, do fundo do meu coração, que Alexandre de Moraes sofra impeachment o quanto antes e vá preso. Se ele permanecer no cargo como se nada tivesse acontecido, isso realmente pode significar “game over” para nosso país. Mas não importa o que aconteça, vou seguir adiante com minha vida, com minha luta por justiça. Há muita crueldade neste mundo, muita hipocrisia e oportunismo, muito canalha. Mas estou seguro de que as pessoas decentes são maioria. E é em homenagem a cada um desses patriotas decentes que preciso ter resiliência, esperança e fé.

Como disse John Adams: “Fatos são coisas teimosas; e quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de nossas paixões, eles não podem alterar o estado dos fatos e das provas”. Cedo ou tarde há de haver justiça neste mundo — ou depois. Espero que seja cedo. E pretendo continuar trabalhando para que isso aconteça o quanto antes. O Brasil sério tem pressa!

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