Era meio-dia de uma terça-feira,14 de agosto de 1945, quando o imperador Hirohito fez a declaração pela Rádio Tóquio anunciando a rendição do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial. A data ficou conhecida como “Dia da Vitória sobre o Japão”, ou Dia V-J. A notícia se espalhou rapidamente, e os americanos saíram para as ruas para comemorar. A enfermeira Greta Zimmer Friedman, de 21 anos, foi à Times Square, em Nova York, assistir às celebrações. Foi quando, no meio da multidão, George Mendonsa, um jovem soldado vestindo o uniforme naval, a puxou para perto de si e a beijou. A imagem acabou se tornando um dos beijos mais famosos da história da fotografia e a representação simbólica do fim da guerra.
Foi um dia de muita euforia, e várias pessoas se beijaram pelas ruas de Nova York, mas o registro que ficou mundialmente famoso e se tornou uma das fotos mais conhecidas do século 20 foi captado pelo fotojornalista americano, nascido na Alemanha, Alfred Eisenstaedt — que estava caminhando por ali, munido de sua câmera Leica Illa, em busca de um retrato perfeito da celebração do Dia V-J.
Era exatamente 5h51 quando Eisenstaedt clicou apenas quatro fotos do casal. Uma delas foi escolhida pela revista Life e ganhou uma página inteira na edição de 27 de agosto de 1945.
Em seu livro The Eye of Eisenstaedt (1969), o fotojornalista escreveu o seguinte:
“Eu estava andando pela multidão no Dia da Vitória sobre o Japão, procurando fotos. Notei um marinheiro vindo em minha direção. Ele estava agarrando todas as mulheres que conseguia encontrar e beijando todas elas — jovens e velhas. Então notei a enfermeira, parada naquela multidão enorme. Concentrei-me nela e, como eu esperava, o marinheiro apareceu, agarrou a enfermeira e se abaixou para beijá-la. Agora, se essa garota não fosse enfermeira, se ela estivesse vestida com roupas escuras, eu não teria tirado uma foto. O contraste entre seu vestido branco e o uniforme escuro do marinheiro dá à fotografia seu impacto extra.”
Mendonsa não disse nada para a mulher. Ele apenas a beijou, e cada um seguiu o seu caminho. “Não foi um evento romântico”, contou Greta, anos depois, sobre o beijo surpresa. “Foi apenas um evento do tipo ‘graças a Deus a guerra acabou’. Foi um dia em que todos comemoraram, porque todos tinham alguém na guerra, e eles estavam voltando para casa.”
A foto se tornou bastante controversa. Muitos criticaram a imagem pela forma como a mulher foi agarrada e beijada sem permissão, caracterizando para alguns uma agressão sexual. Mas não foi dessa forma que Greta se sentiu. Em uma entrevista para o Military Times, ela descreveu o seguinte: “Não consigo pensar em ninguém que tenha considerado isso uma agressão. Foi um evento feliz”. Friedman seguiu trocando cartões de Natal com Mendonsa todos os anos e apareceu com ele em vários encontros públicos.
O fotógrafo faleceu em 1995 e nunca perguntou o nome dos fotografados. A identidade dos protagonistas do beijo foi contestada nos últimos 30 anos. Ao longo desse período, cerca de 11 homens e quatro mulheres alegaram ser um dos beijadores. Uma investigação forense concluiu que os verdadeiros sujeitos eram de fato Mendonsa e Friedman. A busca pelos verdadeiros marinheiro e enfermeira foi assunto de um livro intitulado The Kissing Sailor: The Mystery Behind the Photo That Ended World War Two (2012).
Greta Zimmer Friedman morreu em 2016, aos 92 anos de idade. George Mendonsa viveu até os 95 anos. Sofreu um derrame depois de cair no asilo onde vivia em Middleton, Rhode Island, em 2019.
Uma estátua, intitulada Unconditional Surrender (“Rendição Incondicional”), foi erguida em San Diego, nos Estados Unidos, em homenagem ao famoso beijo. Todos os dias, dezenas de turistas reencenam a cena no mesmo local.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
Leia também “Espírito olímpico”
Tem uma estátua igual em Sarasota, Flórida
Ótima escolha.
Feliz que gostou. Obrigada, Candido!
Os tempos mudaram , mas a alegria deste momento ainda é relevante e emociona.
Concordo, Olnei. Obrigada pelo comentário.
que bela escolha de foto para comentar, e o contraste entre os tempos é medonho, para dizer o mínimo, afinal a foto é famosa justamente por mostrar a felicidade do mundo ao ver o fim da mais trágica e violenta guerra da humanidade, e hoje as pessoas sem noção de nada veem ‘assédio’ , onde nem a namorada e futura esposa viu, tanto que está feliz e casou com ele…e a enfermeira também não…sinal dos tempos…
Concordo, Emilio. Obrigada pela mensagem. Abs.,
Um alento em meio a tantas notícias difíceis ….
Belíssima matéria!
Feliz que gostou, Luiz. Obrigada pela mensagem. Abs.,
Estamos precisadíssimos de mais beijos assim hoje
Sem dúvidas, Silas. Abs.,