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Foto: Revista Oeste/Midjourney
Edição 230

Pense antes de postar

Lançado há oito anos, o romance O Império do Oprimido projetava através da ficção o que agora se concretiza como realidade

Guilherme Fiuza
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A repressão estatal no Reino Unido contra cidadãos por suas postagens em redes sociais, inclusive com prisões sumárias, mostra que o novo autoritarismo está disseminado pelo mundo. E se manifesta também nas sociedades mais organizadas — que já foram conhecidas como “Primeiro Mundo”.

Numa ofensiva arrojada contra a liberdade de expressão — como sempre fantasiada de “combate à onda de ódio” —, o recém-empossado primeiro-ministro Keir Starmer está intimidando os críticos das políticas de imigração. O governo trabalhista cunhou o alerta “Pense antes de postar”. Lançado há oito anos, o romance O Império do Oprimido (de autoria deste signatário) projetava através da ficção o que agora se concretiza como realidade.

Keir Starmer, primeiro-ministro britânico | Foto: Henry Nicholls/Pool via Reuters

Segue trecho do livro.

“Concluídos os discursos, subiu ao pequeno palco o compositor Zé Brasil, acompanhado da banda Cafuné. Antes do primeiro acorde, o artista gritou a palavra de ordem do movimento pela proibição das ofensas na mídia: ‘Pense bem — antes de falar mal’. 

Só aí Pedro entendeu o recado de Cristal: Pense Bem era o projeto que punia sumariamente qualquer discriminação nas mídias. Virou-se para a namorada jornalista:

— Clara, daqui a pouco você só vai poder falar o que eles quiserem ouvir. 

— Exagero, Pedro — interveio Luana. — O Zé Brasil não participaria de um movimento contra a liberdade de expressão. 

(…)

O Guia ficou fora de si e mandou Carmelo ligar para Malabares: ‘O Congresso vai aprovar o controle da mídia agora!’.

Malabares desceu ao plenário e foi com seu telefone de orelha em orelha, como ordenou o Guia. Cada líder partidário abordado pelo publicitário careca achava que se tratava de uma pegadinha — para então levar um susto e ouvir o presidente em pessoa do outro lado da linha. E o recado era claro: a lei Pense Bem, estabelecendo punição sumária para discriminações na mídia, tinha de ser votada imediatamente — ‘senão a partir de amanhã acabou o sorriso’. 

O recado foi muito bem compreendido, e o rolo compressor da bancada governista garantiu a aprovação em tempo recorde. Agora os jornalistas iam ter que pensar bem antes de falar mal, como dizia o slogan da nova lei. E Paulo França ia ter que engolir o que disse — e o que mais viesse a dizer — contra o governo popular.”

O livro é de 2016. Estamos em 2024. Como estaremos em 2032?

Livro O Império do Oprimido, de Guilherme Fiuza | Foto: Divulgação

Leia também “A raquetada redentora”

10 comentários
  1. Marco Aurélio Oliveira De Farias
    Marco Aurélio Oliveira De Farias

    E esta semana a prisão de Pavel Durov, fundador do Telegram.

  2. Valesca Frois Nassif
    Valesca Frois Nassif

    A pergunta final traduz em poucas palavras todo o temor que venho acumulando há algum tempo!

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    Fiuza, pareceria ficção mas virou realidade e agora vivemos sob um Estado de exceção.
    O Imperador Alexandrus I, o Calvo, e seu súdito e cúmplice Rodrigo Pacheco devem ser removidos dos seus cargos e responderem por seus atos.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Grande Fiuza.

  5. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Fiuza, em 2016 você foi visionário. Incrível como 8 anos depois a realidade está imitando a ficção. Tempos sombrios.

  6. Daniele Mendes Neves Gonzaga
    Daniele Mendes Neves Gonzaga

    Amo os textos do Fiuza. Curtos, sucintos e diretos! Mais um para a galeria dos espetaculares!

  7. Brian
    Brian

    No Brasil, podemos agradecer a RODRIGO PACHECO pela destruição de todas as leis e pela ditadura comunista em curso.

  8. Luiz Buonaduce Filho
    Luiz Buonaduce Filho

    Grande Fiuza parabéns

  9. Thiago da Rocha Rodrigues
    Thiago da Rocha Rodrigues

    Sem liberdade de expressão não há democracia. A Europa globalistas já deixou de ser democrática. Eles vivem uma espécie de fascismo globalistas e não nacionalista.

  10. Reginaldo Corteletti
    Reginaldo Corteletti

    Tempos difíceis, caro Fiuza. Iniquidades sem fim.

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