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Elon Musk | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 231

O linchamento de Elon Musk

A imprensa internacional está tratando o bilionário como um bandido perigoso. Por quê?

Dagomir Marquezi
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Lembra de Elon Musk, o bilionário sul-africano? Aquele que faz seus foguetes pousarem de pé? Aquele que quer criar uma colônia em Marte para dar uma chance aos humanos caso a Terra seja destruída? Elon Musk, o empresário que está batalhando para fazer paraplégicos andarem com um chip no cérebro? O mesmo que garante que a internet não falte a ninguém com a rede de satélites Starlink? Que leva prejuízo comprando o Twitter (que virou X) para que as pessoas comuns tenham um lugar para se expressar livremente? Que encheu o mundo de carros elétricos, pois, afinal, não é preciso dar um jeito nas mudanças climáticas?

Pois é. Agora Elon Musk está sendo julgado diariamente como um criminoso, um perigo global. Por vários motivos.

Caso 1 — O fechamento do X no Brasil

Em matéria publicada recentemente, o jornalista Jack Nicas, correspondente no Rio de Janeiro do New York Times, julga, condena e executa Elon Musk. “Após a derrota eleitoral do Sr. Bolsonaro em 2022, seu movimento político de extrema direita estava fraquejando”, escreveu Nicas. “Ele foi considerado inelegível para concorrer na próxima eleição e estava sob investigação em vários casos que poderiam levar à prisão. Ele e seus apoiadores estavam lutando para encontrar uma voz. Então, o Sr. Musk chegou com uma torrente de postagens criticando duramente o Sr. [Alexandre de] Moraes. Ao longo de 17 dias em abril, o Sr. Musk postou sobre o Sr. Moraes mais de duas dúzias de vezes, chamando o juiz de ditador e comparando-o a Darth Vader.”

A repórter Jaclyn Peiser, do Washington Post, vai um pouco além na sua “imparcialidade”. Ela declara o juiz Alexandre de Moraes “um dos mais agressivos combatentes da desinformação no mundo (…) Em suas ordens iniciais para o X no início deste ano, Moraes escreveu que ‘as redes de mídia social não são uma terra sem lei’. O juiz também acusou Musk de travar uma ‘campanha de desinformação’ contra o tribunal (…) O impasse foi visto como o mais recente teste no debate global sobre liberdade de expressão versus fake news”. 

O correspondente anônimo da revista britânica Economist escreveu que os brasileiros adoram WhatsApp e redes sociais. E que “isso torna o Brasil um terreno fértil para a disseminação de desinformação e de esforços para regulá-la”. A conclusão resumida da matéria da Economist é que brasileiros adoram redes sociais e, portanto, é preciso regulamentação para evitar que elas disseminem a ideia de um golpe de extrema direita de Jair Bolsonaro ajudado por Elon Musk. Simples assim.

Foto: Shutterstock
Caso 2 — Musk apoia Donald Trump

Musk anunciou que transmitiria uma conversa que teria com Donald Trump por meio do X. O comissário da União Europeia Thierry Breton escreveu uma carta ao empresário sugerindo que, se não fosse controlada, a transmissão poderia gerar “agitação pública provocada pela amplificação de conteúdos que promovem o ódio, a desordem, a incitação à violência ou certos casos de desinformação (…)”. Em seguida, o burocrata afirmou “estar extremamente vigilante a qualquer evidência que indique violações do DSA [Ato de Serviços Digitais] e que não hesitará em fazer pleno uso da nossa caixa de ferramentas, incluindo a adoção de medidas provisórias, caso seja necessário proteger os cidadãos da UE de danos graves”. Tudo isso por causa de uma live.

Linda Yaccarino, executiva-chefe do X, descreveu o alerta de Thierry Breton como “uma tentativa sem precedentes de estender uma lei destinada a ser aplicada na Europa às atividades políticas nos EUA. Também trata com condescendência os cidadãos europeus, sugerindo que são incapazes de ouvir uma conversa e tirar as suas próprias conclusões”. Elon Musk respondeu com um simples “bonjour”.

O site CNN Business já está pensando em crimes futuros: “Para Musk, o privilégio potencial de sussurrar no ouvido de Trump, caso ele seja reeleito, poderia dar ao bilionário ainda mais poder no cenário global. E beneficiar seu império empresarial, que depende amplamente de contratos governamentais e de políticas favoráveis”.

Foto: Shutterstock
Caso 3 — Elon Musk ameaça com guerra civil

O Reino Unido (para não falar de boa parte da Europa) começou a ver suas ruas invadidas por extremistas que querem impor a lei islâmica no continente, empunham bandeiras de organizações terroristas, como Hamas, Hezbollah e ISIS, e exigem o genocídio dos judeus. Mas foi só quando os nativos britânicos reagiram a essa ameaça que se acendeu o alerta contra a violência. Um artigo de Max Colchester, do Wall Street Journal, descreveu a situação.

Segundo Colchester, estava tudo tranquilo, mas a “pior agitação social em uma década” só começou quando surgiram os protestos anti-imigração. “O governo britânico, tentando conter a pior agitação social em uma década após uma série de protestos anti-imigração que foram turbinados pela desinformação on-line, agora está lutando para conter outro agitador: Elon Musk.”

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Um dos pecados de Musk, segundo o Washington Post, foi dar uma resposta ao novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Starmer disse que “nós não vamos tolerar ataques a mesquitas ou comunidades muçulmanas”. Musk respondeu: “Você não deveria estar preocupado com ataques a todas as comunidades?”.

Caso 4 — Elon Musk contra o(a) boxeador(a) trans

Imane Khelif, o boxeador “interssexual” argelino, resolveu também chamar mais gente para a briga. Depois de ganhar a medalha de ouro na Olimpíada de Paris, Khelif abriu um processo de “cyberbullying” contra, entre outros, Elon Musk e a escritora J. K. Rowling. (Donald Trump também está na mira.)

A colunista do jornal The Times Camilla Long escreveu: “Muitos acreditam que Khelif, que dizem ter cromossomos XY, é de fato um homem. Mas as Olimpíadas acolhem pessoas independentemente de suas ‘variações sexuais’ — seja lá o que isso signifique —, mesmo que tenham sido desqualificadas de outras grandes competições por falharem em testes de sexo, como Khelif no ano passado. Então aqui estava esse Hulk musculoso e de queixo quadrado, elevando-se sobre Carini, dando socos tão fortes que a italiana não conseguia continuar. Foi chocante. ‘Non è giusto’, soluçou Carini, que desistiu após 46 segundos. Não é justo”.

Musk já declarou várias vezes que a cultura woke é um perigo para a civilização. E foi atingido diretamente por ela

Segundo Khelif, o “frenesi da mídia contra ela” feriu sua “dignidade humana”. Como? Rowling postou uma foto da luta contra Angela Carini e escreveu que estava vendo um homem “curtindo a angústia de uma mulher em quem ele acabou de dar um soco na cabeça”.

Elon Musk fez muito menos — apenas repostou um texto da nadadora Riley Gaines que declarou que “homens não pertencem aos esportes femininos”. E Donald Trump postou uma foto da luta entre Khelif e Carini com a mensagem: “Eu vou manter os homens fora dos esportes femininos!”.

Depois de ganhar o ouro em Paris, Imane Khelif vai tentar ganhar uma bolada processando três bilionários. O crime deles? Opinião.

Imane Khelif, da Argélia, comemora a vitória contra Yang Liu, da China | Foto: Reuters/Pilar Olivares
Caso 5 — Elon Musk é cruel com a filha

Musk já declarou várias vezes que a cultura woke é um perigo para a civilização. E foi atingido diretamente por ela. Seu filho mais velho, Xavier, aos 16 anos, se declarou transgênero e mudou o nome para Vivian Jenna Wilson.

Musk não gostou da notícia. Mas o que o machucou de verdade foi que Xavier — agora Jenna — se tornou marxista radical. “Ela foi além do socialismo”, disse o empresário, “para se tornar uma comunista completa e pensar que qualquer pessoa rica é má”. 

Em entrevista à rede NBC, Jenna acusou o pai de ser “cruel” na sua infância por ela ser “queer” e feminina. Além disso, segundo Jenna, Elon seria “frio”, facilmente raivoso, narcisista, ausente e “a assediou por exibir traços femininos e a pressionou a parecer mais masculina, inclusive forçando-a a engrossar a voz já na escola primária”. Musk a declarou “assassinada pelo vírus do pensamento woke”.

Caso 6 — o X é um perigo para o mundo 

A jornalista Alison O’Connor, do Times, atacou não só o dono do X, como a rede social como um todo. O’Connor publicou, no dia 18 de agosto, um artigo chamado “Eu ainda uso Twitter, mas não tenho orgulho disso”. “Já faz algum tempo que venho tentando ignorar todos os sinais de alerta”, diz a jornalista. “O abuso e a desinformação que você vê toda vez que visita a plataforma. Mais amplamente e sem exagero, vendo seu dono Elon Musk usando-a para tornar o mundo um lugar mais perigoso.”

Alison diz que sente saudade da inocência dos primeiros tempos do Twitter. Mas que está chocada com a entrevista de Donald Trump a Elon Musk, no X. “Trump foi expulso do Twitter após os tumultos de 6 de janeiro de 2021, mas a partir desta semana ele voltou a tuitar regularmente após sua ‘conversa’ com Musk, o presidente-executivo do site, na noite de segunda-feira. Isso continha toda a raiva e mentiras usuais, os lembretes da enorme ameaça que esses dois homens representam para as democracias em todo o mundo. Quão terrivelmente apropriado que eles agora estejam usando um ao outro para seus próprios ganhos nefastos enquanto continuam a destruir o discurso público.”

Conclusão: o que é desinformação?

Elon Musk é um santo? Ninguém é. Ele pode e deve ser criticado quando faz coisas condenáveis. Musk deveria pensar mais em suas empresas e conquistas científicas e se envolver menos com política? Pode ser. Seu envolvimento com Donald Trump é um erro? Deveria apoiar a filha e a boxeadora trans? Deveria aceitar calado as ordens de Alexandre de Moraes? Deveria apoiar o Hamas? Conclua o que você quiser. É o seu direito. Mas não confunda opinião com “desinformação”.

“Existe o desafio de definir ‘desinformação’”, escreveu Gerry Baker para o jornal The Times. “Quem decide? Quatro anos atrás, o Twitter censurou postagens alegando que a covid-19 começou em um laboratório chinês. Isso agora é amplamente aceito como uma explicação plausível para a pandemia.”

“O desejo de controlar o que as pessoas dizem e até pensam é um traço sinistro das elites”, declarou Baker em seu artigo. “Ele reflete um autoritarismo tecnocrático pelo qual a esquerda moderna busca guiar as massas ignorantes para a sabedoria. Musk comprou o Twitter para criar um veículo para o pluralismo que desafia diretamente esse instinto profundamente antidemocrático. Deveríamos agradecer a ele, não silenciá-lo.”


@dagomir
dagomirmarquezi.com

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8 comentários
  1. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    Esses supostos jornalistas citados são os verdadeiros intolerantes , a favor de censura e que acham que as pessoas são tolas e ainda acreditam neles. O fim deles está próximo

  2. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Ótimo artigo. Parabéns. Pensei que fosse só aqui no Brasil que existissem idiotas, burros, estúpidos, imbecis disfarçados de jornalistas. Mas estava muito enganado. Os sem cognição estão em todo o mundo.

  3. DONIZETE LOURENCO
    DONIZETE LOURENCO

    René Descartes cunhou a frase “penso, logo existo”.
    Quero continuar existindo e expressar minha opinião livremente.
    A legislação brasileira tem leis específicas para calúnia, injuria e difamação.
    Se alguém se sentiu ofendido é só aplicar a lei existe.
    Não precisamos destes discursos de regulamentação, estes sim de ódio, contra tudo e todos.

  4. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Concordo, Dagomir.

  5. Nilza Helena Costa Oliveira
    Nilza Helena Costa Oliveira

    Excelente

  6. Julio Fressa
    Julio Fressa

    Num mundo dominado pela narrativa da esquerda, .Musk cometeu o crime do sucesso

  7. NILSON OCTÁVIO
    NILSON OCTÁVIO

    Belo artigo!

  8. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    No mundo das coisas relativas contestar significa negar, discutir verdades incômodas signifca odiar, opor significa destruir e dizer coisas que não estão na agenda te torna um pária.

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