Desde o último fim de semana, um vídeo percorre todas as redes sociais do país, incomodando os ouvidos de milhões de brasileiros: uma cantora chamada Yurungai achou por bem mudar a letra do Hino Nacional durante um evento de campanha de Guilherme Boulos para a prefeitura de São Paulo. O trecho “dos filhos deste solo”, como diz o original, virou “des filhes deste solo”. Em resumo: ela trocou “filhos” por “filhes”, essa coisa estranha utilizada na tal linguagem neutra.
A cena ocorreu no sábado, 24, num comício armado no bairro do Campo Limpo, zona sul da capital paulista. Ao lado do candidato do Psol, estavam no palanque a vice na chapa, Marta Suplicy, que retornou ao PT, o presidente Lula da Silva e os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Marina Silva (Meio Ambiente). Quando a intérprete optou pelo enxerto em linguagem neutra — também conhecida como língua do “todes” —, ninguém demonstrou desconforto. Pelo contrário: a imagem (veja o vídeo abaixo) mostra Boulos com o punho cerrado, socando o ar. O vídeo foi publicado nas redes sociais do candidato e dos seus apoiadores. Prometia ser um prato cheio para os influenciadores progressistas agitarem a internet. Mas deu errado.
Na segunda-feira, 26, o programa Oeste Sem Filtro mostrou que é proibido alterar a letra do Hino Nacional. O crime consta da Lei nº 5.700, de 1971, assinada no governo Médici. A legislação versa sobre os quatro símbolos nacionais: o Hino, a Bandeira, o Brasão de Armas e o Selo. Alterar arranjos, inscrições, letras, formas ou cores incorre em contravenção penal — artigo 35 da mesma lei. Como o presidente da República estava no local, contém o agravante de ser interpretado como desrespeito à Nação.
Na terça-feira, 27, uma série de parlamentares e adversários do candidato de esquerda se manifestaram. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR), já que Boulos tem mandato na Câmara. O caso, contudo, será encaminhado a um promotor da Justiça Eleitoral de primeira instância. Provavelmente, não dará em nada.
O que fez a campanha de Boulos? Achou melhor apagar a postagem das redes sociais. Culpou a organização do evento pela escolha da intérprete. Segundo o jornal O Globo, a cantora Yurungai “se classifica como ‘afro-amerindígena'” e o nome que adotou significa “boca-cantar” em tupi-guarani.
”A produtora, organizadora do evento, foi responsável pela contratação de todos os profissionais que trabalharam para a realização da atividade, incluindo a seleção e o convite à intérprete que cantou o Hino Nacional”, afirmou a equipe de Boulos.
A campanha informou à Justiça Eleitoral ter pagado R$ 450 mil à Zion Produções Ltda., no dia 23 de agosto, para organizar eventos da chapa. A empresa não se manifestou sobre o caso.
“Logicamente não foi uma decisão da minha campanha, é absurdo o que foi feito com o Hino Nacional”, afirmou Boulos durante a semana. “Aquilo foi uma produtora contratada, que por sua vez contratou uma cantora. Essa empresa não vai mais trabalhar nos próximos eventos da campanha”.
O fato é que o episódio de “lacração” — jargão usado quando aparece essa agenda “woke“, progressista e seus outros sinônimos — deixou Boulos numa enrascada. Ele só demonstrou preocupação porque o assunto caiu nas redes sociais como uma bomba. Desde o começo do ano, o líder dos sem-teto pisa em ovos. De um lado, precisa seguir com a fala que inflama a militância do Psol, sobretudo universitária — o pessoal que usa o boné do MST como acessório nas mesas de bares e nos diretórios acadêmicos. Do outro, é cobrado pelos marqueteiros caríssimos que investiram numa maquiagem eleitoral palatável à classe média. Boulos passou a calçar ‘sapatênis’ e aparar a barba, e trocou a camiseta suada pela gola polo ou pela camisa bem ajustada com paletó.
Até o clássico Chevrolet Celta, de cor prata, usado nas campanhas anteriores, quando circulava com Luiza Erundina a bordo como copilota, deu lugar a um veículo blindado. Só sai às ruas escoltado por seguranças. Ele justificou a troca nos padrões pela “ameaça bolsonarista” que enfrenta desde a eleição para deputado, em 2022.
O incidente com o Hino Nacional não foi a primeira investida da esquerda contra símbolos nacionais. Frequentemente, as cores e a inscrição da bandeira são alteradas em protestos e manifestações. Em 2022, logo depois das eleições, uma cena foi filmada (veja o vídeo a seguir).
Um grupo de militantes levou ao plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro uma Bandeira Nacional modificada. A Casa disse que se tratava de uma premiação a um grupo de ONGs e “coletivos”. No lugar da esfera azul, entrou o vermelho. A expressão “Ordem e Progresso” foi substituída por “indígenes, negres, pobres e putas”.
Um ano antes, em 2021, outro grupo de militantes, que reunia majoritariamente ambientalistas e aliados de Marina Silva, trocou os dizeres da bandeira brasileira por “Amor, Ordem e Progresso”. Eles diziam encampar um movimento contra o “ódio político” pregado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Foi uma das primeiras vezes que o termo “extrema direita” foi empregado — e depois nunca mais parou.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia resolveu montar um canteiro de sálvias vermelhas em formato de estrela no jardim do Palácio da Alvorada
Na época, o jornal Folha de S.Paulo afirmou que o grupo marcava encontros virtuais pela internet por causa das restrições da pandemia. “O Movimento Amor na Bandeira tratará de tremular uma utopia que já foi abraçada em anos recentes por figuras como o ex-deputado Chico Alencar (Psol-RJ), o designer Hans Donner e o cantor Emicida”, dizia a reportagem.
De fato, Chico Alencar tentou votar um projeto na Câmara para mudar os dizeres da bandeira três vezes, nos governos Lula e Dilma Rousseff. Chegou a contar com o apoio do então senador Eduardo Suplicy (PT-SP), mas não conseguiu número suficiente de deputados para ajudá-lo na empreitada.
Outro exemplo da confusão que a esquerda faz com seus interesses particulares e o patrimônio do Estado ocorreu em 2004. Naquele ano, a ex-primeira-dama Marisa Letícia resolveu montar um canteiro de sálvias vermelhas em formato de estrela no jardim do Palácio da Alvorada. O caso foi revelado pelo jornal Correio Braziliense — vistas do alto, as flores desenhavam a estrela vermelha do PT, com 4 metros de diâmetro. A imprensa se alvoroçou e descobriu que outra estrela, ainda maior, fora plantada no jardim da Granja do Torto, onde o casal presidencial recebia amigos para churrascos e festas aos fins de semana e feriados.
Era um período pré-Mensalão, mas a oposição no Congresso funcionava melhor do que se assistiu nos governos seguintes. O motivo era óbvio: o projeto foi doado ao ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) pelo imperador japonês Hirohito. Assim como o Palácio do Jaburu, este último planejado por Burle Marx, só recebe os cuidados de jardineiros treinados. O Alvorada faz parte do Plano Piloto, assinado pelo arquiteto Lúcio Costa, e é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Logo, nenhum outro presidente ou primeira-dama fez alterações, porque é proibido — é patrimônio nacional.
O Palácio do Planalto disse que a ideia partiu dos jardineiros, e a estrela sumiu.
O que há em comum entre todos esses episódios, do Hino Nacional à bandeira verde-amarela ou os palácios de Brasília? O pensamento fixo da esquerda de que um dia tomará o Estado para sempre e fará dele o que o partido quiser. Nesse ponto, o episódio do hino mostra que Lula fez escola.
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450 mil, de dinheiro público, para contratar “empresa” para uma farra dessa. Eita Brasil complicado.
Aliem de todos absurdos a cantora é péssima e ainda por cima desafina. É o PT/PSIU.
O PSOL e Boulos jamais alteraria a escrita do hino nacional, do jeito que ele é patriota. Culpado é essa agência bolsonarista com essa cantora que ele contratou sem saber que era uma agência bolsonarista
Silvio, aos 79 anos e tendo sido TUCANO desde a fundação do PSDB até 2019, ano que se revelaram sem caráter celebridades tucanas como FHC, DÓRIA, JEREISSATI, ALCKIMIN e outros que admirei no passado, creio que esses INÚTEIS foram os ARTICULADORES desse SISTEMA que nos governa (LULA/TSE/STF/OAB, VELHACA IMPRENSA e lamentavelmente nossas respeitadas e admiradas até então FFAA.
Não precisa dizer que desde 2018 sou mais 1 bolsonarista, que Barroso disse para a esquerda radical da UNE, ter derrotado.
A gente respeit
Só pensam em lacraçao e poder. Projeto para o país nada. Mas também, querer que, milagrosamente, a incompetência seja transformada em inteligência é querer demais.
Esse monstro nos assombra diariamente.
Que triste ver o que estão fazendo com a nossa nação. Quando era criança cantávamos o hino nacional ante de entrarmos na sala de aula e em cada sala havia uma bandeira nacional. Aprendemos a amar estes e outros símbolos nacionais. Sou grata por der parte daqueles que continuam respeitando esses símbolos, pois esse amor reflete o respeito pela nação e pelo próximo . Amo-te, meu Brasil!
Que triste ver o que estão fazendo com nossa nação . Quando era criança cantávamos o hino nacional antes de entrar na sala de aula e em cada classe havia uma bandeira nacional. Aprendemos a amar estes e outros símbolos nacionais. Sou grata por ser parte daqueles que continuam respeitando esses símbolos , Pois esse amor reflete o respeito pela nação e pelo próximo. Te amo, meu Brasil.
A deturpação da letra do nosso Hino tem por objetivo atacar o nosso sentimento patriótico e gerar desunião em torno da Nação. Coisas da abjeta Esquerdalha. Parabéns, Silvio, pelo belo artigo.
Parabéns
Só agora fiquei sabendo em detalhes desses episódios hilários. Parabéns pela memória admirável e pelo texto exemplarmente irônico.
Obrigado, querida amiga Luzia!
Não é apenas no Brasil que os símbolos nacionais, Hino Nacional e Bandeira, são protegidos por lei. Em 1940, nos Estados Unidos, o compositor Igor Stravinsky foi preso por modificações harmônicas em um trecho do
The Star-Spangled Banner, o Hino americano.