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Foto: Shutterstock
Edição 235

Carta ao Leitor — Edição 235

Os salários dos juízes brasileiros e o dinheiro confiscado do X e da Starlink estão entre os destaques desta edição

Redação Oeste
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Cerca de R$ 4,5 bilhões por ano. Ou R$ 123 milhões por dia. Ou R$ 2 milhões por hora. Ou R$ 34 mil por minuto. Ou R$ 570 por segundo. Essa fortuna é o que os pagadores de impostos desembolsam para bancar o que os juízes brasileiros recebem acima do teto constitucional — hoje fixado em R$ 44 mil.

Revelado por um estudo da Transparência Brasil, essa deformação insustentável ajuda a compor o retrato do absurdo que serve de fio condutor para a reportagem de capa desta edição, assinada por Silvio Navarro e Loriane Comeli. Mais alarmante ainda, essa bolada é certamente muito maior, uma vez que apenas 18 Estados enviaram ao Conselho Nacional de Justiça os dados completos.

Para legalizar a vigarice apelidada de “drible no teto”, existem 2,6 mil tipos diferentes de benefícios, incluindo uma espantosa “gratificação por acumulação de acervo” e um misterioso “13.022,34” preenchendo um dos campos descritivos. Adicione-se a esse quadro de horrores as regalias já conhecidas: auxílio-moradia, gratificação de Natal, adicional noturno, entre outras desoladoras brasileirices.

Em meio a essas quantias intoleráveis, parte do Poder Judiciário se movimenta para conseguir o perdão de multas estratosféricas aplicadas a empresas especializadas em pilantragens bilionárias. O artigo de Augusto Nunes mostra que o ministro Dias Toffoli, do STF, é um dos exemplares mais produtivos da espécie. Só no caso da J&F, dos irmãos Batista, ele perdoou mais de R$ 10 bilhões. Não custa lembrar que, em quase dez anos, a Lava Jato recuperou e entregou ao governo R$ 25 bilhões tungados pelos corruptos do Petrolão.

Se Toffoli vive devolvendo, Alexandre de Moraes não para de confiscar. Neste dia 11, ele transferiu para os cofres da União mais de R$ 7 milhões do X (antigo Twitter) no Brasil e R$ 11 milhões da Starlink, mesmo esta última não estando envolvida diretamente no processo contra a rede social. A reportagem de Amanda Sampaio e Anderson Scardoelli expõe as ilegalidades dessa decisão, que não se limitam à imposição da censura.

O dinheiro que sobra para os togados do país inteiro falta para as centenas de famílias que continuam desabrigadas quatro meses depois das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Depois de ter visitado o palco da tragédia em maio, a repórter Tauany Cattan retornou ao local da tragédia para saber como estão os náufragos da negligência do Poder Público. 

Esses R$ 4,5 bilhões que o juízes embolsam além do salário legal melhorariam extraordinariamente a vida da imensidão de gente atingida pelas inundações. Somados os bilhões que Toffoli doou aos gatunos, seria abrandado o sofrimento de todos os gaúchos que não têm onde morar há 120 dias.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação

Capa da Revista Oeste, edição 235 | Foto: Shutterstock
3 comentários
  1. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Muito bom Dona Branca. Nesta semana Farroupihla a gente revive uma históira de luta pela Liberdade e muitas lembranças antigas e mais novas Quando eu trabalhava em veículo de comuncação tinha uma coluna num jornal local. E, numa delas, escrevi sobre a anomalia do judiciário. Isto faz uns 20 anos. Lá já criticava algumas facetas, principalmente dos “juízes” não concursados que chegavam como Vogais na Justiça do Trabalho e depois de um tempo chegavan a Desembargador. No mesmo texto apontei um caminho: respeitar os 2/5. Ou seja, o presidente só poderia nomear 3 ou 3 ministros. A oAB poderia indicar um e o resstante teria que vir dos juízes concursado obedecendo a ordem das instâncias superiores. O que resiltou? Nada. Depois lembrei da luta do Laiser (meu colega jornalista) que tanto lutou pelas mudanças no judiciário. Mas ele não era simpático, pois ele não trabalhva pela bolsa famíilia nem pelo aumento dos salários dos funcionários públicos…

  2. Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva

    Há que se ter coragem para viver. No Brasil isso só não basta. É necessário ser herói. Edição árida, mas de utilidade pública.

  3. Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva

    Há que se ter coragem para viver. No Brasil isso só não basta. É necessário ser herói. Edição árida, mas de utilidade pública.

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