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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Edição 235

Lula no limite

Não é para menos. O presidente acumula frustrações próprias com as frustrações de seu povo eleitor

Alexandre Garcia
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Num recente desabafo a um assessor insistente, Lula disse: “Eu, na verdade, tô é f….”. Recém tinha tirado o ministro mão-boba dos Direitos Humanos, e a substituta já aparecia com extenso currículo de problemas, e ainda tinha que responder sobre fogo recordista na Amazônia e no Pantanal. Constantemente cobrado, está com a paciência no fim. A reação dele ante as críticas da líder indígena Yakuy Tupinambá não foi a de um cavalheiro ante uma senhora idosa e de respeito. Não é para menos. Ele acumula frustrações próprias com as frustrações de seu povo eleitor. Queixou-se de contar com apenas 70 deputados e nove senadores. (Com isso, tem que pagar pedágio para o voto passar — e o centrão é o principal cliente.) Além disso, é vítima da própria propaganda. Criou expectativas — na campanha e no governo — que não pode cumprir. E o resultado é a frustração dessas expectativas, nos eleitores que lhe deram voto e naqueles líderes estrangeiros que o aplaudem. Material abundante para os opositores e críticos.

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A cerimônia de repatriação do manto tupinambá foi marcada por debates entre lideranças indígenas e o presidente Lula na noite desta quinta-feira, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde a peça ficará exposta. O presidente rebateu o manifesto assinado por 23 aldeias da Bahia a respeito da insatisfação dos indígenas em relação à condução da pauta indigenista pelo governo federal. O texto tem ainda críticas ao Congresso Nacional e ao Judiciário, pela aprovação da lei do marco temporal. "Se tivesse o poder que ela pensa que eu tenho, não estaria aqui comemorando um manto. Estaria comemorando a vida de milhões de indígenas que morreram neste país, escravizados pelo colonizador europeu", disse Lula, direcionado a Yakuy Tupinambá, anciã e liderança indígena de Olivença, na Bahia. Reprodução | Canal do Conde.

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A agenda ambiental e a da fome ficam em primeiro lugar na frustração. O próprio governo tem dito que há 33 milhões de famintos no Brasil, o que significa fracasso do Fome Zero em mais de 15 anos de governo petista. E o fogo na Amazônia e no Pantanal — e pelo Brasil inteiro — derruba toda argumentação de um ambientalismo de propaganda e pouca ação preventiva no país que vai sediar encontros internacionais. Quanto à agenda de direitos humanos, não é a mão-boba do ministro que põe a seriedade a perder; é a falta de ação para proteger brasileiros perseguidos e injustiçados, na Amazônia e em Brasília. Nenhuma palavra sobre colonos amazônidas assentados pelo Incra e depois enxotados pela polícia, perdendo tudo e sem ter onde viver. Nenhuma palavra sobre os injustiçados que só se manifestaram e nada quebraram, e são condenados como se fossem perigosos terroristas.

Tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, proteje seu ninho em meio aos incêndios florestais | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

No Rio Grande do Sul das enchentes, a propaganda criou até um cargo extraordinário de ministro com mais força que o governador, mas em pouco resultou, gerando mais insatisfação. Não é apenas a picanha; a dívida pública se aproxima de 80% do PIB, a inflação bate no teto e exige aumento dos juros básicos; na política externa, o presidente está se tornando o único apoiador de Maduro, e ainda desagrada o ditador, como desagradou Ortega, que cortou relações. Nas cidades, o crime organizado se expande e enraíza. E Lula parece cansado. Não apenas ele, mas o eleitor.

Segurança, ensino, saúde, os resultados são pífios e, em geral, só piora o bem-estar da população

Na proximidade da eleição, penso que o eleitor esteja também com a paciência se esgotando. Aliás, o eleitor já avisou muitas vezes que já não aguenta ter que votar no menos pior. O eleitor já escolheu o rinoceronte Cacareco, o macaco Tião, o palhaço Tiririca e similares, para mostrar aos partidos com quem se parecem muitos candidatos que figuram nas listas partidárias. Os partidos buscam gente popular para gerar voto, sem saber das qualidades de político e administrador dessas pessoas. Apenas porque brilham no futebol, nos palcos, na TV, nas redes sociais, viram candidatos, sem o menor conhecimento do que vão fazer como prefeitos ou vereadores, além de jogar cadeiras no adversário.

Isso não é de agora e é por isso que a nossa política é tão pouco eficaz no objetivo de gerar melhorias para o povo. Segurança, ensino, saúde, os resultados são pífios e, em geral, só piora o bem-estar da população. E, quando alguém mostra serviço, é cancelado como um intruso no mecanismo. Se Lula tem tão pouco apoio no Congresso, quem, então, impede que se busquem soluções para o país? O centrão já mostrou seu apego ao status quo, em que é melhor ficar como está. Não querem mudar — a não ser para pior, como se vê em debates para a eleição municipal paulistana, a mais importante do país. O objetivo, como expressou um vereador, é enriquecer no cargo — enquanto vai mantendo a enganação. Neste ano há oportunidade de mudanças; em 2026, também.

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988 | Foto: Acervo/TRE-RJ

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2 comentários
  1. Luís Gustavo Romanini
    Luís Gustavo Romanini

    Mais curioso é a estupidez do sujeito e seus “parças”. Hoje, mesmo, se ele fala para o xinde voltar atrás nessa aberração da multa às pessoas que usaram o X ele volta a respirar um pouco, tira toda essa pressão de ditadura e tals, mas ele é lerdo demais para isso. Para isso.

  2. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    O Brasil não quer mudar e todos querem a seu naco na arca da viúva.

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