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Edição 237

Moody’s virou piada no mercado

E a picanha ficou ainda mais cara

Carlo Cauti
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A recente decisão da agência de classificação de risco Moody’s, que elevou a nota de crédito do Brasil de “Ba2” para “Ba1”, se tornou uma verdadeira piada na Faria Lima.

Entre os especialistas ouvidos pela coluna, o comentário mais elegante foi: “Eles devem estar de brincadeira, pois este é um momento de piora fiscal”.

A opinião comum no mercado financeiro é que a agência não considerou de forma adequada a erosão da institucionalidade das contas públicas do país, em meio a aumento da dívida e juros reais cada vez mais elevados.

“Acho que a Moody’s vai rebaixar o Brasil daqui a uns dois ou três anos. Devem reverter a decisão que eles tomaram”, chegou a dizer Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV.

Para o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, a agência “deu um voto de confiança muito grande ao governo”.

Para o economista-chefe da XP, Fernando Genta, a decisão da Moody’s pode parecer absurda ao se olhar para o quadro fiscal do Brasil.

Segundo um gestor de fundo, o que surpreende é o grande otimismo da Moody’s nas suas projeções da dívida pública, que se estabilizariam por volta de 82% do produto interno bruto (PIB).

Página inicial da Moody’s na tela de um monitor | Foto: Shutterstock

PIB com esteroides

Para motivar a sua decisão, a Moody’s salientou que o PIB brasileiro deveria ter um crescimento mais robusto do que o anteriormente estimado. Com isso, as contas públicas deveriam se beneficiar.

Todavia, a opinião comum no mercado é que a agência não considerou como o PIB brasileiro está crescendo: claramente impulsionado por uma política fiscal materialmente expansionista e insustentável.

“O governo não para de gastar. Temos um rombo fiscal de R$ 100 bilhões nos primeiros oito meses do ano, apesar da arrecadação recorde. Um brasileiro em cada quatro recebe Bolsa Família. É óbvio que o PIB vai crescer, ele está dopado”, explica um economista de uma importante asset que preferiu manter o anonimato.

Ilustração: Shutterstock

Conversa fiada e irresponsabilidade fiscal

Segundo Gabriel Leal, economista-chefe da ARX, a nova nota da Moody’s é fruto do exercício de narrativa que o governo Lula está tentando levar adiante.

“Se as cotações internacionais da commodities não voltarem a subir de forma consistente, e se o fiscal cumprir o limite matemático do arcabouço sem criatividade, a avaliação da agência não fica de pé”, disse Leal.

Para o economista, a decisão da agência minimiza a evidente deterioração das contas públicas, tanto aquela apurada pelas estatísticas oficiais quanto pelas alternativas, em função do crescente uso de expedientes por fora do Orçamento. “A elevação da nota premia uma política fiscal inconsistente, moto-perpétuo. É incompreensível”, disse.

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Mercado continua preocupado

Os relatórios divulgados ao longo dos últimos dias mostram que o mercado segue de olho na estabilidade das contas públicas.

O banco Citi considera os dados fiscais do governo federal referentes ao mês de agosto ainda “preocupantes”.

Para outra agência de classificação de risco, a Fitch, o “forte crescimento do Brasil pode ser, em parte, resultado de uma posição fiscal frouxa”, e o “desempenho fiscal fraco pode piorar em caso de desaceleração inesperada da economia”. Por isso, “será difícil o Brasil atingir metas fiscais nos próximos anos”.

Para a S&P Global Ratings, mesmo com um crescimento econômico mais sustentado, não há perspectivas, neste momento, para uma melhora na nota de crédito do Brasil.

Ilustração: Shutterstock

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Amazonas Energia? Não, obrigado

A Âmbar, braço de energia do grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, deixou bem claro que “não tem interesse em assumir a Amazonas Energia”. Pelo menos não nas condições aprovadas hoje pela diretoria da Aneel.

Segundo a Âmbar, “a decisão inviabiliza a recuperação de uma empresa que perdeu R$ 40 bilhões nos últimos 25 anos”.

No final de setembro, a Justiça Federal do Amazonas determinou que a Aneel aprove “imediatamente” a proposta da Âmbar de assumir o controle da Amazonas Energia.

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Promessa de picanha está mais complicada

A picanha está cada vez mais cara no mercado. A cotação do boi gordo chegou a R$ 285. Há um ano esse valor era de cerca de R$ 210.

Somente no mês de setembro, o preço da arroba subiu mais de 14%, com um impacto inevitável na mesa dos brasileiros.

Setor de carnes e açougue em um mercado em São Paulo (24/7/2023) | Foto: Shutterstock

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A briga dos poços órfãos

A Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estão brigando pelos chamados “poços órfãos”. São poços explorados antes da criação da agência, em agosto de 1997, e agora abandonados pela estatal petrolífera.

Para a ANP, é responsabilidade da Petrobras cuidar do abandono definitivo desses poços. Segundo a estatal, se for obrigada a concluir o abandono dos poços, a ANP deverá ressarci-la.

A questão já foi judicializada.

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Safra acionista da Americanas

O Banco Safra aumentou sua participação no capital das Lojas Americanas, e passou a deter 4,41% do total das ações ordinárias da varejista.

Ao todo, a exposição do banco chegou a quase 9 milhões de ações ordinárias e quase 3 milhões de bônus de subscrição de emissão da empresa.

A participação do Banco Safra na Americanas ocorreu por causa da recuperação judicial da companhia. A recuperação prevê que parte das dívidas se convertam em ações. A outra metade será paga parceladamente.

Fachada do Banco Safra, na Avenida Paulista, em São Paulo (9/11/2019) | Foto: Shutterstock

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Azul quer sua grana da TAP

A Azul está tentando receber da companhia aérea portuguesa TAP o pagamento de uma dívida de cerca de 200 milhões de euros (algo como R$ 1,2 bilhão), decorrente de um empréstimo realizado em 2016.

A empresa brasileira notificou a companhia portuguesa e o governo de Lisboa (já que a TAP é estatal) cobrando uma solução para a dívida.

Caso a TAP não responda ou não cumpra com suas obrigações, a Azul poderá até atrapalhar o processo de privatização da aérea portuguesa.

“Este é o momento de reivindicarmos nossos direitos”, disse em entrevista o CEO da Azul, John Rodgerson.

Avião da TAP (Air Portugal), no Aeroporto de Lisboa (12/9/2023) | Foto: Vitor Miranda/Shutterstock

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BNDES e Vale focam os minerais críticos

O BNDES e a Vale anunciaram a criação de um consórcio que vai administrar o fundo de investimento com foco em minerais críticos, como lítio, cobalto e terras raras.

Esses minerais são fundamentais para a eletrificação da economia e para tecnologias de energias verdes.

O fundo vai se concentrar no financiamento de projetos de pesquisas, e deverá realizar seu primeiro investimento a partir de março.

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Me dá uma tomada aí

Os brasileiros estão consumindo mais energia elétrica.

Segundo os dados consolidados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia elétrica no país cresceu 5,6% em agosto, na comparação anual, passando de 43.431 gigawatts-hora (GWh) para 45.855 GWh.

No acumulado do ano até agosto, a demanda teve alta de 7%, frente a igual período de 2023, de 347.438 GWh para 371.624 GWh.

No mercado livre, a demanda cresceu 12,3% em agosto, ante uma alta de 0,7% no mercado cativo.

Foto: Shutterstock

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Novos índices da B3

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) lançou dois novos índices: o Ibovespa B3 Estatais (IBEE) e o Ibovespa B3 Empresas Privadas (IBEP).

Os indicadores, que estarão disponíveis a partir do dia 7 de outubro, foram criados com o objetivo de destacar separadamente as performances dos ativos das empresas públicas e das empresas privadas que compõem o Ibovespa.

Os indicadores seguem a mesma metodologia de exclusão e ponderação do principal índice da B3, com rebalanceamento a cada quatro meses.

O IBEE conta com sete ativos de seis empresas, e o IBEP tem 79 ativos de 77 empresas.

Leia também “Mercado Livre atropela a concorrência”

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