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Alexandre de Moraes, ministro do STF, durante sessão plenária | Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo
Edição 238

O grande perdedor

O comportamento do TSE nas eleições deste ano contrasta fortemente com o observado em 2022, quando Alexandre de Moraes estava à frente do tribunal

Branca Nunes
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Não faltaram discussões acaloradas, trocas de insultos e divulgação de boatos. Houve até uma cadeirada e um exame toxicológico fraudado. Nada disso impediu que o primeiro turno da campanha eleitoral deste ano fosse incomparavelmente mais tranquilo que o de 2022. A mudança se deve menos aos candidatos e seus partidários e mais ao equilíbrio da maioria dos magistrados que acompanharam a disputa.

Ao contrário do antecessor, Alexandre de Moraes, a atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, falou pouco, procurou agir com imparcialidade e evitou decisões precipitadas que pudessem influenciar o resultado do pleito. “Parecia que tínhamos voltado aos tempos em que a Justiça se limitava a cumprir sua função”, diz a advogada constitucionalista Vera Chemin.

Pronunciamento da ministra Cármen Lúcia no CDE, após o primeiro turno das eleições de 2024 (6/10/2024) | Foto: Luiz Roberto/Secom/TSE

Desta vez, os poucos momentos em que o Judiciário ultrapassou suas atribuições foram protagonizados por Alexandre de Moraes. Na intervenção mais barulhenta, o ministro ordenou o bloqueio do X/Twitter, alegando que a rede social descumprira ordens judiciais. 

A liberação da rede só depois do primeiro turno da eleição revelou as reais intenções do ministro — e de todos os que apoiaram a ressurreição da censura. “A expulsão do X do Brasil até a data da eleição, apesar do cumprimento de todas as exigências de Moraes, era considerada uma obra-prima da genialidade estratégica do ministro — neutralizou, segundo os analistas, o terreno ‘tóxico’ sem o qual a direita não sobreviveria”, afirma J.R. Guzzo, em seu artigo nesta edição. “Foi apenas mais uma bobagem.”

A morosidade demonstrada de Moraes ao lidar com o X — apresentando nova exigência a cada uma que era cumprida — contrastou com a afoiteza com que o ministro intimou Pablo Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, a prestar depoimento em até 24 horas por uso do X durante a proibição. Para Vera, a intimação, expedida no sábado que precedeu o domingo da eleição, provavelmente interferiu no comportamento do eleitorado. 

Twitter/X volta a funcionar no Brasil
O X/Twitter, que estava suspenso desde agosto, teve a liberação do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, na tarde de 8 de outubro | Foto: Aloisio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

“A conduta de Moraes está cheia de vícios formais”, explica a advogada. Segundo Vera, a competência para intimação seria da primeira instância, e não do TSE — muito menos do STF. A legislação eleitoral, assim como a Resolução nº 23.735/2024 do TSE, prevê em seu artigo 3º as atribuições de cada instância para apuração de ilícitos. Nos casos vinculados às eleições municipais, como o de Marçal, essa competência não é dos tribunais superiores.

O comportamento do TSE neste ano contrasta fortemente com o observado em 2022, quando Moraes estava à frente do tribunal. Naquele ano, uma série de decisões expedidas pela Corte gerou insegurança eleitoral. Vera Chemin acredita que, se não fosse por essas determinações, a eleição de dois anos atrás teria sido bem mais equilibrada. “Muitas decisões configuraram um verdadeiro ativismo judicial”, afirma.

Entre as medidas controversas de 2022, destacaram-se a suspensão de um vídeo em que Bolsonaro chamava Lula de ladrão e a permanência no ar de outro, em que Lula chamava Bolsonaro de genocida. Bolsonaro também foi proibido de utilizar imagens das manifestações de 7 de Setembro, mencionar o chamado kit gay, realizar lives no Palácio do Alvorada, criticar as urnas eletrônicas e usar as cores verde e amarela em campanhas do governo.

O TSE também suspendeu a monetização de quatro canais no YouTube considerados de direita e vetou a exibição do documentário Quem Mandou Matar Jair Bolsonaro?, da Brasil Paralelo — decisão chancelada pela ministra Cármen Lúcia, que admitiu a volta da censura prévia, “mas só até o fim das eleições de 2022”. Veículos de comunicação não puderam informar que Lula era amigo de ditadores, como Nicolás Maduro e Daniel Ortega.

Os comentaristas da rádio Jovem Pan, por exemplo, foram orientados a esquecer termos como “ex-presidiário”, “descondenado”, “ladrão”, “corrupto” e “chefe de organização criminosa” para se referir a Lula. Além disso, foi proibida qualquer associação entre o ex-presidente e o crime organizado, assim como críticas a ministros e ao Judiciário.

O primeiro turno das eleições deste ano mostrou que o ativismo judicial e o controle exercido sobre a liberdade de expressão são os grandes inimigos da democracia. Se é que houve algum tipo de fraude nas urnas em 2022, isso teve uma influência bem menor que a causada pelas interferências da Justiça Eleitoral. Desta vez, o povo votou sem medo. E a direita venceu.

Ministro Alexandre de Moraes, do STF | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

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3 comentários
  1. ODAIR DE ALMEIDA LOPES JÚNIOR
    ODAIR DE ALMEIDA LOPES JÚNIOR

    Esperar algo que preste do STF e TSE é risível.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Coloca no xadrez essa esquerdaiada ladrona e comunista e acaba com essas justiças subdivididas e faz-se uma só justiça e enxuga todos os códigos de leis, inclusive a constituição

  3. MNJM
    MNJM

    Moraes faz perseguição politica a quem é de direita. Pior que tem a cara de pau em dizer que defende a democracia., como? O que tem demonstrado é ser um ditador sanguinário, levou um cidadão a morte por descaso, destruiu muitas vidas e famílias por atuar politicamente, não tem imparcialidade, além de ser perverso.
    O Senado é o grande responsável por permitir que esse ser desprezível, continue fazendo tanto mal ao país..
    Rodrigo Pacheco merece ser banido da vida pública junto com Moraes. Se merecem.

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