Pular para o conteúdo
publicidade
Depredação nazista, feita no Hendon Golf Club, em Londres, na Inglaterra | Foto: Reprodução/X
Edição 239

Antissemitismo? Que antissemitismo?

Os 'antirracistas' parecem estar loucos para ignorar o ódio aos judeus

Tom Slater, da Spiked
-

Se você acredita na palavra da grande mídia, nos últimos anos, o Reino Unido e boa parte do Ocidente foram dominados por um acerto de contas há muito necessário com nosso passado e presente racistas. Dois mil e vinte, o ano em que o Black Lives Matter se tornou global, foi supostamente um marco para o ativismo “antirracista”, contra o qual só intolerantes ou os proletários burros, alheios aos próprios privilégios, se eriçaram.

Nada disso era verdade, é claro. Como ficou claro já na época, as agitações do BLM não tinham nada a ver com uma reação de baixo para cima contra o racismo e tudo a ver com uma tentativa de cima para baixo de integrar a política identitária racial woke — uma ideologia que é, ao mesmo tempo, divisiva (dividindo as pessoas de acordo com linhas raciais) e trivial (insistindo que a existência de uma estátua em Bristol estava entre os principais obstáculos ao sucesso dos negros britânicos).

Terroristas do Hamas atacam território israelense, a leste da cidade de Khan Yunis, ao sul da Faixa de Gaza (7/10/2023) | Foto: Anas-Mohammed/Shutterstock

Mas se você ainda estiver operando sob o equívoco de que nossas elites culturais são agora antirracistas obstinadas, que se deixam entregar à sua incessante pregação moral, veja a reação impassível e silenciosa delas ao ressurgimento sulfuroso do antissemitismo no ano passado. Após o ataque do Hamas em Israel, o ódio aos judeus teve um retorno devastador nas ruas do Reino Unido, e os ativistas não tiveram nada a dizer sobre isso.

Um campo de golfe em Hendon se tornou o mais recente cenário no qual um vergonhoso racismo antijudaico foi espalhado. No último dia 11, os zeladores encontraram suásticas, “Heil Hitler” e “Fodam-se os Judeus” nos bunkers de areia. Os judeus representam 17% da população de Hendon, que fica no coração do noroeste judaico de Londres. Quem quer que tenha feito isso deve ter programado a ação para coincidir com o início do Yom Kippur.

Ainda assim, tudo bem você não saber que isso aconteceu. A cobertura de ponta a ponta e os dias de ostensivo exame de consciência que se seguiram, por exemplo, a Susan Hussey perguntar a uma mulher negra de onde ela era ou Boris Johnson fazer uma piada sobre burcas, foram notáveis em sua ausência depois do incidente em Hendon. Como sempre acontece quando se trata de antissemitismo. Vivemos uma época em que ficamos obcecados com as formas fantasiosas de racismo — desesperados que estamos para encontrá-lo em cada comentário desajeitado ou piada que ganhe manchetes — enquanto ignoramos as expressões escancaradas do racismo mais antigo do mundo.

Certamente não faltaram casos como esse nos últimos tempos. Em fevereiro, a instituição da comunidade judaica Community Security Trust (CST) relatou um aumento de 96% nas agressões antissemitas após o 7 de outubro. Tijolos e garrafas foram atirados contra judeus britânicos. Quando voltava de uma sinagoga para casa, um homem foi agredido com chutes por manifestantes “pró-Palestina” que disseram: “Vamos estuprar sua mãe, judeu sujo”. Sem dúvida, foi apenas uma raiva descabida sobre os acontecimentos em Gaza, porque ameaçar racialmente os judeus britânicos é uma reação totalmente normal a uma guerra no Oriente Médio.

Sarcasmo à parte, aqueles que ainda tentam fingir que isso não é nada além de puro antissemitismo fariam bem em ler o relatório da CST de fevereiro. O pico de incidentes antissemitas, segundo o relatório, ocorreu apenas alguns dias depois do ataque bárbaro do Hamas contra Israel, semanas antes do início da invasão terrestre de Israel em Gaza. E representou um tipo grotesco de “celebração” do ataque, concluiu a pesquisa. Considerar judeus britânicos responsáveis pelas ações do governo israelense já é bem repugnante. Mas nem isso reflete o que está acontecendo.

Protestos antissemitas têm ocorrido em diversas partes do Ocidente, espalhando hostilidade não apenas contra Israel mas também contra o povo judeu como um todo (Valparaíso, Chile, 7/10/2024) | Foto: Reuters/Rodrigo Garrido

O antissemitismo sofre uma metástase há anos, mas os “antirracistas” estão empenhados em não perceber. Antes mesmo de 7 de outubro, os judeus britânicos vinham sofrendo um quarto de todos os crimes de ódio com motivação religiosa, embora representem apenas 0,5% da população. Histórias de judeus idosos sendo espancados na rua ou de espaços judaicos sendo profanados surgiam sem muitos comentários. Uma sinagoga em Kent foi destruída oito vezes em dez anos, mas essa história enfrentou dificuldade para sair da imprensa local e judaica.

Minha mente sempre se volta para os canalhas racistas que circularam de carro pela Finchley Road, outra área judaica do noroeste de Londres, em 2021. “Fodam-se os judeus… Fodam-se suas mães… Estuprem suas filhas”, gritavam nos megafones, em carros adornados com bandeiras palestinas. Lá estavam eles, clamando exatamente pelo tipo de violência e de sadismo que vimos ocorrer contra os judeus inocentes do sul de Israel alguns meses depois. Foi um apelo à barbárie disfarçado de libertação nacional, no meio de Londres. E, no entanto, o caso provocou pouco mais do que tuítes superficiais dos poderosos e influentes.

Se estavam dispostos a deixar isso passar, estavam dispostos a deixar qualquer coisa passar. O silêncio dos “antirracistas” desde 7 de outubro não surpreende ninguém que esteja prestando atenção. Mas precisa privar definitivamente o grupo woke de sua superioridade moral. Depois de anos de fúria contra a apropriação cultural, as microagressões e os objetos inanimados, eles se calaram quando terroristas genocidas fizeram o ataque mais mortal contra os judeus desde o Holocausto, e as marchas antissemitas se tornaram parte integrante da vida britânica nas cidades. Eles mostraram de uma vez por todas que não se importam com o racismo, principalmente quando é praticado contra os judeus. Nunca deixe que se esqueçam disso.


Tom Slater é editor da Spiked. Ele está no X: @Tom_Slater_

Leia também “O abismo entre as elites e as massas”

3 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Que vergonha dos britânicos. Como uma nação que teve Churcill e Thatcher se comporta desse jeito hoje em dia.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Isaac e Ismael são filhos de Abraão, Isaac é de Sara e Ismael é da egípcia que substituiu a gestação porque Sara era infértil e depois de velha ficou fértil pra gerar Isaac. Daí o conflito da mesopamia com Egito, Árabes e judeus. A religião é complicada demais, os seres humanos são uma só raça, pelo amor de Deus

  3. Eurico Schwinden
    Eurico Schwinden

    Como hoje hospedamos terroristas do Hezbollah, com passaporte venezuelano, como aqueles de mataram 80 jovens e deixaram mais de 300 outros feridos na explosão que destruiu a AMIA – Associação Mutual Israelita Argentina. O atentado foi montado e financiado por um hospede da Mesquita de Curitiba. O financiamento libanês foi reforçado pela comunidade encrustada no comercio de Ciudad del Leste.
    Vamos ao texto implacável de Tom Slater. Sobre o BLM, que na pratica tudo não passou de um surto de histeria psicogênica por um erro de avaliação de policiais, que ao sufocar um negro completamente tomado por um coquetel mortal de drogas. E o BLM deu no que deu, inclusive recebendo milhões de Maduro e acabou como o esperado: suas lideranças se esbaldaram em mansões de milhares de dólares. O Sete de Outubro foi uma micro-escala do Holocausto. Pior até porque hoje os nazi-islamista do Hamas são chamados de justiceiros. Ainda ressoa forte a voz do teólogo alemão Martin Niemoller. Quem não se lembra do “… então quando vieram me buscar… já não restava ninguém para protestar”. Se ainda se imprime o famigerado ” Sete Sábios de Siao”, produzido pela Okrana, a policia secreta do ultimo Czar, com certeza os que habitam pomposas torres e marfins e suas matilhas – estas sim, fascistas – não deve preocupar que de todos os grupos terroristas que atuam no Planeta, listados pelo Departamento de Estados dos EUA, 55 sejam não apenas islamistas. São jihadistas, wahabistas, salafistas, em uníssono Allahu Akbar.

Anterior:
Lula promete respeitar o arcabouço fiscal, mas gringos não acreditam
Próximo:
A direita brasileira: conservadores e liberais
Newsletter

Seja o primeiro a saber sobre notícias, acontecimentos e eventos semanais no seu e-mail.