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O delegado Eduardo Boigues venceu a eleição para prefeito de Itaquaquecetuba (SP) no primeiro turno, com o maior porcentual de votos do Brasil | Foto: Divulgação/Revista Oeste
Edição 240

O delegado bom de voto

Eduardo Boigues (PL) conquistou mais de 91% dos votos válidos na disputa pela reeleição em Itaquaquecetuba (SP)

anderson scardoelli
Anderson Scardoelli
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Quinta-feira, 17 de outubro de 2024. Tudo parece fluir normalmente no meio do expediente no gabinete da Prefeitura de Itaquaquecetuba (SP). A única movimentação que chama a atenção é a de um agitado funcionário público que, mais de uma vez, insiste em perguntar a todos os presentes quem quer café. Bebida que faz questão de servir pessoalmente, com direito a lavar pires e xícaras e fornecer tanto açúcar quanto adoçante. A quem recusa o café, o moço se apressa em lavar copos e servir água. Parece alguém que está a fim de agradar à chefia. Mas só parece, pois o rapaz que faz a vez de garçom é o próprio chefe máximo do local. Ele é Eduardo Boigues, delegado filiado ao Partido Liberal (PL) que dias antes havia sido reeleito prefeito com 91% dos votos válidos. Porcentual que o fez bater recorde de popularidade entre todas as cidades com mais de 200 mil eleitores – ou seja, aquelas que poderiam ter segundo turno.

Servir café a quem visita o seu gabinete em Itaquá, forma reduzida pela qual o município que compõe a região do Alto Tietê é popularmente conhecido, é só uma das ações de quem acredita que o prefeito é, antes de qualquer outra atribuição, um servidor do povo. Boigues se faz presente para além do “conforto do ar-condicionado”, conforme enfatiza a quem lhe pergunta ao que atribui o sucesso nas urnas. O prefeito recém-reeleito informa que cumpre agenda na rua todos os dias. “Tenho horário para despachar do gabinete”, conta. “No restante do dia, é rua.”

O trabalho fora do gabinete também faz com que o prefeito de Itaquaquecetuba viralize nas redes sociais. Em agosto, Boigues compartilhou o momento em que voltou a agir como delegado, função pela qual prestou concurso há mais de 20 anos. Na ocasião, depois de mapear o local e o horário em que fios da rede elétrica da cidade eram furtados, ajudou a prender em flagrante o responsável pelo crime. Com arma em punho, ele não nega a satisfação com esse tipo de trabalho. No vídeo, que soma quase 300 mil visualizações só no perfil dele no Instagram, a alegria logo deu lugar à realidade de quem entende como funcionam as leis e o Poder Judiciário do país. “Daqui a pouco esse vagabundo vai estar na rua de novo”, disse, em tom premonitório que se confirmou. De acordo com o prefeito, o ladrão não ficou um mês sequer atrás das grades.

“Como delegado, como pai de família, como prefeito, como o que você quiser me qualificar: isso é frustrante para todo cidadão de bem”, lamenta, ao comentar como se sente ao saber que o criminoso que ajudou a prender ficou poucas semanas fora do convívio com a sociedade. “Isso é repugnante.”

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Prefeito em ação

Ciente de que não cabe a ele, integrante do Poder Executivo na esfera municipal, manter esse ou aquele ladrão preso, Boigues se preocupa em fazer o que está ao seu alcance. É o caso, por exemplo, da coleta de lixo e de entulhos. Admite que essa é uma das áreas que o faz ter orgulho da gestão que liderou durante os últimos quatro anos. Foram, segundo ele, 21 ecopontos instalados pela cidade no período. Mesmo assim, há registros de descartes irregulares. Problema que, mais do que admitir, o político exibiu nas redes sociais. Em julho, junto da equipe de limpeza municipal, recolheu e “devolveu” à empresa de uma cidade vizinha o lixo que havia sido descartado de forma irregular em um terreno de Itaquá.

Atento para ajudar diretamente no combate à criminalidade e na limpeza urbana, Boigues valoriza dados de seu governo em outras áreas. Conta, entre outros feitos, que fez o serviço de iluminação pública avançar com, nas palavras dele, “99% da cidade sendo iluminada com LED”.

Na Saúde, o prefeito reeleito também divulga números em seu favor. Em quase quatro anos, inaugurou três Unidades Básicas de Saúde (UBSs), além de ter mais uma para entregar nos próximos meses. Ainda no assunto UBS, concluiu a reforma de três unidades e ainda está reformando outras três. Contratou 98 médicos, comprou seis ambulâncias, colocou para funcionar o primeiro Centro de Saúde Infantil do município e lançou o projeto que batizou de “Upinha”, local dedicado a atender pacientes com quadros gripais e suspeita de dengue e que, em formato de hospital de campanha, ficou ativo no decorrer de três meses.

Na educação, destaca a Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Charles Michel de l’Épée, em atividade desde setembro de 2022. O fator “bilíngue”, explica o prefeito, se deve ao fato de os professores se dedicarem a ensinar tanto a língua portuguesa quanto a Língua Brasileira de Sinais, técnica conhecida pelo acrônimo Libras. Segundo Boigues, é o único colégio público desse tipo em toda a região do Alto Tietê.

O político de Itaquaquecetuba também valoriza o avanço do trabalho de pavimentação. Foram mais de cem ruas asfaltadas. Número que não o deixa omitir a necessidade de fazer mais trabalho nesse sentido, ainda mais quando lembra que o município está organizado em mais de 400 bairros.

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Vista panorâmica de um dos bairros de Itaquaquecetuba, município que investe no serviço de iluminação LED | Foto: Divulgação/PMI
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Fachada da Upinha, hospital de campanha dedicado a atender casos de gripe e dengue que funcionou durante três meses, de maio a agosto de 2024, em Itaquá | Foto: Divulgação/PMI
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Itaquaquecetuba conta com Centro de Saúde Infantil, que foi inaugurado no primeiro governo de Eduardo Boigues | Foto: Divulgação/PMI
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Fachada da UBS Jardim Fortuna, que está em operação desde maio de 2023 | Foto: Caroline Assis/PMI
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Itaquaquecetuba conta com escola pública bilíngue, que ensina língua portuguesa e Libras | Foto: Divulgação/PMI
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Professores em ação na Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Charles Michel de l’Épée | Foto: Dayane Oliveira/PMI
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Funcionários da Prefeitura de Itaquaquecetuba trabalham em obra de pavimentação de rua | Foto: Antônio Marcos/PMI
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Eduardo Boigues afirma que sua gestão pavimentou mais de cem ruas em Itaquá | Foto: Dayane Oliveira/PMI
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Eduardo Boigues, prefeito de Itaquaquecetuba, durante inspeção de obra de infraestrutura na cidade | Foto: Reprodução/Redes Sociais

“É lógico que falta pavimentar ruas e avenidas de alguns bairros”, confessa. “Não tivemos braço para tudo, mas, mesmo onde não chegamos, a população olhou e falou: ‘Você merece o meu voto’. A pessoa pode estar num local que ainda não foi totalmente asfaltado, mas certamente viu o que já fizemos por tantos outros pontos da cidade.”

“Temos que colocar na cabeça que a nossa primeira missão é trabalhar pela cidade.” (Eduardo Boigues)

Com franqueza atípica para políticos em reconhecer o que não fez, Boigues aproveita a exposição midiática que teve por causa do porcentual de sua reeleição para expor um problema antigo de Itaquá, que é cortada pelo Rio Tietê e diversos córregos: as enchentes. Informa que o caixa municipal não permite promover obras mais complexas, como criar piscinões. Dessa forma, clama por investimentos. Para isso, ressalta, não tem direita, esquerda ou centrão. Assim, espera contar com recursos vindos do governo estadual, do governo federal e de emendas destinadas por deputados.

“Sempre dialoguei com todo mundo”, diz. “Temos que colocar na cabeça que a nossa primeira missão é trabalhar pela cidade. Isso é importante. Isso é fazer gestão. Prova disso é que, somente neste ano, recebemos R$ 84 milhões em emendas, que vieram dos mais diferentes parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e da Câmara dos Deputados.” 

Orgulho em ser político

Por falar em gestão, Boigues relata ter se descoberto gestor quando, no início dos anos 2000, passou a ter a responsabilidade de comandar delegacias. Afinal, foi na função que começou a acompanhar de perto os mais diversos problemas do cidadão comum. De casos de furtos a brigas familiares. De abusos sexuais a assassinatos sem resolução.

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Eduardo Boigues (PL) ao lado de Rogério Tarento (PSD), que foi eleito vice-prefeito de Itaquaquecetuba em 2024; aliança uniu 13 partidos políticos | Foto: Divulgação/Coligação Força Que Faz Itaquá Avançar

A percepção de que poderia levar essa experiência de gestão da polícia para a política começou justamente com a transferência para Itaquaquecetuba, em 2006. Natural de Álvares Machado, no oeste paulista, Boigues, hoje com 48 anos, nunca havia imaginado morar e trabalhar na cidade que era tida como o “patinho feio” do Alto Tietê e que chegou a ter o jocoso apelido de “Itaquaquistão”. No município, começou como delegado assistente. Depois, assumiu a função de titular de delegacia. Em 2008, ajudou a implementar o Setor de Homicídios de Itaquaquecetuba. Ficou à frente do departamento até meados de 2016, quando, então filiado ao nanico PTdoB (sigla que hoje atende pelo nome Avante), decidiu se lançar candidato a prefeito.

Há oito anos, não conseguiu ser eleito. Perdeu, mas saiu com bom desempenho para um estreante. Com quase 12% dos votos válidos, terminou a disputa em segundo lugar, numa eleição em que outros 12 candidatos almejaram o cargo de prefeito de Itaquaquecetuba, que ficou com Dr. Mamoru (PSDB).

Sem conquistar a prefeitura, Boigues também acabou sem a possibilidade de retornar ao comando do Setor de Homicídios de Itaquaquecetuba, pois a unidade foi descontinuada pela gestão eleita. Foi transferido para um departamento na vizinha Mogi das Cruzes.

“Expulso”, Boigues, contudo, não desistiu nem da cidade nem da política. Buscou se especializar e, em 2018, foi selecionado para o curso de formação de líderes do RenovaBR. Mesmo com mais de 200 horas de atividades, passou pelo ano com mais um revés nas urnas, pois não conseguiu se eleger deputado estadual pelo PP de São Paulo.

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As derrotas pararam por aí. De volta a Itaquá, Boigues foi eleito prefeito em 2020, no primeiro turno, com 62% dos votos válidos. A coligação encabeçada por ele contou com 14 partidos, do PP ao PCdoB, passando por DEM, Republicanos, PSB e PV.

Para a eleição deste ano, o prefeito trocou o PP pelo PL, mas não mudou o seu jeito de fazer política e de defender a ideia de que é preciso “conversar com todos os lados”. Assim, formou uma aliança composta de 13 partidos, incluindo o PSD de Gilberto Kassab e o esquerdista PSB.

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Como membro do PL que não tem vergonha em admitir que se relaciona com partidos do centrão e da esquerda, o prefeito — e delegado — Eduardo Boigues reconhece que a reeleição com mais de 91% dos votos lhe confere o status de liderança política regional. Um líder que, aliás, já faz planos para as eleições de 2026. Seu objetivo é fazer com que um de seus aliados seja eleito deputado federal e, assim, conseguir captar mais recursos para obras e projetos em Itaquaquecetuba.

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Com a missão de fazer valer cada um dos quase 166 mil votos que recebeu no dia 6 de outubro, Boigues admite que vai seguir a carreira na política partidária. Vislumbra a possibilidade de concorrer ao cargo de deputado — estadual ou federal — em 2030. Ainda é cedo para dizer se ele terá sucesso em viabilizar uma candidatura para além dos limites de Itaquaquecetuba, mas, a julgar pelo resultado das urnas neste ano, o delegado já provou ser bom de voto.

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