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Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República | Foto: Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo
Edição 240

O governo do depois

A maioria das iniciativas vem acompanhada de adiamentos, para ser anunciada depois de alguma coisa — mas o tempo do Brasil é o de agora e as soluções são para ontem

Adalberto Piotto
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A última notícia de postergação do governo do partido dos “trabalhadores” é o tal pacote ambicioso de corte de gastos que a equipe econômica deve apresentar depois do segundo turno das eleições. Impossível não nos lembrarmos de Roberto Campos, o avô, que definia o PT como “o partido de trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam”.

Já reparou que neste governo a maioria das iniciativas vem sempre acompanhada de adiamentos, atrasos, para ser anunciada depois de alguma coisa? O que não combina com a realidade é que o tempo do Brasil é o de agora e as soluções são para ontem. Problemas estão se acumulando e se sucedendo, sobretudo na área fiscal, desde que o atual governo de Lula 3 negociou com o Congresso um fura-teto de quase R$ 200 bilhões ainda na fase de transição, no final de 2022.

Mas o mais revelador da completa incapacidade de gestão, da bagunça administrativa e da falta de coragem e de foco é que o atual governo está completando quase dois anos. Praticamente metade do mandato do ‘governo do depois’.

São inúmeras as postergações. A começar pelas incessantes viagens presidenciais, um dos principais motivos das procrastinações que têm deixado o país à deriva. Como Lula e Janja acumulam 23 viagens internacionais e quase 90 dias no exterior desde a posse, decisões de política econômica, de negociações sérias com o Congresso, sempre ficam para “depois da viagem” do presidente. E, como nada de fato foi feito para resolver o nó fiscal que, até setembro, já acumulava 16 meses de déficits primários consecutivos e um acréscimo na dívida bruta de R$ 1,111 trilhão, é como o nada esperando passar a coisa nenhuma com potencial de piorar o que já é ruim. Até porque as viagens de Lula 3 têm sido marcadas por declarações desastradas sobre a guerra na Ucrânia, sobre Israel, omissão diante de ditaduras e de grupos terroristas e irrelevância comercial no que tange a ganhos ao país. Adicione a isso que a diplomacia brasileira nunca foi tão chamuscada como neste governo, e o futuro de nossas relações com o mundo civilizado ficam comprometidas.

Somente em 2023, as viagens de Lula, de Janja, e de sua equipe, custaram, ao todo, R$ 2,3 bilhões ao trabalhador brasileiro
Somente em 2023, as viagens de Lula, Janja e sua equipe custaram, ao todo, R$ 2,3 bilhões ao trabalhador brasileiro | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

O governo que não chega nunca para governar de fato vive de anúncios que serão feitos depois do feriadão x, y ou z. Ou depois da volta do recesso formal ou informal dos deputados e senadores. Ou ainda dos ministros do STF que, no governo Lula, são a parte principal do consórcio que tem tomado decisões. Aliás, nesse caso, a única agilidade que se tem vem justamente do Supremo, mas que é uma tragédia institucional porque se impõe sobre os Poderes eleitos. Seja numa falta de decisão do Executivo, na perda de uma votação no Congresso, seja num plantão do Judiciário, qualquer coisa basta para um ministro do STF dar uma canetada na base do “cumpra-se”. De forma monocrática, contraria sem pudores o resultado de votações do Congresso ou atropela decisões que deveriam ter sido tomadas antes, bem antes, pelo Executivo.

A turbulenta eleição de 2022 deixou sequelas no país e nas instituições. O atual governo de Lula foi anunciado como vencedor pelo TSE, mas não trouxe consigo a aderência das ruas e uma base sólida no Congresso. Para se manter no poder, sobrevive cedendo ao fisiologismo dos parlamentares e à tutela imperial desse Supremo que rasgou a Constituição no que ela determina: os Poderes são independentes e harmônicos entre si.

Cálculos errados de todo tipo e de muita gente presumiram a volta do Lula “paz e amor” do primeiro mandato, uma invenção do marqueteiro Duda Mendonça que só sobreviveu enquanto durou o deslumbre com o poder e com os afagos que recebem os presidentes. Lula só falava e viajava. O governo, sobretudo na economia, era gerido de fato por Antonio Palocci, o seu ministro da Fazenda que domou a tigrada estatizante e perdulária do partido e manteve a gestão de austeridade fiscal recebida do governo Fernando Henrique. E com o benefício de ter o voto a favor dos petistas no Congresso. Pragmático, o então chefe da equipe econômica se cercou de gente técnica do porte de Marcos Lisboa, Joaquim Levy e Otaviano Canuto para fazer um governo novo que não perdesse os ganhos da gestão anterior. E o mais importante: Palocci tinha ascendência sobre o presidente e autoridade política dentro do partido.

Em comparação, o Lula de agora voltou amargo, vingativo, sectário e faz questão de assumir o âmago do petismo-raiz, admirador de ditaduras na geopolítica e perdulário na gestão pública.

Um olhar sobre a atual Esplanada dos Ministérios é revelador no que o lulopetismo sem limites é capaz de nomear. Onde houve Antonio Palocci, por exemplo, hoje há Fernando Haddad. Se parte do mercado — financeiro, sobretudo — ainda é condescendente com Haddad, porque seria ele o único interlocutor possível no governo, estamos mal. Temos 39 ministérios, e o mínimo de civilidade e razoável compreensão do drama fiscal são as únicas qualidades com que se pode contar?

Fernando Haddad, ministro da Fazenda | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Fato é que a atual equipe econômica não teve, não tem e parece que nunca terá ascendência sobre Lula, cada vez mais sem a mínima noção da realidade fiscal de seu governo. Na coluna da semana passada, “Uma biruta sob ventos erráticos”, eu trouxe uma declaração de Simone Tebet que demonstra a inação crônica do time da economia de Lula: “Chegou a hora de levar a sério a revisão dos gastos estruturais”, mas com medidas que sejam “palatáveis” ao perfil de Lula.

E, mesmo assim, o tal pacote de corte de gastos salvador vai ficar para depois do segundo turno das eleições municipais.

O Brasil de agora também ficará para depois, com a crescente esperança de que 2026 chegue logo.

Leia também “Uma biruta sob ventos erráticos”

1 comentário
  1. CLAUDIONOR BATISTA DE AZEVEDO
    CLAUDIONOR BATISTA DE AZEVEDO

    Piotto, como sempre preciso em suas considerações.
    O Brasil, esta indo cada vez mais rápido para o fundo do poço.
    Brasileiros. NÃO VOTEM NO 55 – PSD.
    A eleições para prefeitos se aproximam, 26/10, temos que refletir bem o que queremos para os nossos municípios.
    Vamos pesquisar bem o perfil dos candidatos.
    Patriotas, temos que eleger o maior número possível de Prefeitos de DIREITA.
    Isso vai nos fortalecer, para em 2026 nas eleições majoritárias possamos mudar o Congresso Nacional, elegendo a maioria dos Senadores, Deputados Federais, Governadores e Deputados Estaduais de Direita, que não tenham rabo preso no STF, que não estejam e não tenham se envolvido em corrupção, que não estejam nas listas da Odebrecht, na lava-jato, no mensalão, mensalinho, nos desvios de verbas dos Correios, da Petrobrás, dos fundos de Pensões e toda sujeira que aconteceram nos governos anteriores dos Petralhas, seus cúmplices e puxadinhos.
    Não se deixe iludir com falsas promessas, compra de votos, churrascos, camisetas, bonés, etc.
    A MUDANÇA COMEÇA AGORA NAS ELEIÇÕES PARA PREFEITOS, VAMOS VOTAR COM O SENTIMENTO DE TERMOS UM BRASIL LIVRE, PRÓSPERO E LIBERAL,

    Vejam os ABSURDOS que aconteceram nos DESGOVERNOS anteriores da ESQUERDA, em nosso Brasil.
    Houve: MENSALÃO, MENSALINHO, PETROLÃO, MALA DE DINHEIRO, DÓLARES NA CUECA, DÓLARES A MALA DA PIZZARIA, APARTAMENTO COM MILHÕES DE R$, SÍTIO DE ATIBAIA, TRIPLEX, EMPREITEIRAS, DEVOLUÇÃO DE MILHÕES DE R$, CONFISCO DE MILHÕES DE DÓLARES DO EXTERIOR, DESFALQUES NOS FUNDOS DE PENSÕES, CORREIOS, ELETROBRAS, DESVIOS DE MILHÕES DO BNDES, ETC…
    E agora… Uma pequena AMOSTRA dos Governos de Esquerda Anteriores, você quer isso de volta para o Brasil?
    1. Caso Pinheiro Landim
    2. Caso Celso Daniel
    3. Caso Toninho do PT
    4. Escândalo dos Grampos Contra Políticos da Bahia
    5. Escândalo do Proprinoduto (também conhecido como Caso Rodrigo Silveirinha )
    6. CPI do Banestado
    7. Escândalo da Suposta Ligação do PT com o MST
    8. Escândalo da Suposta Ligação do PT com a FARC
    9. Privatização das Estatais no Primeiro Ano do Governo Lula
    10. Escândalo dos Gastos Públicos dos Ministros
    11. Irregularidades do Fome Zero
    12. Escândalo do DNIT (envolvendo os ministros Anderson Adauto e Sérgio Pimentel)
    13. Escândalo do Ministério do Trabalho
    14. Licitação Para a Compra de Gêneros Básicos
    15. Caso Agnelo Queiroz (O ministro recebeu diárias do COB para os Jogos Pan-americanos)
    16. Escândalo do Ministério dos Esportes (Uso da estrutura do ministério para organizar a festa de aniversário do ministro Agnelo Queiroz)
    17. Operação Anaconda
    18. Escândalo dos Gafanhotos (ou Máfia dos Gafanhotos)
    19. Caso José Eduardo Dutra
    20. Escândalo dos Frangos (em Roraima)
    21. Várias Aberturas de Licitações da Presidência da República Para a Compra de Artigos de Luxo
    22. Escândalo da Norospar (Associação Beneficente de Saúde do Noroeste do Paraná)
    23. Expulsão dos Políticos do PT
    24. Escândalo dos Bingos (Primeira grave crise política do governo Lula) (ou Caso Waldomiro Diniz)
    25. Lei de Responsabilidade Fiscal (Recuos do governo federal da LRF)
    26. Escândalo da ONG Ágora
    27. Escândalo dos Copos (Licitação do Governo Federal para a compra de 750 copos de cristal para vinho, champagne, licor e whisky)
    28. Caso Henrique Meirelles
    29. Caso Luiz Augusto Candiota (Diretor de Política Monetária do BC, é acusado de movimentar as contas no exterior e demitido por não explicar a movimentação)
    30. Caso Cássio Caseb
    31. Caso Kroll
    32. Conselho Federal de Jornalismo
    33. Escândalo dos Vampiros
    34. Escândalo das Fotos de Herzog
    35. Uso dos Ministros dos Assessores em Campanha Eleitoral de 2004
    36. Escândalo do PTB (Oferecimento do PT para ter apoio do PTB em troca de cargos, material de campanha e R$ 150 mil reais a cada deputado)
    37. Caso Antônio Celso Cipriani
    38. Irregularidades na Bolsa-Escola
    39. Caso Flamarion Portela
    40. Irregularidades na Bolsa-Família
    41. Escândalo de Cartões de Crédito Corporativos da Presidência
    42. Irregularidades do Programa Restaurante Popular (Projeto de restaurantes populares beneficia prefeituras administradas pelo PT)
    43. Abuso de Medidas Provisórias no Governo Lula entre 2003 e 2004 (mais de 300)
    44. Escândalo dos Correios (Segunda grave crise política do governo Lula. Também conhecido como Caso Maurício Marinho)
    45. Escândalo do IRB
    46. Escândalo da Novadata
    47. Escândalo da Usina de Itaipu
    48. Escândalo das Furnas
    49. Escândalo do Mensalão (Terceira grave crise política do governo. Também conhecido como Mensalão)
    50. Escândalo do Leão & Leão (República de Ribeirão Preto ou Máfia do Lixo ou Caso Leão & Leão)
    51. Escândalo da Secom
    52. Esquema de Corrupção no Diretório Nacional do PT
    53. Escândalo do Brasil Telecom (também conhecido como Escândalo do Portugal Telecom ou Escândalo da Itália Telecom)
    54. Escândalo da CPEM
    55. Escândalo da SEBRAE (ou Caso Paulo Okamotto)
    56. Caso Marka/FonteCindam
    57. Escândalo dos Dólares na Cueca
    58. Escândalo do Banco Santos
    59. Escândalo Daniel Dantas – Grupo Opportunity (ou Caso Daniel Dantas)
    60. Escândalo da Interbrazil
    61. Caso Toninho da Barcelona
    62. Escândalo da Gamecorp-Telemar (ou Caso Lulinha)
    63. Caso dos Dólares de Cuba
    64. Doação de Roupas da Lu Alckmin
    65. Doação de Terninhos de Marisa da Silva
    66. Escândalo da Nossa Caixa
    67. Escândalo da Quebra do Sigilo Bancário do Caseiro Francenildo (Quarta grave crise política do governo Lula. Também conhecido como Caso Francenildo Santos Costa)
    68. Escândalo das Cartilhas do PT
    69. Escândalo do Banco BMG (Empréstimos para aposentados)
    70. Escândalo do Proer
    71. Escândalo dos Fundos de Pensão
    72. Escândalo dos Grampos na Abin
    73. Escândalo do Foro de São Paulo
    74. Esquema do Plano Safra Legal (Máfia dos Cupins)
    75. Escândalo do Mensalinho
    76. Escândalo das Vendas de Madeira da Amazônia (ou Escândalo Ministério do Meio Ambiente).
    77. 69 CPIs Abafadas pelo Geraldo Alckmin ( em São Paulo )
    78. Escândalo de Corrupção dos Ministros no Governo Lula
    79. Crise da Varig
    80. Escândalo das Sanguessugas (Quinta grave crise política do governo Lula. Inicialmente conhecida como Operação Sanguessuga e Escândalo das Ambulâncias)
    81. Escândalo dos Gastos de Combustíveis dos Deputados
    82. CPI da Imigração Ilegal
    83. CPI do Tráfico de Armas
    84. Escândalo da Suposta Ligação do PT com o PCC
    85. Escândalo da Suposta Ligação do PT com o MLST
    86. Operação Confraria
    87. Operação Dominó
    88. Operação Saúva
    89. Escândalo do Vazamento de Informações da Operação Mão-de-Obra
    90. Escândalo dos Funcionários Federais Empregados que não Trabalhavam
    91. Mensalinho nas Prefeituras do Estado de São Paulo
    92. Escândalo dos Grampos no TSE
    93. Escândalo do Dossiê (Sexta grave crise política do governo Lula)
    94. ONG Unitrabalho
    95. Escândalo da Renascer em Cristo
    96. CPI das ONGs
    97. Operação Testamento
    98. CPI do Apagão Aéreo ( Câmara dos Deputados)
    99. Operação Hurricane (também conhecida Operação Furacão )
    100. Operação Navalha
    101. Operação Xeque-Mate
    102. Escândalo da Venda da Varig.
    Aguardem, que agora neste Desgoverno virá muito mais.
    Basta ver as estatais sendo sucateadas e entregues aos mesmos do passado, a maioria na LISTA DA ODEBRECHT.

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