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Cartão do programa Bolsa Família | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 245

A cidade que quer vencer o Bolsa Família

O prefeito de Bento Gonçalves organiza uma força-tarefa para substituir benefício por emprego

Uiliam Grizafis
Uiliam Grizafis
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Programas de benefício social como o Bolsa Família deveriam ser emergenciais e limitados no tempo. Uma sociedade economicamente saudável produz sua riqueza e não depende da “caridade” estatal. Infelizmente o Brasil trocou as bolas com o Bolsa Família e passou a considerar a exceção como regra. Fica difícil religar o mecanismo produtivo quando a população recebe uma “esmola” do governo sem precisar trabalhar. Isso só se justifica em situações de crise grave, como uma epidemia ou um grande desastre natural. Mas, quando se torna o novo normal, a pobreza se perpetua. Felizmente o Brasil tem gente se esforçando para romper esse círculo vicioso. 

Localizada na Serra Gaúcha, a cidade de Bento Gonçalves é conhecida por ser a capital nacional do vinho. Colonizado por italianos a partir de 1875, o município se destaca pela riqueza da agricultura e das fábricas que rodeiam a região. 

Com 123 mil habitantes, a cidade possui grande quantidade de empresas de setores como agro, moveleiro, mecânico, metálico, turístico, além do comércio. “Não falta emprego para ninguém aqui”, afirma o prefeito, Diogo Segabinazzi.

Apesar da grande oferta de trabalho, os empresários locais se depararam com um grande problema: a dificuldade de contratar trabalhadores para empregos mais simples. A necessidade os levou a visitar os bairros da cidade para buscar pessoas que estivessem dispostas a trabalhar. O mutirão foi realizado em conjunto com funcionários da prefeitura.

Cartão do Bolsa Família
Cartão do programa Bolsa Família | Foto: Lyon Santos/MDS

‘Visitamos as pessoas e oferecemos um emprego’

O prefeito conta que, ao visitarem diferentes regiões da cidade, encontraram homens e mulheres que estavam desempregados, mas não aceitavam a oferta de trabalho. Estupefato com o que viu e ouviu, Segabinazzi decidiu saber o motivo. Descobriu que cerca de 2,1 mil moradores preferiam não trabalhar com carteira assinada para não perder o benefício do governo.

Diogo Segabinazzi e os empresários de Bento Gonçalves decidiram agir conjuntamente. Num primeiro momento, fizeram o mapeamento da cidade em parceria com o Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC). O objetivo era quantificar os beneficiários que estavam irregulares e analisar a situação social de cada um.

A partir do estudo, a prefeitura deu início, em maio deste ano, a uma força-tarefa que visa a tirar o benefício dessas pessoas e oferecer-lhes um emprego formal. Nessa etapa inicial, a ação focou homens e mulheres de 18 a 40 anos e sem filhos. 

“Visitamos as pessoas e oferecemos um emprego”, conta o Segabinazzi. “Para facilitar, analisamos qual é a empresa que está mais próxima da casa da pessoa. Depois a conduzimos para fazer a entrevista.”

Desempre
Carteira de trabalho | Foto: Reprodução/Agência Brasil

Ganhando quase seis vezes mais

“A força-tarefa, apesar de recente, começa a dar resultado”, comemora o prefeito. Até a publicação desta reportagem, a ação havia tirado o benefício de 90% das pessoas naquela faixa etária que estavam irregulares. Segundo Segabinazzi, a força-tarefa tira do programa cerca de 20 pessoas por semana.

“Meu objetivo é tirar o cidadão do Bolsa Família e colocá-lo no mercado de trabalho”, afirma o prefeito. “Queremos acabar com essa ‘mamata’ de assistencialismo e fazer com que a pessoa tenha dignidade e emprego. Que ande com as próprias pernas. Para aqueles que apresentam resistência, cortamos o benefício.”

Ralph Murillo Silva Feitosa é um dos moradores de Bento Gonçalves que conseguiram emprego por meio da força-tarefa. Natural do Pará, o soldador mora no Rio Grande do Sul há seis meses. Ele conta que recebia R$ 650 do Bolsa Família até que funcionários da prefeitura o abordaram e ofereceram um emprego em uma metalúrgica. 

Hoje, Ralph ganha R$ 3,5 mil com o suor de seu rosto — o que equivale a 5,8 vezes mais. Além disso, ele se convenceu de que o trabalho formal lhe daria dignidade. “Comecei a trabalhar na metalúrgica e hoje consigo pagar meu aluguel”, contou. “A empresa me ajudou e hoje vejo que não preciso do Bolsa Família.”

Cédulas de dinheiro em reais representam o déficit do governo
Foto: Jeso Carneiro/Flickr

Benefício para quem precisa

O prefeito ainda destaca outro efeito positivo da força-tarefa: as pessoas que fazem parte do Bolsa Família irregularmente estão telefonando para a prefeitura para conseguir emprego e sair do programa. “Eles estão vendo que também vão perder o benefício.”

Segabinazzi diz, entretanto, que há aqueles que realmente necessitam de alguma assistência para poder se sustentar. Mães de filhos com necessidades especiais, pessoas com deficiência, idosos e outros que não conseguem trabalhar precisam, de fato, de algum benefício social. “Para isso, contam com outros tipos de auxílio, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC)”, afirma. “Temos o sentimento de cidadania. Ajudamos quem realmente precisa.”

Para dar sequência à força-tarefa, o prefeito encaminhou à Câmara de Vereadores o Projeto de Lei da Ordem do Bolsa Família. O documento estabelece medidas para coibir fraudes no programa. Visa também a garantir “a correta destinação dos recursos públicos aos cidadãos que realmente necessitam”. 

De acordo com o projeto, o cidadão que tiver utilizado dados falsos ou informações inverídicas estará sujeito ao corte imediato do recurso, além da aplicação de multa de R$ 7,2 mil — correspondente a 12 meses do benefício.

A vitória do trabalho

A ação conjunta entre Segabinazzi e os empresários locais representa a vitória do trabalho em Bento Gonçalves. A cidade venceu o Bolsa Família. Além disso, a administração local acredita que pode haver uma cultura de pouca interferência estatal, o que leva a um nível de prosperidade só compatível ao de países desenvolvidos. 

Santa Catarina, vizinho do Rio Grande do Sul, é um exemplo disso. É o Estado brasileiro que menos depende do Bolsa Família. Assim como em Bento Gonçalves, os colonos que chegaram às terras catarinenses se acostumaram a trabalhar sem nenhuma interferência do governo. 

No oeste de Santa Catarina, por exemplo, o isolamento do século 19 marcou o caráter dos colonos que chegaram da Europa. Eles tiveram que aprender a plantar e semear sem auxílio do Estado. Essa autonomia ajudou a formar a cultura do trabalho na região. Cresceram sem a ideia de paternalismo político e assistencialismo. 

O resultado é impactante. De acordo com a revista Forbes, Santa Catarina é o terceiro Estado que mais tem bilionários no Brasil, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Para Segabinazzi, essa mesma cultura é a que deve prevalecer em Bento Gonçalves — e não a de benefícios estatais. Segundo o prefeito, o município deve ser um exemplo para outras cidades onde grande parte da população depende do Bolsa Família. 

É o caso de Mairi. A cidade baiana tem 18 mil moradores, dos quais menos de mil têm um emprego, e 4,5 mil famílias dependem da ajuda federal. Pelas estimativas do governo, 10 mil moradores (56% dos habitantes) são dependentes do auxílio. É o oposto do que o prefeito Diogo Segabinazzi deseja para os cidadãos de Bento Gonçalves.

Leia também “O Estado quer colocar criminosos e psicopatas nas ruas”

4 comentários
  1. Joselaine moresco pirath
    Joselaine moresco pirath

    Grande reportagem! Deveria estar estampada em todas as redes!

  2. Joselaine moresco pirath
    Joselaine moresco pirath

    Grande reportagem! Deveria estar estampada em todas as redes!

  3. Brian
    Brian

    Bolsa família nada mais é do que a compra oficial de votos.

  4. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Tudo depende da região do Brasil. A diversidade cultural (e não apenas étnica ou racial) é marcada historicamente por epreendedorismo e pelo mode de vida, do modo de ser da pessoa individualmente combinando com o processo social coletivo. O governo do PT sempre generaliza em suas estatísticas e análises parecendo que não conhece o Brasil profundo. Lula é o maior presidente negacionista da história do Brasil. Ele nega a ciência e a realidade das famílias. Só agora ele chegou a conclusão que muitas famílias siquer tem banheiro em sua casa, parecendo que só presidiu o Brasil por dois anos..

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