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Milhares de cidadãos foram presos e torturados durante a lei marcial de 1980, na Coreia do Sul | Foto: Reprodução/CEPS
Edição 246

Imagem da Semana: lei marcial

Pela primeira vez em mais de quatro décadas, o presidente da Coreia do Sul chocou o mundo ao tentar colocar o país sob controle militar, suspendendo leis e direitos civis

Daniela Giorno
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Yoon Suk-yeol, presidente da Coreia do Sul, decretou a lei marcial na noite de terça-feira, 3, surpreendendo os sul-coreanos e o mundo. Não é a primeira vez que o país passa por essa medida tão drástica. A última imposição foi em 1980, meses depois do golpe de Estado de 12 de dezembro de 1979, quando foi instaurada no país uma ditadura militar e corrupta liderada pelo general Chun Doo-hwan. 

Para legitimar seu golpe, Chun Doo-hwan usou o discurso de “segurança nacional” a fim de evitar que o país fosse dominado pela Coreia do Norte. Em maio de 1980, declarou a lei marcial em todo o país. Universidades e o Parlamento foram fechados; líderes da oposição, presos; linhas telefônicas, cortadas; e a imprensa, amordaçada. O momento mais doloroso foi a violenta força militar usada para reprimir um levante popular liderado por estudantes em Gwangju, cerca de 250 quilômetros ao sul de Seul. Praças e ruas ficaram lotadas com centenas de milhares de pessoas que se manifestavam pacificamente. No entanto, sob tutela do governo, tropas de elite do exército, os boinas negras, responderam com selvageria e massacraram seus cidadãos. Estima-se que quase 2 mil desapareceram nesse período. A revolta ficou conhecida como Massacre de Gwangju.

Mais de 200.000 pessoas se reuniram na praça da cidade de Gwangju, na Coreia do Sul, mas logo foram massacrados pelo exército sul coreano, sob tutela do governo (1980) | Foto: Reprodução/CEPS
As principais demandas dos sul-coreanos eram por direitos sociais e liberdade (1980) | Foto: Reprodução/CEPS
A truculência policial deixou milhares de mortos em Gwangju, na Coreia do Sul, em maio de 1980 | Foto: Reprodução/CEPS
Os corpos se amontoavam pela cidade durante a lei marcial na Coreia do Sul, em 1980 | Foto: Reprodução/CEPS

Em Seul, milhares saíram às ruas para exigir o fim da lei marcial e foram confrontados pela polícia de choque com gás lacrimogêneo. A lei marcial acabou sendo suspensa em 1981, e a transição para uma democracia só começou sete anos depois. A insurreição acelerou a queda da ditadura.

Voltando aos dias de hoje, Yoon disse à nação, num discurso televisivo na noite de terça-feira, que a lei marcial era necessária para proteger a constituição de “forças pró-coreanas do Norte”. Acusou seus oponentes políticos domésticos de “atividades antiestatais tramando rebelião”, embora não tenha citado ameaças específicas.

Yoon Suk-yeol, presidente sul-coreano, declara em rede nacional a lei marcial (3/12/2024) | Foto: Reuters/Kim Soo-hyeon

Poucas horas depois, seguiram-se cenas caóticas no Parlamento. Os militares disseram que as atividades da Assembleia Nacional e dos partidos políticos seriam proibidas e que os meios de comunicação e os editores ficariam sob o controle do comando da lei marcial.

Tropas tentavam tomar o controle do edifício, mas os parlamentares desafiaram o cordão de segurança e dispararam extintores de incêndio para afastá-los. Do lado de fora, manifestantes lutavam com a polícia. Dos 300 membros do Parlamento, 190 conseguiram entrar no prédio, o que é muito mais do que os 150 necessários para a votação ocorrer. Aprovaram por unanimidade uma moção exigindo a suspensão da lei marcial, incluindo todos os 18 membros presentes do partido de Yoon. O presidente, então, rescindiu a declaração.

Os legisladores sul-coreanos pediram nesta quarta-feira, 4, ao presidente Yoon Suk-yeol que renuncie, ou enfrentará impeachment, o que desencadeou uma crise política na quarta maior economia da Ásia. A oposição bem-sucedida ao decreto da lei marcial de Yoon demonstrou a resiliência democrática das instituições e da cultura política da Coreia do Sul.

Manifestantes seguram cartazes para pedir a renúncia do presidente sul-coreano, na Assembleia Nacional em Seul, na Coreia do Sul (4/12/2024) | Foto: Reuters/Kim Hong-Ji

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.

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5 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    País de primeiro mundo. Já aqui, os tiranos agem sorrateiramente.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    A nossa ditadura prefere viver pacificamente, aqui acolá um trucidamento pra saber que eles existem, também uma guerra civil a essa altura, os ditadores pacificos seriam os que mais perderiam

  3. Jaime Moreira Filho
    Jaime Moreira Filho

    Muito interessante este evento atual na Coréia do Sul. Um exemplo de parlamento ou legislativo para nossos deputados e senadores. Ocorre somente um fato que não podemos esquecer. Lá parlamentares não ficam milionários quando situação análoga deixa os nossos “morrendo de rir” e com os bolsos cheios. Não é Lira???Não é Pacheco???Se vocês fossem patriotas e brasileiros de verdade estaríamos de pé e aplaudindo o levantar dos deputados e senadores contra este judiciário, que de judiciário não tem nada e este presidente que, sozinho, não teria a coragem do presidente da Coréia do Sul. Tudo debaixo dos panos. E o povo, infelizmente, preguiçoso e sem conhecimento leva as sobrinhas através destes programas “engana trouxa” que usam para, cada dia mais, o povo sonolento e de barriga cheia não fazer nada contra todos os desmandos. Viva o parlamento coreano e o povo coreano que trabalha e não vive de restos…

  4. Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacerda Nunes Da Silva

    Idem 👇👇👇
    Parabéns mais uma vez para a melhor diretora de arte da imprensa brasileira.

  5. daise a.scopiato
    daise a.scopiato

    Excelente artigo! Esclarecedor! Parabéns aos corajosos sul Coreanos pela luta pela Liberdade!! Palavra constantemente repetida atualmente e absolutamente Desrespeitada!!!

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