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Se continuar assim até março, o Brasil quebra, dizem fontes do Banco Central | Ilustração: Revista Oeste/IA
Edição 248

A esperança acaba em março

E mais: a bomba da Petrobras, o Itaú jogando a toalha e entrevista com o CEO da Revolut

Carlo Cauti
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Em uma reunião reservada com um embaixador em Brasília, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, manifestaram forte preocupação com a estabilidade macroeconômica do país no curto prazo.

Segundo fontes do BC, na reunião os dois economistas teriam salientado que até março ainda há “algumas barreiras” para evitar o pior. Depois disso, a situação começará a se deteriorar muito mais rapidamente.

A preocupação não é apenas sobre a escalada do dólar, mas também sobre a rolagem da dívida pública brasileira, cuja demanda por parte dos investidores é cada vez menor.

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Margem de gordura diminui

Há semanas os leilões de títulos da dívida pública realizados pelo Tesouro Nacional mostram uma redução do interesse por parte do mercado por esses papéis e um aumento expressivo dos juros exigidos para emprestar dinheiro ao governo brasileiro.

No leilão de terça-feira, 17, o Tesouro já tinha falado que iria diminuir a oferta. Mesmo assim, vendeu apenas 44,6% dos títulos colocados na mesa.

Prevendo um resultado ainda mais catastrófico, que poderia jogar mais gasolina em um mercado já nervoso, o Tesouro decidiu cancelar o leilão de quinta-feira, 19.

Para um gestor de fundo de investimento, que preferiu não se identificar, atualmente a dívida pública brasileira tem um vencimento médio de oito meses. Um período que representaria uma “margem de gordura” que ainda daria um fôlego para a dívida pública.

Todavia, caso nos próximos dois ou três meses a situação não se normalize, “o Brasil poderá enfrentar uma crise fiscal que se iniciaria muito provavelmente por sua dívida pública”.

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Fuga geral

Segundo dados do Banco Central, nos primeiros dez dias de dezembro houve a segunda maior saída de dólares do Brasil desde a crise de 2008. Mais de US$ 6,79 bilhões deixaram o país.

“Um fluxo desse tamanho é grande demais para ser apenas de poucos operadores” — explicou a Oeste um professor de finanças de uma importante universidade de São Paulo. “Evidentemente são milhões de brasileiros que estão levando seus recursos para fora, preocupados com a situação econômica. Por isso é uma insensatez falar em ataque especulativo.”

Para o especialista, os recentes leilões de dólares realizados pelo Banco Central serviriam para fornecer liquidez ao mercado, mais do que conter a alta do dólar. “Se o Banco Central não tivesse vendido dólares à vista, o câmbio já estaria em R$ 6,50”, explica o professor.

Os analistas de mercado acreditam que a inflação só ficará dentro da meta de 3% estabelecida pelo Banco Central se os juros subirem neste mês | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Se o Banco Central não tivesse realizado os leilões de dólares, o câmbio poderia ter superado a marca de R$ 6,50, atingindo níveis ainda mais elevados | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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Faria Lima preocupada com possível ‘solução argentina’

Na Faria Lima começa a aparecer o temor de uma possível “solução argentina” para a alta do dólar.

As recentes declarações de importantes expoentes políticos sobre um suposto ataque especulativo ligaram o alerta vermelho no mercado financeiro brasileiro.

O temor é que o governo decida elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para tentar limitar a compra de dólares.

Atualmente o IOF para câmbio de moedas é de 1,1%. Mas o Executivo poderia elevar essa porcentagem para tentar desincentivar operações de conversão de divisas.

A alíquota de IOF pode ser aumentada via decreto, sem passar pelo Congresso Nacional. Isso já ocorreu durante os governos Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.

A repressão cambial foi a tática adotada pela Argentina durante os governos Kirchner para tentar impedir a desvalorização do peso. Deu errado: não impediu a queda da moeda e criou um mercado de câmbio paralelo.

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A bomba da Petrobras

A alta do dólar está provocando consequências em vários setores, como no preço dos combustíveis.

A defasagem entre os preços internacionais e os praticados no Brasil pela Petrobras está aumentando diariamente. Já supera 15% no caso do diesel e 6% no caso da gasolina.

Caso a Petrobras decida repassar a alta do dólar para os preços dos combustíveis, deverá aumentar o diesel em R$ 0,53 na bomba, e a gasolina em R$ 0,17.

No momento, a empresa decidiu absorver o prejuízo. Mas quando o repasse acontecer o impacto sobre a inflação será intenso.

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A alta do dólar pressiona a Petrobras, que pode repassar aumentos nos preços do diesel e da gasolina, impactando intensamente a inflação | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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Dívida pública sem freios

Uma das razões que explicam a alta do dólar é o aumento da dívida pública.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão de monitoramento das contas públicas ligado ao Senado Federal, a dívida bruta do governo geral (DBGG) deve chegar a 78,3% e a 81,4% do produto interno bruto (PIB), respectivamente, no fim deste ano e de 2025.

A piora nas estimativas aconteceu por causa dos juros reais mais elevados e da piora nas projeções para o déficit primário do setor público, que envolve União, Estados, municípios e estatais.

Mas o que preocupa mais o mercado é a trajetória da dívida, que em 2034 deverá atingir 116,3% do PIB no cenário-base. A projeção anterior, divulgada em junho, era de 100,6%.

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O Itaú joga a toalha

Depois que os bancos estrangeiros orientaram seus clientes a reduzir a exposição ao mercado financeiro brasileiro, agora é a vez do maior banco privado do país jogar de vez a toalha.

O Itaú Unibanco reduziu a recomendação de aporte na Bolsa de Valores brasileira para o menor patamar já recomendado.

Em sua carta mensal de investimentos, o banco baixou de 19% para 7% o porcentual recomendado da carteira a ser alocado em ações brasileiras no caso de investidores agressivos. Para os moderados, a recomendação caiu de 14% para 4,7%. Para conservadores, foi de 7% para 2,3%.

A única recomendação de compra do banco neste momento é de ativos de renda fixa com juro real, ou seja, acima da inflação.

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WEG da Turquia

A WEG anunciou um novo investimento de 28 milhões de euros (cerca de R$ 200 milhões) em uma fábrica de redutores na Turquia.

O objetivo da operação é diversificar sua produção além do Brasil e consolidar sua oferta de soluções completas de automação industrial.

Prevista para ser concluída em 2027, a nova unidade está localizada em Manisa, a 35 quilômetros de Izmir, próxima à Volt Electric Motors, adquirida pela companhia em dezembro de 2024.

WEG, indústria global brasileira líder em equipamentos elétricos e automação industrial, anuncia novo investimento de 28 milhões de euros em uma fábrica de redutores na Turquia | Foto: Shutterstock

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Iguatemi vai às compras

O Iguatemi fechou um acordo para adquirir os Shoppings Pátio Higienópolis e Pátio Paulista, ambos localizados na cidade de São Paulo.

O valor da operação é de mais de R$ 2,5 bilhões, que serão pagos para a gestora canadense Brookfield.

O objetivo do Iguatemi é consolidar sua posição na faixa premium dos shoppings na capital paulista.

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‘Queremos ajudar o brasileiro a investir no exterior’

Em entrevista a Oeste, o CEO da Revolut, Glauber Mota, afirmou que os brasileiros estão cada vez mais interessados em diversificar seu patrimônio no exterior. E a fintech quer crescer nessa onda.

Em semanas de forte alta do dólar, a pergunta que todos se fazem é como está sendo possível um movimento tão rápido de compra de moeda americana por parte dos brasileiros. Parte da resposta é a Revolut, uma fintech britânica que chegou ao Brasil há cerca de um ano e meio, e já está disputando milhões de clientes locais com o Nubank.

Glauber Mota, CEO da Revolut | Foto: Divulgação

“Os brasileiros estão cada vez mais interessados em comprar moedas estrangeiras, abrir contas no exterior e diversificar seus patrimônios. E a Revolut está oferecendo o melhor serviço pelo preço mais competitivo. Por isso estamos crescendo muito rapidamente”, explica o CEO da operação brasileira da Revolut, Glauber Mota.

A fintech tem mais de 45 milhões de clientes no mundo inteiro, opera em 39 países e tem planos para se tornar cada vez mais relevante no mercado brasileiro. Hoje já conta com mais de 140 funcionários.

Confira os principais trechos da entrevista:

Em um cenário tão adverso, com câmbio explodindo, juros subindo e mercado de péssimo humor, como está sendo gerenciar a operação brasileira?

O Brasil nunca foi um local fácil para se empreender. Nem em tempos de bonança, muito menos em tempos de desafios. Mas resistir às turbulências para fazer o negócio acontecer faz parte do DNA do brasileiro. E um cenário desafiador como este traz também muitas oportunidades. Temos o privilégio de fazer parte de um grupo internacional sólido, bem capitalizado, e que tem a expertise de crescer em vários países. E com isso se alavanca para crescer no Brasil também. Nosso ano de 2024 vai fechar com um crescimento exponencial em relação a 2023. Não posso antecipar os números que serão divulgados em janeiro, mas posso dizer que estamos satisfeitos com o trabalho realizado.

A pergunta que todos se fazem é: para onde vai o câmbio com o dólar?

Prever câmbio é impossível. Todo mundo erra. Mas existem técnicas para que as pessoas possam surfar para cima ou para baixo em momentos de turbulência cambial, como este. Fazer a compra naquele momento em que a taxa de câmbio chegou ao nível desejado, ou vender quando acha que já está alto o suficiente. A Revolut ajuda as pessoas a fazerem preço médio.

Qual é o produto mais procurado pelo brasileiro na plataforma da Revolut?

Sem dúvida o câmbio com o dólar, que pode ser realizado 24 horas por dia, sete dias na semana. Muita gente resolve comprar dólares depois do horário de trabalho, no meio da happy hour, quando percebe que uma viagem internacional está se aproximando. Ou quando precisa enviar dinheiro para um filho que estuda fora. Ou se acredita que está na hora de diversificar. Parte de nosso sucesso vem justamente de uma plataforma que garante uma operação segura, prática, com custo muito baixo e sem limitações de horário.

O câmbio com dólar é o serviço mais procurado, disponível 24/7, oferecendo segurança, praticidade e custo baixo para diversas necessidades | Foto: Shutterstock

Vocês perceberam um aumento da demanda de dólares nas últimas semanas?

Sem dúvida. Registramos uma aceleração do movimento, um volume maior, que foi um mix de alguns fatores. Em primeiro lugar, medo de que o dólar subisse ainda mais. Seguido por vontade de investir em mercados estrangeiros. E por último uma sazonalidade, já que esta é a época do ano em que muita gente viaja para o exterior, e a demanda por dólares acaba sendo maior, impulsionando o câmbio.

Na sua opinião, é possível falar de ‘ataque especulativo’ contra o real?

Não faz sentido. Estamos falando de milhões de operações ocorridas em vários dias. A grande maioria das quais de pessoas físicas, com tíquetes muito pequenos. Poucos milhares de reais. Mas que, somados, chegam a se tornar um volume gigantesco.

Quais são os próximos passos da Revolut no Brasil?

Queremos ajudar cada vez mais os brasileiros a diversificarem seus investimentos. Vamos levar adiante um projeto para completar nosso portfólio de produtos e assim garantir a mesma oferta para os clientes da Europa e do Brasil. Nosso objetivo é permitir que os brasileiros tenham acesso a soluções de investimentos lá fora, desde os mais simples até as operações de bolsa mais sofisticadas. Tudo isso com um custo competitivo e a garantia de benefícios adicionais para os clientes, como acesso a lounge, a aplicativos de jornais e revistas e até a redes de academias. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas estamos otimistas.

Leia também “Gringos já trabalham com dólar a R$ 7”

1 comentário
  1. Marcellus Fontenelle
    Marcellus Fontenelle

    Os herdeiros do Itaú fizeram o L sempre foram esquerda caviar. E agora não acreditam mais no seu salvador da democracia?
    Hipócritas.
    Ate o asfalto da Faria Lima sabia no que iria dar

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