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Foto: Nomad Soul/Shutterstock
Edição 249

Governo Lula acabou até com o rali de final de ano

E mais: Petrobras sem petróleo, o Ozempic tupiniquim e o desastre fiscal anunciado

Carlo Cauti
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Todo dezembro o mercado financeiro é marcado pela tradicional alta das ações. O famoso “rali de final de ano” é impulsionado pelo aumento de liquidez no mercado provocado pelo pagamento do bônus corporativo e do 13° salário.

Nos últimos 20 anos, o Ibovespa subiu em 13 meses de dezembro. Neste ano, todavia, o rali não aconteceu.

O pessimismo do mercado com o governo Lula, a previsão de uma crise fiscal à vista e os juros muito elevados com perspectiva de subir ainda mais até março acabaram com a alegria dos investidores.

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Ibovespa em queda, gringos em fuga

Até mesmo durante a fase mais aguda da pandemia, em 2020, o Ibovespa tinha registrado um rali de final de ano importante, subindo 9,3% em dezembro.

Neste ano, todavia, a previsão é que o Ibovespa feche o mês no vermelho em quase 4%. No acumulado do ano, a queda foi de quase 9%.

Uma das razões que explicam essa tendência é a saída cada vez maior de investidores estrangeiros da Bolsa brasileira. Somente em novembro, os gringos retiraram R$ 1,6 bilhão. No ano, os saques dos estrangeiros foram de R$ 32,4 bilhões.

O Ibovespa deve fechar dezembro em queda de quase 4% por causa da saída de investidores estrangeiros, acumulando uma queda de quase 9% no ano | Foto: Shutterstock

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A inflação está chegando, alerta a FGV

A mais recente análise divulgada pelo Centro de Excelência de Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lançou um alerta sobre o risco de alta da inflação em 2025.

Segundo o estudo, o consumo das famílias está crescendo de forma sustentada, terminando 2024 com uma alta de 5,2%. Um reflexo da queda do desemprego, do aumento da renda e da expansão fiscal do governo federal.

Todavia, a economia está operando acima de sua capacidade produtiva, gerando pressões inflacionárias que deixarão esse contexto insustentável no longo prazo.

O produto interno bruto (PIB), por sua vez, deverá crescer apenas 0,33% no ano que vem. Causas: retomada da inflação, redução do ritmo de expansão fiscal, alta do desemprego e contração do crédito.

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Isenção do Imposto de Renda é uma bomba fiscal

O projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil é considerado uma bomba fiscal, com um impacto de R$ 51 bilhões a partir de 2026.

Esse é o resultado de um estudo realizado pela Unafisco Nacional, que calculou a diminuição da arrecadação caso a proposta seja transformada em lei.

Segundo a Unafisco, a medida poderia beneficiar cerca de 9,6 milhões de brasileiros, elevando para 26 milhões o número de cidadãos que não pagam o Imposto de Renda.

Em pronunciamento realizado no final de novembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha prometido aprovar a isenção até o final de 2024. Todavia, a proposta não foi enviada ao Congresso, e não há data prevista para que isso ocorra.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobe a estimativa de gastos para R$ 20,7 bilhões | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil até o final de 2024, mas a proposta não foi enviada ao Congresso e não há data prevista para isso | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Petrobras sem petróleo

A Petrobras corre o risco de perder a autossuficiência em petróleo em menos de dez anos, caso não sejam realizadas novas descobertas de grandes volumes.

Essa é a opinião da diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, que alertou sobre o risco de a produção do pré-sal começar a declinar a partir de 2029-2030.

Hoje, as jazidas do pré-sal representam cerca de 80% das reservas totais da Petrobras.

Segundo Sylvia dos Anjos, é necessário explorar as reservas da Margem Equatorial para evitar que esse cenário se concretize.

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iFood decola

A Prosus, holding holandesa controladora do iFood e da OLX, anunciou a compra da agência de viagens on-line Despegar.com (empresa argentina dona da Decolar.com) por US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 10,46 bilhões).

A operação busca expandir a presença da empresa no comércio on-line na América Latina. O acordo deve ser concluído até o final de 2025 e está sujeito a aprovação regulatória.

Nos últimos dois anos, a Despegar viu suas ações valorizarem 290%, enquanto sua maior concorrente no Brasil, a operadora CVC, despencou 64% na Bolsa de Valores de São Paulo.

A Prosus anunciou a compra da Despegar.com por US$ 1,7 bilhão para expandir sua presença no comércio on-line na América Latina, com conclusão prevista até o final de 2025, sujeita a aprovação regulatória | Foto: Shutterstock

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Ozempic tupiniquim

A farmacêutica brasileira EMS poderá produzir uma versão brasileira do Ozempic.

A empresa recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção nacional da liraglutida, princípio ativo presente em medicamentos para emagrecer e controlar o diabetes tipo 2.

O “Ozempic tupiniquim” será produzido em uma nova fábrica localizada na cidade de Hortolândia (SP), onde a empresa já investiu mais de R$ 150 milhões.

A EMS entra na disputa por um mercado cada vez maior, e terá que competir com outros medicamentos, como Saxenda e Mounjaro.

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Carimbada a fusão entre Amil e Dasa

A fusão dos grupos de saúde privados Amil e Dasa foi aprovada pela Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Na operação serão transferidos para uma nova empresa, a Ímpar Serviços Hospitalares, 25 hospitais, seis clínicas oncológicas e seis clínicas médicas pertencentes à Amil e à Dasa.

A nova rede será o segundo maior grupo hospitalar do Brasil, contando com 4,4 mil leitos e um faturamento anual de R$ 10 bilhões. 

O Cade considerou que a fusão entre os dois grupos não representa um problema para a concorrência no setor, pois existe rivalidade suficiente para afastar a probabilidade de exercício de poder de mercado por parte das empresas em todos os mercados relevantes.

A Amil é muito presente na oferta de planos de saúde médico-hospitalares e odontológicos, enquanto a Dasa, com seus laboratórios, atua principalmente no serviço de apoio diagnóstico.

A fusão entre Amil e Dasa foi aprovada pelo Cade, criando a Ímpar Serviços Hospitalares, o segundo maior grupo hospitalar do Brasil, com 4,4 mil leitos e faturamento anual de R$ 10 bilhões | Ilustração: Montagem/Revista Oeste

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Previdência do BB nas alturas

O Banco do Brasil continua crescendo em seu segmento de gestão da previdência complementar.

A BB Previdência, divisão previdenciária do Banco do Brasil, deverá superar R$ 9 bilhões em ativos sob gestão em 2024.

Neste ano, a entidade chegou a gerenciar a previdência dos funcionários de 285 prefeituras e Estados, ante 39 no final de 2021. Um crescimento de 635% no período.

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Poupança financia cada vez mais imóveis

Os recursos da poupança estão financiando cada vez mais o crédito imobiliário no Brasil.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de recursos que passaram das cadernetas para os imóveis cresceu 26,4% em novembro, chegando a R$ 14,91 bilhões. O segundo maior volume da história.

O Itaú Unibanco foi o campeão de financiamentos imobiliários em novembro, com mais de R$ 5,16 bilhões. A Caixa Econômica Federal perdeu sua tradicional liderança, financiando R$ 3,95 bilhões. Enquanto o Bradesco ficou em terceiro lugar, com R$ 3,06 bilhões.

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Sergio Vale: ‘Dilma estava melhor em termos de números’

Os gastos desenfreados do governo Lula estão pressionando a inflação para além do teto da meta. Com isso, o próximo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, nomeado pelo mesmo Lula, terá que manter os juros elevados por mais tempo para conter a alta dos preços.

Isso vai colocar o futuro presidente do BC em rota de colisão com o governo e, principalmente, com boa parte do Partido dos Trabalhadores (PT).

Essa é a opinião de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, que em entrevista a Oeste salienta os pontos mais críticos para a economia brasileira em 2025 e nos anos seguintes.

Segundo ele, o governo Lula está cometendo os mesmos erros em política fiscal da época do governo Dilma Rousseff. E isso provocará consequências negativas para a economia brasileira já durante o próximo ciclo eleitoral.

“O governo se obstina a não aceitar a realidade. Mas o problema fiscal existe, e quem pagará a conta será a população”, explica o economista.

Confira os melhores trechos da entrevista com Sergio Vale.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que os gastos do governo Lula estão pressionando a inflação e que o próximo presidente do Banco Central terá que manter os juros elevados, resultando em consequências negativas para a economia brasileira | Foto: Reprodução/X

Em 2024, o Brasil registrou uma forte alta no consumo e o PIB cresceu mais do que o esperado. Mas o déficit público aumentou, a dívida pública subiu e o real se desvalorizou. Como está a economia brasileira neste momento?

Estamos na metade do mandato do presidente Lula, e os dois primeiros anos foram uma construção de políticas econômicas. Algumas virtuosas, como a reforma tributária, que vai trazer ganhos para a economia brasileira. Mas outras menos positivas, como o arcabouço fiscal, a PEC da transição e o pacote fiscal anunciado em novembro. No final, foram dois anos muito ruins. E agora teremos que pagar o desajuste que se criou. O crescimento do Brasil foi bastante expressivo nos primeiros dois anos, cerca de 3% em média. Infelizmente, os próximos dois anos serão uma volta para trás.

O que esperar da economia brasileira em 2025?

O agro certamente terá o melhor desempenho de todos os setores, com crescimento forte da safra, alta dos preços e câmbio acima de R$ 6, ou até mais, de forma estável ao longo de todo o ano. Vamos crescer entre 1,5% e 2%. Todavia, tirando o agro, o resto vai ser decepcionante. A alta dos juros vai afetar pesadamente os investimentos. O mercado imobiliário terá muito menos lançamentos nos próximos anos. O crédito vai sofrer. O consumo também, por consequência. A economia vai entrar em um processo de desaceleração. Quem sofrerá mais serão as grandes cidades e o litoral do Brasil, que dependem mais de serviço e de turismo. O interior ligado ao agro vai continuar crescendo.

O mercado está precificando uma taxa de juros em 17%. Você acredita nessa possibilidade ou é um exagero?

Não é exagerado. Estamos caminhando para 17% de juros. A inflação em 2025 chegará a pelo menos 4,5%, que é o teto da meta. Mas corre o risco de aumentar ainda mais se o câmbio chegar a R$ 6,50. O Banco Central não vai ter alternativa: manterá a taxa alta para respeitar a meta de inflação. Além disso, o BC terá que continuar pressionando os juros para evitar uma maior alta do dólar. Já queimamos quantidades enormes de reservas e o câmbio não baixou. Os juros terão que continuar elevados. No segundo semestre de 2025, sentiremos os efeitos negativos dessa taxa. Teremos uma recessão no final do ano que vem e no começo de 2026, que inevitavelmente influenciará o quadro eleitoral. O governo Lula está construindo para si mesmo um cenário muito negativo para 2026.

O próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, assumirá no dia 1º de janeiro. Ele foi nomeado por Lula e era o número 2 de Haddad na Fazenda. O que esperar de seu mandato?

Certamente a pressão sobre Galípolo por parte do governo vai ser muito grande. O que teremos que acompanhar é a resposta que ele dará. Além disso, precisamos ver qual será a composição da diretoria do BC nos próximos anos. A condução da política monetária nos próximos meses será determinante. Galípolo tem uma formação econômica mais heterodoxa. Ele vai ter que provar o tempo inteiro que não é um novo Alexandre Tombini. Com a pressão inflacionária que virá, ele terá que manter o IPCA dentro da meta de 3%. O que significa manter os juros elevados. A briga com o governo está montada. Para a população, o cenário será muito negativo. E o culpado será Lula. Não terá como jogar a responsabilidade no governo anterior.

gabriel galípolo
Gabriel Galípolo, próximo presidente do Banco Central | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Os economistas, a mídia, as organizações internacionais, todos estão apontando para um descontrole cada vez maior das contas públicas. Na sua opinião, por que o governo se recusa a levar adiante um ajuste fiscal sério?

O governo está insistindo na narrativa de que o mercado não entendeu sua política fiscal. Que seria, no máximo, um problema de comunicação. Não é verdade. A realidade é que o governo precisa fazer um ajuste de gastos mais severo, mas se nega a tomar essa medida. A turma do “gasto é vida” está no comando. Portanto, teremos quatro anos de governo Lula com déficit, e a dívida pública vai subir pelo menos 12 pontos percentuais no período. Isso não faz sentido nenhum em uma situação normal da economia. Sem guerra, pandemia ou outra calamidade que justifique um gasto desse tamanho. O governo ignora isso, e está concentrado somente em entregar um resultado primário dentro do arcabouço fiscal. Que também não faz sentido. Não adianta nada Lula tirar fotos e fazer vídeos prometendo autonomia ao Banco Central. Nada disso funciona. O entendimento correto deveria ser admitir que temos um problema fiscal muito concreto. E resolver isso. Mas o governo se recusa. Estamos como a Dilma no final de 2012 e 2013. Na época o estrago fiscal estava sendo construído, e só apareceu dois ou três anos depois. Estamos na mesma situação. Só que Dilma, de certa forma, estava bem melhor em termos de números. A dívida pública era menor. O resultado primário era melhor. Hoje a situação é muito mais complicada. Será difícil sair dessa.

Leia também “A esperança acaba em março”

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