Incontáveis sacos de lixo amontoados no chão de terra batida, moradias precárias rodeadas de material enferrujado e cheiro de coisa estragada. É em meio a esse cenário, em Juara (MT), a pouco mais de 650 quilômetros de Cuiabá, que Jean de Brito da Silva, de 28 anos, tenta restabelecer a vida suspensa em 8 de janeiro de 2023, quando foi preso pela polícia no gramado do Palácio do Planalto enquanto tentava ajudar idosas a se protegerem de bombas de gás. Ele ficou seis meses enjaulado, sem contato com a família, ao lado de outros 12 homens em uma cela apertada na Papuda, em Brasília. Durante esse período, tomou banhos gelados, comeu mal e fez as necessidades fisiológicas na frente de todos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o denunciou por tentativa de golpe de Estado e dano ao patrimônio, entre outros crimes. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), só deu a “meia liberdade” a Silva em virtude de um laudo robusto publicado pela Revista Oeste, no qual o psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro diagnosticou o jovem com autismo e deficiência intelectual.
Mesmo diante dessa evidência, desde julho do ano passado Silva é atormentado por uma tornozeleira eletrônica que não lhe permite sequer sair do município. Hoje, sua vida se restringe à casa e ao trabalho de catador de material reciclável. Por causa da meia liberdade, ficou impossibilitado de visitar amigos que moram em outras regiões e o avô doente, que está acamado em uma cidade vizinha. Além disso, o equipamento o proíbe de sair à noite e aos fins de semana. Dessa forma, Silva deixa de ganhar um dinheiro extra proveniente de alguns bicos em festas de aniversário, que ocorrem geralmente aos sábados e domingos e nas quais atua como cuidador de crianças ou salva-vidas — ofício que aprendeu em um curso pago com esforço por seus pais.
A tornozeleira faz ainda com que Silva seja alvo de olhares curiosos e chacota de algumas pessoas de Juara, sobretudo aquelas que votaram em Lula na eleição presidencial de 2022. “Não bastasse a humilhação que representa essa corrente na canela do meu filho, temos de passar por constrangimentos desse tipo”, desabafou a mãe de Silva, Edna Brito, de 43 anos. “Meu marido orientou a não falar nada a essa gente, até para não criar mais confusão. O melhor a fazer é deixar o tempo resolver. Sei que Deus está no controle de tudo.” Mesmo no calor, Silva opta por usar calça jeans, a fim de esconder a tornozeleira eletrônica.
Rumo à capital e de volta para casa
Embora os insultos tenham conotação partidária, Silva não entende muito de política e prefere obedecer ao conselho do pai, José, de não rebater aos ataques, para evitar atritos. “Defendo a família e a religião e sou contra o aborto”, disse o jovem, ao contar por que viajou para Brasília um dia antes dos protestos de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes em um ônibus que partiu de Juara rumo à capital federal. Sem o conhecimento da família, embarcou a convite de manifestantes, que disseram a ele se tratar de uma viagem em prol de um ato em defesa desses valores.
Ao chegar ao destino, Silva ficou pouco tempo no Quartel-General do Exército e, quando se deu conta, já havia sido engolido pela onda de verde e amarelo que inundou a Esplanada dos Ministérios. Capturado pelas forças de segurança do Distrito Federal na sequência, mal poderia imaginar que ficaria metade de um ano encarcerado por delitos que nunca cometeu e que não compreende o que representam. No período em que permaneceu detido, o autista se comunicou a maior parte do tempo com seus advogados, Silvia Giraldelli e Robson Dupim, que atuam no processo sem cobrar nada. No dia em que Silva deixou a penitenciária, a defesa conseguiu dinheiro, por meio de uma vaquinha organizada com a ajuda de outros advogados do 8 de janeiro, e comprou uma passagem aérea para o retorno à terra natal, onde o pai e o irmão aguardavam no Aeroporto de Sinop, que fica a cerca de 300 quilômetros de Juara.
Desde o início, Giraldelli e Dupim tentam provar a inocência do autista. Após inúmeros apelos, em fevereiro deste ano a PGR se manifestou a favor da absolvição. No parecer, a procuradoria observou que a defesa de Silva comprovou que ele tem autismo e retardo mental. “Um laudo pericial concluiu que o acusado era, ao tempo dos fatos, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito de seus atos e de determinar-se de acordo com tal compreensão”, constatou a PGR, no documento. “A manifestação é pela absolvição imprópria, haja vista o reconhecimento da inimputabilidade de Jean de Brito da Silva, aplicando-se a medida de segurança prevista no art. 96, II, considerando o disposto no art. 42, ambos do Código Penal.” Moraes, contudo, permanece inerte nesse processo.
Miséria
Somado aos problemas psicológicos, Silva sofre com dificuldades financeiras. Ele e a família composta de outras seis pessoas, que incluem os pais, irmãos, cunhada e tio, recolhem reciclados em Juara para vender. Tudo é feito no próprio terreno onde moram, do despejo ao produto final, em uma máquina de prensar. A jornada de trabalho, que ultrapassa as oito horas de um regime CLT, não é nada recompensadora. Como nem sempre há material que pode ser reaproveitado, Silva e seus parentes passam meses ganhando bem pouco. Quando há períodos generosos, arrecadam entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. Administrada pelo pai, a quantia é repartida entre todos.
A falta de recursos se reflete nas condições das residências. A casa onde Silva mora com a mãe e o pai, por exemplo, é feita de madeira velha, que sustenta telhas quebradas por onde penetra a água da chuva, estragando os móveis. Há dias em que a terra do chão sem piso fica encharcada. No quarto de Silva, a mobília também é bastante rudimentar. No banheiro, que fica do lado de fora da casa, existe um vaso sanitário e um chuveiro, mas não há saneamento básico. A família usa água de poço e despeja os dejetos numa fossa. Para ter ideia da situação de miserabilidade, a energia elétrica chegou à família pouco mais de um ano atrás. Eles pagaram R$ 2,5 mil por um transformador capaz de levar luz às casas, sem qualquer ajuda do poder público. Antes disso, usavam lâmpadas a óleo para iluminar o local.
Falta dinheiro até para comprar comida. Por isso, a família conta com a ajuda de uma igreja evangélica que, quando possível, doa algumas cestas básicas. Os Silva também criam algumas galinhas para terem ovos e, às vezes, a própria carne dos animais. Elas ciscam livremente e deixam rastros de fezes no local onde também brincam os sobrinhos pequenos do autista. Em meio a isso, a mãe lamenta não ter condições de comprar todos os medicamentos necessários para os problemas cardíacos que tem, visto que nem todos podem ser adquiridos por meio do Programa Farmácia Popular. “Quando sinto dores, interrompo o serviço e descanso um pouco”, conta Edna. “Porém, isso atrapalha na nossa dinâmica porque, na falta de braços, o trabalho fica dobrado. Esse trabalho é braçal.”
A reivindicação principal do autista e de sua família é remover, quanto antes, a tornozeleira que os perturba diariamente. “Só quero tocar a minha vida ao lado dos meus parentes, e em paz”, disse Silva. Esse também é o sonho de outras centenas de condenados e de gente que ainda aguarda julgamento por causa do 8 de janeiro. O STF já condenou 310 manifestantes a penas que chegam a 17 anos. Aproximadamente 500 firmaram o acordo de não persecução penal (ANPP) da PGR, no desespero para deixar o inferno que os atormenta todos os dias. Esse acordo prevê a confissão de crimes, o pagamento de multa que pode chegar a R$ 5 mil e a realização de um “curso da democracia”.
Além de Silva, o grupo de “golpistas do STF” inclui a aposentada Vildete Ferreira, de 73 anos, sentenciada a 12 anos em regime fechado, a diretora de escola Iraci Nagoshi, 71 anos, condenada a 14, e a dona de casa Adalgiza Dourado, 64, que cumprirá 16 anos e meio de prisão. É para esse tipo de gente que os ministros do STF, jornalistas estatizados, artistas e intelectuais gritam as palavras “sem anistia”. Enquanto condenar esses “criminosos” por ameaça à democracia, o Brasil jamais será um país verdadeiramente democrático.
Leia também “Um indígena nos cárceres do STF”
Como tudo que está acontecendo no Brasil, a culpa é do senado e do presidente incompetente do mesmo, RODRIGO PACHECO. Sr Pacheco, existe uma justiça que nunca falha. Sua sentença já está pronta, em breve ela virá. Aguarde.
Muito triste.
Enquanto isso, os corruptos estão sendo soltos e multas estão sendo perdoadas.
Mas, o tempo, irá restabelecer tudo no seu devido lugar.
Se existir inferno, alguém do supremacismo elitismo brasiliense já está com a passagem agendada
Anistiados não anistiam.Esqueceram seu passado de sequestradores e assaltantes de bancos. Sem contar o ” paredón,” para quem era julgado dedo duro. Eles são uns ingratos para dizer o mínimo. A moça do batom plagiou o ministro Barroso e está condenada a 17 anos de prisão. Cabral réu confesso condenado a 400anos está livre leve e solto.
Isto não é nunca foi verdadeira democracia e imagens que mostra a verdade para o Brasil fazer justiça só com a anistia da liberdade
Nossa meia democracia precisa ser ajustada para livrar os tormentos vividos por idosos e inocentes.
Houve quebradeira? Sim. Então que sejam punidos no foro adequado os verdadeiros causadores dos distúrbios que assolam o país a 2 anos.
Este questionamento já foi realizado diversas vezes, mas não custa ressuscitá-los.
Onde está G Dias?
Onde estão as imagens que Flavio Dino esconde até hoje?
O que Flavio Dino fazia em seu gabinete em um domingo durante os atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, tendo assistido à manifestação em tempo real no conforto do seu camarote?
A Justica vira.
A história mergulhará na vergonha essa narrativa de golpe e seus idealizadores. Espera-se que tamanha injustiça seja reparada algum dia e que os carrascos de hoje, travestidos de juízes, paguem pelos seus crimes.
A lei divina é implacável, sendo que o tempo de Deus é diferente do tempos dos homens. Alexandre de Moraes precisa pagar pelos seus crimes.
Tudo por causa de um condutopata ditador cabeça de ovo.
Tudo por causa de um condutopata ditador cabeça de ovo.
Tudo por causa de um condutopata ditador.
Tudo por causa de um condutopata ditador.
Tudo por causa de um condutopata ditador.
Um dia chegará a hora do condutopata, tenho esperança.
Um dia chegará a hora do condutopata, tenho esperança.
Me pergunto se esta reportagem não chegará, através das centenas de acessores que pagamos para cada Juiz do esseteefe, aos ouvidos surdos e aos olhos cegos de quem diz que defende a democracia e do outro que sustenta uma quadrilha e uma “cuidadora”, todos caríssimos ao povo brasileiro!!
Chega a doer o corpo, a gente sente mal ao ler esta matéria. Muito triste! Sadismo de um ministro do STF.
Excelente matéria, espero que o ditador e todos os torturadores envolvidos nessa injustiça paguem ainda em vida. Pena que o BR não é um país sério.
Se a Lei do Retorno funcionar, esses monstros de crueldade hitleriana se preparem! E depois ainda virá o acesso garantido ao inferno eterno.
Se a Lei do Retorno funcionar, esses monstros de crueldade hitleriana se preparem! E depois ainda virá o acesso garantido ao inferno eterno.
Que 2025 te banhe de luz, luz intelectual e espiritual para que sigas firme e forte honrando tua profissão. Beijo, abraço forte e toda minha admiração e afeto.
Obrigado, querida Luzia. Desejo tudo em dobro
Jornalista Cristian Costa ótima matéria. O Brasil precisa virar a página de 08.01. #AcordaBrasil 🇧🇷
Parabéns pela reportagem, Cristyan! Situação revoltante! Quantas pessoas nesta terrível situação!
O Estado, além de não fornecer “tratamentos modificadores de doença” para uma patologia extremamente incapacitante – como acompanhamento Psicológico, Psicopedagógico e com Terapia Ocupacional – não fornece Benefício de Prestação Continuada(o qual sofreu cortes no orçamento recentemente) a um cidadão, o qual, possui uma dependência funcional(seja ela de que grau for). Se parássemos por aí, já seria ruim demais. Aí vem o 8 de Janeiro, e um ex-secretário do Alckmin, prende o inocente e priva-o das únicas coisas que ele tinha na vida: FAMÍLIA E LIBERDADE. UM VERDADEIRO FILME DE TERROR!
Revista Oeste sempre com a verdade!🙏🏻
O STF tristemente de equilíbrio da república se presta a algoz de inocentes com condenações imorais, ilegais e criminosas como é praxe nas mais cruéis e assassinas ditaduras … vergonhoso vermos onze insanos se prestarem a paus mandados ou bate estacas de ditadores capazes de qualquer coisa … e o pior ainda está por vir.
E impossível ser insensível diante desta reportagem. Mesmo os ministros do STF , não acredito que concordem com essas justiças mal embasadas
E impossível ser insensível diante desta reportagem. Mesmo os ministros do STF , não acredito que concordem com essas justiças mal embasadas
Parabéns Cristyan, por mais uma bela reportagem. Brasileiros que não podem ser esquecidos, com tamanha injustiça que vem sofrendo.
Ao terminar a leitura fui além de contabilizar mais um ato de crueldade de Moraes. Estou começando a sentir revolta. Revolta profunda. Pergunto onde estão os “direitos humanos”? Tão sensíveis a denunciar policiais? Tão propensos a afagar bandidos? Tão pontuais a protestar a favor do criminoso? Ainda bem que começa a emergir lentamente a consciência no seio do povo que a cada pesquisa desacredita mais nos atuais componentes do atual Tribunal Superior. Componentes que pervertem sua função. Mais ainda. Não enxergam mais nele a justiça. Mas a truculência do autoritarismo entranhado de um lado política e por uma bolha que grita “sem anistia”. Concordo, não é anistia que se precisa pedir. É preciso lutar contra a anulação de todos os processos pois sua base é ilegal. E preciso lutar pela restauração plena das funções constitucionais do STF.
Pelo exposto acima, sem sobra de dúvidas, é tortura! Penso que quanto o Brasil voltar a normalidade legal este rapaz e a maioria dos presos do 8/jan terão direito a indenização por parte do governo.
Parabéns, Cristyan Costa! Revoltante a situação dessas pessoas. Essa reportagem merecia ser capa em todos os jornais do país, pena que a velha impressa não se preocupa mais em apresentar os fatos.
Bota logo esse STF criminoso na cadeia
Onde esta o jornalista Glenn Greenwald? Quem sabe ele pode ajudar a mudar esse panorama? Nesse congresso eu tenho minhas dúvidas!
Desumanidade
Realmente nao tem como nao ficar com os olhos cheios de lagrimas. Brasil dominado por uma mafia infiltrada no STF, estamos todos cegos e acovardados, e aceitamos que impostores, corruptos, ladroes e toda uma manada de demonios dominem o nosso Brasil.
Gente humilde e extremamente pobre, que vive trabalhano hoje para conseguir alimento para o dia seguinte. Isso nao ira terminar bem, e depois nao adiantara sair arrotando que o Povo brasilieiro é violento.
Quando sera que a corda ira arrebentar????? Esses individuos tem a certeza que tem o Brasil dominado e que tudo seguira assim.
Parabéns Cristyan Costa, capa merecida da Revista Oeste. Acompanhei como assinante dessa revista,o trabalho incansável, minucioso e real das histórias de vida dos presos e condenados pelo oito de janeiro,relatados por você. Pessoas simples,mas que acima de tudo mantém seus princípios e valores,lutando por um país melhor e democrático. Foi através de seus incansaveis relatos e artigos que os conheci na intimidade de quem são. Apenas agradecer pelo trabalho .
Obrigado, cara Teresa. É um prazer ser lido por você
Eu que agradeço.
Tudo por conta do abominável CA-CA-CA-CA: CARECA, CALHORDA, CANALHA, CAFAJESTE. Sobre sua mãe não conhecemos nada que a desabone, mas o comportamento do filho é o de ter sido criado em bordel.
Revoltante! Não tem como não odiar o STF/Lula por essas atrocidades. Nós estaremos vivos pra ver estes ditadores no banco dos réus.
Um verdadeiro ABSURDO. Os terroristas que foram anistiados pelo regime militar foram os primeiros a gritar “sem anistia”.Canalhas.
8 de janeiro será sempre lembrado como o DIA DA VERGONHA NACIONAL.
Pior que tem cidadão que apoia as ações do tirano Moraes e da PGR conivente.
O governo foi avisado com antecedência do risco de invasão e nada fez para impedir .Tudo foi planejado para ter ganho político como faz até hoje.
O povo tem desprezo por um STF medíocre e um governo incompetente.