Pelo que apurou o Datafolha, 61% dos entrevistados na véspera da virada do ano disseram que o governo está levando o Brasil para um rumo errado. Menos da metade dos pesquisados — 47% — acham que não vale a pena estar otimista com o novo ano. Quem procurar na mídia previsões para 2025 verá previsões astrológicas e místicas de um ano maravilhoso, certamente de videntes que estão salivando por uma picanha. Muitos resistem ao realismo trágico que se ampliou no ano que passou; talvez tomados de negacionismo, porque com o voto contribuíram para piorar a vida de todos. É preferível teimar e não aceitar o que está evidente; ficar mais cômodo e não sentir pressão para repensar convicções ideológicas, principalmente se a pessoa se vê responsável — pelo voto, pela omissão, pelo silêncio. Não há sinais de mudança. Não se pode falar em mudança de rumo quando não há rumo. Há improvisos, populismos, impulsos emocionais, reações de oportunidade.
Dizem que só se mudarão os rumos quando a economia der sinais de falência. Mas posterga-se, a cada overnight, sem querer saber se já foi ultrapassado o ponto de não retorno — no câmbio, na dívida pública, no controle da inflação, nos juros —, tudo gerado por excesso de gastos do governo, aqui entendido como os três Poderes. Desenfreadamente, sem responsabilidade, sem dó do pagador de impostos. Bem diferente dos tempos de Paulo Guedes. E não há esperança de adotar um modelo de resultados que beneficiem aquele para quem o Estado existe — o povo. Quando era ministro da Educação, Haddad me deu alguns livros, para que eu fosse convencido de que o futuro da humanidade é o marxismo. O marxismo não foi solução econômica para a União Soviética nem para a China. Só o liberalismo cria riqueza. O socialismo acaba quando acaba o dinheiro que o capitalismo produziu.
O Congresso Nacional de representantes do povo e dos Estados não está, em boa parte, à altura das expectativas de seus mandantes. Muitos mandatários ainda se prendem ao vício de decidir, sem ouvir o Brasil real, o que é bom para o povo. O vício inclui dar sempre prioridade ao que for bom para o próprio representante, seus interesses e seu grupo. As demandas reais não entram nos plenários, que se perdem em discussões distantes dos interesses nacionais. Parecem isolados da realidade e omissos às necessidades de reduzir gastos públicos e impostos e de promover serviços públicos realmente eficazes. E de cumprir o juramento de defender a Constituição. E aí vem o topo do Judiciário.
No terceiro Poder, que não tem o voto da representação popular, sobressai por sua militância política a Suprema Corte. Há juízes que mais parecem políticos todo-poderosos, embora sem o voto que dá poder de legislar e mandato. De guardiões da Constituição, se transformaram em constituintes ad hoc, chegando ao cúmulo de julgar, eles mesmos, réus que os teriam ameaçado e injuriado. A inviolabilidade parlamentar por quaisquer palavras, a vedação a toda e qualquer censura, a liberdade de expressão sem anonimato, o juiz natural e o amplo direito de defesa viraram letra morta na Constituição.
Tudo isso, nos três Poderes, não contém sinais promissores de uma sensata mudança radical no ano que se inicia. Ao contrário, a falta de humildade para reconhecer erros só amplia ainda mais as inevitáveis previsões agourentas. O pior é que pagam todos, menos os que são pagos por todos em suas mordomias.
Para o Executivo, a culpa é dos outros; culpar o mercado pelo dólar é como responsabilizar o termômetro pela febre. Para o Legislativo, deputados e senadores não têm nada a ver com isso. Para o topo do Judiciário, as exceções à Constituição são para proteger o país de uma exceção. E entramos em mais um ano de propaganda enganosa, de uma elite estatal e estatizante que trata a nação dos brasileiros com a fantasia de que somos uma clientela passiva e pagante. Vão erguendo uma muralha entre o estado e a nação. A censura é o temor a vozes da liberdade — que foram capazes de derrubar muralhas da Bastilha e de Jericó.
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Receber livros de Fernando Haddad, pense num presente indigesto.
Todos da revista tem uma boa retórica, mas o que me deixa incucado é que não se usa com a mesma retórica a roubalheira desses bandidos dos três poderes
Excelente artigo Alexandre Garcia, aliás como sempre…refletindo sobre o texto e cá pensando com meus botões creio que nunca na história política brasileira se viu um ministério tão incompetente, ruim e omisso como esse formado por Lula, aliás falando em incompetência chegamos a figura principal. E mais não satisfeito com os 21 ministérios anteriores (se não me falha a memória) jogou para 39 afora as estatais em que uma acaba de ser instituída que será responsável por gestão aeroespacial, como se tivéssemos expertise nessa área. E certamente os cargos serão preenchidos pelos companheiros. A realidade é que estamos assistindo o país indo para bancarrota e nada acontece ou melhor fazemos olhos de mercador.
Alexandre Garcia, muito obrigada pela coragem, clareza, sensibilidade e conhecimento histórico.
Uma realidade que indigna o cidadão consciente, sério, honesto, cumpridor das leis e das normas sociais. Há muito que as instituições nacionais estão sob o domínio do mal, literalmente, à mercê de uma grande horda de malfeitores que se apropriou do Estado brasileiro. Fato.