A esquerda brasileira começou a semana em êxtase: a atriz Fernanda Torres ganhou a estatueta do Globo de Ouro pela atuação num filme sobre o regime militar. As redações da velha imprensa festejaram em clima de Copa do Mundo. O presidente Lula da Silva não perdeu tempo e usou o prêmio para promover a sua celebração particular, organizada em Brasília, para lembrar o dia 8 de janeiro. Mas foi uma notícia inesperada que chacoalhou o mundo: o empresário Mark Zuckerberg, dono das maiores redes sociais da atualidade, decidiu se alinhar a Elon Musk, do X/Twitter, numa cruzada em defesa da liberdade.
A fala surpreendente do proprietário da Meta — leia-se: Facebook, Instagram e WhatsApp — tem vários pontos importantes. Em resumo, ele disse que: 1) governos e mídia pressionam para censurar mais e mais, e muito disso é claramente político; 2) as eleições recentes nos Estados Unidos são um ponto de virada cultural para que voltemos a priorizar a livre expressão; e 3) as agências de checagem têm sido politicamente tendenciosas.
Zuckerberg ainda deixou um recado que parece endereçado ao Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro: “Países da América Latina têm tribunais secretos, que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”. É justamente a mesma reclamação feita por Elon Musk no ano passado, contra as ordens sigilosas do ministro Alexandre de Moraes.
“Se a Meta cumprir suas promessas, o mundo, sem dúvida, se beneficiará. Levar os funcionários de tecnologia da soviética Califórnia para o livre Texas já parece uma melhoria e tanto”, diz Ana Paula Henkel em artigo de capa desta edição. “A reação da esquerda brasileira comprova como foi uma mudança impactante. Zuckerberg já é bolsonarista golpista”, escreve Rodrigo Constantino.
Enquanto isso, em Brasília, faltaram braços no minguado “abraço à democracia” de Lula, Janja e seus amigos no STF. As imagens da Praça dos Três Poderes esvaziada, além da ausência dos presidentes Rodrigo Pacheco, do Senado, Arthur Lira, da Câmara, e Luís Roberto Barroso, da própria Corte, falam por si só. Dos 27 governadores, só foram quatro, todos eles de partidos de esquerda, do Nordeste.
No discurso para uma plateia doméstica, Lula fez questão de chamar o ministro Alexandre de Moraes de “Xandão” — e o juiz parecia à vontade num ato com verniz claramente político. Não houve menção às centenas de famílias devastadas pelas prisões e condenações arbitrárias do STF. Para essas pessoas, aliás, a data de janeiro é como um relógio com os ponteiros parados.
“Quem está na lista negra da nossa Justiça civilizatória tem direito também a criações exclusivas, como o flagrante perpétuo, a prisão preventiva por tempo indeterminado e a proibição de falar o que você ainda não falou na internet. Desfruta os benefícios da morte nos cárceres do STF por falta de cuidados médicos”, afirma J.R. Guzzo, sobre os contrastes na aplicação da lei, conforme as inclinações políticas.
A edição desta semana retrata mais uma vez o drama de brasileiros enjaulados, que não tiveram o direito à reanálise dos processos em outras instâncias, como os criminosos de verdade normalmente têm. O texto é assinado por Cristyan Costa. Os relatos deixam um nó na garganta: “Colocamos as crianças para fazer terapia”. Ou: “Nosso segundo filho nasceu e meu marido não pôde estar com a gente nesse momento”.
A quem interessa celebrar o 8 de janeiro?
Boa leitura!
Sempre gostei da Dona Redação. Resume bem o conteúdo da revista. Deveria ser aberto ao público em geral pelo menos esta seção.
P.S: tem assinante que vocês nem tem noção do que sabem e viram.