Em 2014, a Seleção Brasileira de Futebol sofreu a maior humilhação de sua história. Mais de 60 mil pessoas in loco no Mineirão (e outras milhões pela televisão) testemunharam a Alemanha enfiar um saco de gols no único pentacampeão mundial. Era o pesadelo do 7 a 1, em que os gols saíam sem parar, como se fossem reprises da jogada anterior. Naquele 8 de julho, uma semifinal, o “mapa de calor” dos assuntos mais comentados nas redes sociais em todo o mundo escancarava o vexame verde e amarelo. O Brasil se transformara em piada global. Mas o pior estava por vir — não mais dentro das quatro linhas, mas no campo da malversação de dinheiro público.
Mesmo com a economia em frangalhos, herança de três gestões petistas, o Brasil se aventurou a converter o país em um canteiro de obras e de fartas oportunidades para o enriquecimento de empreiteiras e de políticos. O instinto de gastança sempre prevalecia sobre a razão da austeridade. Com isso, a União torrou R$ 25 bilhões para realizar a Copa do Mundo — sendo que R$ 7,5 bilhões (quase 30% do total) na construção ou reforma de 12 arenas. Ajustado à inflação, esse valor corresponderia agora a pouco mais de R$ 14 bilhões. Até o ídolo Ronaldo Fenômeno derrapou e entrou para a história com a célebre frase “não se faz Copa do Mundo com hospitais”.
Hoje, em razão de um misto de megalomania, oportunismo e requintes de irresponsabilidade, estima-se que governos estaduais, concessionárias e clubes ainda estejam devendo algo em torno de R$ 2 bilhões. Os estádios nunca se pagaram.

A promessa que virou um ‘mico’ no RJ
A Arena Pantanal, em Mato Grosso, virou símbolo dessa insanidade. Custou meio bilhão de reais e atualmente não recebe, na melhor das hipóteses, 50 mil pessoas por mês. A arrecadação mal paga as despesas com energia elétrica. A Arena da Amazônia, que engoliu R$ 660 milhões de dinheiro público, é conhecida como “o maior elefante branco da Copa de 2014”. O espaço serve para acolher jogos de um time da Série B do Campeonato Brasileiro, entre um show e outro da cultura regional.
Enquanto torrava dinheiro com a Copa, o Brasil já articulava novos desvarios com a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. A competição, que durou 17 dias, custou mais de R$ 40 bilhões — ante os menos de R$ 30 bilhões orçados anteriormente. O que se viu foi um novo festival de licitações atropeladas, projetos mal executados e um legado, a exemplo da Copa, igualmente pífio.
A Vila Olímpica construída, por exemplo, custou R$ 1,6 bilhão e segue inabitada. Sua única utilidade depois do evento foi ser usada pela Rede Globo, em agosto de 2024, para gravar cenas de uma série. Dos sete complexos residenciais construídos, quatro permanecem fechados, sem autorização da prefeitura para habitação. Localizada em uma área próxima a Jacarepaguá, a Vila Olímpica foi recentemente incorporada a um novo bairro. Chama-se Barra Olímpica e foi criado pela Câmara do Rio e pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) — antigo parceiro do ex-governandor Sérgio Cabral, condenado a mais de 400 anos de cadeia por corrupção e depois solto pelo Supremo Tribunal Federal. Erguido pela empreiteira Carvalho Hosken, em parceria com a antiga Odebrecht (atual Novonor), o complexo tem 820 mil metros quadrados. Ali foram construídos 31 edifícios com 18 andares cada, em um condomínio chamado Ilha Pura.
Um fantasma chamado Odebrecht
O projeto saiu do papel com a promessa de ser um sucesso de vendas. Mas a Vila Olímpica tornou-se um elefante branco carioca, com 3,6 mil apartamentos encalhados. Quase dez anos depois da Rio 2016, apenas 40% foram vendidos, o que dá uma ideia do tamanho da desvalorização. Os imóveis da Vila Olímpica são negociados por não mais que R$ 8 mil o metro quadrado. Imóveis similares na região saem por aproximadamente R$ 11 mil o metro quadrado.
O projeto é mal-acabado, os elevadores não funcionam e constantemente há falta de energia elétrica. A então construtora Odebrecht, atolada no escândalo da Lava Jato, deixou para trás as reclamações dos consumidores e, junto com elas, dívidas de IPTU — entre outras inadimplências. Com descontos de 20% a 30%, o BTG, maior banco de investimentos do Brasil, não hesitou em comprar 2,5 mil unidades.
Quase 20 anos depois do “Mineiraço” — uma distante alusão ao “Maracanaço”, em que o Brasil perdeu a Copa de 1950 para o Uruguai —, o descaso com o que deveria ser prioridade reaparece. O governo federal, em parceria com o governo do Pará, anunciou um investimento inicial de mais de R$ 220 milhões para a construção da “Vila de Líderes” (mais conhecida como Vila COP30) em Belém, que será a cidade-sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, marcada para começar em 10 de novembro deste ano. A ideia, contudo, já nasce afundada no esgoto.

Um artificial país do futuro
Segundo um estudo divulgado em março de 2024 pelo Instituto Trata Brasil, entre as cem cidades mais populosas do país, Belém está entre as dez piores em falta de saneamento básico. Entre as 27 capitais, ocupa uma vergonhosa 23ª colocação — só não perde para Macapá, no Amapá, Rio Branco, no Acre, e Porto Velho, em Rondônia.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2022, pouco mais de 70% da população de Belém tinha acesso à água potável, enquanto só cerca de 15% contavam com coleta de esgoto. Quanto ao tratamento de esgoto, ele não chegava a 3,5% do volume coletado.
Os indicadores negativos proliferam. O Censo 2022: Favelas e Comunidades Urbanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que, de cada dez habitantes de Belém, seis moram em favela (60%). Para efeito comparativo, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, o índice de favelados é inferior a 10%.
Belém está na 24ª colocação entre as 27 capitais no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O dado é do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2022. Seus números refletem problemas crônicos e déficits profundos em questões como mobilidade urbana, violência, meio ambiente, desigualdade social, infraestrutura e habitação.
Esse combo de flagelo, no entanto, parece não ser tão importante quanto a criação de um cenário artificial de país do futuro. O que se vê, de fato, é um lugar que, a partir da dura realidade da maioria do seu 1,3 milhão de habitantes, não merece a fama de “Pérola do Norte” — exceto pelas belezas naturais.

O resort dos patrocinadores do ‘Janjapalooza’
Na Vila COP30, os convidados terão ao seu dispor 500 quartos de “padrão cinco estrelas”. Os visitantes terão restaurantes, bares e espaços para relaxamento e convivência, piscinas, academias e spas. O resort é financiado com dinheiro público arrancado do BNDES e da Itaipu Binacional — as mesmas estatais que pagaram o “Janjapalooza”, festa musical organizada pela primeira-dama, Janja, às vésperas da cúpula do G20, em novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
O problema é que nem mesmo a construção da Vila resolverá um dos maiores empecilhos para a realização da conferência na cidade. Conforme a associação brasileira que representa o setor hoteleiro, cerca de 40 mil pessoas devem participar da COP30. Hoje, Belém tem 18 mil leitos de hotel. Em meio à urgência, até navios de cruzeiro chegaram a ser cogitados para diminuir o déficit — ideia abandonada pouco depois, uma vez que precisaria ser feita a dragagem do porto para permitir a ancoragem dos barcos.
Como consequência, disparou o preço do aluguel de quartos e casas na cidade durante o evento. Como mostrou uma reportagem do site de Oeste, residências em bairros simples são oferecidas por cerca de R$ 250 mil o período. Habitações mais luxuosas, como um apartamento em um flat da bandeira Radisson, custam quase R$ 2,3 milhões. Já um estúdio com duas camas sai por mais de R$ 128 mil.
Ganhou o que perdeu
No total, informa o governo, os investimentos relacionados à COP30 devem custar quase R$ 5 bilhões. A exemplo da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, a promessa é de um grande legado, a começar pela própria Vila, que seria convertida no futuro em um centro administrativo para uso do governo estadual. Por ora, o que se tem são dúvidas quanto ao processo de licitação para as obras do complexo. O vitorioso foi o Consórcio Vila Líder, cuja proposta saiu cerca de R$ 45 milhões mais cara do que a apresentada pela terceira colocada no certame — a Metalúrgica Big Farm.
A justificativa pela escolha, segundo o processo licitatório, é a de sempre: critério técnico. A Big Farm, segundo o site PlatôBR, alega que era a “única concorrente com experiência” no tipo de obra proposto no edital. O Consórcio Vila Líder não se manifestou.
Com a escassez de mão de obra, há quem duvide da entrega do complexo dentro do prazo. Salvo, claro, se os regimes de urgência surgirem acolhendo os aditamentos. Que irremediavelmente estouram os orçamentos — como ocorreu na Olimpíada, em que um “erro de cálculo” elevou os custos da fatura em quase 50%. É o velho roteiro da história em que se inventam dificuldades para criar facilidades.
A reportagem de Oeste entrou em contato com as assessorias do governo do Pará e com a Prefeitura de Belém para saber como elas analisam o contraste entre os gastos milionários para sediar a COP30 e o estado de calamidade de parte da população local. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.
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As favelas também se espalham pelas cidades de SP. Só não vê quem não quer.
As oligarquias que se encastelaram no poder, principalmente nos Estados do Norte e do Nordeste nunca permitirão o desenvolvimento da região.
Mais corrupção a vista em mais um projeto faraônico deste desgoverno que torra os minguados recursos do pagador de impostos, favorecendo as empreiteiras de sempre.
Os brasileiros de bem não merece a república que temos.
Canalhas sendo canalhadas. E os favelados, que se fodam.
Em 1990 mudei de Belo Horizonte-MG para a capital do Pará, Belém do Pará. Morei na Av. Gentil Bitencourt, ponto central da capital bem próximo a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Lembro que fiquei impressionado como que a rede de esgoto corria a céu aberto pela cidade. Quero registrar o contraste gritante que observei na capital paraense. Uma cidade com vários parques florestais, o famoso Museu Emílio Goeldi, seu mercado do “Ver o pesso”, sua Basílica de Nazaré é seu centro histórico. Mas nada disso encobriu a miséria colossal que conheci longe dali, suas favelas de palafitas. Por várias vezes levei a senhora que trabalhava em minha casa até o local em que ela morava. Ao deixá-la em sua casa de palafita, onde presenciava uma enormidade de ratazanas correndo entre aqueles caminhos de madeiras, ao sair dali perguntava a mim como podem serem humanos, pessoas simples e humildade morarem naquelas condições degradantes. Aproveitando que em novembro ocorrerá a COP30 em Belém do Pará pergunto, todas essas autoridades mundiais que por lá irão participar desse evento “fashion” a respeito do clima vão dar de costas para a degradação humana, pois essa gente estará preocupada e se o povo local está contribuindo para preservar a flora e a fauna da região. No fundo a preocupação dos lulas é barbalhos será com a preservação das “autoridades” que ali estarão, já o gente da terra, enterra.
Alem de ser outro antro de corrupçáo náo terminará a tempo e fica como uma obra abandonada e recebendo subsídio anual para manutençáo do nada. Vergonha
Não tenha dúvidas que será, e está sendo, um poço de corrupção. Assim como Copa 2014, Olimpíadas 2016, esta COP30 com a turma de Lula da Silva e Barbalho não tem erro, é grana no bolso dos corruptos.
E ai está o cerne da questão: Lula continua na política brasileira hoje como titular máximo do executivo ainda gastando a rodo, os Barbalhos muito bem, os Calheiros, os Sarney os descendentes de Arraes, ACM etc todos ai e muito bem, só o Brasil vai mal.
O Estado do Pará não é o feudo do notável Jáder Barbalho e seus rebentos?
Mais vale uma cop na mão que um copo no balcão estamos se acostumando com tantos gastos desse desgoverno que nem mais notamos a vergonha que temos.
Acho que a jornalista não foi muito feliz a respeito das informações do complexo de Condomínios do IlhaPura .
Deveria se informar melhor. Os apartamentos estão bem valorizados e não tem os problemas descritos no texto. Acho que ela confundiu com a Vila Panamericana. Realmente ainda tem muitos vazios, mas eles só colocam a venda um grupo de prédios de cada vez. E não há nenhuma falta de autorização da prefeitura
Que raiva! Somos os otarios sempre pagando a conta. Já estou com aquela vergonha de ser brasileiro, pois vejo o desastre anunciado inevitável. E o povo, miserável, assim ficará.
Como pode um estado administrado por uma família desde os anos 1980 apresentar índices tão ruins relacionados com a estrutura e ninguém se move…..?
É a miséria que mantém esses canalhas no poder.
Mais uma grande furada do governo petista, encabeçado pelo lula, que tem a cabeça seriamente comprometida. Muitos ficarão ricos e o povo mais pobre. Essa coisa insólita baseada na ficção das “mudanças climáticas” e todas as demais estultices derivadas dessa ferramenta globalista, não contará com a presença dos EUA que atualmente está em pleno exercício do seu juízo. Vai ser uma palhaçada para “cucarachas” e assemelhados.