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Elon Musk cumprimenta Donald Trump, durante comício um dia antes da posse para o segundo mandato presidencial, em Washington (19/1/2025) | Foto: Brian Snyder/Reuters
Edição 256

A faxina de Donald Trump

Há anos o governo dos EUA vem financiando os meios de comunicação tradicionais com centenas de milhões de dólares para fortalecer uma agenda que enfraquece os próprios pilares americanos

Ana Paula Henkel
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Há quase duas semanas, quando a administração de Donald Trump decidiu mergulhar nos dados da gastança da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional — a agora famosa USAID —, os democratas em Washington e seus asseclas em ONGs pelo mundo estão como ratos em um navio que afunda rapidamente. Em verdadeiro pânico.

As notícias sobre gigantescos desvios de recursos públicos sendo cometidos há décadas por agências como a USAID inundam os perfis nas redes sociais da Casa Branca, do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) — sob comando de Elon Musk —, e do próprio Musk.

Nesta semana, Elon Musk e seus engenheiros, que têm passado as noites no prédio da agência, descobriram que a USAID canalizou quase US$ 800 milhões para um grupo que lançou uma plataforma de censura global e impulsionou a ideologia de gênero no mundo.

Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional — USAID (3/2/2025) | Foto: Reuters/Kent Nishimura

De acordo com os novos documentos, que têm sido apresentados ao público pouco tempo depois de serem descobertos, o grupo Consortium for Elections and Political Process Strengthening (CEPPS) — ou Consórcio para o Fortalecimento das Eleições e do Processo Político — recebeu quase US$ 800 milhões em financiamento de 2015 a 2021 para uma campanha global de censura.

Enquanto Trump faz pressão para acabar com a USAID — que, aparentemente, se tornou um enorme “golpe contra os contribuintes dos EUA”, de acordo com o presidente americano —, as divulgações de financiamento do governo trouxeram à tona o uso frequentemente frívolo e, nesse caso, nefasto, de dinheiro público. O escândalo não poderia ser maior — há anos, o governo federal dos Estados Unidos da América vem financiando os meios de comunicação tradicionais, no país e no mundo, com centenas de milhões de dólares em contratos lucrativos para terceiros para fortalecer uma agenda que enfraquece os próprios pilares americanos.

De acordo com recentes documentos, o CEPPS está estabelecido em 140 países, incluindo o Brasil. O tal consórcio “realiza observações eleitorais internacionais em mais de 40 lugares, além de apoiar grupos eleitorais de cidadãos para mobilizar milhões de observadores cidadãos para monitorar eleições e referendos”. 

Elon Musk e Omar Sultan Al Olama, ministro para Inteligência Artificial dos Emirados Árabes Unidos, participam de sessão plenária intitulada “Cidades Chatas, IA e DOGE”, na Cúpula Mundial de Governos, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (13/2/2025) | Foto: Reuters/Amr Alfiky

O CEPPS lançou um Guia de Combate à Desinformação em abril de 2021 com financiamento da USAID para ser usado por “militantes, doadores, líderes políticos e organizações da sociedade civil em todo o mundo, para destacar o trabalho que está sendo feito para combater a desinformação”.

A página do CEPPS ficou fora do ar durante a semana, mas é possível encontrar vídeos de Jerry Lavery, então diretor técnico do consórcio (que agora está no Bureau for Democracy, Human Rights and Governance da USAID), dizendo em um evento que a USAID “financiou essa atividade importante” (combater a desinformação) e que o guia seria “atualizado ao longo do tempo”. Disse Lavery:

“O CEPPS desenvolveu o guia como um projeto vivo projetado para capacitar parceiros ao redor do mundo a aprender uns com os outros as melhores maneiras de combater a desinformação, não importa quem sejam — governos, doadores, implementadores, candidatos, sociedade civil, mídia ou órgãos de gestão eleitoral. Os desafios da desinformação para a democracia exigem que trabalhemos juntos como uma comunidade para compartilhar nossas experiências e responsabilizar governos, plataformas de mídia social e líderes políticos.”

Foto: Shutterstock

Em outro vídeo, Lavery apresentou David Black, um alto funcionário da USAID, que afirmou:

“O guia será uma ferramenta importante para aqueles que estão trabalhando para combater esses impactos negativos da desinformação. Há algum tempo”, a USAID e o CEPPS têm trabalhado para silenciar o discurso considerado desinformação — usando uma base de evidências de quais programas são eficazes, programação em campo para combater a desinformação e uma cartilha de desinformação para a equipe da USAID e outros.”

Sim, parece um discurso do ministro Barroso do STF.

Um dos tentáculos da USAID na guerra contra a liberdade de expressão no mundo, o Guia de Combate à Desinformação incluía até um banco de dados global de organizações, projetos e doadores trabalhando e apoiando esses esforços para suprimir discursos desaprovados. Ele apresentava um menu com grupos explicitamente focados em censura, “checagem de fatos” e apontamento de grupos que “espalham desinformação”.

Equipamento USAID em Balti, na Moldávia (3/11/2023) | Foto: Shutterstock

Elon Musk, na liderança do DOGE, respondeu a uma postagem na rede social X e afirmou que o CEPPS é o perfeito exemplo de como a USAID transfere dinheiro para diferentes atores para que a agenda esquerdista seja implementada globalmente, inclusive em possíveis interferências eleitorais.

“Exatamente”, escreveu Musk. “A lavagem de dinheiro é feita por meio de vários intermediários.”

Nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, Musk também sugeriu que o governo americano interferiu no resultado das eleições de 2022 no Brasil. Ele afirmou que o “deep state” americano teria influenciado o pleito, desfavorecendo a reeleição de Jair Bolsonaro. O chefe do DOGE deu a declaração em resposta a uma publicação do senador republicano Mike Lee, de Utah, que questionou uma suposta interferência da Casa Branca nas eleições do Brasil.

“Se o governo dos EUA financiasse a derrota de Bolsonaro por Lula, isso o incomodaria? Eu ficaria pálido. Quem está comigo nisso?”, publicou o senador do Partido Republicano no X. Em resposta, Musk escreveu: “Bem, o deep state dos EUA de fato fez isso”.

Foto: Reprodução

E a faxina na corrupção e desvio de recursos públicos em Washington parece que não vai ficar apenas na USAID. Nesta semana, Trump deu carta branca para Elon entrar nas artérias do Departamento de Educação, no Departamento de Agricultura, no Departamento de Saúde, no Departamento de Defesa e até no Pentágono. 

Uma das agências devassadas pelos engenheiros de Musk foi a Federal Emergency Management Agency (FEMA), que coordena a resposta do governo federal a desastres que sobrecarregam os recursos estaduais e locais. Nesta semana, a equipe de Musk descobriu que, em janeiro deste ano, US$ 59 milhões foram gastos com hotel e alimentação para imigrantes ilegais em Nova York. Parte do dinheiro já está de volta aos cofres públicos.

Também nesta semana, Musk encerrou 18 contratos do Departamento de Agricultura no valor de US$ 9 milhões, incluindo contratos para “serviços de consultoria em avaliação de gênero na América Central”, “serviços de consultoria florestal e de gênero no Brasil” e o “programa de mentoria da iniciativa de carbono para mulheres em florestas”.

Símbolo da Federal Emergency Management Agency (FEMA) | Foto: Reprodução

Musk também ajudou a encerrar 29 bolsas de treinamento DEI no Departamento de Educação que totalizavam US$ 101 milhões. Uma delas buscava treinar professores para “ajudar os alunos a entender/questionar as histórias complexas envolvidas na opressão e ajudar os alunos a reconhecer áreas de privilégio e poder em uma base individual e coletiva”. Outro contratado recebeu US$ 1,5 milhão para “observar as operações de correspondência e administrativas” em um centro de mensagens.

Ao todo, apenas nesta semana, o Departamento de Educação rescindiu 89 contratos no valor de US$ 881 milhões!

Ao ser questionado sobre o que estava achando do desempenho de seu departamento, que será extinto em 4 de julho de 2026, Musk respondeu: “Precisamos acabar com agências inteiras. Se não chegarmos às raízes das ervas daninhas, é fácil para as ervas daninhas crescerem novamente”.

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1 comentário
  1. Osmar Martins Silvestre
    Osmar Martins Silvestre

    Moralmente os EUA nos devem muito. Suas agências corruptas, submissas às agendas woke e ao globalismo, destruíram o futuro do Brasil usando péssimos brasileiros para colocar o pior deles no comando da nação. Talvez os EUA não venham a nos compensar por isso, mas estão nos devendo.

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