Os títulos que se seguem poderiam ser confundidos com versos de um funk carioca, uma ata de reunião do Psol ou até um trecho de algum inquérito secreto conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes. No entanto, são nomes de batismo de dissertações e teses de bacharelado e pós-graduação defendidas em universidades federais brasileiras:
“A Zuadinha é tá, tá, tá: representação sobre a sexualidade e o corpo feminino negro.”
“Cooperação no MST: entre os avanços para a luta dos trabalhadores rurais por transformação social e os limites para a emancipação humana.”
“Arte nazifascista e estética reacionária: a extrema direita no governo Bolsonaro (2018-2022).”


A coisa não para por aí. O tema de um trabalho de conclusão do curso de mestrado da Universidade Federal da Bahia foi: “Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da estação da Lapa e adjacências”. O autor explica no resumo o que o motivou a escolher esse campo de estudo:
“As pesquisas de sexualidade in loco são bastante insólitas no campo da Antropologia e essa situação se agrava quando as variáveis homossexualidade, raça e gênero são tomadas para compreender as interações sexuais entre homens nos espaços públicos das grandes cidades. A fim de compreender tal dinâmica, procedo, através de uma abordagem autoetnográfica, uma investigação das práticas de ‘pegação’ em banheiros públicos masculinos da Estação da Lapa — maior terminal de ônibus urbano de Salvador.”

Os tópicos abordados incluem “A ‘gang bang’ no sanitário da estação”, “O ‘heterossexual passivo’ e outras heterossexualidades flexíveis em campo” e “O surfistinha de olhos azuis e a caixinha de Natal”. Na conclusão do texto, o autor revela que, com o objetivo de “desconstruir os mitos cristalizados por uma tradição colonial e europeia do fazer científico expôs suas ‘vergonhas’, assumindo ser adepto da pegação em banheiros públicos, prática sexual considerada uma das mais baixas dentro dos parâmetros éticos e morais do meio homossexual brasileiro”.
A lista de produções acadêmicas do gênero, todas bancadas com o dinheiro dos pagadores de impostos, é tão extensa quanto imaginosa. Exemplos :
“Experimenta-te a ti mesmo: Felipe Neto em performance no YouTube” (Universidade Federal de Minas Gerais).
“Mulheres perigosas: uma análise da construção da categoria piriguete” (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“Quem é esse rapaz que tanto androginiza? Transgressões vestimentares nas homossexualidades não hegemônicas“ (Universidade de São Paulo).
“Sexo designado antes de nascer: imagens fetais como tecnologia de produção de gênero” (Universidade de São Paulo).
“Feminilidade, corpo e beleza numa sociedade capitalista-patriarcal-midiatizada: um estudo de representações sociais” (Universidade Federal do Espírito Santo).


Marxismo moderno
Para especialistas em educação, as pautas identitárias dominaram a Academia nas últimas décadas depois que a esquerda passou a dominar as universidades públicas. O escritor e antropólogo Flávio Gordon, colunista de Oeste, afirma que a velha lógica marxista do opressor versus oprimido foi reformulada, substituindo categorias econômicas como “a luta de classes” por novas frentes de batalha ideológica: gênero, sexualidade e raça.
Nine Borges, doutora em Educação pela UFRJ, afirma que essas teses servem para “validar uma opinião, uma perspectiva, um estilo de vida, transformando-os em algo científico”. Segundo Nine, “adicionam algumas palavras bonitas, frases longas, muito silogismo, e o resultado é todo esse surto que vemos, principalmente na área de ciências humanas”.

Esse emaranhado em “cientifiquês” pode ser encontrado em trabalhos como “Os limites do direito na sociedade capitalista“, concebido na Universidade Federal do Maranhão. Sinopse: “O percurso teórico desde as concepções jusnaturalistas do Direito, passando pelas concepções positivistas e críticas do Direito, demonstra como a limitação conceitual desse instrumento restringe, também, seu conteúdo e alcance”.
Outro bom exemplo foi parido por uma dissertação de mestrado da Universidade Federal do Paraná. “A bixa-preta na escola e nas redes sociais: da afetividade de uma vida à hipersexualização de um corpo”. O autor argumenta que seu estudo faz “uma recuperação do contexto histórico de como se constituiu o processo de fragmentação identitária da população negra até o processo de ressignificação e valorização de tal identidade, assim como apresenta uma discussão sobre o tornando-me bixa a partir das categorias de gênero, sexualidade e do sistema corpo-sexo-desejo”.

Esses exemplos atestam que a escrita acadêmica é usada para “lavar sentimentos” com o objetivo de sancioná-los sob a aparência de ciência. “O método científico, contudo, se constituiu através do teste, do erro, da experimentação, de estudos empíricos, dados, estatísticas”, afirma Nine.
Para Victor Godoy, ex-ministro da Educação, deveria ser mais criteriosa a seleção desses trabalhos. “Quando não existe a metodologia científica, o que se tem é, na verdade, um artigo de opinião”, diz. “Nesses casos, o que vemos é a defesa de uma visão ideológica que se traveste de pesquisa, mas que muito dificilmente vai seguir uma metodologia para comprovar ou não uma tese.”
O principal efeito é a completa desmoralização da universidade como centro de produção de conhecimento, lamenta Anamaria Camargo. Mestre em Educação pela Universidade de Hull, no Reino Unido, ela explica que um estudo não é legítimo se já começa com uma resposta, uma vez que a ciência é construção. “Considero o woke uma seita”, resume. “As universidades se tornaram grandes catedrais para produzir conhecimento e doutrina para esse grupo de fanáticos.”
A carência da educação
Nine Borges divulgou em suas redes sociais um vídeo em que Yuri Bezmenov, ex-membro da KGB, alerta o ocidente para as táticas de subversão ideológica aplicadas pela extinta União Soviética. Uma delas é conversar sobre sexualidade na sala de aula e desviar a atenção das crianças do que realmente importa. Em seguida, num vídeo gravado durante uma reunião do Conselho Nacional de Educação (Conae), uma professora defende a necessidade de tratar das questões de gênero e sexualidade até em aulas de matemática.
Enquanto isso, a educação básica está entre as piores do mundo. No ranking Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), quando é analisado o desempenho de alunos de 9 anos em matemática, o Brasil aparece na 55ª posição entre 58 países — acima somente do Marrocos, Kuwait e da África do Sul. De acordo com o levantamento, 51% dos brasileiros de 9 anos não conseguem realizar operações básicas. O Brasil também ficou abaixo da média internacional entre estudantes do 4º e do 8º anos.
Um estudo do Todos pela Educação mostrou que, a cada dez brasileiros, três não conseguem resolver operações básicas que envolvam, por exemplo, o total de uma compra, o cálculo do troco ou o valor de prestações sem juros quando vão ao supermercado. Além disso, 30% da população na faixa que vai dos 15 aos 64 anos é considerada analfabeta funcional — sabe ler e escrever, mas não consegue interpretar um texto simples.
Esses números tornam evidente que o Brasil tem problemas muito mais graves a enfrentar do que discutir “Feminilidade, corpo e beleza numa sociedade capitalista-patriarcal-midiatizada”, ou os “Banheiros públicos como demarcação de fronteiras identitárias”, ou ainda as “Transgressões vestimentares nas homossexualidades não hegemônicas”. Como afirma Nine Borges, talvez não seja possível ter uma escola livre de ideologias. Mas é preciso morrer tentando.

— Com reportagem de Gabriel de Souza.
Leia também “A anistia inevitável”
Uma coleção de besteiras que não serve para nada. a tempos que a esquerda domina às academias. E é isso as universidades formam um bando de imbecis.
Excelente artigo que escancara a vergonhosa e inútil produção das universidades brasileiras.
Percebi que a maioria dos “artigos”citados foram produzidos em cursos de pós graduação, o que torna tudo ainda mais patético!
Triste realidade brasileira!