Há alguma enfermidade numa democracia que insiste em preservar certas características de ancien régime. Comandada por poucas famílias há séculos, a política brasileira não parece regida por normas e modelos contemporâneos. Seguidos ajustes na legislação eleitoral e mesmo mudanças de Constituição não foram suficientes para eliminar o ranço protoaristocrático. Os sobrenomes de sempre comandam partidos, costuram coligações, fazem e desfazem acordos nos rincões do país, nos lugarejos difíceis de identificar no mapa, nas capitais prósperas e em Brasília. Um certo pós-coronelismo torna o país mais próximo de “democracias” africanas do que de civilizações avançadas. A jornalista Selma Santa Cruz investiu longas horas de trabalho para oferecer um panorama do fenômeno.
O fim da aristocracia foi objeto de análise do diplomata, filósofo político e historiador Alexis de Tocqueville (1805-1859). No clássico A Democracia na América, de 1835, Tocqueville expressa seu encantamento por determinadas características dos Estados Unidos, então um país em construção. Eram significativas as diferenças entre a jovem nação e a terra do autor, a França, que ainda reverenciava determinadas linhagens genealógicas. “Tocqueville reconhece a importância do caráter nacional norte-americano para a liberdade existente no país, e dá crédito aos religiosos puritanos pela moldagem desse caráter”, escreve o economista Rodrigo Constantino. “Se os franceses se voltavam para o Estado, e os ingleses para a aristocracia, os norte-americanos formavam livres associações uns com os outros quando precisavam de alguma coisa.”
Assombrosamente, nos Estados Unidos de hoje, estão em xeque os valores fundamentais sobre os quais se estabeleceu a nação mais livre e próspera do mundo. O Partido Democrata quer um novo “contrato social” para a América. A missão é criar condições para ampliar a atuação de sindicatos, constituir mais movimentos coletivistas, aumentar o poder do Executivo central e frear a autonomia dos Estados, comprometendo um dos pilares do sistema político norte-americano, o federalismo. Não se trata de especulação. Está tudo registrado no manifesto do partido. “Há trechos que se assemelham à Constituição da extinta União Soviética”, alerta Ana Paula Henkel. No artigo “O mal de roupa nova”, Ana trata do tema.
Eis mais um daqueles assuntos dos quais a imprensa tradicional prefere manter distância. O jornalismo praticado em nossos dias é tão peculiar quanto o do Clarim Diário, comandado por J. Jonah Jameson. Jameson é o editor do jornal fictício criado por Stan Lee para as histórias do Homem-Aranha. Para o editor, a cobertura não é determinada pelos fatos, mas pelos “recados” que ele quer dar à sociedade. O colunista Dagomir Marquezi mostra como essa noção de “jornalismo” está impregnada em veículos de comunicação outrora respeitáveis, como o The New York Times. Certas matérias, de tão simplórias, agridem a inteligência do leitor. É quase científica a constatação da prevalência da visão de mundo progressista.
Essa visão foi amplamente rejeitada nas últimas eleições municipais. O brasileiro expôs o que pensa da esquerda. Os defensores do Estado grande e gastador saíram cabisbaixos das urnas. Com o ocaso do lulopetismo, os socialistas têm dificuldade de se reagrupar. É o cenário apresentado pelo editor-executivo Silvio Navarro na reportagem “A ruína do ‘lulopetismo’”.
Do ponto de vista institucional, entretanto, é razoavelmente consolidada a ideia de que a esquerda é, a priori, virtuosa. O que mais justificaria o pagamento de indenização a um assassino confesso? “Formada para vasculhar as catacumbas da guerra fria ocorrida durante o regime militar, a Comissão da Verdade dividiu os personagens do universo que lhe cumpria devassar em torturadores a serviço da ditadura e heróis da resistência”, diz Augusto Nunes. “Uns merecem o fogo do inferno. Outros, a gratidão do país (e uma Bolsa Ditadura de bom tamanho).”
Não há dúvidas de que a sociedade brasileira terá pela frente um laborioso processo caso decida corrigir os erros da nossa democracia.
Boa leitura.
Os Editores.
A revista Oeste veio suprir uma grande lacuna no Brasil. Desejo vida longa e que mantenha a qualidade!
Gostaria de expressar um certo alívio. Após ter cancelado jornais e revistas, que antes os considerava dignos de confiança e de credibilidade, mas que nos últimos anos tomaram o caminho da militância esquerdista e cega, ter mais uma vez encontrado uma revista voltada aos valores conservadores. Valores que levaram a sociedade ocidental alcançar seu maior progresso , mas que ironicamente, esse mesmo progresso, vem nos tornando um povo fraco e dividido.
Parabéns a todos vocês responsáveis por criar esse meio de comunicação tão importante e raro nos tempos de hoje.
Falta melhorar esse site, mais lento que tartaruga.
Os articulistas são incríveis.
Bolsa ditadura e Fundo Eleitoral, são 2 invenções para extorquir dinheiro do cidadão