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Edição 35

Carta ao Leitor — Edição 35

A democracia do 'ancien régime' do Brasil, as investidas socialistas do Partido Democrata nos EUA e a imprensa de história em quadrinhos

Redação Oeste
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Há alguma enfermidade numa democracia que insiste em preservar certas características de ancien régime. Comandada por poucas famílias há séculos, a política brasileira não parece regida por normas e modelos contemporâneos. Seguidos ajustes na legislação eleitoral e mesmo mudanças de Constituição não foram suficientes para eliminar o ranço protoaristocrático. Os sobrenomes de sempre comandam partidos, costuram coligações, fazem e desfazem acordos nos rincões do país, nos lugarejos difíceis de identificar no mapa, nas capitais prósperas e em Brasília. Um certo pós-coronelismo torna o país mais próximo de “democracias” africanas do que de civilizações avançadas. A jornalista Selma Santa Cruz investiu longas horas de trabalho para oferecer um panorama do fenômeno.

O fim da aristocracia foi objeto de análise do diplomata, filósofo político e historiador Alexis de Tocqueville (1805-1859). No clássico A Democracia na América, de 1835, Tocqueville expressa seu encantamento por determinadas características dos Estados Unidos, então um país em construção. Eram significativas as diferenças entre a jovem nação e a terra do autor, a França, que ainda reverenciava determinadas linhagens genealógicas. “Tocqueville reconhece a importância do caráter nacional norte-americano para a liberdade existente no país, e dá crédito aos religiosos puritanos pela moldagem desse caráter”, escreve o economista Rodrigo Constantino. “Se os franceses se voltavam para o Estado, e os ingleses para a aristocracia, os norte-americanos formavam livres associações uns com os outros quando precisavam de alguma coisa.”

Assombrosamente, nos Estados Unidos de hoje, estão em xeque os valores fundamentais sobre os quais se estabeleceu a nação mais livre e próspera do mundo. O Partido Democrata quer um novo “contrato social” para a América. A missão é criar condições para ampliar a atuação de sindicatos, constituir mais movimentos coletivistas, aumentar o poder do Executivo central e frear a autonomia dos Estados, comprometendo um dos pilares do sistema político norte-americano, o federalismo. Não se trata de especulação. Está tudo registrado no manifesto do partido. “Há trechos que se assemelham à Constituição da extinta União Soviética”, alerta Ana Paula Henkel. No artigo “O mal de roupa nova”, Ana trata do tema.

Eis mais um daqueles assuntos dos quais a imprensa tradicional prefere manter distância. O jornalismo praticado em nossos dias é tão peculiar quanto o do Clarim Diário, comandado por J. Jonah Jameson. Jameson é o editor do jornal fictício criado por Stan Lee para as histórias do Homem-Aranha. Para o editor, a cobertura não é determinada pelos fatos, mas pelos “recados” que ele quer dar à sociedade. O colunista Dagomir Marquezi mostra como essa noção de “jornalismo” está impregnada em veículos de comunicação outrora respeitáveis, como o The New York Times. Certas matérias, de tão simplórias, agridem a inteligência do leitor. É quase científica a constatação da prevalência da visão de mundo progressista.

Essa visão foi amplamente rejeitada nas últimas eleições municipais. O brasileiro expôs o que pensa da esquerda. Os defensores do Estado grande e gastador saíram cabisbaixos das urnas. Com o ocaso do lulopetismo, os socialistas têm dificuldade de se reagrupar. É o cenário apresentado pelo editor-executivo Silvio Navarro na reportagem “A ruína do ‘lulopetismo’”.

Do ponto de vista institucional, entretanto, é razoavelmente consolidada a ideia de que a esquerda é, a priori, virtuosa. O que mais justificaria o pagamento de indenização a um assassino confesso? “Formada para vasculhar as catacumbas da guerra fria ocorrida durante o regime militar, a Comissão da Verdade dividiu os personagens do universo que lhe cumpria devassar em torturadores a serviço da ditadura e heróis da resistência”, diz Augusto Nunes. “Uns merecem o fogo do inferno. Outros, a gratidão do país (e uma Bolsa Ditadura de bom tamanho).”

Não há dúvidas de que a sociedade brasileira terá pela frente um laborioso processo caso decida corrigir os erros da nossa democracia.

Boa leitura.

Os Editores.

 

4 comentários
  1. Cristiane Kovalski
    Cristiane Kovalski

    A revista Oeste veio suprir uma grande lacuna no Brasil. Desejo vida longa e que mantenha a qualidade!

  2. Stuart Kimball Morello
    Stuart Kimball Morello

    Gostaria de expressar um certo alívio. Após ter cancelado jornais e revistas, que antes os considerava dignos de confiança e de credibilidade, mas que nos últimos anos tomaram o caminho da militância esquerdista e cega, ter mais uma vez encontrado uma revista voltada aos valores conservadores. Valores que levaram a sociedade ocidental alcançar seu maior progresso , mas que ironicamente, esse mesmo progresso, vem nos tornando um povo fraco e dividido.
    Parabéns a todos vocês responsáveis por criar esse meio de comunicação tão importante e raro nos tempos de hoje.

    1. Marcos Evangelista Drumond
      Marcos Evangelista Drumond

      Falta melhorar esse site, mais lento que tartaruga.
      Os articulistas são incríveis.

  3. Júlio Rodrigues Neto
    Júlio Rodrigues Neto

    Bolsa ditadura e Fundo Eleitoral, são 2 invenções para extorquir dinheiro do cidadão

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