Chega a ser infantil enxergar a ciência como um bloco monolítico, um ente cujas decisões são conduzidas por um grande e poderoso cérebro infalível. Ora, há disputas no meio científico. Surgem controvérsias entre instituições de pesquisa sérias. Não faltam intrigas, atritos em busca de verbas para novos estudos e, claro, guerras de vaidades.
Nesse contexto, a “ciência” à qual as autoridades vêm recorrendo é necessariamente aquela que fundamenta as restrições às liberdades e a princípios básicos estabelecidos na Constituição. E nem o Ministério Público dá o sinal de alerta. “O MP, que entra em transe a cada vez que imagina ter diante de si a mínima contestação aos direitos de quilombolas, mendigos ou viciados em crack, não deu um pio, até agora, diante de violações flagrantes dos direitos individuais e das liberdades públicas cometidas para ‘combater a covid’ e ‘seguir as recomendações da ciência’”, escreve J. R. Guzzo. “Governadores e prefeitos estabelecem a Lei Seca, violam o direito de ir e vir, obrigam os cidadãos a fazer coisas não previstas em nenhuma lei e envolvem-se o tempo todo em episódios de corrupção — e o MP, quando não abaixa a cabeça ou apoia esses disparates, faz de conta que isso tudo está acontecendo no Congo Belga, e não no Brasil.”
Ao focar a ciência que dá resultados, e não a invocada para amparar embates ideológicos, a editora Paula Leal nos apresenta o panorama promissor que se abre com a tecnologia de desenvolvimento de imunizantes e medicamentos a partir do RNA — a técnica utilizada pela Pfizer na sua vacina anticovid-19. Paula, seguramente, está entre os cinco profissionais de imprensa que mais entendem de coronavírus no Brasil. Tem a habilidade de tornar simples — e, quando necessário, didáticos — conceitos de enorme complexidade. Esse talento foi especialmente útil em outra reportagem que Paula assina, “Sem filhos, e daí?”. A opção cada vez mais comum das mulheres das classes média e alta de não ter filhos impacta o projeto de país que a sociedade precisa definir.
Quando se analisam dados demográficos, frequentemente esse detalhe é ignorado: quem reúne mais condições de proporcionar uma educação de qualidade às futuras gerações tem escolhido não se comprometer com o “projeto da procriação”. Ou seja: a mão de obra que construirá o Brasil do futuro será oriunda das classes menos favorecidas. É um fenômeno que a Europa rica e educada conhece bem. Discute-se intensamente como integrar os imigrantes à sociedade e quais políticas poderão efetivamente proporcionar capacitação, dado que os nativos abastados preferem não ter filhos. Aqui no Brasil, com um largo contingente de pobres ávidos por ascensão social, não será necessário recrutar imigrantes para tocar o projeto de futuro. O país precisa desenvolver um plano educacional de qualidade para os desfavorecidos, urgentemente e de modo responsável, sem improvisos e com muita cooperação.
Cooperação, a propósito, é o eixo central do liberalismo. Livre mercado tem mais a ver com a ideia de cooperar do que com a determinação de competir. É precisamente essa a motivação de Adriano Silva, o único prefeito eleito do Partido Novo. Silva comandará as políticas públicas em Joinville, o maior município de Santa Catarina. A editora Branca Nunes entrevistou o político para esta Edição 39 da Revista Oeste. É fundamental que o experimento liberal em Joinville possa servir de exemplo para outras cidades brasileiras. Adriano Silva tem uma missão que vai além do seu território formal de atuação.
No geral, entretanto, o circo continua, como mostra Augusto Nunes no esplêndido artigo “O picadeiro e a pandemia”.
Boa leitura.
Os Editores.
Vocês são ótimos! Só precisam de um aplicativo, para facilitar a leitura nos celular!
Eu agora vou reclamar de público: a navegação da Oeste é ruim. Editor (es), manda o programador copiar a do Breitbart ou arruma um app de notícias melhor. Esse aí não presta.
Estou muito feliz! Assinei hoje a Revista Oeste. Enfim poderei ler artigos que pessoas inteligentes, sérias , comprometidas com a verdade e principalmente livres escrevem.
Excelente editorial. Tem tudo o que um editorial deve ter: opinião, equilíbrio, arrazoado, consequência, resumo do que se espera da revista.
“Chega a ser infantil enxergar a ciência como um bloco monolítico, um ente cujas decisões são conduzidas por um grande e poderoso cérebro infalível.” Concordo com esta ideia, daí minha surpresa com o artigo da sra. Paula Leal, que manifesta um otimismo bem pouco científico com a técnica inovadora da vacina da Pfizer, sem levar em conta opiniões menos tranquilizadoras já expressas por médicos e pesquisadores diante de um vacina gênica, produzida em tão pouco tempo, com uma técnica nunca antes testada em larga escala. Tais opiniões, que nos alertam para os possíveis riscos dessa vacina inovadora, nem sequer foram mencionadas no artigo. Ademais, a autora dá a entender que a desconfiança salutar diante de uma vacina gênica é característica de uma postura “antivacina”, reforçando o viés da grande mídia, que impede o debate e não dá espaço para as divergências dentro do mundo científico. Muito triste, ver um artigo assim nesta revista. Eu esperava uma análise mais imparcial, que levasse em conta a complexidade da situação que, de fato, tem suscitado muita controvérsia no âmbito científico. Uma pena que a maturidade expressa no editorial não tenha se refletido no artigo da sra. Paula Leal, que deixou transparecer exatamente essa mentalidade infantil contra a qual o editorial nos alerta.
Eleições 2022. É melhor JAIRem se acostumando.
Essa é a melhor revista do mundo!