Duas mulheres e seus filhos — uma menina e um menino de 14 anos — foram presos na orla do Rio de Janeiro. As crianças são atletas juvenis de natação e haviam atravessado um trecho do mar de Copacabana, sem permanecer na faixa de areia. A polícia abordou o grupo e, mesmo sem nenhuma resistência, o prendeu e enfiou num camburão.
O objetivo alegado pelas autoridades é evitar o contágio por coronavírus. Eram duas crianças nadando no mar e, na mesma hora, diversos adultos circulando pela orla. Praia é areia, mar e calçada? Quantos metros para dentro e quantos para fora? O vírus gosta mais de nadar sozinho ou de caminhar em grupo? Ele respeita os que a polícia não aborda (especialmente jornalistas) e ataca os que a polícia escolhe? Ou os que o governador manda escolher?
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Seja como for, nunca se viu nada parecido em tempos democráticos, ou supostamente democráticos. Cumprir uma medida sanitária com vários homens armados atirando sumariamente duas cidadãs pacíficas e suas crianças num camburão é um atentado estatal. É uma coação violenta. E é, se tolerado pelas instituições que guarnecem a democracia, a oficialização da brutalidade.
O escândalo de Copacabana — mais um da série que se espalha pelo território nacional de forma assustadora — saiu de graça para os agressores.
Mais uma vez, não se vê reação alguma das diversas entidades humanitárias nacionais e internacionais, essas que vivem anunciando a volta da ditadura no Brasil para amanhã, mas que não veem o pau comendo hoje. Ou melhor: fingem que não veem, escondidas e voluntariamente amordaçadas em seu confinamento vip. Que vexame.
A própria Organização Mundial da Saúde, matriz da recomendação de distanciamento social, já alertou para a questão de que a medida não pode ser aplicada indiscriminadamente em todo o planeta. As duas variáveis para a relativização do lockdown são claras: áreas que estiverem fora dos focos principais da pandemia e que tiverem população socialmente vulnerável — dependendo de circulação para seu sustento imediato. O Brasil está nos dois casos.
Mas os tiranetes locais, que diziam seguir a OMS e a ciência, agora não querem mais saber de nenhuma das duas. Querem prender e arrebentar fingindo que estão salvando vidas, tentando enganar o maior número possível de distraídos, amedrontados e otários para impor sua politicagem na marra.
Os governadores do Rio e de São Paulo, por exemplo, assumiram o cargo em 1º de janeiro de 2019 já agindo ostensivamente em função de seu fetiche presidencial. Ambos fizeram questão de não disfarçar. A covid é só mais uma aliada. Trancar o país e barbarizar as pessoas, na lógica dessas mentes doentias, é um passaporte dourado para o poder central. Simples assim. A simplicidade mental, aliás, é característica inata de todo androide.
Jogar crianças em camburão fingindo combater epidemia não é problema nenhum para eles.
Mas deveria ser para o resto da sociedade, que parece mergulhada num surto de catatonia — hoje certamente mais amplo e perigoso que o do coronavírus. Governadores, prefeitos e autoridades locais em geral ameaçam todos os dias a população com a iminência do colapso hospitalar. Ninguém demonstra a curva de progressão epidêmica que esgotará a curto prazo os leitos de UTI. Proliferam pedidos por mais hospitais de campanha ao lado de hospitais ociosos. Já há uma força-tarefa para apurar desvios e superfaturamentos nas verbas emergenciais — sim, os vermes estão entre nós. E a população paralisada diante da TV.
A OMS morde e assopra. Fez as ressalvas ao lockdown total, ao mesmo tempo em que solta alertas genéricos de que o pior da epidemia ainda pode estar por vir — tipo de manchete valiosa para Dorias, Witzels, Caiados, Barbalhos e terroristas associados do pânico viral. Quanto mais tempo de tranca, melhor a ruína — e você achava que só existia ruína ruim.
Ou o Brasil se liberta agora do sequestro, ou vai acabar tendo de mendigar a subsistência a seus algozes.
Excelente artigo, claro expõe o que estamos vivendo com a pandemia. Com discurso de salvar vidas, os tiranetes (todos sabem quem são) vindos do executivo, judiciário com apoio do legislativo, têm uma oportunidade ímpar para agirem politicamente e tentam de forma hercúlea derrubar o presidente Bolsonaro a todo momento. Fiúza pra mim, é hoje, o maior cronista do jornalismo brasileiro. Parabéns.
Muito boa reflexão sobre os riscos às liberdades individuais, que são relegadas a plano secundário nesse nosso Brasil.
Parabéns, Fiuza!
Brasileiros sem pai, nem mãe. Não existe lei para o cidadão comum, só o abuso dos agentes mal preparados, com desvio de caráter. Não consigo assistir àquele homem que repetia para a mulher numa praça em Araraquara atacada por quatro guardas municipais: “Não resista!”
Excelente, Fiuza. Diante disso tudo, fica cada vez mais evidente a seguinte frase: “não importa o que se faz ou o que se fala, o que importa é quem faz ou quem fala”. Ou o brasileiro desperta de uma vez para combater o mau jornalismo da grande mídia, os maus governadores/prefeitos, os inescrupulosos parlamentares, ou seremos sempre vítimas dessa máquina de moer, que impera no Brasil há décadas.
Estou horrorizada .. o surreal sai na TV ao vivo e a cores e fica como normal, aceitável, corriqueiro .. o poder é uma droga que vicia e destroi referencias e parametros .. Gostaria muito de acreditar que a politica é algo nobre mas cada vez me dá mais nojo …
Se você quer conhecer alguém realmente, lhe dê poder. Será revelador. Isso é absolutamente verdadeiro e expôs, na vitrine dos horrores da política nacional, caras e nomes que não esqueceremos jamais.
Excelente artigo de repúdio à criminalidade governamental!
Graças ao “vírus chinês”, bandidos estão sendo soltos, vários presos da “Lava Jato” já estão no conforto de suas casas, curtindo “prisão domiciliar”, e o cidadão de bem sendo preso e conduzido a delegacias das formas mais arbitrárias possíveis, em nome do “bem coletivo”, e tudo isso sem um “pio” sequer dos defensores de sempre dos “direitos humanos”, da “esquerdalha” festiva, que nasceu na década de 90 e se diz “extremamente traumatizada pela ditadura”, e demais hipocritas de plantao, que adoram denunciar a volta do “fascismo” entre nós … o Brasil, de fato, não é para amadores ….
Acho que o povo brasileiro, desacostumado a ficar em casa, já entrou em depressão coletiva de fim de mundo. E isso é exatamente o que os ditadores esperam.
Onde está o STF? Se mete em tudo.
Aprecio muito sus colocacoes
Fiuza
Certa vez, no fim de uma entrevista, o então senador Roberto Campos foi gentilmente convidado a traduzir em uma palavra o que era o poder. E ele respondeu: “Efêmero”. Todo poder é efêmero. Mas a maioria de nossos políticos demonstra não dar muita bola pra isso não. Algo parecido com o que dizia uma música do saudoso Belchior: “Era feito aquela gente, honesta, boa e comovida, que caminha para a morte pensando em vencer na vida”.
Estado democrático de direito e politicamente correto vem sendo substituído por “intervenção já “, “ética”, “fora STF” é “cansamos”, mas somos PERSISTENTES. Ah, resistência foi substituído. Precisava de cabra macho com apoio popular.
O que mais espanta é que há poucos meses o zelo com a democracia, o estado de direito, as instituições, era quase um fetiche para a imprensa, os formadores de opinião, ONGs, etc, etc. De repente, bum: o medo de um vírus – de gripe, não um ebola ou HIV – justifica o silêncio ensurdecedor dessa turma de hipócritas.
Excelente artigo. Parabéns
Fiuza, está rodando um twiter em que você esculhamba com o Moro. É verdade ou fake?
vai no twitter, procura por Guilherme Fiuza@GFiuza_Oficial
Esse é o endereço oficial dele
Saio de casa todos os dias e só estou trabalhando home office porque fui obrigado. Por mim, estaria indo trabalhar. O triste é que nem as pessoas mais esclarecidas, que não estão em grupos de risco e estão indignadas com esses abusos de cerceamento a liberdade, se dignem a desacatar essa reclusão absurda.