Em meu artigo da semana passada, compartilhei algumas notícias sobre as políticas internacionais do presidente Joe Biden e fizemos juntos uma reflexão sobre o papel dos Estados Unidos no tabuleiro geopolítico atual. Abordamos a crise histórica na fronteira sul do país e a aparente fragilidade — não apenas física — do 46º presidente da nação mais poderosa do mundo no trato das questões sensíveis e importantes com países como o Irã. O tom para as relações internacionais do novo governo democrata já foi dado, e a orquestra, infelizmente, parece desafinada e sem maestro.
Não é mais nenhum mistério, tampouco especulação, que a China investe voraz e globalmente na estratégia de se tornar o país mais influente do planeta. E, para isso, é preciso tirar o Tio Sam da sala. É tradição na história norte-americana que os presidentes desenvolvam suas “doutrinas” de política externa, projetadas para refletir os desafios enfrentados pelas relações internacionais e para propor soluções no campo geopolítico. A prática começou com a Doutrina Monroe, em 1823, e continuou com o corolário Roosevelt, introduzido por Theodore Roosevelt em 1904.
A tradição no período pós-Segunda Guerra Mundial seguiu com a Doutrina Truman, em 1947, sob a qual os EUA forneceram apoio aos governos da Grécia e da Turquia como parte de uma estratégia da Guerra Fria para manter ambas as nações fora da esfera de influência soviética. Logo depois, a história foi marcada pelas doutrinas Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon e Carter. Todas definiram as abordagens de política externa desses presidentes em momentos desafiadores da História.
Nos anos 1980, a Doutrina Reagan foi uma estratégia implementada pela administração do 40º presidente para reduzir a influência global da União Soviética no final da Guerra Fria. Sob a Doutrina Reagan, os Estados Unidos ajudaram explícita ou extraoficialmente guerrilhas anticomunistas e movimentos de resistência contra governos marxistas na África, na Ásia e na América Latina. Um dos objetivos era sinalizar que qualquer inimigo da América e do Ocidente estaria correndo riscos.
Até presidentes considerados fracos no campo da política externa tiveram seus dias de um Tio Sam firme, que impunha respeito. Mesmo com a catastrófica condução no caso dos reféns na embaixada de Teerã, evento que se arrastou por mais de quatrocentos dias (não deixe de assistir ao filme Argo, de 2012), a administração de Jimmy Carter chegou a prover assistência militar secreta aos mujahidins do Afeganistão. Foi um esforço para expulsar os soviéticos do país, ou pelo menos aumentar o custo militar e político da ocupação da URSS na região.
E foi em 2008 que a nação que muitos consideram racista — são apenas 13% de negros numa população de 330 milhões de habitantes — elegeu um presidente negro. E depois o reelegeu. Com dois mandatos na Casa Branca, Barack Obama tinha tudo para deixar um legado de sucesso. Carismático, com excelente oratória, imagem e discursos fortes, tinha aquele ar presidenciável. O que poderia dar errado? Tudo. Eu poderia usar de certa diplomacia para descrever quem foi Barack Obama para os EUA e o Ocidente, mas terei de ser direta. Barack foi uma enganação.
Como um dos presidentes mais inclinados para a esquerda no espectro político-ideológico da História dos Estados Unidos, Barack Obama, com suas políticas, deixaria exultante o mais ferrenho eleitor do Psol. Foram políticas embaladas em retóricas fofas que ajudaram a enterrar o antigo Partido Democrata de John F. Kennedy — medidas que trouxeram à luz do dia o cataclismo da facção de Alexandria Ocasio-Cortez e sua turma louca da extrema esquerda.
Barack, o sonho de consumo de todo liberal falsificado no Brasil, não passa de um engodo mundial. Como tal, seu legado foi a passagem do bastão das políticas vazias e fracas para o seu vice, que agora é o homem mais poderoso do mundo. Do alto da incômoda e bizarra fragilidade e incompetência, Joe Biden segue firme na perigosa mensagem de fraqueza perante players geopolíticos importantes e perigosos como Irã, China, e mesmo uma enfraquecida Rússia.
Durante a campanha presidencial do ano passado, foi comovente o esforço conjunto das big techs e de veículos da velha imprensa para esconder os escândalos que envolvem Hunter Biden, filho do então candidato — dossiês com provas consistentes indicaram relações nada republicanas entre Hunter e autoridades da Ucrânia e da China. Já não é mais nenhum mistério que a família Biden possui laços com empresas chinesas — leia-se ditadura chinesa — que vão bem além do que os norte-americanos gostariam. Mas o problema não para por aí. Esses laços amarrando as mãos do Tio Sam?
A China está envolvida até o pescoço com sistemáticos roubos de patentes e direitos autorais dos EUA, viola descaradamente acordos comerciais, manipula sua moeda, despeja produtos abaixo do custo nos mercados mundiais. Mais: investe na guerra cibernética, expropria a tecnologia ocidental e bloqueia informações precisas sobre as origens da covid-19. Depois que o malcriado do Twitter se mudou da Casa Branca, nada, absolutamente nenhum desses pontos, cruciais na atual Guerra Fria, foi mencionado por autoridades do governo em reuniões ou coletivas de imprensa.
A Doutrina Biden coloca sangue na água. E os tubarões já perceberam isso
A conta para os chineses é simples: se a China distribui dinheiro, ela acredita que é dona do destinatário. E não estamos falando apenas da família Biden. Nos últimos cinco anos, a Universidade de Nova York recebeu cerca de US$ 47 milhões em doações da China. O Departamento de Educação dos Estados Unidos advertiu recentemente a Universidade de Stanford por não ter declarado mais de US$ 64 milhões em doações de fontes chinesas desde 2010. Não é surpresa que a China tenha enviado recentemente um pesquisador visitante a Stanford, que acabou identificado como agente dos militares chineses e preso pelas autoridades federais por ter mentido em seu processo de visto e entrada nos EUA.
A China anda a passos largos para destruir de vez qualquer resquício de democracia em Hong Kong, pode ter destruído a cultura do Tibete, e comete atrocidades como colocar minorias muçulmanas em “campos de reeducação” — na verdade, campos de concentração. Além disso, o país discrimina sistematicamente os visitantes africanos. Cada vez que norte-americanos preeminentes, como atletas, celebridades e atores desmiolados, condenam os Estados Unidos por um suposto racismo, os chineses racistas e genocidas apenas aplaudem. A China está em uma corrida para alcançar a hegemonia global e precisa buscar uma opinião mundial favorável até alcançar poder militar e econômico superior.
Há duas semanas, em Anchorage, no Alasca, diplomatas chineses demoliram o secretário de Estado, Antony Blinken, e o conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan numa reunião transmitida para todo o mundo. A mídia fez o possível para minimizar a situação constrangedora, mas era impossível ignorar o desrespeito demonstrado aos EUA. Desde que o recém-eleito presidente John Kennedy foi humilhado, em 1961, na cúpula de Viena pelo homem forte da União Soviética, Nikita Khrushchev, os diplomatas norte-americanos não haviam sido maltratados por um governo comunista.
Os diplomatas chineses usaram as próprias declarações do Partido Democrata sobre quão corrupto, racista e irremediavelmente perverso são os Estados Unidos. A mensagem, incansavelmente repetida pela esquerda em 2020, de que os negros são rotineiramente caçados nas ruas, regularmente mortos pelas forças policiais e que não têm direitos foi a deixa para a bofetada chinesa. A pá de cal diplomática aconteceu depois que os norte-americanos tentaram condenar a China por suas políticas econômicas e abusos contra os direitos humanos, inclusive contra o grupo étnico uigur. A China, com a calma de quem sabe quem está dando as cartas na mesa, disse que os Estados Unidos não estão em posição de proferir sermões. Ouch.
E, como humilhação pouca é bobagem, numa recente entrevista ensaiada para o canal de tevê norte-americano ABC, Joe Biden, demonstrando perturbadora falta de conexão com o assunto em pauta, chamou o presidente russo Vladimir Putin de “assassino” e “sem alma”. Uma coisa seria se houvesse algum propósito por trás da declaração hostil de Biden, mas suas palavras, ditas quase gaguejando, não pareciam vinculadas a nenhum objetivo estratégico de política externa. Putin aproveitou ao máximo a asneira dita pelo “para sempre vice de Obama”. Depois de algumas reflexões filosóficas e sarcásticas sobre como Biden pode estar projetando suas próprias incoerências no cargo, o russo disparou que os Estados Unidos têm uma história sombria e, rapidamente, desafiou Biden para um debate público ao vivo pela internet, completando: “E quanto mais cedo for feito, melhor, mesmo que Biden precise de um pouco de descanso e tempo para se preparar”.
Biden até hoje, depois de três meses na Casa Branca, não encarou uma coletiva de imprensa sem jornalistas previamente escolhidos com perguntadas checadas. A eterna sombra de Obama não vai poder evitar a imprensa para sempre. Em breve, ele terá de enfrentar reuniões improvisadas com líderes estrangeiros. Estará preparado para a principal arena global depois de um ano de bajulação da mídia?
A Doutrina Biden coloca sangue na água. E os tubarões já perceberam isso. Os norte-americanos e o mundo ainda sentirão falta do agente laranja na Casa Branca e sua doutrina malcriada de impor respeito e paz por meio da força.
Leia também “Uma nova guerra fria”
Concordo com quad tudo, mas concordo com Biden sobre putin; ele é um assassino psicopata— qualidade essencial para um KGB. Este é um fato teimoso, e deve ser um dos paradigmas nas lidas com o governo russo
Muito bom esse artigo, parabéns !!!
Imaginem o que vem por aí com Kamala Harris, a lider do PSOL norte americano . Ana, o recall nos EUA também serve para Presidente ou só governador? Se sim após quanto tempo pode ser acionado esse importante instrumento democrático? Já começou algum movimento para aciona-lo contra esse estelionato em forma humana chamado Biden?
Brilhante texto. Parabéns Ana.
Impecável!
Chegará Biden ao final de seu mandato Ana? Conhecendo os Americanos e suas instituições acho que não. O que não deixaram as urnas fazerem, o povo fará e duvido, duvido mesmo que sua vice também o faça.
Parabéns! Belas e acertavas exposições. Fico mais apreciador de suas informações.
…valeu Ana…!! por ter assinado a Revista Oeste,… permitindo-me melhor enxergar as nuances da politica internacional…muito grato!!
Não dá pra acreditar que o povo americano elegeu uma pessoa como essa (uma farsa) como seu presidente (homem mais oderoso do mundo). Isso me convence mais que a eleição americana foi sim fraudada, por isso, temos que ter muito cuidado com a eleição brasileira e pressionar os deputados para aprovar o voto auditável.
O Biden: A Dilma de calças…
Política americana é com ela mesma. A mudança do poder mundial (em direção à China) vai deixar todos muito preocupados.
Ana Paula é uma grande analista de conjuntura: concilia conhecimento teórico com a empiria que a política fornece. Algo difícil atualmente de se fazer. Principalmente, na ciência política maisntream que deixou a política real em segunda plano.
Na minha avançada idade posso afirmar, como nos ensina essa menina Ana, tão nova e com tanto conhecimento da realidade politica e social dos EUA, do Brasil e do mundo. Parabéns Ana, continue atualizando à sociedade sobre a realidade politica e social das grandes nações, que nossos tradicionais e decadentes meios de comunicação intencionalmente desvirtuam.
Os próprios norte-americanos bobocas estão destruindo o seu país. Russos e chineses podem ficar de camarote só assistindo.
A peste chinesa instaurou o caos no Ocidente.
Meu receio é que Biden tenha sido escolhido para, no futuro, dar lugar à Kama Harris, notória esquerdista, o que tornaria pior o que já é ruim. Biden precisa ser submetido a uma intervenção psicológica pois tem notória dislexia.
Parabéns, Ana Paula. Muito bom artigo.
Gostamos mais uma vez do teu texto (falo sempre no plural porque a Sandra também lê a revista e a gente comenta). A tua sacada do sangue na água parece que é uma expressão popular viking… e diz tudo. Ademais, desfrutamos de informações que não estão no “público”. É uma pena que não podemos viajar e bater papo com amigos e amigas.
Se a nação mais poderosa (por enquanto) do mundo mostra todas essas fragilidades no xadrez político, como fica todas as demais? Serão facilmente engolidas pelos ávidos prováveis substitutos do Tio San .
Volta Trump, os EUA estão precisando de você.
Os textos da Ana Paula Henkel estão cada vez melhores. Parabéns!
Muito bom texto!
O difícil vai ser convencer os pseudo-liberais sobre os danos ideológicos, sociais e geopolíticos da “era” Obama. Este, que parece ser um mito para os ditos “progressistas”, foi, na realidade, um embuste que esteve o tempo todo a serviço do globalismo e da destruição dos valores da civilização ocidental.
E isto se deu para surpresa de NINGUÉM. Afinal, o “mito” Obama seguiu a trilha de todos os políticos do Ocidente, doutrinados pelos marxistas comunistas, AGORA, recrutados pelos globalistas – essa escoria milhardária de apádridas, amarais e apolíticos, TODOS PSICOPATAS MEGALOMANÍACOS VICIADOS EM RIQUEZA E PODER. Desde a conversão de Franklin Delano Roosevelt ao marxismo socialista Fabiano, seguiu-se – no Ocidente – uma serie interminável de “líderes” fajutos, corruptos de corpo e alma, comprometidos com a meta GLOBALISTA de derrubar a economia e a soberania de suas próprias nações, ao ponto de enfraquecê-las para que venham a se por de joelhos ante um governo central mundial – DOMINADO PELAS ELITES TRILHARDÁRIAS “DONAS DO MUNDO” – exercido por ENTIDADES DE “FACHADA” COMO A ONU, OMS, UNESCO, E TODOS OS SATELITES DA ONU, cuja finalidade única é servir de BIOMBO para esconder figuras macabras de psicopatas incuráveis empenhados em transformar o mundo inteiro num RESORT PARTICULAR privativo para seus reduzidos membros, QUE JAMAIS APARECEM EM PÚBLICO. Nem precisam, pois contam com seus CAPATAZES comprados – a preço de bananas – por eles. Vejam o caso de FHC. Um debil mental complexado até a medula. Um cretino que adoraria ter nascido francês e não se conforma POR JAMAIS TER-SE FEITO MAIS DO QUE UM TUPINIQUIM, na percepção desajustada dele, QUASE UMA ALEIJÃO. O paradoxo é que, quanto mais tenta se livrar mais se parece com o que abomina. Assim, nunca conseguiu parecer tupiniquim pu branco DE HONRA. Onde quer que ele esteja sobressai sempre sua AUTENTICIDADE PARAGUAIA. A começar pelos cornos dele (notadamente, a boca, o nariz, o cabelo e o trejeito) e, por fim, depois que abre a boca, seu PÚTRIDO CARÁTER que exala iniquidade de A a Z.
Se essas eleições não foram fraudadas, os americanos merecem esse entulho, infelizmente o que aparenta é que não foi uma eleição limpa, por isso acho estranha a passividade da população em aceitar essa marionete que está pondo em risco a soberania da nação mais poderosa e livre.
Ótimas reflexões, Ana Paula.
Biden foi vendido aos incautos como sendo um estadista; na verdade é uma fraude e não tardará para os que nele votaram se arrependerem.
Trump voltará em 2024.
Parabéns, Ana !
Trump irá fazer muita falta aos Americanos e ao Ocidente. Vamos lutar até o fim, perseverar sempre!
Com dois mandatos na Casa Branca, Barack Obama tinha tudo para deixar um legado de sucesso. Carismático, com excelente oratória, imagem e discursos fortes, tinha aquele ar presidenciável. O que poderia dar errado? TUDO! hahahaha
Ana, sensacional mais uma vez…
Quando os americanos se derem conta da m. que fizeram ao colocar essa múmia como presidente, será tarde.
Se eu fosse norte-americano já estaria com muita saudades do TRUMP.
eu nem sou e já sinto falta da forte presença dele no comando dos EUA.
Eu também!
Simples realidade. Tão simples que muitos chegam a não acreditar…
Ana Paula, artigo primoroso para ser esmiuçado em salas de aula.As verdades precisam ser ensinadas e debatidas.Biden já aprendeu a falar corretamente ou ainda está com a pronúncia ruim?Abriu as fronteiras para quem quiser entrar? Está fabricando dinheiro? Tudo que Trump fez para não ser servil a China está destruindo.Shame,shame on you.Apenas uma realidade que tenho presenciado frequentemente nós supermercados de São Paulo,a língua que ouço com frequência é o Espanhol,parece que estou na Argentina.Sim os hermanos estão falidos,quase cinquenta por cento de sua população na pobreza,com seu governo esquerdista e populista.Aprovaram a lei do aborto e a mulherada fazendo grandes comemorações nas ruas.Pode uma coisa dessa?