A vida do brasileiro não é fácil. Nunca foi, mas sempre conseguimos tocar o dia a dia com um otimismo inebriante, digno de embasbacar qualquer estrangeiro. Somos constantemente alcançados por tentáculos, vindos de várias partes, que impedem que a nação tome um rumo de verdadeiro progresso. Falo daquele progresso sem volta, quando ações que causariam retrocessos grotescos são colocadas num baú guardado no passado e apenas o horizonte à nossa frente brilha.
Temos um Estado inchado, onipotente e onipresente a quem temos de pedir bênção ou permissão para tudo. Temos uma Constituição extensa e confusa demais. Temos mais de trinta partidos políticos que trocam de opiniões e “princípios” como seus representantes trocam de roupa. Temos um Congresso abarrotado de parlamentares encalacrados com uma Justiça leniente, e que são protegidos pela mais alta Corte do país.
E essa Corte, que deveria salvaguardar a Constituição, por mais imperfeita que ela seja, com a atual composição de ministros se transformou numa corte política. Diante das mais absurdas e inconstitucionais decisões, o Supremo Tribunal Federal tornou-se a maior fonte de decepções, tristezas e incertezas. Não respeita mais o povo, a Constituição e nenhum braço importante de nossas instituições. Juízes de primeira e segunda instâncias, policiais, membros do Ministério Público. A atual insegurança jurídica causada pelo Supremo Tribunal Federal em razão das decisões tomadas em total desconformidade com as competências constitucionalmente estabelecidas afeta diretamente nossos direitos, garantias fundamentais e futuro.
Mas, se o STF é capaz de impor tanta instabilidade e apreensão, contribuindo de modo incontestável para a perpetuação da corrupção e da impunidade; se o Congresso, uma de nossas ferramentas de freios e contrapesos, se acovarda diante desses atos, a quem podemos recorrer antes que nosso último fio de esperança se esvaia em decepções diárias?
Acredito que, no momento, haja apenas um caminho para nós: a História. Em tempos de pura escassez de líderes inspiradores, é preciso resgatar os bravos exemplos não apenas de liderança, mas de resiliência, estratégia e inteligência emocional. Nosso Brasil não foi contaminado por agentes do retrocesso em poucos anos. E não será em um ou dois ciclos presidenciais, ou trocando algumas cadeiras do Congresso, que teremos ampliado nosso horizonte. Não estamos em uma corrida de 100 metros, mas em uma maratona olímpica. E, para isso, não podemos ser soldados de uma batalha. É necessário fôlego de general.
Usar princípios e valores essenciais como guia já se demonstrou prioritário por gerações e no enfrentamento de qualquer desafio. George Washington (1732–1799) é, sem dúvida, o personagem mais influente a enfeitar as páginas dos livros de História. Seu efeito no mundo é ilimitado. Contra todas as probabilidades de vitória, Washington liderou as colônias na luta com o Império Britânico para construir uma nação livre. Mais tarde, comandou o novo país durante os primeiros oito anos sob a Constituição e deu o exemplo para todos os futuros líderes. O primeiro presidente norte-americano decidiu fortalecer a América e fez exatamente isso, criando uma potência mundial que se tornaria o farol para a liberdade no mundo. Do seu legado, podemos utilizar métodos do estilo firme de administração e lições de comprometimento durante toda a Revolução Americana.
Além dos impactos mais óbvios que George Washington teve no país, foram incomensuráveis os efeitos que produziu no que mais tarde veio a ser conhecido como “espírito americano”. Para entender como isso ocorreu, convém compreender a personalidade, a moral e o sistema de crenças desse personagem. Embora pouco se saiba sobre sua prática doutrinária, ele era conhecido por ser um homem religioso — como a maioria na época — e frequentemente era visto orando. Washington nunca foi ferido em batalha, o que fez com que muitos de seus contemporâneos, amigos e inimigos, pensassem que ele tinha a proteção da Providência Divina. Na verdade, o próprio general disse isso, não de maneira arrogante, mas com humildade e gratidão por ter sido protegido de perigos enquanto cumpria seu dever militar. Orai e vigiai.
Muitos quando olham para uma pintura de George Washington imaginam um general destemido e imbatível, que derrotou uma grande potência. Destemido, sim, mas imbatível, nem tanto. O que poucos sabem quando seguram uma nota de 1 dólar, onde seu rosto está estampado, é que, apesar da pouca experiência prática na gestão de grandes exércitos convencionais, Washington provou ser um líder capaz e resiliente das forças militares norte-americanas durante a Guerra Revolucionária, e perdeu mais batalhas do que venceu. Antes de sua nomeação como chefe do Exército Continental, nunca comandara um grande exército no campo. A escolha de prioridades e estratégias que lhe rendeu vitórias cruciais — como a Batalha de Trenton, em 1776, e em Yorktown, em 1781 — foi o que fez uma revolução praticamente impossível contra um gigante avançar com sucesso.
Washington viveu e trabalhou com filósofos, pensadores, escritores e oradores brilhantes, como Franklin, Mason, John Adams, Jefferson, Patrick Henry, Hamilton, Madison, Dickinson. Apesar da frenética troca de ideias, quase todos esses nomes eram muito distantes academicamente de Washington. Ainda assim, nas três principais junções da fundação da nação norte-americana — a Revolução, a Convenção Constitucional e a escolha do primeiro presidente —, o líder escolhido foi George Washington. Em sua própria época, era visto como o homem indispensável, o Moisés americano, o pai do país. Por quê?
O próprio Washington não foi o mais brilhante intelectualmente dos Pais Fundadores. Ele não era o mais ambicioso nem o mais capaz. Na verdade, Washington não era um Thomas Jefferson. Nem um Alexander Hamilton. E certamente não era um Benjamin Franklin. Ele não elaborou a Constituição, mas a apoiou com ações e palavras. Representou tudo o que era a América e ajudou a dar o exemplo do que seria um americano. Liderou as pessoas implementando os pensamentos e planos de outras mentes brilhantes, para que o país um dia — um dia — viesse a prosperar. George Washington nunca foi o homem mais inteligente, espirituoso, ambicioso ou carismático, mas ele foi George Washington, e é exatamente disso que a América precisava.
Até hoje, Washington é considerado a força motriz que tornou possível o estabelecimento da nação. Antes e agora, ele é apontado como o “Pai dos Estados Unidos” e fonte de inspiração em momentos decisivos. Quando nos falta o ar em desespero contra algo injusto e maior, tento imaginar o que homens como George Washington nos diriam. Seus discursos caem como uma luva, ou como um cobertor quente em corações cansados, como andam os nossos. Em uma sociedade coberta de platitudes vazias e discursos imediatistas, é um alento mergulhar no universo de quem esteve em situação muito pior do que a nossa e deparar com mensagens como esta: “Quanto mais difícil for o conflito, maior será o triunfo. A felicidade humana e o dever moral estão inseparavelmente ligados.”
Somos um povo apaixonado, feliz por natureza, mas que está cansado da luta diária contra um emaranhado de configurações políticas que insistem em frear nosso desenvolvimento como nação. É fácil desanimar, confesso. Mas é necessário seguir. Se não há líderes como antigamente, que sejamos os líderes inspiradores em nossa família, em nossa comunidade, com os amigos. Que tentemos incorporar características desses grandes homens nos sonhos, sim, mas principalmente nas ações do dia a dia, com pragmatismo. Não precisamos vencer toda as batalhas, mas precisamos vencer as “batalhas certas”. Durante os oito anos da Revolução Americana, o General Washington gastou muito mais tempo, pensamento e energia como organizador e administrador das forças militares do que como estrategista militar tático. Sem a liderança persistente e inteligente de Washington, o Exército, como organização, teria entrado em colapso de dentro para fora. Ele enfrentou alistamentos de curto prazo, deserções, precariedade de armamentos para os soldados, congressistas e legisladores estaduais lenientes, traidores do movimento. Mesmo assim, muitos combatentes e civis confiaram nele, acreditaram nele, o amaram e permaneceram com ele e suas ideias.
Em 1778, a batalha em Monmouth, New Jersey, também revelou sua liderança carismática e genialidade como estrategista de campo. Nessa batalha crucial, as tropas americanas estavam em retirada e total desordem quando Washington assumiu o controle. Hamilton disse que sua presença interrompeu a retirada, e sobre esse episódio escreveu: “Outros oficiais têm grande mérito em desempenhar bem suas funções, mas ele dirigiu o todo com a habilidade de um mestre operário. Nunca vi o General com tanta vantagem”. Os britânicos, mesmo em maior número, acabaram se retirando para Nova York.
Não podemos desanimar, é tudo o que eles mais querem. Nossa “revolução” não acontecerá depois de alguns embates. Tampouco ela está perdida porque colecionamos mais derrotas do que vitórias até aqui. Seja um soldado desse tipo de general, mesmo que ele esteja presente apenas em espírito e em nosso coração. Talvez George Washington não seja apenas o “Pai dos Estados Unidos” como exemplo de perseverança em tempos impossíveis, mas de todos nós.
Bravo!
É muito bom ler um texto que nos abre um campo de visão do possível, inspirador e reforçador da Liberdade e Responsabilidade que todos temos em nossas vidas particulares e coletivas. Navegar é preciso, mesmo na tempestade!
Obrigado!
Musa dentro das quadras e articulista exemplar fora delas. Obrigado por nunca desistir do Brasil, Ana Paula #5!
Certamente um homem cheio de defeitos, mas com as virtudes perfeitas para o momento. Sigamos então o que temos e o que mais se assemelha a esse espírito de liderança destemida e inaderente à corrupção
Muito bom artigo, Ana! A fé , a esperança, o caráter caracterizam um líder. Aprendamos com a vida de Washington, pois o nosso país precisa de líderes, de cidadãos que empunhem a nossa bandeira e a baioneta da fé, da esperança e da retidão de caráter, que dêem exemplo, que se dediquem a causas nobres, que trabalhem pela Nação, que olhem para o alto e para o próximo.
Nos incentivastes por meio de um gigante. Só uma atleta olímpica para isso. Encontramos o Bernardinho da Direita. Bj.
Bravo!!
Parabéns Ana , pelo belo e oportuno texto .
Excelente. Além do texto em si, uma breve aula de história. Parabéns Ana.
Sensacional.
Um dos artigos mais lindos e bem escritos que li nos últimos tempos. Uma aula de história além de um alento nesse mar de desesperança.
Espero ansiosamente cada edição dessa maravilhosa revista.
Parabens Ana Paula !! Seu texto é um biotônico para a nossa nação sofrida !!
Fico me perguntando como vamos mudar essa “turma do atraso ” com estas instituições
corrompidas.
Artigos como esse nos inspiram a continuar a batalha. É árdua, mas chegaremos ao final com a vitória garantida.
Nos faz ficarmos enojados !
Sua perseverança vem como um bálsamo em nossos corações cansados de conviver com tanta lama,com tanta promiscuidade !
Voltava eu no último fds da Serra gaúcha e me dirigindo à capital ,quando me deparei na estrada com um painel de publicidade aonde estava escrito :
Está provado ,Lula livre !obviamnte pago pelo sindicato local !
Nosso asco por esse mar de mentiras ,nos faz dicaremos enojados !
E vem vc contrapondo à tudo isso!
Obrigado Ana
Muito obrigado Ana Paula!
Ana, excelente texto… Mais uma vez!
Mais um ACE, de nossa musa inspiradora. Como em 2.013, quando decidimos nas ruas retomar o PAÍS, honrar nossa bandeira, culminando em 5 anos com o fim do conluio entre os 3 poderes, começamos com poucas ANAS, alguns FIUZAS, tipo essa gente que nos honra, da OESTE e JOVEM PAN.
Gente destemida, determinada, que aos poucos viraram o próprio símbolo da retomada da República Federativa do Brasil. Neste 1o. De maio, último sábado, a própria imprensa dependente de nosdos impostos, ao não divulgar a IMPORTÂNCIA DA MOBILIZAÇÃO ORDEIRA, provou estarem acuados os intrometidos que ainda invadem “instituições oficiais” , como se já não tivessem perdido as últimas guerras.
Que forças Divinas conduzam o nosso Messias, o nosso capitão dos capitães, aos generais que bem sabem o caminho para que o congresso fisiológico, nos devolva a honradez e dignidade:
VOTO IMPRESSO EM URNAS ELETRÔNICAS
PEC DA BENGALA
PEC DA PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA
Espetacular, Ana! Seu texto estava incrível. É daqueles que desperta o melhor que temos em nós. Revigorante. Uma injeção de adrenalina. Parabéns!
Inspiradoras palavras. Vejo suas palavras impressas nas ruas deste imenso país por ocasião do 1 de maio de 2021. Estas ruas que presenciaram estes gritos incontidos de melhores dias, haverão de se transformar em monumentos imateriais desta mesmo povo. Parabéns!
Excelente texto, como de costume sÃO OS SEUS TEXTOS. bASTANTE INSPIRADOR.nOSSAS DIFICULDADES PASSARÃO. Uma das maiores, talvez a maior nestes dias, é o indígno STF. . Mas seus atuais componentes, que nunca foram juízes, não são eternos. Um dia passarão, um por um. Quanto ao Congresso, cabe a nós.os eleitores não desistirmos e lutar pela mudança do atual sistema pôdre. Um dia estabeleceremos o voto distrital puro, com direito ao RECALL ou deseleição dos cretinos que para lá mandamos. É difícil, pois a mudança terá que ser primeiro da própria mentalidade dios eleitores.
Sempre um prazer ler seus artigos. Concordo, temos de continuar a luta, mesmo sabendo que somos mais de cem milhões da analfabetos funcionais, sem condições de entender o seu belo texto. E ,ainda, mesmo sabendo que o Brasil ,como bem disse Osvaldo Aranha ” … é um deserto de homens e ideias” , temos de lutar.
Excelente texto, Ana Paula. Parabens pela sua altivez, clareza e otimismo, contra um mar de negatividade e mesquinhez.
Não podemos desanimar.
É verdade.
Parabéns pelo belo texto, que ele nos inspire. Não podemos desistir de lutar pela decência em nosso país.
Obrigado, Ana.
Inspirador. No decorrer da leitura, alguns personagens do nosso Brasil se encaixam . Parabens.
Após um ano acompanhando os artigos da Ana Paula aqui na Oeste, não poderia esperar outra coisa senão essa postura destemida de quem sabe que está no rumo certo da existência, e como em qualquer jornada há de existir obstáculos, uns tantos mais difíceis e demorados de serem superados, mas que jamais devemos desistir de enfrentá-los, pois isso seria abdicar dos princípios que justificam uma vida plena, bem vivida. Tamo junto!
Eu e a Sandra gostamos, mais uma vez da tua inspiração. Estamos ao teu lado contra inimigos inimagináveis, colegas de profissão que não sabem o que dizem e cometem injustiças contra tua liberdade. O Casagrande não chega aos teus pés em termos de sabedoria e conhecimento. Deus teu ilumine sempre.
Menina, não é atoa que você foi campeã olímpica, e mais de uma vez. Lutadora! Desistir, jamais!
É um alento ler um texto como esse . Parabéns Ana
Que belo texto Ana. Nos ajuda muito nessa espera por um George e nos protege de ficarmos esperando Godot. Abraço
Perseverança no que julgamos certo e justo.
É bastante provável que o general da nossa inevitável revolução seja um ex-capitão do exército brasileiro, elevado, pela maioria dos eleitores brasileiros, a comandante supremo das nossas três armas.
Não é possível traçar um paralelo entre Washington e Bolsonaro. Washington não protegeria filhos corruptos nem desmantelaria o combate à corrupção. E ainda, não tergiversaria com políticos e religiosos desonestos. Nossa república não gerou um único estadista digno deste nome.
Já li o artigo da @AnaPaulaHenkel, mais de uma vez, e não vi em momento algum o paralelo que você incita.
O artigo é primoroso em demonstrar que pessoas imbuídas do objetivo de melhorar o país não medem esforços em buscar seus objetivos, independente do inimigo a enfrentar.
Não concordo que Bolsonaro tenha desmantelado o combate a corrupção, mas se ele não for um líder capaz de combatê-la, que continue sendo ao menos um líder que não a incentive, nem participe diretamente, como fizeram seus últimos antecessores.
Meu Deus, geração Paulo Freire. Onde o artigo da Ana compara GEORGE WASHINGTON com BOLSONARO??!!! Que viagem! Ela está falando de cada um de nós.
Washington é, de fato incomparável. Mas pondero respeitosamente com o senhor. Temos, e tivemos grandes nomes. Poucos é verdade. Mas tenho grande fascínio por Rui, por Mauá, por Euclides, por Machado, e pelo conterrâneo Adauto Lúcio Cardoso.
Me fez lembrar Ayn Rand, em A Revolta de Atlas: “Todo ato na vida do homem depende da vontade (…). As hordas de selvagens jamais constituíram obstáculos para os homens que marcham sob o estandarte da mente.”
Parabéns Ana, excelente texto.
Parabéns Ana Paula, sempre nos ensinando e alentando com seu enorme conhecimento da história politica e social do Brasil e dos EUA.
Sempre Lúdica, Sábia e Perspicaz! Parabéns pela injeção de ânimo em nossos Corações e Condutas! Desistir não é um opção para o Bom Brasileiro!
Vc é uma espécie d pulmão, Ana, nos dando alento. Obrigado por tudo!
Como é bom, importante e oportuno ler um texto como este que nos. enche de esperança. Meu filho que é marinheiro profissional me ensinou: “pai, durante uma tempestade, temos que nos concentrar apenas em ATRAVESSAR!!!”.
Vamos atravessar porque o povo brasileiro é. composto de 214 milhões de pessoas que levantam de manhã e tentam melhorar de vida até a hora em que vão dormir.
O Brasil é muuuuiiitoooo MAIOR que seus inimigos!
Parabéns Ana Paula por suas sempre bem vindas mensagens.