Antigamente imprensa era aquilo que te contava o que você não sabia. Antes de pegar o jornal na porta de casa de manhã podia ter caído um ministro ou estourado uma guerra e você só ficaria sabendo ali, com cara de sono e os olhos ainda embaçados, ao dar de cara com a manchete da primeira página. Ao longo do dia, sem ligar a TV você praticamente só sabia o que se passava na sua casa e no seu trabalho — e para estar em dia com o país e o mundo era preciso esperar a noite. Isso mudou — e não estamos falando da internet.
Hoje em dia pode acontecer de um país inteiro sair às ruas numa manifestação gigantesca e não sair nada na imprensa. Só um veículo ou outro registrando aquilo — ante o silêncio total dos que compunham o núcleo da “grande mídia” — leva até o cidadão a achar que as multidões que ele mesmo viu na rua foram miragem. O sujeito se belisca e corre para o médico perguntando se está vendo coisas (correndo o risco de o médico dizer que também não viu nada, dependendo do médico).
Corre então para o psicanalista, depois para o psiquiatra — que também estavam com a televisão ligada e não viram nada.
— Tem certeza que não foi sonho? — pergunta o doutor.
— Absoluta! Eu fui comprar pão e vi um monte de gente espalhada pela rua, gritando por liberdade.
— Liberdade? Estranho. Como elas estavam vestidas?
— De verde e amarelo.
— Verde e amarelo? No Brasil? Estranho…
— Será que eu estou tendo alucinações, doutor?
— É provável. Que dia você teve essa visão?
— Foram alguns dias. Mas a maior foi no dia 1º de maio.
— Hum… Esquisito mesmo. Espera aí, vou fazer um teste.
O doutor volta com as edições impressas dos mais tradicionais jornais do país do dia seguinte ao do problema relatado.
— Está vendo aqui? Nada. Nenhuma manchete. Possivelmente você teve mesmo um surto delirante.
— É grave, doutor?
— Não necessariamente. Tenho recebido outros pacientes com o mesmo problema. Pode ser uma síndrome psicológica contemporânea.
— Qual o tratamento pra isso?
— O mais importante é a segregação.
— Como assim?
— Evitar contato com outras pessoas que tenham essa mesma síndrome. Ou seja: não falar com quem anda vendo gente espalhada nas ruas de verde e amarelo. Isso é contagioso.
— Em quanto tempo eu vou ficar bom, doutor?
— Depende de você. Leva esses jornais aqui e lê tudo. Não deixa uma linha de fora. Quando você tiver entendido tudo que aconteceu no dia 1º de maio, pode passar pra edição do dia seguinte. E fique em casa.
— Posso sair de máscara?
— Não. O problema são os olhos. Na rua você pode voltar a ter visões de pessoas clamando por liberdade. Cada recaída vai multiplicar o tempo do tratamento, isto é, a quantidade de jornais que você terá que ler para se desintoxicar da realidade.
O paciente sai do consultório aliviado e confiante. Começa então o tratamento de imersão na grande imprensa e passa a se conectar com um mundo pródigo que o seu negacionismo estava rejeitando. Nesse mundo ele descobrirá que as ruas não são mais necessárias — porque existem as telas, e nelas a liberdade e a justiça estão sendo defendidas bravamente por Renan Calheiros. Como a sensação de que todos os problemas estão resolvidos pode dar sono, o tratamento inclui pequenos choques sonoros do senador soprano Randolfe — sempre pedindo a prisão de alguém aos gritos para te manter alerta.
O tratamento prossegue com as notícias de que o Supremo Tribunal Federal está reparando uma injustiça histórica ao inocentar o ladrão mais querido do país. Se você continuasse vagando pelas ruas em contato com a realidade — essa entidade reacionária — teria talvez a impressão de que esse ladrão é execrado e o STF é um lixo. Mas mergulhado na grande imprensa você jamais será acometido desses delírios raivosos. O amor bandido já está no segundo turno da eleição presidencial do ano que vem, franco favorito, praticamente eleito. Sem medo de ser feliz, de ser cínico, de ser egoísta, de ser hipócrita e de ser escroto. Troque o seu medo e o seu ódio pela empatia da grande imprensa por aqueles que realmente precisam de apoio e solidariedade para te assaltar sem culpa.
Quem precisa noticiar as vontades do povo — que está sempre cheio de vontades e nunca satisfeito — se pode noticiar as vontades do Renan Calheiros?
Outro dia Renan bradou contra as “baixarias”. Ganhou imediatamente todas as manchetes. Manchetes de uma imprensa que hoje se apresenta como gladiadora do bem contra o mal. É isso aí. Não pode haver dúvidas nessa fronteira entre o bem e o mal. E, se você recair e continuar dizendo que viu gente na rua em defesa da liberdade, os checadores vão checar você — e concluir que você não existe. Se cuida.
Leia também “O Brasil que a imprensa não vê”
Um deleite ler um texto bem escrito assim! Eu sou uma das invisíveis, que “não estive lá”, mas juro que foi IMENSO!!
A realidade é essa mesma. Uma imprensa espalhando o terror e torcendo para a turma do mal voltar.
Sarcasmo poético, parabéns grande Fiuza.
O amargor desse texto me deixa preocupada com nosso futuro, pois grande maioria da população votante ainda assiste a Globo e a esses jornais mentirosos que expoem diariamente inverdades ao povo.
GENIAL este texto!! Parabéns!!!
Parabéns Fiuza.
Dá vontade de fazer um vídeo lendo o artigo para publicar no Face. É claro, dando os créditos ao Fiuzza. Você permitiria Fiuzza?
Por esse prisma, a população e a mídia “do bem” também deveriam parar de falar do Lula. Sempre achei que esse inútil tinha que cair no esquecimento.
Excelente, como sempre!!
Excelente Fiuza. Realmente preocupante a forma como estão fazendo “a cabeça” da população: TV, jornais, revistas, redes sociais, etc. Vocês acham brincadeira quando dizem: a culpa é do Bolsonaro!! Essa “brincadeira” vai ficando no subconsciente da maioria da população e daí para a urna ….é um pulo. Psicologia pura mestre Fiuza. Resta salvar o jornalismo de vocês e denunciar sempre. Parabéns por mais esta matéria.
Sou seu Adimirador gosto do seu trabalho
A nossa imprensa é uma fábrica de mentiras com o intuito de atingir o Governo Federal e seus apoiadores.
… qual seria o remédio de menor amargor: deixar a livre imprensa atuar (mesmo com fake news e seleção de informação (ainda que o país no comando de um ladrão condenado sem provas plausíveis)); ou restringir- no sentido ditatorial, mesmo – a imprensa contrária à ideologia polícia de um potência tirano?… há amargor em ambas opções.
Nada além de manifestações sociais a ações de ideologias políticas distintas.
Choque sonoro do senador soprano… Boa, Fiuza!
Fantástico Fiúza! Parece que você me conhece! Eu já perguntei algumas vezes para a minha terapeuta se eu estava ficando maluca. Ela me respondeu com a maior serenidade dizendo que essa pergunta é a que ela mais ouve ultimamente no consultório ! Acho que essa ideia de loucura está no imaginário popular dado o grau de absurdo de inversão de valores morais! Pensei que era só na faixa etária dos 50 + , fiquei surpresa quando uma moça de 30 anos confessou que adotou determinada postura para não enlouquecer!😏
Fiúza o que me mete medo, talvez pavor, seja essa mesma informação ou contrainformação que estamos ignorando. Qual? Vou te contar: vou no quiosque da praia tomar uma cerveja e a senhora que nos serve grita em alto e bom som: “Bolsonaro está acabando com esse país”! Saio dalí, pego meu BRT e as conversas paralelas afirmam:”Bolsonaro só faz merda”! O que quero dizer é que quem elege o Presidente, Governador, Prefeito e toda classe política não é o leitor da Oeste, é o leitor da Globo, ou quem se limpa com o jornal O Globo! Ao não adimplirmos que grande parte da popularidade do Presidente está caindo lentamente pelos ataques frenéticos de Randolfe,pelas frases de efeito do vagabundo do Renan Calheiros, e da velha imprensa, talvez estejamos ficando cegos como todos eles….
Pedi a liberação da matéria sobre Alysson Paulinelli e fui atendido. Ouso pedir para liberarem está também, pois é de utilidade pública! Relata exatamente o caminho que a velha imprensa está tomando
Perfeito. De acordo.
Excelente, verdadeiro e de forma bem suave, mostra uma amarga realidade.
Que tristeza viver a realidade do Brasil de hoje
O que me mata é que aqui não temos UMA rede de expressão, como a Fox nos EUA, que seja minimamente conservadora…
Espetacular! Oeste é um bálsamo nessa fossa séptica escabrosa em que a imprensa se transformou.
Dá desespero ver tantos ainda imersos nas falácias da grande imprensa.
Bingo!
Tudo já foi dito. Parabéns.
Esse sarcasmo comedido do Prof.Fiúza, é só uma aula pra lembrar como caiu a Bastilha.
Dá-lhe FIUZA!!!
É impressionante como a lucidez, a inteligência e a visão da coisa como ele é, e óbviamente recheado de ironia e sarcasmo, como o Fiuza nos brinda sempre com um texto brilhante e elucidativo como este, fazendo-nos crer cada vez mais que, a revista “oeste” é o caminho que temos, juntamente com toda essa equipe de feras que ela compõe, a seguir. Parabéns Fiuza mais uma vez !
Ou deixar a pátria LIVRE ou morrer pelo Brasil……alguém menor de 30 anos sabe o hino da independência brasileira???
Excelente! Parabéns!
Fiuza, a liberdade foi aprisionada por onze “iluminados” que dão ordens a um congresso acovardado, o qual assina embaixo, avalizando essa ditadura aplaudida por uma mídia militante que está destruindo o País. Nem Marx e nem Gramsci, no maior devaneio possível, jamais vislumbraram o que acontece nesta agora, pseudo república. Até quando?
O que temos que temer hoje é o STF!
Bolsonaro pode até ganhar nas urnas, o que acho que ocorrerá.
MAS NÃO LEVA!!!!
Hoje acabou a Constituição e demais Leis. Não valem NADA!!
Qualquer leitura de leigo em Política, entende o que tem sido ¨tramado¨ é para abrir espaço para a esquerdalha.
O Ativismo Judicial dos membros deste STF é IMORAL. E vai continuar assim até as eleições.
Simplesmente espetacular. Com “pitadas”, digo, toneladas de ironia é isso mesmo que está acontecendo. Mas, não podemos desistir.
Non abbiate paura!
Aprendi hj no texto da Ana Paula que era uma frase do Papa JoãoPaulo II. O que valeu para a Polônia se livrar do comunismo vale para o Brasil se livrar dos escrotos, hipócritas, salafrários e por ai vai. Non abbiate paura!
A coisa é realmente engraçada: tenho notado q Essa agora nominada “velha imprensa” adorava fazer matéria num certo jornal Nacional sobre estradas “esburacadas ” Pontes “inacabadas” , caminhoneiros e seus caminhões em atoleiros, privatizações ‘bem sucedidas’ , algumas vezes sobre prejuízos de algumas estatais, e atualmentente parece q seus repórteres não mais conseguem passar nesses lugares outrora esfacelados; será q estão parados em alguma parte daquele muro q “separa o México do Brasil”? Será?
Fiuza, admiro seus comentários pela acidez, irreverência e, sempre, pertinência. Parabéns. Essa imprensa enganou o POVO brasileiro sempre. Basta uma simples reflexão do passado. Na verdade, enquanto seus interesses – dela, imprensa – estão sendo atendidas nas suas necessidades por dinheiro público, não interessa a origem do regime ideológico do político. Mas, apenas e tão somente do dinheiro que recebe.
Ironia com muita inteligência e verdades que deveriam nos acordar para tomar-mos as rédeas de nosso país que amamos tanto.
Perfeito, sua ironia brilhante. Parabéns
Caramba! Definitivamente fui retirado do meu conforto moral! Cogitei, cogitei, cogitei e destarte, concluí que Descartes está descartado.
Sensacional, Fiuza !
Com ironia e bastante inteligência, você detona a velha imprensa.
Parabéns !
Perfeito. Para piorar ainda existem robôs espalhando que existiram pedidos de liberdade, pedidos para que a Câmara dos deputados aprovem a prisão em segunda instância, pedidos para que aprovem o mandato máximo dos “iluminados” do STF em 8 anos, sem aposentadoria especial. Tropa de Elite 4, o inimigo agora está no supremo!
Dá medo mesmo. É uma agonia o que o país vive. Até quando?
Parece que o que li na minha adolescência o livro 1984, estou vivendo agora. Medo!!!
Espetacular.
Bem vindo a 1984.
queria processar George Orwell, hahahahha, por ter dado ideias aos nossos políticos. Tenho certeza que 1984 é o livro de cabeceira deles.
Nós não existimos mais mesmo. Apagadíssimos que somos dos destinos do País.
Precisão total do momento que vivemos no Brasil .
Como já postei algo lá no espaço do Guzzo aproveito para te dizer o seguinte sobre imprensa. Os jornais da RBS (Pioneiro e Zero Hora) durante a semana divulgaram matéria sobre uma operação policial que prendeu bandidos com armas, munições e drogas em geral. Sabe qual foi a manchete: operação policial encontra com bandidos caixa de invermecticina. É a pura verdade. Podes checar.
Retumbante como sempre! Senador “soprano” é impagável.
No meu tempo de Colégio, quando nem se sabia de “bullying”, ele seria o “Falafino”.
Assim como querem forçar a tal vacina, estão também forçando a pílula azul da matrix.
Melhor então falar que não viu nada sobre liberdade e fatos.Renan é o inquisidor mor da CPI e exige que os depoentes falem apenas sim ou não,isso é ser objetivo.Um verdadeiro vexame,brigas e baixarias.O tiro saiu pela culatra.
E digo mais Fiuza, caso necessário, teremos o 3* turno nas eleições de 2022, independentemente de ser ou não Legal.
Fiuza como sempre pontual. O irônico é que a realidade está suplantando o que pareceria loucura a dois ou três anos atrás. Estamos vivendo num livro de Garcia Marques ou Vargas losa mas com enredo e personagens da pior qualidade.
Fiuza, espetacular como sempre!!!
O que aconteceria se as multidões que saíram às ruas não voltassem pra casa e dali mesmo se dirigissem aos seus estabelecimentos comerciais abrissem as portas, abarrotassem os restaurantes, os cinemas, os teatros, festejassem com seus amigos, e na segunda-feira levassem seus filhos para o colégio como sempre fizeram e retornassem aos seus empregos presenciais, sim e compartilhassem suas ideias de viva voz cara a cara, deixassem a vida fake e voltassem ao mundo dos fatos?
Parabéns Fiuza. Você se superou nesse artigo
Guilherme Fiúza, vou te confessar uma coisa. Acho que você tem toda a razão. Mas não você, e sim a sua ironia. Dá um pouco de medo isso.
Aprecio o sarcasmo cuidadoso de Guilherme Fiúza