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Edição 64

Retrato de um Brasil que não existe

A revista inglesa The Economist colocou na capa sua denúncia sobre um país mórbido, amaldiçoado e respirando por aparelhos, justo no momento em que surgem as suas melhores notícias há pelo menos cinco anos

J. R. Guzzo

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O Brasil realmente não dá sorte com a imprensa internacional. O mundo gira, o tempo passa e nada de melhorar a ideia que os jornalistas de outros países fazem da nossa terra, nossas coisas e nossa gente; dos nossos governos, então, é melhor nem falar nada. Antigamente diziam que o sujeito podia ser morto à flecha ou comido por uma onça em plena Avenida Copacabana. Hoje dizem que o Brasil está praticamente morto, destruído pelas dez pragas do faraó e, para complicar, é governado por uma espécie de sub-Calígula tropical de direita que com certeza vai arruinar a humanidade se não for detido já, neste instante.

Talvez fosse melhor, pensando bem, ficar com a imagem externa que o Brasil tinha no tempo da onça em Copacabana. Pelo menos, naquela época, o que se dizia era a bobagem fundamental — ou seja, o despropósito em estado puro e simples, sem compromisso nenhum com qualquer fato, que podia incomodar os indignados de sempre e ferir o orgulho de um país caipira e inclinado a julgar-se mais europeu do que era, mas não passava muito disso. Hoje, além da coleção de disparates de ontem, é preciso ouvir prodigiosas lições de moral, discursos de correção política e teorias cansativas sobre administração pública. Ou seja: estão escrevendo que tem onça, querem explicar por que tem, e ensinam o que nós todos temos de fazer para sair dessa vida. Pior: a elite nativa acredita em tudo, fica agitadíssima e diz a si própria que desta vez, positivamente, está tudo acabado para o Brasil.

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