Na década de 1960, Paulo Francis, um dos mais brilhantes jornalistas nascidos neste país, fez a constatação: “O Brasil é um asilo de lunáticos onde os pacientes assumiram o controle”. Cinquenta anos depois, o que Francis diria dos piores momentos que marcaram os primeiros oito meses de 2021? Em Brasília, por exemplo, uma CPI criada com o objetivo de manter a pandemia de coronavírus na crista do embate eleitoral de 2022 agora mira sem disfarces a liberdade de imprensa.
Na última semana, o Circo Parlamentar de Inquérito ameaçou quebrar o sigilo bancário da rádio Jovem Pan, de uma produtora de documentários e de alguns sites conservadores. Como se não bastasse, o relator da CPI, presidida por Omar Aziz, é Renan Calheiros. O primeiro se envolveu até em acusações de pedofilia. Sobre o segundo pesam nove casos de polícia. As mais recentes arbitrariedades da trinca — completada pelo senador Randolfe Rodrigues — estão expostas na reportagem de capa, assinada pelo repórter especial Silvio Navarro, e no artigo de J. R. Guzzo.
Também em São Paulo os lunáticos assumiram o controle do asilo. Confrontada com a grande quantidade de habitantes que vêm rejeitando a vacina CoronaVac, a prefeitura da capital paulista teve uma ideia. Em vez de provar claramente a eficácia do imunizante — até agora não aprovado na Europa e nos Estados Unidos —, o prefeito Ricardo Nunes preferiu inventar o que a população já chama de “lei antisommelier”. Quem recusar a vacina disponível no posto de saúde naquele momento irá para o fim da fila do calendário de vacinação.
Além desse primor de criatividade arbitrária descrito na reportagem da editora Paula Leal, o governo estadual decidiu desovar a CoronaVac vacinando crianças com idade superior a 3 anos. Apesar de anunciada pelo governador João Doria, a medida sem similares no resto do mundo ainda não foi autorizada pela Anvisa.
O desfile de insanidades prossegue com a depredação de estátuas de personagens acusados de racistas (de Winston Churchill a Borba Gato), o passaporte de vacinação, a proibição do aperfeiçoamento das urnas eletrônicas e até, como Guilherme Fiuza define a volta de Lula aos palanques, “uma manobra do árbitro que recolocou no jogo o participante desclassificado por roubo”.
Se tivesse vivido para testemunhar o avanço da Operação Lava Jato, Francis se sentiria vingado pela descoberta do Petrolão, produzido pelo esquema corrupto chefiado por Lula. Nos anos 1990, o jornalista foi processado em Nova York pela Petrobras, que o acusou de ter caluniado seus diretores. No Manhattan Connection, gravado num estúdio em solo norte-americano, Francis dissera que todos eles tinham contas não declaradas na Suíça. A tensão gerada pela exigência da indenização de US$ 100 milhões precipitou o enfarte que o matou, em fevereiro de 1997.
Ficou provado que Francis acertara pelo menos parcialmente. Pena que a revanche tenha durado pouco. Em abril, com a anulação das condenações impostas a Lula, o Brasil criou a figura do ex-ladrão.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de redação
Excelente matéria, como todas da Revista Oeste. O Brasil não é para amadores, e quando o judiciário toma as vezes do legislativo e tenta tomar também o executivo, e ninguém toma uma atitude, a gente percebe que não existe futuro para o nosso país. Uma vez que a nossa única arma ERA a faxina nas urnas, pelo voto, agora até isso estão retirando do povo. E quem são os responsáveis por isso? Aqueles que não foram eleitos, mas receberam UM VOTO de UM CORRUPTO e daqueles que a própria população elegeu ( ou não) para defender seus direitos. Recorrer a quem????
As matérias são excelentes mas descobri que Lula e Dilma devem ser assinantes. Há sempre um ou dois “dislikes” (Detalhe, quando há somente um é porque a Dilma leu e não entendeu a matéria).
Enquanto Lula estiver reabilitado para se candidatar eu não reconheço a legitimidade do Supremo Tribunal FEderal. E fodam-se esses 11 malditos que lá estão. Se esse país quer estar em paz com sua consciência todos deveriam fazer o mesmo ate´ termos a renúncia coletiva dos 11.
Parabéns à equipe da Revista Oeste, pelo compromisso com um Brasil melhor!
A divulgação de fatos sem manipulação, da notícia comentada com competência e o foco na cidadania tem destacado o jornalismo da revista. Muito obrigado.
Um forte abraço a todos,
Carlos Rocha
Aquilo que mais revolta é a bandidagem vinda diretamente do STF, da anulação dos processos contra um bandido de nove dedos que infelizmente chegou à presidência, o fim da Lava Jato, essa CPI circo de mentiras, a covardia de senadores e deputados por não terem a dignidade de serem honestos e de usarem da insanidade (bem citada por Paulo Francis) para afirmarem que o errado que fazem seja certo. Imoral!
Mais uma edição magnífica da Oeste. Um dos poucos feixes de luz na escuridão da ignorância que ofusca o bom senso no Brasil.
Verdadeiro, este país está na mão de corruptos conhecidos. Temos que virar esta página a qq preço.
Isso é uma vergonha!!!
No Planeta dos moluscos, isentão é quem veste Vermelho.
À lá lanterne!!!! (Chupa no Google, rapaziada!)
Branca Nunes sensacional. Coloca todo o sistema no banco ( da Praça da Alegria, calaro!).