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Foto: Montagem com Imagens Shutterstock/Redação Oeste
Edição 80

A ciência agoniza no tribunal

Se a ditadura sanitária não virar ditadura total, as decisões ilegais e anticientíficas serão expostas, e seus autores responderão por isso

Guilherme Fiuza
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O transcurso desse experimento insano para a criação de cidadãos de segunda classe ainda dará muitas voltas. Por enquanto, o problema maior é que a frase acima, um primor de caricatura conspiratória, é hoje a pura realidade. Boa parte do rebanho aceita docilmente um cartão que o permite viver em sociedade — em detrimento dos semelhantes a quem é negado esse privilégio (para o discreto e inconfessável prazer dos “consentidos”). Quem está curtindo discriminar e alijar? Fica a indagação sincera.

Mas não são todos. Uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro mostrou que a sociedade ainda não está inteiramente amaciada para a apoteose totalitária. Em cerca de 24 horas a decisão foi cassada no STF — essa Corte austera e que nunca faz política, só nos dias pares (ou, se a vontade apertar, nos dias ímpares também). Ainda assim vale observar o que escreveu o desembargador Paulo Rangel ao suspender o decreto brutal do prefeito Eduardo Paes. Depois veremos também o que disse o ministro Luiz Fux para matar no peito a decisão da Justiça do Rio de Janeiro.

O decreto totalitário do prefeito carioca Eduardo Paes é fundado numa falsa ética de proteção coletiva, já que a obrigatoriedade da vacina contra covid não impede o contágio e despreza os riscos ainda não completamente estudados dessa suposta imunização. Acompanhe esse trecho do habeas corpus coletivo concedido pelo desembargador Paulo Rangel:

“O decreto divide a cidade em dois tipos: os vacinados e os não vacinados, impedindo os NÃO VACINADOS de circularem livremente pelos locais em que cita do Município do Rio de Janeiro com grave violação à liberdade de locomoção. O Prefeito está dizendo quem vai ou não andar pelas ruas: somente os vacinados. E os não vacinados? Esses não podem andar pela cidade. Estão com a sua liberdade de locomoção cerceada. Estão marcados, rotulados, presos em suas residências. E, por mais incrível que pareça, tudo isso através de um decreto.”

Luiz Fux não quis saber desse argumento — nem de nenhum outro alusivo ao atentado contra a liberdade

A decisão assinala então um aspecto primário do decreto disforme que transforma a capital da rebeldia em capital da subserviência ao controle discricionário: “A hipocrisia chega a tal ponto de não se perceber que o transporte público (BRT) anda lotado de gente. Metrô, barcas, ônibus idem.” O desembargador Paulo Rangel continua sua argumentação demonstrando que entendeu perfeitamente os intuitos essenciais daquilo que, na fachada, é apresentado como segurança sanitária:

“A carteira de vacinação é um ato que estigmatiza as pessoas criando uma marca depreciativa (…) com nítido objetivo de controle social. O propósito é criar uma regra não admitida juridicamente, mas que visa a marcar o indivíduo constituindo uma meta-regra que está associada ao estigma do NÃO VACINADO.” Para quem ainda não entendeu o propósito real, Rangel faz questão de ser claro e direto na descrição do que se passa: “É uma ditadura sanitária. O decreto quer controlar as pessoas e dizer, tiranicamente, quem anda e quem não anda pelas ruas da cidade”.

A decisão do desembargador Paulo Rangel traz exemplos históricos de uso da doença ou do medo para subjugar populações e usá-las para espalhar discriminação e perseguição entre os próprios cidadãos. Claro que ele passa pelas experiências fascista e nazista. E projeta: “O próximo passo no Brasil é insuflar os vacinados a denunciar e reagir contra os não vacinados, acusando-os de serem vetores de transmissão do vírus. Mas não esqueçam que vacinados também estão contraindo a doença”.

O ministro Luiz Fux não quis saber desse argumento — nem de nenhum outro alusivo ao atentado contra a liberdade, ao efeito discriminatório e estigmatizante. Fux aproveitou para derrubar também, já que estava com a caneta na mão, a decisão da desembargadora Elisabete Filizzola, igualmente do Rio de Janeiro, que dava a dois clubes o direito de suspenderem a obrigatoriedade do cartão de vacinação contra covid — em outra decisão bastante eloquente sobre a ineficácia do famigerado passaporte como medida de bloqueio do contágio. O presidente do STF nem esperou a apreciação das duas decisões — um habeas corpus e um agravo de instrumento — pelo Tribunal de Justiça do Rio. O telejornal não pode esperar.

Se a ditadura sanitária não virar ditadura total, as decisões ilegais e anticientíficas serão todas expostas, e seus autores responderão por isso. Para que isso aconteça é preciso que o número de cidadãos dignos supere o dos covardes.

Leia também “Cidadãos de 2ª classe, cobaias de 1ª”

26 comentários
  1. Pedro Abilio R Reseck
    Pedro Abilio R Reseck

    A ciência médica está sendo diariamente estuprada por leigos travestidos de políticos e Ministros . Nao sabem o que falam .

  2. DANIEL FERNANDES
    DANIEL FERNANDES

    Fiuza, poderia fazer também uma matéria sobre as empresas que não “obrigam” os funcionários a se vacinar, mas manda-os embora por justa causa caso não o façam…

  3. William Bonfim
    William Bonfim

    A atual composição do STF é a maior desgraça que já ocorreu ao Brasil.

  4. Claudio Haddad
    Claudio Haddad

    NA VERDADE, NINGUEM SABE NADA,. SOMOS COBAIAS DE UM EXPERIMENTO MUNDIAL, ONDE AS CONSEQUENCIAS, SÓMENTE SERÃO CONHECIDAS NO FUTURO.

  5. Carlos Benedito Pereira da Silva
    Carlos Benedito Pereira da Silva

    Parabéns Fiuza. Não fosse o fato do ministro presidente do stf, ter suprimido instância, contrariando a própria jurisprudencia do stf e do STJ, se aceitaria a decisão do ministro, embora absurda e inconstitucional. Definitivamente so stf para voltar a ser o STF terá que sofrer radicais mudanças.

  6. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse STF nunca se meteu em nada, desde Sarney até Temer, por que isso agora, ele se mete em tudo. Isso é uma corte de justiça ou uma delegacia itinerante?

  7. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    Estamos juntos, Fiuza. Recentemente, os sindicalizados de um sindicato totalitário na Áustria ou Austrália quebraram o sindicato no pau e botaram os sindicalistas para correr debaixo de vara porque estes decidiram obrigar aqueles a tomar a vacina contra a Covid-19 com a autoridade vinda não se sabe de onde. Começou a rebelião. Já era hora.

  8. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Fux é o cara que manteve durante 4 anos LIMINAR para pagamento de AUXILIO MORADIA à todos juízes, procuradores e assemelhados com direito a receber duplo auxílio, àqueles casais com a mesma profissão, como parece ter recebido o casal Bretas (JUIZ FEDERAL) do RJ.
    Vale dizer que essa liminar só foi suspensa por FUX quando a nobre CORTE recebeu aumento salarial de 16,38%. Gente nobre é outra coisa neste pais pobre.
    A revista oeste poderia nos contemplar com matéria de quanto nos custou esse imbróglio aos contribuintes brasileiros nesses 4 anos, ressaltando os casais beneficiados e se o AUXILIO MORADIA era reembolso do valor efetivamente pago ou valor estabelecido mesmo que o beneficiário pagasse valor menor.

  9. Valton Sergio von Tempski-Silka
    Valton Sergio von Tempski-Silka

    […] O próximo passo no Brasil é insuflar os vacinados a denunciar e reagir contra os não vacinados […] Com efeito, as “denúncias” da vizinhança, envolvendo principalmente pequenos empresários (impedindo-os de receber seus colaboradores para trabalhar), começaram já na largada do “terrorismo sanitário” insuflado pela mídia. O medo do vírus diabólico passou a competir com o medo da turba enfurecida na caça ao “bode expiatório” (o povo judeu que o diga). Agora, a mesma mídia que alimenta “pogroms” localizados de prospectivos causadores da peste elegeu o bode mor, o presidente da República, incitando o “todos a ele” do desencadeamento da violência.

  10. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Ótimo artigo. Parabéns Fiuza.

  11. Alberto Garcia
    Alberto Garcia

    Vejo muita queixa e nenhuma solução.
    Em 2022, pergunte ao seu senador, e vote nele se é a favor de:
    1- O ministros do STF serão escolhidos pelo povo, com mandato de 8 anos (sem reeleição);
    2- Os candidatos precisam ser juízes de primeira instância.

  12. Claudio Haddad
    Claudio Haddad

    PASSAPORTE SANITARIO- NEOLOGISMO DOS PASSAPORTES INTERNOS DOS PAISES COMUNISTAS, EXISTENTES DESDE STALIN E LENIN

  13. Roberto Fakir
    Roberto Fakir

    Bolsonaro está assistindo essas bizarrices de camarote. Quando chegar o Carnaval o Eduardo Paes dará a carta de euforria ao carioca besta. Se o carioca besta votar nesse prefeito aloprado novamente é porque merece sofrer.

  14. Roberto Fakir
    Roberto Fakir

    João Doria prometeu para o Eduardo Paes que iria obrigar os cidadãos a apresentarem o passaporte em alguns eventos aqui em São Paulo. Só que fez o Eduardo Paes de tonto e deixou o “nervosinho” sozinho com a broxa na mão. Aí o “nervosinho” recorreu ao amigo Fux que passou vergonha. E assim caminha a humanidade. Até onde? Kkkkkkk

  15. Odimn Pesch Badotti
    Odimn Pesch Badotti

    A maluquice tem seu ápice, Fiuza, no fato que os órgãos de saúde já poderiam disponibilizar um relatório sério dos casos e mortes em vacinados, incluindo os tipos de vacina, mas não…..transparência passa longe dessa gente. Impressionante! Médicos sérios já relatam 80% de novos casos em já vacinados.

  16. Alice Helena Rosante Garcia
    Alice Helena Rosante Garcia

    Muito bom Fiuza, incrível como a ciência se transformou em moeda de troca desses politicos inqualificáveis. Triste, Isso precisa acabar.

  17. Marcelo Paganotti Cunha
    Marcelo Paganotti Cunha

    Assim é. Obrigado por este texto, Fiuza.
    Óbvio, evidente. Esqueceu o “supremo juiz” o que os pares da década de 40 passaram?
    A intrepidez deve entrar em cena. É tempo de parar este abuso totalitarista.
    SELVA!

  18. Lívio Túlio Baraldi
    Lívio Túlio Baraldi

    Parabéns, mais uma vez, Fiuza! Dá gosto ler seus textos!

    Gostaria de acrescentar algo ao debate: número de mortes (Fonte: Transparência Registro Civil)
    Em 2019 – 1.273.710 (106.143/mês)
    Em 2020 (Pandemia) – 1.465.274 (122.106/mês)
    Em 2021 (Pandemia e vacina) – 1.376.240 (152.916/mês) – Projeção 1.834.992

    Tem alguma coisa muito errada! POR QUE NINGUÉM MAIS FALA SOBRE O NÚMERO DE MORTES NO BRASIL? Está aumentando drasticamente!!!! Qual a causa esse ano?

  19. Patrícia Rossi Bruschini
    Patrícia Rossi Bruschini

    Os dias atuais me fazem lembrar do filme Gattaca. No filme os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios, as pessoas concebidas biologicamente são consideradas inválidas e as geradas em laboratório são as “ válidas”. Surreal ?

  20. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    não quero acrescentar nada ao teu brilhante comentário; mas, já vista uma carteirinha de saúde? Como as planilhas de informação sobre a estatística da covid, são preenchidas de forma bem simples (que deveria ser simples). Facilmente falsificadas. Além disto, uma pessoa pode ter sua bolsa assaltada e na hora da precisão (fiscalização ou entrada em algum lugar público) não terá como provar, porque o sistema de internet não foi bem organizado e sistematizado. Tu acha que políticos e pessoas diversas não conseguem “comprovante” que não foram vacinados com a coronavac para viajar e ir para suas residências faraônicas em Miami?

  21. Miguel Antonio Schuchovski
    Miguel Antonio Schuchovski

    O Fux é demente e inservíível.

  22. Alberto
    Alberto

    Esse é o “presidente”do “stf”. O idiota que BEIJOU OS PÉS de Adriana Anselmo, então esposa do bandido condenado a mais de 300 anos de prisão, Sérgio Cabral.
    E depois a extrema imprensa fica chateadinha quando pedimos encarecidamente às nossas gloriosas FFAA para que fechem essa pocilga e também o ninho de ratos.

  23. Tabajara Lucas De Almeida
    Tabajara Lucas De Almeida

    Qual a lógica de eu ser favorável a um passaporte de vacina?
    – se eu resolvi me vacinar, porque acho que a vacina me protege, não preciso temer o outro que não se vacinou, pois estou protegido.
    – se eu resolvi não me vacinar, porque acredito que a vacina não me protege – ou até mesmo pode me prejudicar – por que razão eu quereria forçar outros a se vacinarem?

  24. Daniel Baptista
    Daniel Baptista

    Parabenizo novamente Guilherme Fiuza por mais um belo texto e por ser o porta-voz dos amantes da liberdade através da incessante luta contra essa aberração denominada passaporte sanitário, medida totalitária digna de causar inveja à ditadores reais e ficcionais de todas as épocas. Agora, em forma de desabafo vos digo que começo a sentir raiva, algo que absolutamente não gostaria, dos que vem mansamente aceitando o controle tosco e consequentemente afiançando a inevitável submissão de todos.

  25. Rodrigo Botelho Kanto
    Rodrigo Botelho Kanto

    Citando Rousseau, nossos políticos “pelas coisas que veem, julgam coisas bem diferentes que não viram, e atribuem aos homens uma propensão natural à servidão pela paciência com a qual os que têm sob os olhos suportam a deles, sem que pensar que ocorre com a liberdade o mesmo que com a inocência e a virtude, cujo preço só sentimos na medida em que as desfrutamos e cujo gosto se perde assim que as perdemos.
    (…)
    Não é, portanto, pelo aviltamos dos povos subjugados que devemos julgar as disposições naturais do homem a favor ou contra a servidão, mas pelos prodígios que todos os povos livres realizaram para se garantir contra a opressão.
    (…)
    Perguntarei somente com que direito os que não temeram se aviltar a esse ponto puderam submeter sua posteridade a mesma ignomínia e renunciar, por ela, a bens que ela não recebe da liberalidade deles e sem os quais a própria vida é onerosa a todos os que dela são dignos”

    1. Mario Ralph Correa Filho
      Mario Ralph Correa Filho

      Fux, que nunca confiei e nunca me enganou é mais do mesmo nessa corte de excrecências. Palpitam em tudo que não é de sua competência nem conhecimento.
      , e pior, tratam a ponta-pés a constituição já tão combalida e desgastada em nossos tempos. Será preciso um levante para que não prosperem essas decisões absurdas desses indivíduos que não respeitam nada nem ninguém?

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