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Moradores de rua no Túnel José Roberto Fanganiello Melhem, no entorno da Avenida Paulista | Foto: Daniela Giorno/Revista Oeste
Edição 91

Carta ao Leitor — Edição 91

O abandono da maior metrópole do país e as consequências imorais das medidas de isolamento social estão entre os destaques desta edição

Redação Oeste
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A visão da cordilheira de arranha-céus sempre intimidou, para depois encantar, os que chegam a São Paulo. Mas a muralha de concreto com mais de 1,5 mil quilômetros quadrados, por onde se movem cerca de 12 milhões de habitantes por 17 mil quilômetros de ruas e avenidas, tem chamado a atenção dos visitantes e moradores não apenas por seus restaurantes tão diversificados quanto a gastronomia de Nova Iorque. Ou pela noite movimentada como a de Berlim. Ou pelos cinemas e espetáculos dessa Broadway brasileira.

Além dos buracos no asfalto e nas calçadas, semáforos quebrados já no início de qualquer chuva, imóveis pichados, rios fétidos, lixo transbordando, iluminação pública precária e canteiros abandonados, as regiões nobres e centrais de São Paulo assistiram nos últimos anos à multiplicação de favelas em miniatura. Esses assustadores amontoados de barracas mudaram, por exemplo, a paisagem das ruas que levam à Avenida Paulista, o mais célebre cartão-postal da cidade.

“No farol, na porta do supermercado, em frente à farmácia. Nas praças, embaixo de pontes e viadutos”, constata Paula Leal, na reportagem de capa desta edição. “Basta perambular por algumas regiões de São Paulo para deparar com a miséria e o abandono escancarado na maior metrópole do país.” Ou seria o abandono da maior metrópole do país? O paulistano ignora o nome do prefeito e também desconhece quem ocupa o Palácio dos Bandeirantes. Nenhum deles dá as caras nas ruas da cidade que escancara em cada esquina a incompetência da administração pública.

O último Censo da População em Situação de Rua, divulgado em 2020 com dados referentes a 2019, contabilizou quase 25 mil pessoas sem teto na capital paulista. “Estimativas mostram que o contingente de moradores de rua em São Paulo aumentou significativamente durante a pandemia de covid-19 e pode ter dobrado, aproximando-se de 50 mil pessoas”, registra a reportagem de Fábio Matos, que detalha o trabalho do Instituto ARCAH. Os projetos não configuram mero assistencialismo. Apostam na capacitação pessoal e profissional para oferecer uma oportunidade real de trabalho aos esquecidos do asfalto.

Em vez de culpar exclusivamente a pandemia, é recomendável contemplar os verdadeiros responsáveis pelo boom de mendigos, barracos e cracolândias ambulantes. Os governantes não se limitaram a abandonar a metrópole. Também impuseram medidas restritivas que paralisaram a economia e afetaram psicologicamente crianças, jovens, velhos e adultos.

“As evidências dos danos causados pelo lockdown estão aumentando”, mostra Joanna Williams, em artigo da revista britânica Spiked, publicado no Brasil com exclusividade por Oeste. “Todo dia surgem novas estatísticas que mostram o preço altíssimo que as restrições impostas pela covid-19 cobraram da vida das pessoas.” O lockdown foi uma política profundamente imoral, resume Joanna.

A paisagem da capital paulista nesta segunda década do século 21 é a prova disso. Pobre São Paulo.

 

Boa leitura.

Branca Nunes
Diretora de Redação

 

Moradores de rua na frente do Trianon-Masp | Foto: Daniela Giorno/Revista Oeste
4 comentários
  1. Daniel Miranda Lewin
    Daniel Miranda Lewin

    Realmente após o “lockdown”, aumentou muito a população de rua da cidade de São Paulo. Infelizmente, não vejo nenhum ator, nenhum político e nenhum manifestante do famoso “fique em casa, a economia a gente vê depois”, ajudar ou fazer campanha para ajudá-los. Desde o início da pandemia não houve em nenhum país uma ampla discussão para a melhor estratégia. Fomos engolidos pelo medo e pela imposição de políticas autoritárias. Peço reflexão de todos para uma ampla renovação dos nossos governantes de forma democrática em 2022.

  2. Hildo Molina
    Hildo Molina

    Realmente um descalabro. av. cruzeiro do sul (SANTANA-SP) em praticamente toda extensão, só barracos e cada vez aumenta mais e se estende para a periferia sem contestação pelas autoridades que a partir de janeiro vão nos cobrar o olho da cara em iptu. que raiva!

  3. Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva

    Nesse espaço tão reduzido, o anúncio de uma tristeza colossal.

  4. Edu B.
    Edu B.

    Ótimo resumo, Branca Nunes. Parabéns pela matéria, Paula Leal. Uma capa triste, como a cidade.

    Estamos largados às traças: Motos sem escapamento, ninguém respeita mais os semáforos, moradores de rua aumentando e se espalhando, sujeira, baile funk e de forró a madrugada inteira, comércios fechados que nem dá pra contar, transporte público sucateado… os problemas são inúmeros.

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