Farra carioca…
Quem esteve com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, nas últimas semanas tem opinião unânime: ele só deu o primeiro passo para anunciar o cancelamento do réveillon no início do mês — e depois voltar atrás, ao liberar os fogos de artifício pela cidade — por conta da pressão da imprensa e sobretudo para poupar o Carnaval da cidade. O anúncio de Paes, com declarações de que “respeitamos a ciência”, foi o caos para serviços que lucram com a virada, como hotéis. Na semana da declaração, a procura, que ia muito bem, caiu até 80% em alguns lugares.
…e baiana
Quem comanda algumas das festas ou camarotes da Marquês de Sapucaí também é unânime em dizer: o Carnaval carioca vai acontecer, com ou sem avanço da variante Ômicron no país. O otimismo não é o mesmo na Bahia. A dificuldade de prefeituras e empresas privadas que organizam festas está agora em atrair polpudos patrocinadores, como bancos e cervejarias. Elas negaram patrocínio para a maioria. Não por falta de dinheiro. Mas por não querer, neste ano, associar a marca com a festa do Carnaval.
De Salvador para o mundo!
Artistas que estão cancelando shows no Carnaval de Salvador estão abertos para conversar para festas e shows na mesma época em outras regiões. O único que se mantém firme e não se apresentará em nenhum lugar é Gilberto Gil, dono — ao lado da mulher, Flora — do Expresso 2222, um dos maiores camarotes do circuito Barra–Ondina.
Open bar diferente
A carteira de vacinação vai ser o principal documento exigido em algumas das festas de réveillon mais procuradas em praias do Nordeste. Em Itacaré, na Bahia, a festa organizada por José Victor Oliva terá um centro de monitoramento para detectar se os frequentadores estão com sintomas de resfriado e gripe. O open bar também não terá garçons servindo bebidas aos presentes. “Cada um se serve. O réveillon é só o início de uma forma de construir eventos no Brasil”, diz Ju Ferraz, diretora da Holding Clube, grupo paulista que organiza o evento e tem disponíveis menos de 10% dos ingressos para atingir a lotação. “Esperava aderência, porque todo mundo quer viver e agradecer por estar vivo e com saúde neste ano com tantas alterações, mas a gente não imaginava que fosse esse sucesso todo.”
Sem check-in
O Emiliano, símbolo de luxo no ramo hoteleiro em São Paulo e Rio, assina na próxima semana o quarto contrato da marca v3rso. O projeto é de autoria do CEO do hotel, Gustavo Filgueiras, e está centrado em expandir os negócios da rede, usando a grife de luxo numa versão mais em conta, mas com o mesmo padrão de qualidade. A gênese está no que Filgueiras pensa como sendo o futuro da hotelaria no mundo, com mais tecnologia no acesso a serviços e sem grandes interações humanas. Ele conta que muitos hóspedes atualmente não gostam nem que uma pessoa carregue as malas até o quarto — e aposta que check-in será coisa do passado. O v3rso expande para um público de 30 a 40 anos, mais jovens do que os tradicionais frequentadores do hotel (que estão na faixa de 45 a 50 anos), e por cidades brasileiras que buscam serviços de altíssima qualidade por até um terço de uma tarifa do hotel (em média, a diária no Emiliano da Rua Oscar Freire, em São Paulo, está em R$ 2.300). Nos próximos quatro anos, Filgueiras quer abrir 25 hotéis em parceria com incorporadoras no modelo v3rso no Brasil, em lugares como Londrina, Belo Horizonte, Curitiba e Fortaleza. Os investimentos da nova marca somam R$ 10 milhões nos próximos cinco anos.
Recorde em 2021
A circulação das pessoas nas metrópoles aumentou vertiginosamente o serviço de hotéis. Outubro, por exemplo, foi o melhor mês em faturamento da história do Emiliano, desde a fundação da rede, em 2001. Mais um recorde foi batido em novembro, superando em 20% o mês anterior. “Apesar do primeiro semestre ter sido desafiador, a retomada do último trimestre superou o orçamento esperado”, diz Filgueiras. Além disso, os pacotes mais caros para a virada do ano na unidade carioca do Emiliano, na Avenida Atlântica, em Copacabana, foram os primeiros vendidos. Para quatro noites, casais chegaram a pagar quase R$ 90 mil, incluindo a festa da virada, na piscina panorâmica. Há opções agora na casa dos R$ 30 mil, para quatro noites. A ceia de réveillon do hotel em São Paulo está em mais de R$ 5 mil.
Virada milionária
Sempre foi caro, mas neste ano está mais. O Copacabana Palace, fundado em 1923, cobra cerca de R$ 70 mil por um pacote do dia 28 de dezembro a 3 de janeiro, incluindo a festa da virada. Em São Paulo, o Palácio Tangará fecha atualmente apenas pacotes de seis diárias, incluindo a ceia de 31 de dezembro, pela cifra de R$ 28 mil.
Novo livro
Fenômeno de vendas no país, o padre Reginaldo Manzotti prepara um novo livro, com lançamento para março de 2022, editado pela Petra, do grupo Ediouro. A obra — ainda sem título definido — gera expectativa, porque os eventos do paranaense Manzotti, incluindo shows em cidades como Fortaleza, onde já juntou 1,2 milhão de pessoas na Praia de Iracema, sempre reúnem milhares de fiéis. O padre vendeu mais de 6 milhões de livros em 22 títulos, sendo Batalha Espiritual o principal e o mais vendido do país em 2017.
O fim dos carros populares…
No ano em que o Onix, carro de entrada da Chevrolet, passou a custar R$ 91 mil, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, dá um banho de água gelada. Para ele, também executivo da Mercedes-Benz, o carro popular no Brasil acabou — e não voltará mais. “Não existe mais a figura do carro pé de boi, sem segurança, sem airbag”, disse a Oeste. “A sociedade não aceita mais esse tipo de veículo. Para cumprir as exigências, como redução de consumo e de emissões, é preciso mais investimentos e, por isso, os veículos ficam mais caros. O carro básico não vai existir mais.”
…e a mudança do desejo do brasileiro
Pablo di Si, argentino que acaba de deixar a presidência da Volkswagen para se tornar líder do conselho de administração da montadora alemã, corrobora a tese de Moraes e explica que a segurança foi um dos maiores motivos para a empresa anunciar neste ano o fim do Gol, carro mais vendido da indústria automobilística do Brasil. Há 16 anos no país, Pablo foi um dos executivos do setor que mais fizeram pesquisas para identificar o desejo do brasileiro no tema carro. Há mais de 15 anos, os consumidores privilegiavam o preço — qualidade e segurança figuravam em sétimo lugar. “Hoje, tudo mudou”, conta. “Os consumidores querem design bonito, conectividade (seja do básico ao luxo) e, em terceiro lugar, segurança. Esse último foi o que me deixou mais feliz.”
Janela de uma nação
Em dezembro de 1951, a extinta TV Tupi colocava no ar a primeira novela brasileira, Sua Vida Me Pertence, com Lima Duarte. A produção não poderia imaginar que daria o pontapé em um dos principais e mais importantes produtos de entretenimento do Brasil, responsável por colocar milhões de pessoas diariamente na frente da televisão durante décadas. A influência e a relevância da novela brasileira perderam a potência de antigamente, mas ela ainda se mantém firme na grade de programação das TVs abertas: a Globo tem sete horários destinados às exibições de folhetins; o SBT, quatro; Record, três; e TV Brasil, uma. No total, 15 produções, entre reprises e inéditas. Para celebrar os 70 anos do formato no Brasil, data registrada na última semana, Oeste conversou com Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela USP e o maior especialista do gênero. Confira os melhores trechos da entrevista:
A novela no Brasil segue relevante?
É bem verdade que o gênero já não tem a mesma representatividade. As décadas de ouro da telenovela vão dos anos 1970 até fins da década de 1990. De qualquer maneira, o gênero segue em produção sistemática e é parte fundamental da indústria cultural brasileira. Ao longo de sete décadas, a telenovela revelou, sob o ponto de vista artístico, uma identidade nacional. Expôs nossas mazelas, nossos conflitos sociais, psíquicos e econômicos.
Quais foram as maiores novelas que consolidaram o gênero no Brasil nesses 70 anos?
2-5499 Ocupado (1963), Redenção (1966/1968), Beto Rockfeller (1968), Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972) e O Bem-Amado (1973), a primeira novela em cores e a primeira a conquistar o mercado estrangeiro. Mas há outros exemplos para a consolidação do gênero, como Gabriela (1975) e Escrava Isaura (1976). E certamente desdobramentos foram ocorrendo para a permanência do gênero, como Os Imigrantes (1981), Pantanal (1990), Guerra dos Sexos (1983), Avenida Brasil (2012) e Os Dez Mandamentos (2015).
Gigantes do streaming — da Netflix à WarnerMedia (dona da HBO Max) — anunciaram interesse em investir na produção de novelas no país. O que podemos esperar delas no streaming?
A fórmula do velho folhetim resiste mesmo com a chegada do cinema, o advento do rádio e das revistas de fotonovelas e, enfim, com a criação da televisão. Resiste porque em seu DNA está a capacidade de se adaptar a novos tempos e o compromisso em refletir o público com o qual dialoga, por vezes influenciando-o, por vezes sendo influenciado. Daí o interesse dos gigantes do streaming em, acertadamente, incluir a novela em seu cardápio.
Com tanta novela, não há o risco de saturação?
Não. Creio num cardápio variado, a exemplo de filmes, séries e minisséries que compõem o amplo, rico e complexo comportamento humano.
Leia também “Elon Musk, a obra”
Tudo passa, os valores mudam. Os valores éticos não mudam, só se virarmos mutantes
Faltou lembrar Roque Santeiro
Adoro o Bruno.
Fazia muita falta uma coluna de notas curtas, ágeis e com o português impecável.
Também gosto muito dessa coluna ! Abs