Em outubro do ano passado, o país acordou com uma manchete que assustou até os plantonistas dos “direitos humanos” nas redações e nos famosos escritórios de advocacia. O narcotraficante André Oliveira Macedo, de 43 anos, conhecido pelo apelido de André do Rap na facção Primeiro Comando da Capital (PCC), saiu pela porta da frente da penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista. A soltura fora determinada pelo então ministro Marco Aurélio Mello, no apagar das luzes de sua aposentadoria do gabinete do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o promotor Lincoln Gakya, que enfrenta o PCC com os punhos erguidos há décadas, ao deixar a prisão, André do Rap fugiu para a Bolívia. Ele é um dos responsáveis pelo fluxo internacional de drogas escoado diariamente pelo Porto de Santos, onde a fiscalização é frouxa. Em 2019, antes de ser preso em uma mansão de luxo em Angra dos Reis (RJ), tinha lancha, helicóptero e dirigia um Porsche. Ao ganhar a liberdade, faltavam mais de 25 anos de cadeia para cumprir. Então por que foi solto?
Porque o Brasil é um país onde o crime compensa. A polícia prende, mas o Judiciário solta. Como não tinha condenação definitiva desde 2019, Marco Aurélio decidiu que ninguém pode permanecer mais de 90 dias em prisão provisória sem revisão, conforme determina o pacote anticrime aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado. Horas depois da concessão do habeas corpus, até o presidente do STF, Luiz Fux, reagiu com espanto e revogou a canetada. Tarde demais. O criminoso já havia cruzado a fronteira.
O ex-corruptos
Foi assim também em 2021 com os bandidos de colarinho-branco, os famosos assaltantes dos pagadores de impostos. Uma boa parte deles caiu na malha fina da Lava Jato durante os sete anos de duração da operação — que foi perdendo fôlego à medida que os arranjos políticos em Brasília ganharam envergadura. Um dos casos mais emblemáticos foi o do ladrão sincero Pedro Barusco, funcionário do terceiro escalão da Petrobras. Ao ser flagrado roubando o cofre da estatal, devolveu sem titubear US$ 100 milhões que estavam escondidos na Suíça. Em troca, a promessa de não passar mais de uma década atrás das grades.
“A coisa foi acontecendo, um oferece e o outro recebe. O relacionamento vai se estreitando e, quando a gente vê, está no meio desse processo. É uma coisa contínua”
O jornal O Estado de S.Paulo fez um levantamento no início do mês sobre a anulação de penas por tribunais superiores. O número é escandaloso: 277 anos. Como o STF não para, a reportagem de Oeste ultrapassou a marca de 300 anos. Ao menos 15 políticos tiveram suas condenações anuladas por tribunais superiores, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato é que o único político graúdo ainda encarcerado no Brasil é Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro. Ainda assim, ele está conseguindo, mês a mês, reduzir a pena de 400 anos de prisão — são 21 condenações. O ex-ministro Antonio Palocci também — até a tornozeleira já foi tirada.
Já o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, está preso num inquérito cuja base não tem respaldo na história. O STF inventou um guarda-chuva jurídico para prender quem critica as decisões dos magistrados. O mesmo aconteceu — como nunca antes neste país — com o deputado federal Daniel Silveira, do Rio de Janeiro.
O parlamentar foi preso não por ter roubado o país, como os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Delúbio Soares, mas por ter gravado um vídeo recheado de grosserias. Ambos têm como defensor o advogado Cristiano Zanin Martins.
Zanin estaria condenado ao eterno anonimato se não tivesse casado com a filha do advogado Roberto Teixeira, que virou um dos mais queridos amigos de Lula ao ceder-lhe gratuitamente o apartamento em São Bernardo ocupado anos a fio pela família do futuro presidente. “Ali Lula descobriu como mora gente rica”, observou Augusto Nunes, colunista de Oeste, num artigo publicado no portal R7. “Ali também aprendeu que é possível ser dono de imóveis sem perder tempo com regularização de escrituras. Ali acabou por tornar-se parceiro de Roberto Teixeira em negócios suspeitíssimos.”
Como alguns desses negócios aconselharam o sogro a não assumir ostensivamente a defesa do amigo no esforço para livrá-lo das descobertas da Lava Jato, o genro virou advogado de Lula. Também ganhou a admiração de ministros do STF, como Gilmar Mendes:
“Gostaria, neste momento, senhores ministros, e acho que falo em nome do tribunal, de reconhecer o brilhante trabalho da defesa. É um advogado que não se cansou de trazer questões ao tribunal. Muitas vezes, foi até censurado, incompreendido”
A origem dessa bagunça começou no dia 8 de março deste ano, quando o ministro do STF Luiz Edson Fachin anulou com uma só canetada todas as condenações do ex-presidente Lula — triplex do Guarujá, sítio em Atibaia e terreno do instituto na capital paulista.
“Verificou-se que os supostos atos ilícitos não envolviam diretamente apenas a Petrobras, mas ainda outros órgãos da administração pública.” Com essa frase, Fachin determinou que todos os processos envolvendo agentes políticos denunciados pela PGR, entre eles o do ex-presidente, deveriam ser transferidos para a Primeira Instância. A impunidade foi recuperada.
Há algo de errado com a Justiça de um país que se sente muito mais seguro juridicamente quando o Supremo Tribunal Federal entra em recesso.
— Augusto Nunes (@augustosnunes) December 28, 2021
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Só com a constitucional intervenção e a criação temporária e atuação de um tribunal superior militar isto pode ser resolvido. Não há outra solução devido a razões por demais óbvias e conhecidas por todos que pensam e são informados.
O ápice do absurdo do STF foi a soltura do narcotraficante. Depois disso, nada mais me surpreendeu. Deus tenha misericórdia de nós.
Esse sim. Um excelente artigo. Ao contrário do J. R. Guzzo que foi lamentável, totalmente dispensável. Parabéns Silvio Navarro.
Lamentável o artigo do JR Guzzo !!! Ele está parecendo um membro do STF , não aceita comentários sobre os seus artigos e ultimamente está atacando o presidente da república ostensivamente como os membros do STF .
É profundamente lamentável o ativismo ideológico de esquerda do judiciário, principalmente o STF. Mas é bom lembrar que a História demonstra que não existem situações eternas.
A única esperança, é torcer para em 2022 os eleitores não elegerem bandidos para o Senado Federal e Câmara dos Deputados, pois no momento em que o senado cassar um ministro do Supremo, os outros colocarão o rabo entre as pernas e passarão a cumprir sua missão; julgar conforme a Constituição Federal.
Sugiro que o jornalista publique, em resumo, as audiências dos presos da Lava Jato, como o de um dos donos do sítio, o Fernando Bittar, ao Juiz Sérgio Moro, entre outros. Os vídeos são cheios de revelações de como funcionava a troca de favores das construtoras e o tal partido petê. Por serem longos, a maioria das pessoas não assiste os vídeos, mas são reveladores e importantes para mostrar a verdade dita pelos próprios envolvidos.
Por muitas vezes me sinto um idiota cursando o bacharelado em Direito.
De quê adianta passar 5 anos na faculdade, se eventualmente togados e advogados de bandidos farão de tudo e mais um pouco por dinheiro e poder? As bases sociais, morais e virtuosas do Brasil foram completamente destruídas.
Enquanto não fizerem uma limpa neste STF, esqueçam!!!!!
Temos algo a extirpar para resgatarmos nossa nação: O STF, e monocraticamente. E só há uma forma do nosso exército, em quem podemos confiar.
RENOVANDO COMPLETAMENTE O SENADO FEDERAL.
Ali hoje 75% deles tem comprometimento com o crime organizado .
Mas já passa da hora de a imprensa séria reduzir o foco do Judiciário e cobrar do poder Legislativo um trabalho responsável de elaboração de leis, e sua aplicação, que verdadeiramente punam.
Enquanto Bolsonaro não agir como homem e deixar de ser um covarde bravateiro, e dá ordem às forças armadas para invadirem o STF e tirar de lá aqueles biltres esquerdistas, será daí para pior. Enquanto isso, o povo vai sendo jogado de um lado para o outro, igual a bola de ping pong. Presidente covarde! Permite que o STF faça o que quer e não reage.
O neologismo “descondenados” é bem adequado, parabéns! Foi preciso inventar a palavra para a situação, já que inocentado, ou absolvido, não se aplicam. Ainda veremos o STF mandar o Governo devolver o produto do crime aos desvondenados, já que não se tratou de crime.
Obrigado, Sílvio Navarro, pelo excelente artigo. Ele mostra quão absurda é a atuação dos ministros da Suprema Corte brasileira. A meu ver a maioria dos 11 ministros dessa corte são tão bandidos quanto os bandidos que eles protegem. Porque ninguém os pune eles tratam de anular a punição de seus colegas.
Se um condenado não pode ficar preso mais de 90 dias sem uma sentença, porque o Roberto Jeferson pode? A lei que vale para o André do Rapp não vale para o Bob Jeferson? Parafraseando o Mestre Guzzo, o que aconteceria se o executivo mandasse todos os 11 ministros do STF para a pqp? Eu adoraria estar vivo nesse dia!