“Em vários países e épocas, líderes de grupos que ficaram para trás, econômica e educacionalmente, ensinaram seus seguidores a culpar outras pessoas por todos os seus problemas — e a odiar essas outras pessoas.”
Thomas Sowell
O que você mais odeia na vida? Cada um tem a sua lista particular. Ela vai de “odeio suco de maracujá” a “odeio mulher de cabelo curto”. Vai de “odeio filmes musicais” a “odeio carro de duas portas”. E, claro, chegamos ao “odeio petista” e ao “odeio fascista eleitor do Bolsonaro”.
A palavra “odiar” já teve mais peso. Era usada com parcimônia. Hoje se vulgarizou. Todo mundo odeia muitas coisas. Ninguém mais se choca com declarações de ódio. Ficou tão barato quanto dizer “eu AMO batata frita com mostarda!”. As pessoas colocam coraçõezinhos em seus posts para reforçar a mensagem e arranjam outra coisa para amar de paixão. Ou odiar.
Esses pequenos ódios fazem parte da natureza humana. Mas, quando o grande ódio chega à política, a situação muda. Porque determina o destino de todos. O exemplo clássico: Adolf Hitler se elegeu com uma plataforma de ódio aos judeus. Deu no que deu.
Existe o ódio entre xiitas e sunitas (que devasta o Oriente Médio), entre católicos e protestantes (que provocou tantas mortes na Irlanda do Norte), entre os hutus e os tútsis (que matou centenas de milhares em Ruanda), entre turcos e gregos. E assim caminha a humanidade.
O Brasil tinha no máximo uma rivalidade com os argentinos, que acabava em piada e se resolvia no futebol. Não chegava a ser ódio. Hoje, a bílis da raiva parece ter envenenado os brasileiros por dentro. E todo mundo espera de 2022, que deveria ser celebrado como uma “festa da democracia”, um festival de ressentimento sem fim. Tudo diz que teremos um ano muito mais amargo do que tudo que provamos até agora.
O ódio na política brasileira existe desde quando índios temiminós e tamoios trocavam flechadas antes da chegada de Pedro Álvares Cabral. Esse clima foi piorando, ou amenizando em ciclos. O último ciclo de relativa harmonia aconteceu no momento em que o regime militar passou o poder para os civis, em 1985. Uma “frente ampla” garantiu a promulgação da Constituição de 1988.
A teoria da projeção
A partir de 1989, o petismo cresceu no panorama político brasileiro, com o conceito de exclusão. Quem não está com eles está contra eles. Quem não cultuava Luiz Inácio Lula da Silva era um traidor das “classes trabalhadoras”. Quem não carregava a estrelinha vermelha do PT no peito era um “neoliberal lacaio do imperialismo”. Negros devem ter raiva de brancos, favelados devem odiar a polícia, homossexuais devem detestar os héteros, e assim por diante. Ninguém fez mais força do que os petistas para rachar o Brasil entre o “nós” e o “eles”.
A presença do petismo na vida política brasileira pode ser medida por “foras”: fora Itamar, fora Collor, fora FHC, fora Temer (que eles mesmos elegeram), fora qualquer um que Lula não aprove. Com Jair Bolsonaro, a coisa complicou. Bolsonaro, com seus muitos defeitos, despertou uma contracorrente política poderosa que ninguém pressentiu e desafiou a velha ordem. Agora, neoliberal era pouco. O nível de ofensa subiu para “fascista”, “negacionista”. E “genocida”. A fábrica de ódio não conseguiu achar nenhuma xingação mais grave que essa até agora.
O fundador da psicanálise, Sigmund Freud, definia o ódio como um estado do ego que deseja destruir a fonte de sua infelicidade. Odiamos nos outros o que tememos em nós mesmos. Para que a gente pareça “bom”, é preciso projetar nossa maldade naqueles de quem não gostamos. E automaticamente passamos a odiá-los. O que nos serviria de alívio.
O psicólogo Brad Reedy define que o antídoto do ódio é a compaixão. Compaixão pelos outros e por nós mesmos. “Se nós encontramos partes inaceitáveis de nós mesmos, tendemos a atacar outros de forma a nos defender contra a ameaça. Se estamos de bem com nós mesmos, podemos encarar o comportamento do outro com compaixão. De certa forma, esse é o princípio básico do cristianismo. Mas isso funciona mais em relações individuais. Em conflitos coletivos, a situação é mais complicada. E às vezes uma certa dose de ódio pode até ser positiva.
O psiquiatra Kurt R. Eissler, por exemplo, reconhece que pode haver um “ódio nobre”, que leva as pessoas a, por exemplo, derrubar um tirano. As pessoas não se livrariam de Benito Mussolini ou do Isis com compaixão. O problema é quando o ódio em si passa a ser o condutor de nossas atitudes. Passamos a não somente odiar, como a amar o ódio. Odiar pode ser gostoso. Odiar vicia.
O poder da indiferença
E odiar limita nossa visão da realidade. Digamos que uma reportagem informe que uma guerra nuclear pode estar para acabar com a humanidade inteira. É um fato profundo, que deveria nos fazer refletir sobre a vida como um todo e o sentido de nossa existência. Mas nos comentários você encontra algo como “espero que caia uma bomba no Bozo, já que a facada não deu resultado”. Ou “tomara que acertem a sede do STF e acabe com aquela corja”. Qualquer assunto acaba do mesmo jeito: num ódio rasteiro e destrutivo que se alimenta do próprio ódio.
O escritor romeno Elie Wiesel escreveu: “O contrário de amor não é ódio, é indiferença”
Todos se lembram do que aconteceu durante aquele espetáculo diário de degradação que foi a CPI do Renan Calheiros. Todos os dias, o cirquinho era apresentado pela imprensa militante em todos os detalhes, o que incluía entrevistas, torcida, palavras de incentivo. A velha imprensa cumpria seu papel, e perdia um pouco mais de sua rala credibilidade.
Os que detestavam a CPI e seus integrantes acabavam fazendo mais ou menos a mesma coisa. Ao criticar a comissão, divulgavam a cada dia as palavras grosseiras daqueles políticos repulsivos e desonestos. Ao odiar a CPI diariamente nas redes sociais, davam palco a ela. Eu mesmo caí nessa armadilha. Nunca mais.
O escritor romeno Elie Wiesel, que viu sua família morrer no campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, escreveu: “O contrário de amor não é ódio, é indiferença. O contrário de arte não é feiura, é indiferença. O contrário de fé não é heresia, é indiferença. E o contrário de vida não é morte, é indiferença”.
Talvez Wiesel tenha mostrado aí um caminho a seguir nesses tempos tão tumultuados. O ódio não precisa necessariamente ser combatido com mais ódio, mas com indiferença. Não quero saber quem os petistas querem que morra. Simplesmente bloqueio. Não assisto ao Jornal Nacional. Não leio a Folha de S.Paulo.
Já sabemos quem quer que o Brasil volte cinco casas e se torne uma ditadura estilo chavista. Na minha opinião, quem for contra eles deveria ser cada vez mais indiferente aos Zés de Abreus da vida. (Augusto Nunes já disse tudo o que precisava ser dito sobre esse infeliz na edição anterior de Oeste.)
Precisamos seguir novos caminhos, construir alternativas, criar novas utopias. Superar essas forças de atraso, privilégio e corrupção olhando para a frente, e não para seus olhos injetados de sangue. Estamos há mais de 30 anos girando ao redor do umbigo de Lula e seus seguidores. Eles podem cultivar seus campos de ódio à vontade. Eu me nego a continuar comendo seus frutos envenenados.
Leia também “O cafajeste”
👏👏
Que reflexão madura!
Sensato e bem pensado. Vulgarizamos o ódio como outras tantas palavras e as ideias contidas nelas. Sinal desses tempos, rápidos, superficiais e falsamente inconsequentes. Tanto que parece mesmo que nos viciamos no ódio.
Creio mesmo que a indiferença levará esses “amantes do ódio” ao ostracismo. Infelizmente, precisamos aprender a conviver e cultivar a sabedoria para dimensionar o quanto essas coisas devem ocupar de espaço em nossas vidas. Somos humanos, frágeis e suscetíveis, mas acho que esse é um caminho virtuoso.
Parabéns!!!
Sensato e bem pensado. Vulgarizamos o ódio como outras tantas palavras e as ideias contidas nelas. Sinal dos tempos, rápidos, superficiais e falsamente inconsequentes. Tanto que parece mesmo que nos viciamos no ódio.
Creio mesmo que a indiferença levará esses “amantes do ódio” ao ostracismo. Infelizmente, precisamos aprender a conviver e cultivar a sabedoria para dimensionar o quanto essas coisas devem ocupar de espaço em nossas vidas. Somos humanos, frágeis e suscetíveis, mas acho que o caminho é por aí mesmo.
Parabéns pelo artigo!
Perfeito
Excelente artigo. Parabéns.
Se devemos nos manter indiferentes aos Zés de Abreus da vida que querem que o Brasil volte cinco casas, que diabos Augusto Nunes “precisava” nos dizer? Mais adequado não teria sido se nada dissesse? Não, não é por aí, não, cara! Sendo certo que “o contrário de vida não é morte, é indiferença”, claro estará que a indiferença é tudo o que deve ser reprovado e evitado na vida. E, na verdade, somos indiferentes apenas ao que não conhecemos. A todo o resto, reagimos. E até mesmo o lixo devemos conhecer, saber onde está e decidir que fazer com ele. Ou seremos soterrados. A indiferença é exatamente o comportamento que nos sugerem e esperam de nós os nossos inimigos – e eles existem, sim, das mais variadas estirpes. Se nos forem indiferentes, se preferirmos agir como avestruzes fazendo de conta que não existem, eles só ganham terreno. E não será acreditando em que algo paradisíaco nos acena no horizonte para nos abraçar a troco de rapadura ou de nossa omissão que encontraremos meios e fôlego para repelir o que esses inimigos já produziram à nossa custa por bem mais de 30 anos e à nossa custa tentam continuar produzindo. Para combater tanto qualquer inimigo que se alimente de ódio insano quanto qualquer tendência a contrapor-lhe um ódio estéril que dele mesmo se alimente, a arma que devemos usar é a inteligência, ainda que nenhuma outra haja. A inteligência requer conhecimento e requer o bom uso desse conhecimento. Ou seja, requer ação, não omissão. Das duas, uma: ou, querendo olhar apenas para a frente desconsiderando em que estamos pisando, continuaremos tropeçando e nos lambuzando pela vida afora, colhendo com facilidade os frutos que se expõem à beira de uma estrada recomendada por “especialistas” que não sabemos aonde poderá nos levar, frutos esses que, além de bichados e escamoteando marimbondos, estarão fatalmente envenenados, ou teremos um objetivo e, por isso, prestaremos e incentivaremos muitos mais a que prestem cada vez mais atenção a tudo o que nos tolhe e promete nos ferir e nos devorar por trás, por cima, pelos lados, por baixo, dispondo-nos a combatê-lo. E essa será a correta alternativa. Porque só assim poderemos avançar. Para tanto, as palavras são necessárias, tanto as mais quanto as menos refinadas, até mesmo as muito grosseiras (se forem insuficientes, apelaremos aos desenhos…). Objetivos se conquistam passo a passo, constroem-se pedra após pedra, não devendo ser descuradas as suas fundações, ou se transformarão em poeira na primeira ventania. E todo esse esforço se adequa necessariamente aos recursos e meios disponíveis e às circunstâncias, devendo seus responsáveis buscar corrigir o efeito das adversidades, as já previstas e as que os possam surpreender. Se alguém se cansar e desistir, só nos resta lamentar e continuar fazendo em dobro o que nos caberia fazer. Porque os únicos responsáveis por nossos objetivos somos nós mesmos. De utopias, o inferno está e sempre esteve cheio. De nenhuma delas, velhas ou novas, precisamos. Chega de adotar modas “fofas” que nada nos acrescentam, tais como “paz e amor”, “apolitismo”, “tolerância”, “indiferença”… espertas “3ªs vias” expressas abertas ou por abrir nas nuvens que somente os janotas vislumbram de suas varandas gourmet… Precisamos apenas de encarar a realidade com coragem, com determinação e sem fricotes. E tudo há de dar certo.
Com certeza a indiferença é o melhor antídoto ao descondenado e seus PTralhas.
Perfeito, caro Dagomir! Excelente artigo. Traduziu em palavras o que penso. Sem dúvida, dar palanque para aquilo que consideramos indesejável sempre me pareceu uma atitude, no mínimo, incoerente.
Brilhante artigo. Pelo q pude ver em alguns comentários acima, o termo indiferença foi mal interpretado. Não significa fazer vista grossa, mas não consumir lixo. Pois ao consumi-lo, passamos a agir igual aos q criticamos.
EU ODEIO PTRALHAS SIM!!
E AMO ODIA-LOS!
Faz bem pra saúde atual ou futura…pois se não Odia-los com toda sua força…eles arrasam uma NAÇÃO…arrasam suas vidas…é só olhar o que acontece e aconteceu com CUBA, VENEZUELA, Argentina, Bolivia,
NÃO CAIAM NESSA CONVERSA DE FAZER VISTA GROSSA PARA AS ATITUDES DESSES SOCIALISTAS….
Não empregue-os, pois são TOXICOS!
Não tenham amizades com essas pessoas, a inveja delas é uma âncora na suas vidas. Tudo dá errado quando vc anda com essa gente! SUA VIDA TRAVA!
ODEI-OS SIM!
ODEI-OS SEMPRE!
Ou vocês acham mesmo que HITLER chegou ao poder cultivando somente o ódio aos Judeus e ciganos?!
Foi a INDIFERENÇA que colocaram os NAZZI lá. e Nazismo fascismos e socialismo SÃO A MESMA COISA…nasceram da mesma cepa/semente.
Muito bom o artigo mas a indiferença não pode nos levar a apatia.
Aquele que odeia quer receber o ódio de volta. Com isso, ele se vê autorizado, moralmente falando, a odiar e odiar e odiar. Quando recebe a indiferença como troco, ele se vê indignado, frustrado, não entende mais nem a si mesmo, uma vez que o outro o ignorou. É importante saber se valer da indiferença, porém, sempre estando vigilante para não fazer da indiferença algo que nos imobilize frente às lutas que, de fato, temos que lutar.
Parabéns Dagomir, estou exatamente como você: não assisto o Jornal Nacional nem leio a Folha de São Paulo, ou UOL ou G1, ou Estadão. Vejo barbaridades absurdas e atrozes no Facebook e simplesmente penso, hum hum ….
Uma vez, por pura idiotice minha, resolvi comentar um post de professores da Unicamp que dizia que a economia brasileira era um desastre total. Recomendei educadamente que viajassem por todo o oeste do Brasil, do RS a Rondônia, para verem in loco a pujança e o dinamismo trazidos pelo agronegócio.
Fui ridicularizado e insultado por dezenas de “professores” da Unicamp e Unesp. Os donos da verdade de dentro de suas bolhas de “home office”. Fui chamado de ignorante por uma mocinha que já nasceu sabendo tudo sobre tudo. Foi a única que respondi : “mocinha, quando você tiver lido 10% do que eu já li, quando tiver viajado 10% do que já viajei, quando tiver conhecido 10% das pessoas que já conheci, talvez você possa começar a sua jornada pela ignorância …”
Grande abraço, seus artigos estão sempre entre os melhores da Oeste !!!
O ódio potencializa o ódio, a indiferença vigilante proporciona o esclarecimento e este potencializa mudanças. É nisso que temos de focar, colocando-nos com firmeza como agentes e objetos da transformação. Esse é um ano fundamental para isso.
Otimo artigo! Só discordo, que se apenas”ignorarmos” essa quadrilha que quer voltar ao poder, corremos o risdo de em 01 de janeiro de 2023 acordarmos sendo escravos dela. Não dá para apenas “ignorar” , temos que combate-la, com todas as nossas forças e sim, uma pitada de odio. Por que eu odeio a ideia de perder a minha liberdade e ser escravo de um bandido cafajeste. E vou me permitir sim ser movido por esse ódio.
Que beleza de competência , parabéns a esse escritor .
Não leio mais os jornais O Globo e Folha de São Paulo e não assisto mais nada da Rede Globo e da Bandeirantes que se venderam aos chineses ! Eles querem transformar o Brasil em seu protetorado produtor de alimentos e matérias primas ,razão principal porque eles estão financiando as campanhas do nove dedos ladrão e de muitos esquerdistas !
Maravilha de texto. O que deveríamos fazer é exatamente isso. Não podemos nos igualar a eles nos xingamentos e nem ficar dando protagonismo a eles. Deveríamos fazer postagens sobre os feitos desse governo e fazer comparação com o anterior. Sem palavrões e sem citar nomes. Todos estão carecas de saber!!
Ótima reflexão. Mas também devemos nos lembrar que esta indiferença leva ao “não se envolver em política”, frase muito utilizada durante décadas e deu no que deu. O resultado foi termos esta corja de ladrões e corruptos governando o país. Não precisa descer ao mesmo nível de ódio, mas argumentar e desmascarar esta turma.