O governo de São Paulo decretou estado de emergência para a dengue na manhã desta terça-feira, 5. A decisão do Centro de Operações de Emergências (COE), órgão coordenado pela Secretaria Estadual da Saúde, ocorre por causa de um crescimento exponencial dos números da doença.
Leia mais: “Como vai ser o clima no Brasil em março?”
O painel de monitoramento da Secretaria de Saúde de São Paulo revela que atualmente o Estado tem 217 mil casos prováveis de dengue e 31 mortes pela doença, outras 122 estão em investigação. A incidência é de 489 casos prováveis a cada 100 mil habitantes.
Tal velocidade, que já fez o Brasil ultrapassar a marca de 1 milhão de casos, tem ocorrido também em função das alterações climáticas, segundo o pesquisador do Laboratório de Parasitologia do Instituto Butantan, Lincoln Suesdek.
Isto porque o Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya, de acordo com texto do portal do Butantan, se reproduz mais com as ilhas de calor presentes nas cidades, em meio ao aumento das temperaturas.
Leia mais: “Março começa com onda de calor e chuvas acima da média”
“Vários estudos mostram que essa possível nova configuração [de aumento de temperatura] levaria os mosquitos para localidades do globo onde eles ainda não transitam, deixando ainda mais pessoas expostas aos vetores e seus vírus”, afirma Lincoln.
A temperatura, neste caso, pode levar a uma ampliação da faixa tropical, o que transforma regiões até então temperadas em áreas mais quentes, propícias para o surgimento do mosquito.
O Aedes aegypti, de acordo com a publicação do instituto, surgiu há 7 milhões de anos de uma região de floresta em Madagascar, na África. Adaptou-se ao ambiente rural até chegar às cidades há menos de mil anos.
Em sua versão urbana, espalhou-se pela Ásia e alcançou diversas regiões do mundo, como o Brasil e outros países da América Latina.
Aumento de incidência em vários países
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) constatou que a incidência de dengue aumentou quase oito vezes no mundo desde 2000. De acordo com o artigo do Butantan, antes de 1970, o mosquito transmissor da doença estava presente em poucas nações.
Agora, porém, já é encontrado em mais de 130. Em 2024, casos de transmissão local (autóctone) do vírus foram registrados em países como Itália, Espanha e França. Boa parte do território francês já está em alerta máximo de vigilância contra a propagação do vetor, que na região acontece pelo Aedes albopictus, popularmente chamado de mosquito-tigre.
+ Leia mais notícias de Saúde em Oeste
Esse vetor transita entre áreas silvestres e urbanas. Está presente em cidades mais arborizadas, áreas rurais e bordas de floresta. Dissemina quase os mesmos vírus que o Aedes aegypti e também pode transmitir a febre amarela.
“Podemos dizer que um fluxo de novos vetores também poderia ocorrer por reflexo do desmatamento”, afirma Lincoln.
“Diferentemente da área urbana, nas florestas temos uma variedade enorme de espécies, porém menos indivíduos de cada uma delas. Quando diminuímos esse espaço de mata para criar novos ambientes, o ser humano pode entrar em contato com novos vetores capazes de desencadear a transmissão de patógenos que ainda são pouco ou completamente desconhecidos.”
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), publicado em novembro, informou que o aumento da temperatura neste século será de 2,5°C a 2,9°C acima dos níveis pré-industriais.
Segundo o portal do Butantan, tal elevação, além de favorecer a reprodução do inseto, facilita o chamado “ciclo extrínseco de reprodução do vírus” (dentro do mosquito). Isso faz aumentar a velocidade com que os patógenos se multiplicam no interior do organismo do inseto, porque o calor acelera as reações bioquímicas internas do animal.
Tudo é culpa do clima, foi por isso que o molusco venceu as eleiçoes. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK