O mundo pode enfrentar outros tipos de guerra, sem ser a bélica. Segundo o diretor-executivo da Olam Agri, Sunny Verghese, os próximos conflitos globais podem ter relação com a disputa por alimentos. Ele, que é trader de commodities, proferiu a declaração durante a conferência de consumidores Redburn Atlantic e Rothschild, na semana passada.
“Lutamos muitas guerras pelo petróleo”, afirma Verghese. “Lutaremos guerras maiores pela comida e pela água.”
O diretor destacou que as barreiras comerciais impostas por governos para fortalecer os estoques domésticos de alimentos agravam a inflação nas commodities.
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Em 2022, grandes traders lucraram cifras recordes depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços das commodities.
Intervenções governamentais e inflação nas commodities
O diretor-executivo argumentou que a alta na inflação das commodities é parcialmente resultado da intervenção governamental.
Em 2022, a proliferação de 1,2 mil barreiras comerciais de 154 países, em resposta à guerra, “criou um desequilíbrio exagerado entre demanda e oferta”.
Países mais ricos acumulam excedentes de commodities, o que eleva a demanda e os preços. “Índia, China, todo mundo tem estoques de segurança”, comentou Verghese. “Isso só aumenta o problema global.”
Os preços das commodities subiram depois da covid-19 e dispararam com a guerra na Ucrânia, uma vez que o conflito bloqueou algumas exportações de grãos e fertilizantes.
Isso aumentou a insegurança alimentar em países mais pobres e gerou uma crise de custo de vida global. Segundo o diretor, os preços altos e as mudanças climáticas fazem com que governos recorram a políticas protecionistas.
As consequências do protecionismo
Em 2022, a Indonésia proibiu exportações de óleo de palma para proteger o mercado local. Já a Índia restringiu as exportações de certos tipos de arroz no ano passado, para conter os preços, antes das eleições parlamentares.
A Olam Agri, que processa e fornece grãos, oleaginosas, arroz e algodão, faz parte do Grupo Olam. O trader, com grande presença na Ásia e África, foi investigado na Nigéria em 2023 por suspeita de fraude, mas foi inocentado.
Os desafios financeiros e estratégicos do Grupo Olam
O Grupo Olam registrou uma queda de 56% nos lucros anuais, para US$ 205 milhões (R$ 1,1 bilhão), em 2023. A empresa culpou altas taxas de juros e as “perdas excepcionais” nos pomares de amêndoas na Austrália.
A queda nos lucros também surgiu da venda de 35% do Olam Agri para o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita por US$ 1,24 bilhão (R$ 6,8 bilhões) em 2022.
A Olam Food Ingredients, com sede em Londres, é um dos maiores fornecedores mundiais de cacau, café, nozes e especiarias.