O maior questionamento que se faz hoje sobre a produção de carne bovina no Brasil e em Mato Grosso (MT) é o da proteção ambiental. Porém, o problema real não está vinculado às práticas adotadas na pecuária brasileira. A deficiência de comunicação do setor com o mercado consumidor é a dificuldade que se destaca, segundo Bruno de Jesus Andrade, diretor técnico-operacional do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac).
“Existe um problema muito grande da comunicação”, disse Andrade, em entrevista a Oeste. “A forma como enxergam o nosso sistema de produção é equivocado. Claro, existem produtores errados, existem indivíduos desmatando ilegalmente. Entretanto, segundo dados do Imac, a produção de carne bovina em MT é legal.”
Andrade afirma que mais de 85% dos abates de bovinos no Estado seguem critérios rígidos, com base em protocolos estabelecidos pelo Ministério Público Federal. “Porém, isso não é divulgado”, completa o diretor do Imac. Ele explica que a produção irregular é feita por uma minoria que macula a imagem do setor.
“No final do dia, fica parecendo que o desmatamento ilegal é realizado por toda a produção pecuária”, lamentou. De acordo com o diretor, as queimadas e o desmatamento ilegais são feitos por pessoas corruptas que usam da pecuária para “legalizar” atividades ilícitas.
A atuação do Imac
Criado em 2016, o Imac se define como um Serviço Social Autônomo com a missão de promover a produção da pecuária bovina em MT. A atuação do órgão vai de ponta a ponta na cadeia produtiva, do pasto até o prato.
Os frigoríficos buscam no instituto mecanismos para garantir a compra segura de bovinos, segundo critérios socioambientais, e o auxílio para a abertura de novos mercados dentro e fora do Brasil. Já os pecuaristas buscam no Imac a implantação de um sistema de classificação e tipificação de carcaças, que dará a eles a possibilidade de acessar tipos de mercados distintos e que valorizam seu sistema de produção, certificações e qualidade do rebanho.
Conquistas do Imac
Paula Sodré Queiroz, diretora-executiva do Imac, afirma que a grande conquista da instituição “foi ter colocado produtor rural, frigoríficos e o Estado de MT na mesma mesa para conversarem e resolverem os problemas do setor”. Essa sinergia gerou resultados práticos.
Entre eles, a melhora da qualidade dos animais produzidos em MT e o acesso a novos mercados, como o Oriente Médio e Ásia. Alguns projetos do Imac também já retornam à cadeia produtiva resultados práticos, como o Programa de Reinserção e Monitoramento, que auxilia produtores a recuperarem áreas que foram degradadas ilegalmente e os insere no mercado formal da pecuária, segundo critérios e regras acordadas entre as partes. “Estamos vendendo mais e resolvendo melhor os problemas do setor desde que o Imac foi fundado”, avalia Andrade.
Consumo da carne do Brasil
Segundo Andrade, 79% da produção de carne bovina de MT é usada para consumo doméstico e 21% são exportados para mais de 70 países. Do total embarcado, a China representa atualmente 56% do faturamento.
A dependência da receita externa com o mercado chinês é uma preocupação que tende a diminuir em 2023, quando o MT deve ser considerado livre de febre aftosa. Com a conquista, a carne bovina produzida no Estado deve ganhar mais espaço no mercado europeu e norte-americano, além de conseguir entrar no Japão e na Coreia do Sul, “grandes consumidores”, comenta Andrade.
Quem não se comunica se trumbica.