Na mídia, revestido de simpática e marcante nordestinidade, o jurista e ensaísta pernambucano José Paulo Cavalcanti, autor de um bom livro sobre a obra de Fernando Pessoa, parece um Joca Ramiro glabro, o jagunço barbudo e letrado de Grande Sertão: Veredas, vivido na televisão pelo extraordinário ator que foi Rubens de Falco.
Tendo obtido 21 dos 34 votos, Cavalcanti tornou-se o quinto integrante da bancada pernambucana. O Brasil meridional continua com a presença solitária do poeta Carlos Nejar. O jurista do Recife derrotou o professor e romancista catarinense Godofredo de Oliveira Neto, que obteve nove votos, e o poeta gaúcho Luiz Coronel, que recebeu apenas um, assim como o professor universitário Ricardo Cavaliere. Outros candidatos não receberam voto nenhum.
Também a Academia não é para principiantes e pairam sobre a instituição lugares-comuns, como o de simplesmente desconsiderar, por motivos políticos, o belo romance Saraminda, de José Sarney, em que a alternativa da personagem referencial é fazer um leilão de si mesma. Dela disse Carlos Heitor Cony: “Oito vezes virgem, oito vezes puta, traz nos olhos verdes e nos seios dourados o prazer e a desgraça”.
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Pois é, mas quando se fala do ex-presidente, o costume é citar apenas Marimbondos de Fogo, que não é romance, como equivocadamente se repete, é um livro de poesia. Tem sido moda repetir Millôr Fernandes, que o definiu como “um livro que quando você larga não consegue mais pegar” e o grupo Casseta & Planeta, que o indicou como parte de uma trilogia a ser completada por Marimbondos de Porre e Marimbondos de Ressaca.
É tudo muito divertido, o brasileiro adora um deboche, mas até os jagunços letrados sabem como é complexo lidar com brasileiros que realmente mandaram e talvez voltem a mandar no país, sejam letrados como Zé Bebelo ou apedeutas como os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Michel Temer, jurista, e Fernando Collor, bacharel em ciências econômicas, já podem pleitear a vaga.
Em resumo, a Academia não é mais a Casa dos escritores brasileiros, embora às vezes até coincida que o eleito seja autor de alguns textos.
Taí um acadêmico porreta!
Obrigado pela correção, Deraldo Mancini. Tarcísio Meira fez o Hermógenes, que mata Diadorim (Bruna Lombardi). Nossa editora vai corrigir. Um abraço e volte sempre.
Tarcísio Meira foi o Hermógenes. Quem fez Joca Ramiro foi Rubens de Falco. O equívoco não compromete a análise sempre lúcida de Deonísio.