O projeto de autoria do senador Wellington Fagundes (PL-MT) que determina que as estruturas industriais dos laboratórios do agro que fabricam produtos de uso veterinário possam ser utilizadas na produção de vacinas contra a covid-19 deve ser apreciado pela Câmara dos Deputados já na próxima semana. A projeção foi feita pela ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, que visitou as instalações da fábrica da Ourofino, um dos laboratórios interessados em produzir o imunizante, em Cravinhos (SP).
Como noticiamos na sexta-feira 21, Arruda esteve ao lado do próprio Fagundes — relator da comissão especial criada no Senado para tratar das ações de combate ao novo coronavírus no país — e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na vistoria. “A aprovação na Câmara vai permitir com que outras plantas abram essa possibilidade”, afirmou a ministra.
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No fim do mês passado, o texto foi aprovado pelo Senado (leia aqui a íntegra). Segundo Fagundes, essas empresas teriam capacidade para produzir, em apenas 90 dias, cerca de 400 milhões de doses de vacinas. As companhias se comprometeriam a interromper, temporariamente, suas linhas regulares de produção (vacinas contra febre aftosa e raiva, por exemplo) para se dedicar exclusivamente à imunização contra a covid-19.
“Estamos otimistas, em busca de soluções e trabalhando nesse sentido porque o Brasil precisa e tem condições de produzir vacinas aqui mesmo, em quantidade suficiente para atender toda a população brasileira. Também podemos ajudar os demais países da América Latina”, afirmou o senador após a visita à planta industrial.
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Queiroga, por sua vez, classificou a estrutura da Ourofino como altamente avançada. “Buscamos aqui conhecer melhor as instalações da empresa e verificar a possibilidade, em um curto prazo, de termos vacinas contra a covid-19 produzidas neste parque”, disse o ministro.
Como Oeste informou em reportagem especial publicada no dia 21 de abril, para que o projeto, efetivamente, se torne realidade é necessário que haja a transferência de tecnologia para produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Butantan. “É o mesmo princípio da fabricação da CoronaVac [vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac e, no Brasil, pelo Butantan], ou seja, a partir do vírus inativado. Essas três fábricas, após inspeção e a aprovação da Anvisa e também do Ministério da Agricultura, e depois da transferência de tecnologia, poderiam produzir o volume de vacinas de que o Brasil precisaria. Com toda a biossegurança, com condições de produção de 100% do IFA, que hoje nós importamos a custos muito altos e sem a segurança de ter a vacina aqui no Brasil”, explicou Fagundes a Oeste em abril.
A Anvisa já iniciou o processo de avaliação dos laboratórios, realizando visitas técnicas. Segundo Wellington Fagundes, o trabalho vem sendo feito “por etapas”. Ainda não há um prazo para que o órgão regulatório sanitário dê o aval para essas plantas industriais.
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Além da Ourofino, há mais dois laboratórios interessados na produção de vacinas contra a covid-19: os da Merck Sharp & Dohme, em Montes Claros (SP), e da Ceva Saúde Animal, em Joatuba (MG). Há ainda uma quarta planta industrial, em Paulínia (SP), pertencente à Boehringer, mas está desativada neste momento. Nessas três fábricas em funcionamento, foram produzidos 262 milhões de doses de vacinas contra a febre aftosa em 2020.
Não me surpreenderia se esses laboratórios industriais forem melhores que Butantã e Manguinhos.