A cidade de São Paulo oferece milhares de opções de entretenimento. Mas os cinéfilos paulistanos são, de longe, os maiores privilegiados do Brasil. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), um terço de todos os cinemas do país está localizado na capital paulista, que disponibiliza para o público as experiências audiovisuais mais modernas do mercado.
Em junho de 2012, com a inauguração do Shopping JK Iguatemi, São Paulo ganhou a primeira sala de cinema 4DX da América do Sul. A novidade permitiu ao espectador conhecer poltronas com sistema eletrônico de movimentos e os efeitos que ultrapassam a tela do cinema, como borrifos de água e jatos de ar. A sensação de estar realmente dentro do filme virou realidade.
Mas existem opções para quem dispensa a visita a centros comerciais. Os antigos cinemas de rua vão na contramão do que o mercado atual oferece. Os espaços são mais isolados e aconchegantes. O número de poltronas é reduzido e a programação valoriza os mais variados gêneros da sétima arte.
“O cinema de rua está mais integrado na cidade”, afirma o cineasta Josias Teófilo, neto de Pedro Teófilo, dono do Cinema Olympia, no Recife, na década de 1950. “Naquela época, as produções brasileiras eram muito vistas nos cinemas de bairro. E esses espaços tinham uma variedade de programação maior que hoje.”
O 1º cinema de SP
O primeiro cinema de São Paulo foi inaugurado em 1907, na Avenida São João, importante via arterial do centro de São Paulo. Seu nome era Cine Bijou-Threatre. A partir dele, outros estabelecimentos começaram a surgir. O auge do número de salas espalhadas na capital ocorreu entre as décadas de 1930 e 1960.
A decadência do setor aconteceu já na década de 70. Dentre os motivos, o surgimento de novas tecnologias, como a TV e as fitas VHS, a construção de grandes shoppings centers, com cinemas maiores, e falta de investimento público no setor cultural. “No Brasil, suponho que o problema da violência tornou ainda mais inviável os cinemas de rua”, opina Josias Teófilo. “As pessoa preferem a segurança de um shopping”.
Apesar desses espaços perderem força ao longo dos anos, existem ainda alguns locais que resistem em São Paulo. Oeste visitou alguns estabelecimentos da cidade. Conheça alguns deles:
Bijou
Carregando o mesmo nome do primeiro cinema de São Paulo, o Cine Satyros Bijou fica localizado na Praça Franklin Roosevelt, reduto de skatistas, teatros e entretenimento a céu aberto, no centro de São Paulo.
A história do Cine Bijou começou em 1962, ao oferecer espaço para movimentos artísticos brasileiros, como o cinema marginal, caracterizado por filmes autorais e experimentais, e o cinema novo, que dava ênfase à obras que criticavam a desigualdade social da época.
O espaço também ficou conhecido por exibir grandes clássicos do cinema estrangeiro, como Laranja Mecânica (1971), do renomado diretor Stanley Kubrick.
O Cine Satyros Bijou abriu suas portas para o público 26 anos depois, em janeiro de 2022, graças ao investimento de Rodolfo García Vázquez e Ivan Cabral, os fundadores do grupo de teatro Os Satyros. A dupla investiu capital pessoal na revitalização, além de arrecadar dinheiro em uma campanha de financiamento coletivo. Eles também contaram com doações de personalidades anônimas e famosas, como Patrícia Pillar, atriz que foi homenageada na única sala de exibição.
O espaço revitalizado mantém a arquitetura dos anos 60 e ainda dá destaque às produções brasileiras. Ao todo, são 70 lugares e um palco para apresentações. O estilo originalo do Cine Biju foi preservado.
Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 172 – Consolação
CineSala
O espaço na Rua Fradique Coutinho, no bairro de Pinheiros, funciona como cinema de rua desde 1962. Originalmente batizado de Cine Fiammetta, o espaço carregou este nome por mais de 30 anos. Em 1989, transformou-se na Sala Cinemateca e contava com uma programação que exibia filmes clássicos e raros, que fizeram a cabeça de muitos cinéfilos da época.
A partir dos anos 2000 passou a ter outros nomes, como Cinema da Vila e Cine Sabesp. Em 2014, ganhou o nome atual — Cinesala — e passou a ser comandada pelos sócios Raí Souza Vieira de Oliveira, ex-jogador de futebol da seleção brasileira, Adhemar Oliveira e Paulo Velasco.
Atualmente, o cinema tem como público-alvo os moradores do bairro de Pinheiros e apreciadores do cinema cult — estilo de filme que reúne uma base de fãs pequena, mas fiel. O CineSala se diferencia por oferecer um ambiente descontraído e acolhedor, com cara de sala de casa, com sofás espalhados, além de múltiplas opções de comidas e bebidas disponíveis no bar, que incluí bebidas alcoólicas como vinhos e cervejas.
Endereço: R. Fradique Coutinho, 361 – Pinheiros
Espaço Itaú cinema
O Espaço Itaú de Cinema é uma rede brasileira formada através da parceria entre o Itaú Unibanco e a empresa Cinespaço. O grupo está presente em quase todas as regiões do país, à exceção da Região Norte.
A história desse cinema de rua começou em 1989, quando o então cineclubista Adhemar Oliveira, futuro proprietário da rede Cinespaço, participou da criação da Mostra Banco Nacional de Cinema. O evento cinematográfico se tornou um dos mais importantes do calendário carioca, contando com o patrocínio da instituição financeira da família Magalhães Pinto que, mais tarde, se tornaria o Festival do Rio, ao se fundir com o Rio Cine Festival.
Hoje em dia, o Espaço Itaú de cinema fica localizado na Rua Augusta, em São Paulo. O estabelecimento conta com bonbonnière, café e livraria. Além disso, o espaço recebe eventos especiais, como debates, pré-estreias, lançamentos de livros, cursos e festivais, que o consagra como um dos principais ambientes multiculturais da efervescente capital paulista.
Endereço: Rua Augusta, 1475