Na região metropolitana de Porto Alegre e no Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, gaúchos que perderam suas casas têm usado as rodovias federais como residências temporárias enquanto procuram um novo destino.
A imagem das famílias acampadas em acostamentos, próximas ao tráfego intenso, lembra a de campos de refugiados ao longo das estradas. Em Eldorado do Sul, próximo à capital gaúcha, as rodovias BR-290 e Freeway estão tomadas por barracas e caminhões dia e noite. O frio chegou a 7ºC durante as madrugadas recentes.
Na fase mais crítica da cheia, parte da população de Eldorado do Sul, cidade situada a 12 km de Porto Alegre, foi levada para a rodovia pelo prefeito Ernani Gonçalves (PDT), já que era o único local elevado disponível. Três semanas após depois do desastre, algumas famílias ainda permanecem no local.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, a aposentada Jurema Moura, de 65 anos, está acampada com o marido e a filha à espera de que a água baixe. Ela prefere estar próxima do que restou de sua casa e dos vizinhos em vez de se mudar para abrigos.
“A minha casa, na verdade, já não existe mais, ela caiu”, relata. “Vamos aguardar… As autoridades não conseguem ajudar todo mundo agora.”
Jurema conseguiu roupas e cobertores e montou uma barraca bem equipada. Outra família da mesma rua ergueu uma barraca ao lado da dela, com o carro estacionado próximo.
Ao longo da BR-290, é comum ver pessoas em caminhões ou automóveis, acendendo fogo em latas e sobrevivendo com doações de quem passa. Um homem, que preferiu não se identificar, contou à reportagem que sua casa sobreviveu a enchentes anteriores, mas desta vez restaram apenas ele e seu cão. Atualmente, ele depende de sanduíches fornecidos por voluntários.
Os desafios enfrentados pelos gaúchos
No Vale do Sinos, que inclui São Leopoldo e Novo Hamburgo, a situação é similar. 24 depois das chuvas que inundaram o RS, a doméstica Jaqueline Teresinha, de 48, ainda não consegue acessar sua casa no bairro Vicentina, em São Leopoldo. Inicialmente, ela se abrigou em um local no município, mas depois de dois dias, sentiu-se insegura.
“Não tinha como ficar lá, estavam roubando todo mundo, não podíamos dar uma volta que levavam alguma coisa”, disse à Folha. “Duas senhoras perderam até dinheiro. Teve um dia que alguns homens ficaram nos observando no banheiro por cima da porta. Depois pegaram eles, mas era muito ruim.”
Ela então montou uma estrutura em uma passarela na BR-116. “A gente mora aqui do lado. Nunca imaginamos viver isso”, relatou. Nos primeiros dias, enfrentou muito frio, mas depois conseguiu cobertores de doação. O barulho constante dos veículos é outro desafio para dormir.
A catadora Laura Silveira, 49, mora no mesmo bairro e diz que tem sobrevivido de doações. “Sou de uma família muito pobre.” contou. Ela também disse que tem conseguido itens que as pessoas abandonaram por causa das chuvas. “A gente acha muita coisa que os ricos botam fora, a gente seca e aproveita.”
Várias cidades gaúchas permanecem alagadas, mesmo com o recuo da cheia nessa parte do Estado. No caso das pessoas que poderão retornar, elas devem encontrar um cenário de perda, com móveis e eletrodomésticos submersos por tanto tempo. Há o risco de as estruturas das paredes também não suportarem. Além disso, há pessoas em áreas de risco e as que tiveram as residências levadas pela água.
O governador Eduardo Leite (PSDB) declarou à Folha que a prioridade é a moradia e que o governo federal está colaborando para isso.
“Estamos considerando, junto com os municípios, muitas soluções”, disse. O governo disponibiliza recursos para aluguel social, ou seja, dá recursos para que a pessoa possa alugar uma casa por um período, até seis meses, no princípio. Mas também há uma outra solução que está sendo desenhada, que é a da estadia solidária.”
No “Estadia Solidária”, as prefeituras cobrirão os custos adicionais para famílias que abriguem vítimas da enchente. Estruturas provisórias serão montadas para abrigar as famílias até que moradias definitivas estejam disponíveis.
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