As alternativas para conter o coronavírus não precisam ser extremadas; a solução pode estar no equilíbrio
Já deu para notar que desde a chegada do vírus chinês ao Brasil todo mundo tem uma opinião a respeito. Tem a turma dos que estão “nem aí”, a turma dos hipocondríacos que vivem com um termômetro a tiracolo, a turma dos otimistas – “isso vai acabar logo”, a turma dos pessimistas – “esse confinamento vai durar até setembro”. O fato é que até entre os especialistas não há consenso sobre o assunto e muitos mudam de opinião conforme as pesquisas sobre a doença evoluem em todo mundo.
E não deveria ser diferente. Afinal, estamos diante de um inimigo invisível e alienígena. É normal que os especialistas ajustem as recomendações conforme os resultados obtidos a partir de testes e novas teses.
O Brasil adotou a estratégia da quarentena geral. A população está confinada sob o argumento de que a medida pode conter o crescimento da curva do vírus no País. E assim segue o povo brasileiro na expectativa de que o sacrifício coletivo surta os efeitos desejados.
Mas haveria outro caminho para reduzir a ameaça desse vírus? Em artigo publicado na New York Times desta segunda-feira, 23, o colunista Thomas L. Friedman faz uma provocação ao leitor: “podemos minimizar a ameaça desse vírus para os mais vulneráveis enquanto maximizamos as chances de o maior número possível de americanos voltar ao trabalho com segurança o mais rápido possível?”.
Fridman conversou com o Dr. John PA Ioannidis, epidemiologista e co-diretor do Meta-Research Innovation Center de Stanford. O especialista apontou em um ensaio de 17 de março no statnews.com, que ainda não existe uma mensuração exata da taxa de mortalidade de coronavírus em toda a população. A análise de algumas das melhores evidências disponíveis atualmente indica que pode ser de 1% ou até menor.
“´Se essa é a verdadeira taxa, trancar o mundo com consequências sociais e financeiras potencialmente danosas pode ser totalmente irracional. É como um elefante sendo atacado por um gato doméstico. Frustrado e tentando evitar o gato, o elefante acidentalmente pula de um penhasco e morre´”, disse Ioannidis.
Mas então qual seria a alternativa para conter os avanços da pandemia?
Friedman compartilha a ideia defendida pelo Dr. David L. Katz, diretor fundador do Centro de Pesquisa em Prevenção de Yale-Griffin e especialista em saúde pública e medicina preventiva. De acordo com Katz:
“Perdemos a oportunidade de contenção em toda a população, então agora precisamos ser oportunistas estratégicos: deixe aqueles que inevitavelmente vão pegar o vírus e são altamente propensos a ter uma recuperação sem intercorrências, criar imunidade e voltar ao trabalho e à vida normal. E, enquanto isso, proteja os mais vulneráveis”, disse ele.
A lógica é simples: na tentativa de salvar o mundo todo da epidemia, corremos o risco de matar a economia e talvez o futuro das próximas gerações.